Nunca lhe expliquei isso, expliquei? Lembra as mulheres com cabelos "artificialmente lisos" que você viu? Lembra que todas pareciam usá-los no mesmo estilo? Eram
Nunca lhe expliquei isso, expliquei? Lembra as mulheres com cabelos "artificialmente lisos" que você viu? Lembra que todas pareciam usá-los no mesmo estilo? Eram sheitls, perucas usadas pelas mulheres casadas como um ato de recato: só devem mostrar os verdadeiros cabelos aos maridos.
Certo.
Sei que acha isso estranho, Will, mas o que tem de compreender é que eu adorava. Absorvia sofregamente tudo aquilo. Lia os contos folclóricos no Tzena Arenna, lendas antigas do Baal Shem Tov...
Will não sabia sobre o que ela estava falando.
O fundador do hassidismo. Todas essas histórias de sábios que viajavam pelas florestas, pobres revelados como homens de grande religiosidade e honrados por Deus. Eu as adorava.
Então o que mudou?
Eu devia ter uns 12 anos. Desenhava muito nos meus livros de exercício. Mas nessa idade comecei a me surpreender com o que podia fazer. Até eu via que os desenhos vinham-se tornando cada vez mais elaborados e muito bons. Mas não havia muitos quadros para olhar. Você sabe, os judeus ultra-ortodoxos não são muito excepcionais em imagens gravadas. Dificilmente se encontra alguma. E então, um dia no seminário, uma espécie de escola para meninas, encontrei um daqueles livros, "Introdução aos Grandes Pintores". Sobre Vermeer. Roubei o livro e o escondi debaixo do travesseiro. Sem brincadeira, durante meses esperava minhas irmãs dormirem e então, sob as cobertas, olhava fixamente aquelas lindas imagens. Apenas olhava. Soube então que era o que eu queria fazer.