Exatamente. Na verdade — e com isso o rabino se permitiu um sorriso —, o tzaddik não mede esforços para se afastar das pessoas, por assim dizer. Nossos textos estão cheios de histórias paradoxas: o mais santo dos homens encontrado no menos santo dos lugares. Isso é deliberado: eles querem esconder sua verdadeira natureza atrás de uma máscara, por isso se disfarçam como homens grosseiros, até desagradáveis. Tova Chaya talvez se lembre da história do rabino Levi Yitzhok, de Berditchev?
— O Ébrio de Deus.
— Alegra-me. Você não esqueceu o que estudamos juntos. O Ébrio de Deus é, na verdade, o conto que eu tinha em mente. Nele, o santo rabino Levi Yitzhok descobre que, quando se trata da graça divina, ele perde em brilho para Chaim, o carregador de água, um ignorante que fica shicker, bêbado, desde a manhã até a noite.
TC e o rabino riram juntos.
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Então alguns dos homens mais justos parecem ser exatamente o contrário?
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Sim. Considere isso uma espécie de brincadeira divina. Ou prova de que o judaísmo é uma filosofia profundamente democrática. Os mais santos não são os que mais sabem ou que têm mais letras após o nome. Nem é esse grupo formado por aqueles que oram energicamente, jejuam com mais constância ou observam com mais diligência os mandamentos.
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Então esse homem, o beberrão, foi bom para seus conterrâneos?
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Deve ter sido muito bom.
Os três ficaram ali sentados num breve silêncio, interrompido apenas pela ruidosa respiração do velho.
— Tem um conto. Um dos mais antigos.
Mais uma vez, o esboço de um sorriso brincava em seus lábios. Will de repente percebeu que por trás da barba e do sotaque, havia um homem muito charmoso. Agora velho e curvado, mas na juventude devia ter sido um professor bastante carismático.
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