QUARENTA E SETE
DOMINGO, 22H10, CROWN HEIGHTS, BROOKLYN
TC seguia na frente, rápida e determinada. Sabia o caminho. Tinha percorrido aquelas ruas pela última vez uma década atrás, mas não se esquecera onde morava o rabino Freilich.
Apressando-se para alcançá-la, Will não parava de fazer perguntas. Mas ela continuava olhando direto em frente.
— Encontraram o corpo duas horas atrás. No chão do meu apartamento. — Sua voz oscilou pela primeira vez.
Will pensou no rosto do zelador: o Garry Kasparov do porão. Se fora assassinado na noite anterior, só podia ter sido poucos minutos depois que tinha ajudado Will e TC a escapar. Com certeza havia sido assassinado por causa disso. Uma imagem veio-lhe à mente. O homem do boné de beisebol.
Primeiro Yosef Yitzhok, agora Pugachov. Duas pessoas que tinham vindo em ajuda de Will pagaram com a vida. Quem seria o seguinte? O rabino Mandelbaum? Tom Fontaine?
Desde a manhã de sexta-feira, Will vinha sentindo-se como que caindo no poço de uma mina escura, cada vez mais longe da luz. Não via nada claramente. O rabino explicara o que com certeza estava acontecendo, mas como isso o envolvia, a ele e a Beth? O que tinham a ver com aquela profecia mística, uma lenda cabalística que agora parecia transformada numa farra assassina internacional? Ele caía e caía.
E assim que achou que havia atingido o fundo do poço — ao saber do assassinato em Bancoc e da morte de YY — afundara um pouco mais. Agora Pugachov estava morto e TC, em terríveis apuros.
— Janey disse que a polícia foi de porta em porta, perguntando pelo morador do apartamento 7. Graças a Deus ela estava em casa. Deu meu nome e disse que não tinha me visto desde a tarde de ontem, o que é bom. Por sorte, foi bastante esperta para dizer que não sabia o número do meu celular. Assim que eles saíram, ela me ligou, para me alertar.
— E eles definitivamente acham que você é suspeita?
— Janey disse que teve essa impressão. Por que mais o corpo estaria no meu apartamento? Parece que chegou lá vivo e agora está morto. E eu desapareço. O que mais eles podem pensar? — TC continuava avançando a passos largos, a respiração formando nuvens de vapor. Seu rosto começava a arder. — Parece que fizeram muitas perguntas bizarras.
— Que tipo de perguntas bizarras?
— Sobre Pugachov e eu. Se tínhamos relações sexuais. Se ele era obcecado por mim. Se era um perseguidor.
Agora Will entendia o que a polícia pensava. Pugachov, o zelador psicótico, entra no apartamento de TC após a meia-noite. Tenta estuprá-la. TC pega a arma, mata-o e foge do local do crime.
— Não vão levar muito tempo para conseguir o número do seu celular. A polícia deve ter acesso a tudo isso.
— E é por isso que fiz isto.
Ela ergueu o telefone celular: havia tirado a bateria. Assim que a polícia tivesse o número, sem dúvida iria conseguir rastreá-lo. Will cobrira duas investigações nas quais os detetives reconstruíam os movimentos da pessoa usando registros telefônicos. Estes não apenas revelavam os números para os quais o suspeito ligara, mas toda vez que haviam entrado na área de cobertura de uma antena. A polícia sabia desenhar um mapa mostrando onde a pessoa estivera e quando. A não ser que o telefone estivesse sem bateria: sem sinal, nenhum rastreamento.
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Quando foi a última vez que o aparelho esteve ligado?
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Na casa de Mandelbaum.
— Não vão levar muito tempo para chegar lá. Será que ele vai falar alguma coisa?
TC diminuiu o passo e virou-se para olhar Will nos olhos.
— Não sei.
Haviam chegado à casa do rabino Freilich, não era muito diferente de qualquer das outras na Crown Street. A pintura estava descascada na porta da frente, mas não foi isso que Will notou. O que lhe chamou mais a atenção foi o adesivo colado pouco acima do nível dos olhos: Moshiach vem aí.
Se fossem aposentos de estudante, não teria parecido incongruente. Mas aquela era a casa de um adulto de prestígio. A visão do adesivo disparou um tremor que percorreu o corpo de Will de cima a baixo. Dizia uma coisa: fanático.
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