Sam bourne o código dos justos



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CINQÜENTA E QUATRO
SEGUNDA-FEIRA, 3H06, MANHATTAN
— Tenho uma boa e uma má notícia, Sr. Monroe. — Era Fitzwalter. — Qual gostaria de receber primeiro?

Will ergueu os olhos devagar. Ele tinha passado apenas quarenta minutos naquela cela, mas pareciam quarenta noites. O pai mandara-o recorrer ao primeiro dos direitos que lhe haviam lido e não dizer nada. Assim que Fitzwalter teve certeza de que ele não ia abrir o bico sob pres­são, e a entrevista terminou, mandou trancafiá-lo.

— A boa notícia é que Sua Excelência o juiz William Monroe tele­fonou e disse que já saiu de Sag Harbor para cá.

A voz do pai retornava-lhe agora, flutuando na cabeça, tão audível quanto durante o telefonema que dera. Sonolenta, depois chocada, depois severa, depois decepcionada e depois decidida. Como havia pas­sado a juventude a milhares de quilômetros dele, jamais atravessara aquele rito de passagem da adolescência: anunciar ao pai que de algum modo traíra sua confiança. Pai, bati com o carro. Pai, fui pego fumando maconha. Eram frases que nunca tivera de proferir. Jamais tinha ouvi­do o pai dizer, como haviam feito todos os seus contemporâneos: "Filho, você me decepcionou." Portanto, ouvir agora — não as palavras, mas aquele tom — era uma provação a mais, a se juntar às outras.



  • Sr. Monroe, está me ouvindo?

  • Como?

  • Já lhe dei a boa notícia. Não quer saber qual é a má notícia?

  • Na verdade, não.

— A má notícia é que acabei de sair do telefone com o advogado de plantão no Times. Ele deu alguns telefonemas e sabe o que ficou sa­bendo? Eles acham que você não está em nenhuma tarefa para o jornal. Na verdade, dizem que você está tirando alguns dias de "descanso". Por ordem do próprio editor. Parece que se meteu numa grande enras­cada, meu velho.

Will levou as mãos aos olhos. Que erro básico: dizer uma mentira que poderia ser tão facilmente desmascarada. Sua defesa legal já esta­va comprometida. Cometera o erro capital de todos os culpados: tinha mudado de história. Quanto à carreira, com certeza terminara. Seria suspenso "para defender-se dessas graves acusações" e depois silencio­samente demitido.

A porta bateu, fechando-se. De algum estranho modo, ele quase se sentiu grato por estar naquela cela. Desde a manhã de sexta-feira, não parara de se mover, correndo febrilmente de um lugar para outro, de um novo plano para o seguinte. Atravessara a cidade em todas as dire­ções, de um lado para o outro, de Brooklyn a Long Island, ou refazen­do o caminho inverso, tentando pensar, concentrar-se, agir. Mesmo quando estava sentado, queria que o trem ou o táxi andasse mais rápi­do, que chegasse ao lugar, ou rezava para que tocasse o telefone ou chegasse um e-mail.

Agora não tinha para onde ir ou o que fazer. O planejamento, o pensamento e o cálculo frenético chegavam ao fim. Os carcereiros não haviam consentido nem que ficasse com um lápis e papel.

A pausa levou-o à compreensão a que vinha resistindo havia dias. Toda vez que rompera a superfície nas últimas quase 72 horas, ele afun­dara de volta. Mas agora não tinha mais forças.

Estava tudo desmoronando. Essa era a conclusão que se recusara a enfrentar, mas agora era forte demais para resistir. A mulher continuava desaparecida, prisioneira de homens extremamente fanáticos. Ia ser acusado de assassinato, diante de provas circunstanciais difíceis de re­futar. Ainda pior, caíra numa armação clássica.

Afinal, quem o enviara àquele prédio no meio da noite? Fora real­mente levado a acreditar que era apenas uma coincidência o fato de um brutal assassinato estar em andamento assim que aparecera no lo­cal do crime? E era muito estranho o fato de o assassino, com quase toda certeza, se haver refugiado logo numa sinagoga hassídica.

Todo aquele absurdo de que temiam o fim do mundo. Eles pró­prios o vinham provocando! Will e TC tinham desvendado sua tra­ma, por isso Freilich fora obrigado a vir com um papo furado sobre "quem quer que esteja por trás desse" blablablá. Seu primeiro instin­to estava correto. Não havia "eles". Os hassídicos haviam encontrado as identidades dos homens justos e agora, por algum motivo perver­tido independente, os queriam mortos. Will tinha entrado no cami­nho deles. Que solução melhor teriam para tirá-lo de circulação do que vê-lo preso pela polícia? Ele tinha de tirar o chapéu para eles: foi um golpe magistral.

Estranho pensar que poucos dias antes o foco de sua vida fosse a sua carreira. Sua carreira! Agora se achava em farrapos: ele fora flagrado em conduta imprópria pelo próprio editor. E também perdera todo o prestígio aos olhos do único homem cuja opinião realmente importa­va: o pai. Agora via isso com grande clareza. Claro que teria de afetá-lo o fato de ter sido criado todos aqueles anos sem pai. Sentia isso todo dia. Nos jogos de críquete, quando outros meninos eram aplaudidos de perto. Nos dias de atletismo, quando ele não tinha ninguém para aplaudir na corrida dos pais. As pessoas às vezes perguntavam se seu pai tinha morrido.

Will havia atravessado todas aquelas fases difíceis. Enfurecera-se com o pai; ressentira-se dele; numa ocasião, juntara forças com a mãe no ódio a ele. Mas sobretudo sentira falta dele. Havia sentido falta da­quilo que via outros meninos terem todos os dia dos pais: a mão no ombro, uma despenteada dos cabelos, um gesto que constituía apro­vação masculina. Agora, ali naquela cela de prisão, sem sombra da am­bigüidade e confusão, via mais claramente do que nunca por que cruzara o Atlântico e mudara sua vida. Viera buscar a aprovação do pai. Não ia encontrá-la estabelecido em Londres; teria de vir para os Estados Unidos e consegui-la por si mesmo.

Também tivera um plano. Seria o brilhante jovem sem tempo a perder, Will Monroe, astro de Oxford, que viera causar furor na cidade de Nova York. Imaginara o dia, talvez dali a dez anos, em que ia usar smoking, inclinar-se para um microfone posicionado alguns centíme­tros baixo demais para um homem de sua altura e agradecer aos juízes do Pulitzer pela fé em seu trabalho. Nessa mesma semana — na pri­meira página, duas vezes — isso chegara até a parecer próximo de rea­lizar-se. Mas agora não passava de um destroço exausto. A mulher a quem amava e o futuro com que sonhara haviam desaparecido.

Mesmo enquanto se empenhava nessa auditoria mental, sentia algo a chateá-lo — mais um pensamento exigindo atenção. Will andara des­viando o pensamento o máximo que podia. Esperava ficar livre dele.

Mas não conseguiu. E se os hassídicos estiverem certos? E se, assim que os 36 homens justos forem mortos, o mundo não mais se susten­tar? Tudo sobre essa louca teoria se encaixara até então. O ministro realizara de fato um ato de surpreendente bondade. Assim como Baxter também. E haviam feito isso disfarçados exatamente como dissera o rabino Mandelbaum. Poderiam todos os detalhes estar certos, e a própria idéia errada?

Nessa noite ele tinha testemunhado, ou perdera por pouco, o assas­sinato de um homem que bem poderia haver sido um tzaddik, um dos 36. E se assim fosse, seria mais uma confirmação de que os hassídicos diziam a verdade — ou ao menos parte da verdade. Também significa­ria que os assassinos dos lamad vav estariam chegando bem perto de sua meta. Ele conferiu as horas no relógio: pelo que dissera TC, o Yom Kippur terminaria em cerca de 16 horas. Tinham muito pouco tempo.

Era indispensável saber se o homem naquele prédio era um tzaddik, como os hassídicos haviam previsto. Pela primeira vez em horas, Will teve uma idéia.

Algum tempo depois, a porta da cela abriu-se mais uma vez. Ele se preparou para ver o pai. Mas era Fitzwalter.



  • Venha comigo.

  • Aonde?

  • Você verá.

Foi levado ao andar térreo, a uma sala iluminada por brilhantes lâmpadas fluorescentes, com sete ou oito homens dentro. Pelo menos três pareciam drogados; ele imaginou que vários eram sem-teto. Fecha­ram a porta.

— Muito bem, senhores — disse uma voz por um alto-falante. — Queiram ocupar seus lugares na parede dos fundos.

Dois dos homens no grupo pareciam saber exatamente o que fazer e encaminharam-se despreocupadamente para os fundos, depois se encos­taram na parede e ficaram olhando o vazio em frente. Foi quando Will viu as marcas na parede, indicando a altura. Era uma fila para reconhecimento.
No outro lado do vidro espelhado, a Sra. Tina Perez, do prédio de apar­tamentos Greenstret Mansions, fitou os homens dispostos à sua frente.

— Sei que foi uma noite longa, Sra. Perez — dizia Fitzwalter. — Portanto, não tenha pressa. Quando estiver pronta, vou lhe fazer duas perguntas.



  • Estou pronta.

  • Quero que olhe com muita atenção e me diga se viu algum des­ses homens antes e, se viu, onde foi exatamente. Certo? Está claro?

  • A resposta é não. Não vi nenhum desses aí antes. O homem que eu vi tinha olhos que a gente não poderia esquecer.

  • Tem absoluta certeza, Sra. Perez?

  • Tenho. Ele tinha as mãos em volta do pescoço do coitado do Sr. Bitensky e me olhava com aqueles olhos. Aqueles terríveis olhos...

  • Muito bem, Sra. Perez. Por favor, não se aflija. Jeannie, pode le­var a Sra. Perez para casa agora. Obrigado.

  • Certo, façam entrar a Sra. Abdulla.

Will foi poupado do encontro que temia com o pai. Vinte minutos após a fila de identificação, Fitzwalter entrara na cela.

— Mais uma boa e uma má notícia, Sr. Monroe. A má notícia para mim é que as duas testemunhas dizem que você não era o homem que viram no apartamento do Sr. Bitensky. Uma delas de fato o reconhe­ceu na identificação. Viu você no prédio, parado do lado de fora, na hora do assassinato. Assim, a boa notícia é que terei de deixá-lo ir em­bora. Por ora.

Havia formulários a preencher, para a liberação de suas coisas. Pri­meiro ele apertou um botão no celular, ligando-o. Instantaneamente, o aparelho começou a vibrar: uma mensagem de voz. TC.

— Oi, imagine só. Como previsto, estou detida pela polícia. Eles me interrogaram sobre o assassinato do Sr. Pugachov. Parece que ele foi baleado à queima-roupa. Acredita nisso? No meu apartamento? Aquela gracinha de homem, tão amável. E não posso imaginar que tudo isso foi porque... Como? Oh, meu Deus. Perdão. Eu lamento, Will, é Joel Brookstein. Você se lembra dele? Estudou em Columbia. De qualquer modo, Joel concordou em ser meu advogado. Me mandou não abrir a boca. Me ligue para dizer onde você está e como vão as coisas. Não sei se vão me deixar falar ao telefone por muito tempo. — A voz sumiu, como se ela tivesse se virado para falar com alguém atrás. — Está bem, já vou. Um minuto! Will, vou ter de ir. Ligue para mim assim que pu­der. Não temos muito tempo.

Enquanto escutava a voz dela — que agora parecia oscilar entre TC e Tova Chaya — ele ouviu um bip duplo. Um mensagem de texto. Apertou as teclas.



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