Gola fechada nas costas, lado e frente. (As clavículas devem permanecer cobertas)
Cotovelos cobertos
Joelhos cobertos por vestido/saia
Toda a perna deve estar adequadadamente coberta, assim como o pé.
Nada de fendas
As meninas e mulheres que usarem roupas indecentes, e com isso chamarem a atenção para sua aparência física, envergonham a si mesmas proclamando que não possuem as qualidades intrínsecas pelas quais devem atrair a atenção...
Então isso explicava o "dress code", o código de vestir do lugar. Mas a palavra que chamou a atenção de Will nada tinha a ver com golas ou fendas, mas sim "rabino". Parecia ser o homem com quem tinha de encontrar-se.
Ergueu os olhos para saber onde estava, notando pela primeira vez a placa da rua. Eastern Parkway. Ele mal avançara dez metros, quando viu outra placa: Internet Hot Spot. Chegara.
Will teve ânsia de vômito quando entrou no lugar. Era sem a menor dúvida o local do crime. Alguém se sentara a uma daquelas mesas baratas, cercadas de revestimento de compensado e piso de cerâmica cinza, e digitara a mensagem anunciando o seqüestro de sua mulher.
Olhou de maneira compenetrada o ambiente, esperando que o olhar se tornasse o de um super-herói, magicamente capaz de absorver cada detalhe, vendo com visão de raios X as pistas que deviam estar ali. Mas não tinha esse poder.
O lugar era uma bagunça, não parecia em nada com os cybercafés que conhecia em Manhattan ou mesmo em sua vizinhança no Brooklyn. Não havia café expresso, nem a variedade árabe mocha, aliás, de fato, nenhum tipo de café. Apenas fios expostos, anúncios na parede descascada, incluindo o retrato de um rabino idoso, de barba branca — um rosto que Will já vira uma dezena de vezes. As mesas estavam dispostas aleatoriamente, com frágeis divisórias separando cada computador. Nos fundos, viam-se pilhas de caixas de papelão vazias, com pedaços de isopor à mostra, como se os donos tivessem acabado de comprar o equipamento, descarregado e aberto a loja no mesmo dia.
Alguns olhares foram erguidos quando Will entrou, mas não eram nem de perto tão maus quanto temera. (Tivera visões de suas ocasionais incursões estudantis a pubs em áreas isoladas nas grandes cidades inglesas, lugares tão hostis que os moradores pareciam cair num silêncio instintivo, mal-humorado, assim que viam um estranho entre eles.) A maioria dos fregueses parecia preocupada demais para interessar-se por ele.
Tentou avaliar cada um deles. Notou primeiro duas mulheres, as duas de boinas. Uma sentada de lado no banco, de modo a manter uma das mãos no carrinho de bebê, balançando-o, enquanto digitava com a outra. Will logo a descartou: uma grávida com certeza não poderia ter seqüestrado sua mulher. Logo descartou a outra mulher com igual rapidez: tinha uma criança pequena no colo, assim como carregava no rosto talvez a expressão mais exausta que ele já vira.
Os terminais restantes estavam vazios ou ocupados por homens. Para Will, todos pareciam idênticos. Usavam os mesmos ternos escuros amarrotados, as mesmas camisas brancas de gola aberta e os mesmos chapéus de feltro preto de aba larga. Will olhou fixamente um por um de cada vez, como se perguntasse — Você seqüestrou minha mulher? Sua esperança era que uma consciência culpada pudesse fazer com que enrubescessem ou saíssem às pressas porta afora. Em vez disso, continuaram olhando as telas de computadores e acariciando as barbas.
Will pagou sua tarifa e sentou-se diante de uma tela. Ficou tentado a entrar no próprio e-mail, para que qualquer um que o inspecionasse ou lesse por cima de seu ombro soubesse de imediato quem ele era. Até certo ponto queria que soubessem que estava ali, atrás deles.
Mas decidiu absorver sem pressa o que tinha à sua frente. Cada terminal fora programado para mostrar a mesma página inicial, o site do movimento hassídico. Uma janela à esquerda da tela mostrava anúncios de nascimentos: Zvi Chaim, da família Friedman, Tova Leah, Susskind, Chaya Ruchi, Slonim. No alto da tela, um banner apresentava o mesmo rosto, embora desta vez parecesse dissolver-se numa fotografia da linha do horizonte de Jerusalém. Embaixo corria o slogan: Vida Longa para o rabino Melech HaMoshiach, para todo o sempre.
Will leu a frase três vezes, como se tentasse decifrar uma pista de palavras cruzadas cifradas. Não tinha a menor idéia sobre melech, mas
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