Sam bourne o código dos justos



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VINTE E NOVE
SÁBADO, 22H26, MANHATTAN
— Aqui é Jay.

— Jay, graças a Deus que te encontrei.

Do grupo de Will em Columbia, Newell era quem tinha seguido a menos provável trajetória profissional. Estava em rápida ascensão no Departamento de Polícia de Nova York, ultrapassando os velhos co­medores de rosquinhas a caminho de tornar-se um grande comissário da cidade antes de chegar aos 40 anos. Sofria tanto ressentimento dos policiais da velha-guarda quanto Will dos jornalistas mais velhos.

— Sou eu, o Will. Sim, tudo ótimo. Bem, estou meio num aperto, mas não posso explicar agora. Preciso de um grande favor seu.

— Tudo bem.

Mas as palavras saíram meio hesitantes.

— Jay, eu preciso que confira uma coisa. Escrevi uma matéria no jornal esta semana...

— Sobre aquele cafetão? Eu li. Parabéns pela primeira página, cara.

— É, obrigado. Escute, não chequei os relatórios da necropsia nem nada disso. Você tem acesso a eles?

— É fim de semana, Will..., você sabe.

Will olhou para o relógio. Tarde da noite de sábado; Jay era soltei­ro, com um monte de namoradas. Adivinhou que havia ligado num mo­mento espetacularmente inconveniente.

— Eu sei. Mas aposto que tem autoridade para ver o que quiser, quando quiser.

A velha manobra lisonjeira. Jay não admitiria que, na verdade, não tinha esse tipo de acesso.


  • O que você quer saber?

  • Se há marcas incomuns no corpo da vítima.

  • Achei que o cara tinha sido esfaqueado um milhão de vezes.

  • Ele foi, mas ainda estava inteiro. Quero ver se há algo como uma marca de agulha.

  • Um marginal cafetão de Brownsville, está de brincadeira? A quantidade de drogas que esses caras metem nas veias... na certa ele parecia uma almofada de alfinetes.

  • Acho que não. Nenhuma das pessoas com quem conversei fa­lou qualquer coisa sobre drogas injetáveis. Na verdade, ninguém disse sequer que ele usava drogas.

  • Tudo bem, meu amigo. Vamos ver então. Vou tirar a limpo. Este é o celular certo para achar você?

  • É. E preciso do que você conseguir realmente rápido. Obrigado, Jay. Fico te devendo esta.

De repente ouviu vozes, seguidas de risadas. Parecia um grupo de homens, vindo em sua direção. E depois, mais alta que as outras, a entonação de Townsend McDougal, num papo de redação.

— Podemos segurar isso por 24 horas? É exclusivo?

Will não tinha a menor idéia do motivo de se dirigirem para aquela parte árida da paisagem do terceiro andar: não faltavam salas de reunião no jornal. Ah, meu Deus. Talvez McDougal procurasse Will, acompa­nhado de um séquito de executivos superiores, para começar a inqui­sição agora mesmo.

Não podia correr esse risco, agora não. Mais do que depressa, com pouco tempo para conferir o que fazia, pegou o essencial — celular, livrinhos de anotações, caneta, BlackBerry — da mesa para colocar dentro da bolsa, deu meia-volta e fugiu da emboscada de McDougal. A única vantagem desse canto afastado da redação, percebeu naquele momento, era a proximidade da escada dos fundos. Jamais a usara antes, mas já era hora.

Assim que saiu, sorveu o ar noturno do sábado. Fechou os olhos aliviado, recostando-se na parede, o relógio do Times bem acima de sua cabeça.

Era tarde, e estava silencioso. Em circunstâncias normais, gostava dessa vibração. Trabalhar numa hora em que o resto da cidade descan­sava; deixar uma redação semivazia e caminhar na noite de Manhattan, tão grande era o contraste com a multidão habitual que percorria apres­sada aquela rua. Ninguém em volta, exceto um turista de agasalho sem mangas e boné de beisebol examinando uma das vitrines de exposição do Times, sem dúvida olhando uma prensa antiga ou uma fotografia emoldurada do falecido Sr. Sulzberger apertando as mãos de Harry Truman ou coisa assim. Devia estar com frio, parado ali fora. Mas Will tinha pressa para ir embora. Mal o viu.



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