Sam bourne o código dos justos


TRINTA E UM SÁBADO, 19H05, CIDADE DO CABO, ÁFRICA DO SUL



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TRINTA E UM
SÁBADO, 19H05, CIDADE DO CABO, ÁFRICA DO SUL
Ele costumava ir até ali quando o tempo estava bom. A praia, com sua suave curva de areia limpa, era um dos seus locais preferidos. Na época de estudante, era ali que flertava com as meninas e tomava cerveja. Naqueles dias, os forasteiros achavam que o país vivia em chamas, consumido por uma guerra racial. Mas não era bem assim; pelo menos para ele. Era branco, rico e curtia a vida. Conhecia dois sujeitos que estavam envolvidos com política, mas fora isso não se intrometia em política. Além disso, como um africânder criado no centro rural do Transvaal, educado para acreditar na separação das raças, o apartheid não era ofensivo, e sim natural. Nas fazendas, coelhos e vacas tinham seus próprios currais e não se misturavam, então por que devia ser diferente com negros e brancos?

Agora a praia estava tão linda como sempre, a água brilhando ao luar. Diante do oceano Atlântico, ouvia o burburinho dos bares: uma turma mais mista hoje em dia, negros, brancos e mulatos. Tentou igno­rar o ruído; queria ouvir os próprios pensamentos.



Sentia-se empolgado com o que havia acabado de fazer? Não tinha certeza. Aliviado, com certeza. Vinha planejando esse momento fazia meses. Todo dia levava um documento diferente para casa — às vezes um diagrama, outras, uma série de números algébricos — até montar o conjunto completo.

Inspirou profundamente. Lembrou aqueles dias na universidade, seguidos por outros anos no mestrado, quase sempre dentro de um laboratório. Tornara-se pesquisador na área de farmacologia, aos 27 anos, e passara os 15 seguintes trabalhando num único projeto, codino-me Operação Ajuda. Pois Andre van Zyl fazia parte de uma equipe que pesquisava a cura para Aids.

Eram apenas uma parte do projeto, claro. A sede do trabalho de pes­quisa era em Nova York, com outras equipes em Paris e Genebra. O escritório de campo da África do Sul era ainda menor, escolhido pelo que a literatura chamava de sua "importância clínica". Tradução: a África do Sul tinha um suprimento de pacientes de Aids à mão.

Vinham testando novos remédios em diversos grupos havia anos. Andre participara de algumas dessas experiências, grupos de clínicos que percorriam a mata, selecionando uma centena de homens e mu­lheres doentes, separando 50 como grupo de controle e ministrando no­vos comprimidos para os restantes. Andre conferia no computador a chegada dos resultados. De vez em quando, seus relatórios mostravam a mesma conclusão: nenhum impacto; resultados estatisticamente insigni­ficantes; mais trabalho é necessário.

Mas nove meses antes, havia recebido alguns dados que não podiam ser ignorados. O grupo que tinha tomado os medicamentos apresentara uma melhora significativa em relação a todas vistas anteriormente. Os sin­tomas não foram apenas debelados; tornaram-se inexistentes. A medicação parecia não apenas abrandar o vírus, mas exterminá-lo do organismo.

Após uma semana, cientistas da equipe de Genebra haviam chega­do para observar os pacientes. Alguns dias depois, o chefe de todo o projeto tinha vindo de Nova York. Ordenou que se aplicasse logo ao grupo de controle a nova droga, por "motivos humanitários".


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