Ninguém sabe. Encontraram ele morto num beco perto da sinagoga. Foi no início desta manhã, provavelmente a caminho das shacharis. Desculpe, as preces matinais. Seu tallis, o xale de orar, estava vermelho de sangue.
Eu não acredito. Quem faria uma coisa dessas?
Não sei. Nenhum de nós sabe. Foi por isso que Sara Leah, você a conheceu, minha mulher, disse que eu devia procurá-lo. Achou que isso de algum modo tinha ligação com você.
Comigo? Ela está me culpando?
Não! Quem falou em culpa? Ela apenas acha que poderia estar associado a seja lá o que tenha acontecido na sexta-feira.
Você contou tudo aquilo a ela?
Só o que eu sabia. Mas a mulher de Yosef Yitzhok é irmã dela. Somos uma família, Will. Ele é meu cunhado. Era meu cunhado.
A vermelhidão dos olhos estava prestes a se intensificar mais uma vez.
E Yosef Yitzhok disse algo à mulher dele?
Não muito, acho que não. Apenas o que ele tinha falado com você na noite de sexta-feira. Disse que você estava envolvido com uma coisa muito importante. Não, não foi essa a palavra. Disse que você estava envolvido numa coisa catastrófica. Foi essa a palavra que ele usou, catastrófica.
Ele disse mais alguma coisa à mulher?
Só que esperava e orava para que você entendesse o que estava acontecendo. E que soubesse o que fazer.
Nesse momento, Will não poderia sentir-se mais desamparado. O rabino dissera isso antes e agora Yosef Yitzhok repetia, da sepultura. Uma antiga história se desenrola aqui, foi o que havia dito o rabino. Trata-se de uma coisa que a humanidade temeu durante milênios. Agora YY estava lhe dizendo que os riscos eram tão altos que rezava para que Will soubesse o que fazer. E, no entanto, Will ainda se sentia tão confuso como sempre. Ou pior, mais confuso — sua cabeça rodopiava com a bizarra coincidência de Macrae, Baxter e Samak, todos homens nobres que tiveram mortes horríveis; a retórica misteriosa do Livro de Provérbios e, mais recentemente, a impenetrável geometria mística do diagrama que ele e TC haviam encontrado na biblioteca.
— Droga! TC! Ela continua lá em cima. Venha comigo. Rápido!
Will se repreendia a cada passo, enquanto subia escadas e atravessava corredores, Sandy atrás, retornando à sala de leitura. Como pudera deixá-la sozinha?
Dirigiu-se para a mesa que os dois haviam dividido quase uma hora antes. Quando se aproximou, seu coração apertou-se. Uma mulher estava sentada ali — mas não era TC. Ela se fora.
Will esmurrou a mesa com o punho, desencadeando uma pontada de dor no braço e um olhar de terror no rosto da mulher. Como pude ser tão idiota! Os seqüestradores agora haviam levado duas mulheres de debaixo de seu nariz. Devia ter protegido as duas, mas fracassara. Com ambas.
Embora Sandy estivesse parado a seu lado, ele não o via nem ouvia. Apenas uma coisa o tirou de seu torpor: uma vibração constante e persistente que agora sentia na coxa. Era o celular.
2 Novas Mensagens
Apertou a primeira.
Onde está você? Tive de sair. Me ligue. TC Respirou aliviado. Graças a Deus. Abriu a mensagem seguinte, certo de que seria ela, sugerindo o lugar onde deviam se encontrar. O que viu o fez recuar dois passos, espantado.
Qüinquagésima e Quinta Yosef Yitzhok podia estar morto — mas os enigmas continuavam.