Sam bourne o código dos justos


Logo abaixo, na calçada oposta, viu o homem do boné de beisebol



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Logo abaixo, na calçada oposta, viu o homem do boné de beisebol.

Will não o reconheceu logo. Mesmo quando viu o agasalho azul, não fez uma ligação imediata. Mas algo na atitude do homem, ou em sua postura, sugeria que ele não se dirigia a nenhum outro lugar, mas que precisava ficar bem ali; isso lhe trouxe uma lembrança.

Ele logo soltou a cortina e recuou um passo da janela. Tinha visto aquele homem pouco antes à noite; julgara-o um turista solitário que admirava a sede do New York Times, espreitando a vitrine como se não tivesse nada melhor a fazer. Agora o mesmo homem andava de um lado para o outro diante do prédio de TC. Era coincidência demais.

TC, quantas saídas para a rua existem neste prédio?



Ela ergueu os olhos da Bíblia, publicada em 1611 sob os auspícios do rei Jaime I, que acabara de tirar da prateleira.

  • Como? Do que está falando?

  • Acho que estamos sendo seguidos e vamos precisar sair já da­qui. Só não podemos sair pela porta da frente. Você tem alguma opção?

  • Deixe de gozação. Como alguém iria...

  • TC, não temos tempo para uma discussão.

  • Há uma saída de incêndio nos fundos; dá para um beco sem saída, eu acho.

  • Arriscado demais. Poderia ter alguém nos fundos também. Este prédio tem um zelador?

  • Um quê?

  • Um zelador?

  • Oh, sim. Um cara simpático. Mora no porão.

  • Você o conhece? Por favor, me diga que ele tem um carinho es­pecial por você.

  • Mais ou menos isso. Por quê? Em que está pensando?

  • Você vai ver. Arrume numa bolsa tudo o que possa precisar.

  • Precisar para quê?

  • Para uma noite fora. Acho que não podemos correr o risco de voltar.

Planejando a saída, Will deu um telefonema apressado, depois jun­tou os Post-its de TC, seu celular, o BlackBerry e pôs tudo nos grandes bolsos do paletó. Ouviu-a remexendo as gavetas.

Na porta da frente, inspecionaram mais uma vez o apartamento. Por hábito, TC estendeu a mão para o interruptor de luz; Will segurou-lhe o antebraço bem a tempo de impedir.

Não vai querer anunciar que estamos de saída, vai?



Isso lhe deu uma idéia. Como muitos nova-iorquinos preocupados com segurança, ela tinha dispositivos para acionar os interruptores nas luminárias. A maioria das pessoas os usava quando iam viajar, cronometrando-os para acenderem e apagarem as luzes, ligando a luz à noite e desligando-a de manhã. Sem perguntar, Will encontrou o da sala de estar e programou-o para desligar-se à meia-noite. Não, aquilo era óbvio demais. Dez para a meia-noite. Em seguida, foi até o quarto de TC com cuidado e programou a luz para acender-se dali cinco minutos antes e apagar-se mais uma vez vinte minutos depois. Com alguma sorte, o estranho à espreita do lado de fora concluiria que ele e a amiga haviam-na desligado de vez.

Feito isso, foram para o porão. Superaquecido e repleto de uma série de portas sem maçanetas, parecia um lugar inadequado para se viver. Mas era o lar do Sr. Pugachov, o zelador russo. TC bateu de leve na porta, atrás da qual, Will se deliciou ao notar, ouvia-se um programa de TV de tarde da noite. Por fim, a porta abriu-se com um rangido.

Para surpresa de Will, o zelador não era um velho mal-humorado de cardigã furado e sandálias gastas como os inspetores de escola de sua juventude. Ao contrário, o Sr. Pugachov era um homem bonito, de 30 e poucos anos e uma impressionante semelhança com o ex-campeão de xadrez Garry Kasparov. E em vista dos padrões de migração da ex-União Soviética, não seria nenhum grande choque se esse homem, cujo trabalho era assinar entregas diurnas de correspondência e consertar vazamentos em canos d'água, acabasse se revelando um grande mes­tre do xadrez.

Srta. TC!



A expressão de Pugachov, contudo, passou de prazer a desaponta­mento assim que viu Will.

Olá, Sr. P.



Um flerte, pensou Will. Bom.

- O que posso fazer por você?

Bem, é uma situação estranha, Sr. P. Meu amigo e eu planeja­mos uma linda surpresa para o aniversário da mulher dele.

Toque simpático, estabelecendo que não sou o namorado.

Que deve começar — TC fez o gesto de conferir as horas no re­lógio — a qualquer minuto, na verdade. À meia-noite!



Parecia ofegante, ansiosa demais.

Então o negócio é o seguinte — disse Will, assumindo. — Que­remos sair daqui sem que ela nos veja. Nós a deixamos diante do pré­dio, entende? Sei que vai parecer loucura, mas eu gostaria de saber se há alguma maneira de nos esconder em, huumm, não sei, alguma ca­çamba ou carrinho e nos levar para a rua.



Will viu que o campeão de xadrez ficou espantado. Fitava os dois com um olhar de perplexidade. TC recorreu a um sorriso cintilante, mas de nada adiantou. O zelador olhava-os inteiramente confuso. Will de­cidiu falar uma língua internacional.

Tome 50 dólares. Nos leve para fora daqui numa daquelas latas de lixo.



Apontou uma série de enormes latas de plástico sobre rodas enfileiradas junto à porta dos fundos.

  • Quer que eu ponha a Srta. TC na caçamba?

  • Não, Sr. P. Quero que nos ponha ali e apenas nos empurre pela rua. Cem dólares. Certo?

Decidiu que a negociação terminara. Enfiou o dinheiro na mão do zelador e dirigiu-se para a porta dos fundos. Ainda balançando a cabe­ça, o Sr. P. abriu a porta. Will apontou a lata azul assinalada "Jornais", fazendo um gesto para que o faxineiro a empurrasse o mais perto pos­sível da porta. Era arriscado demais pisar no lado de fora; poderiam ser vistos. Em seguida, pegou a lata, segurou na alça e inclinou-a, abrindo a tampa e esvaziando o conteúdo no chão. Revistas, catálogos e encartes grátis anunciando computadores caíram como uma cascata, espalhando-se pelo chão. Quando viu a cara do faxineiro franzir-se numa careta, enfiou a mão no bolso e tirou mais vinte dólares.

Assim que pôs a lata quase em posição horizontal, a borda apoiada na rampa, não foi muito difícil entrar. Will engatinhou, como num tú­nel. Depois se estendeu, deitando-se de lado, e fez um gesto para que TC o seguisse até os dois se acomodarem como se fossem as duas me­tades de uma noz dentro de uma casca azul de plástico.

Will fez o sinal com a cabeça e Garry Kasparov fechou a tampa. En­tão, com um vigoroso esforço e um grunhido profundo e baixo, o zela­dor ergueu a lata para que ficasse na vertical, inclinou-a e começou a empurrar. Em pânico, Will percebeu que não haviam discutido um ca­minho nem um destino.

Dentro, TC e ele chocalhavam e batiam nas paredes, mas tiveram o bom senso de não deixar escapar nem sequer um gemido. Seus joelhos se tocavam, os rostos estavam a apenas dois centímetros um do outro, e, ao serem lançados para cima quando o Sr. P. passou por um buraco, a irresistível vontade de rir foi grande. Era tão ridícula a situação de­les. Mas o sorriso só se formou na mente de Will, pois ele tinha um fardo nas costas. Beth.

Sentiram a velocidade diminuindo; o Sr. P. obviamente se cansa­ra. Will bateu de leve na lateral. A lata mais uma vez se inclinou até embaixo, deixando-os engatinhar para fora. O faxineiro havia feito um bom trabalho: percorrera quase três quadras, mantendo-se junto ao estreito beco atrás dos prédios de apartamentos. Com certeza não foram vistos.

Despediram-se, com TC dando ao Sr. P. um breve abraço, que, des­confiou Will, valeu mais que o pagamento em dinheiro. Os dois viram o zelador refazer o caminho de volta, um imigrante russo empurrando uma lata vazia sobre rodas pelas ruas de Nova York à meia-noite. Essa era a beleza de uma grande cidade: nada jamais parecia fora do comum; portanto, ninguém prestava muita atenção.

Muito bem — disse Will, olhando em volta e se orientando. — Agora só precisamos seguir uns seis quarteirões para o norte. Temos de correr.



E lá se foram.

Por fim, TC teve uma chance de falar.

Que diabo está acontecendo, Will? Você vê um cara de boné de beisebol e de repente nos joga numa lata de lixo? E por que estamos correndo? O que houve?

Eu vi aquele cara antes. Diante do prédio do Times.


  • Tem certeza? Como poderia saber se era o mesmo cara? Você só o viu por um segundo.

  • TC, acredite em mim. Era o mesmo homem. — Ia explicar sua teoria, mas percebeu que pareceria disparatada. E consumiria oxigê­nio demais. — Ele usava as mesmas roupas. Estava lá para me vigiar... ou para vigiar nós dois.

Acha que os hassídicos mandaram esse cara?

Claro. Talvez até seja um deles. Só precisaria trocar de roupas para passar por um sujeito normal.



TC olhou-o com firmeza.

Sabe o que quero dizer — explicou ele. — Poderia passar des­percebido. O que vi em Crown Heights semana passada... Nossa, foi apenas ontem. O que vi ontem é que muitos desses rapazes nasceram em famílias americanas comuns. — Will começava a ofegar. — Não se­ria difícil se despirem de toda aquela indumentária e voltarem ao que eram antes, se isso fosse exigido pela missão.



Haviam chegado ao seu destino: Penn Station, e precisaram espe­rar somente cinco minutos pelo que Will chamou de "corujão", um ter­mo para se referir aos serviços que funcionavam depois da meia-noite. Tinham o vagão todo para eles, a não ser por um homem barbado que visivelmente tirava uma soneca, na certa embriagado.

Esse é o trem que eu tomava para visitar meu pai antes de com­prarmos o carro.



Arrependeu-se da primeira pessoa no plural: pareceu de algum modo indelicado esfregar a parceria conjugal na cara de TC, ainda sol­teira. E esse arrependimento logo o fez lembrar que ele e TC jamais haviam passado um fim de semana em Sag Harbor. Will seguira quase à risca a vontade de TC: ela havia encontrado o pai de Will apenas uma vez e nunca tiveram a oportunidade de se conhecerem direito. Beth, em compensação, ajustou-se de imediato; era uma das coisas que fazia parecer a união correta.

Will ficou calado. Foi TC quem rompeu o silêncio, enfiando a mão na bolsa para pegar o livro que segurava quando saíram do apartamen­to. A Bíblia Sagrada.

  • Meu Deus, quase esqueci. Folheou as páginas em velocidade máxima. Aqui. O Livro dos Provérbios, Capítulo 10.

  • Já não leu tudo isso? Encontramos o que ele queria que vísse­mos: justo, justo, justo.

  • Eu sei, mas sou obsessiva. Quero estudá-lo mais.

  • O que está procurando?

  • Não sei. Mas algo me diz que saberei quando aparecer.


TRINTA E TRÊS
SÁBADO, 3H08, SAG HARBOR, NOVA YORK
A casa em Sag Harbor, pelo menos, não apresentou surpresas. A chave estava embaixo do vaso de flores, como sempre; o ambiente era bastante acolhedor, graças à eficiência do casal de caseiros que o pai de Will tinha contratado para manter tudo em ordem fora de temporada.

Ele circulou rapidamente, acendendo luzes, pondo água para esquen­tar no fogão, preparando chá. Pegou um pacote de biscoitos e afinal se sentou defronte de TC, vendo-a do outro lado da imensa e antiga mesa de carvalho que dominava a cozinha em estilo rústico da casa do pai.

Logo as lembranças voltaram a invadi-lo. Os longos invernos na es­cola, quando sentia cada um dos milhares de quilômetros que o sepa­ravam do pai. A alegria quando chegava um pacote no correio, quase sempre com uma deliciosa amostra de produtos da exótica cultura ame­ricana talvez um pacote de chicletes ou, nunca faltava, uma bola de beisebol de couro. E depois a emoção quando era colocado num avião durante as férias de verão, "um menor desacompanhado" que ia ver o pai. Aquelas semanas de agosto em Sag Harbor, caçando caranguejos na praia ou comendo mariscos no cais, eram o ponto alto do ano para Will. Ainda sentia, ainda hoje, anos depois, um vazio no estômago quando setembro chegava, ameaçador, e ele seria levado de volta ao aeroporto e afastado do pai por mais um ano.

Forçou-se a voltar ao momento presente. Ele começara a explicar tudo ainda no trem, mas agora explicava com todos os detalhes o que o afligia desde que recebera aquele telefonema. Era a primeira vez que ela ouvia falar de Jay Newell ou da conversa de Will com ele mais cedo naquela noite. Mas TC era uma aluna esperta; quando Will lhe contou sobre a mensagem de Jay, ela não precisou dele para juntar os pontos.

  • Então Baxter e Macrae foram drogados antes de ser assassina­dos; ambos eram considerados justos por pessoas que os conheceram; e, segundo YY e os Provérbios 10, se sua leitura disso estiver correta, é esse código dos justos que importa. O que de algum modo explica a trama hassídica sob um ponto de vista mais amplo. Por que levaram Beth, por que mataram o cara em Bancoc, por que puseram alguém para seguir você, ou a nós, esta noite. Em essência, essa é a teoria, não é?

  • É mais que uma teoria agora, TC. "2 abaixo: mais virão." "Mais mortes virão logo." Foi o que ele disse. Dirigia-se a mim diretamente! Tinha lido as matérias no Times e me dizia: "Muito bem, você resolveu duas delas, mas outras virão." O que significa que temos de associar isso com tudo o mais que vem acontecendo! Não está vendo?

  • Claro, eu vejo, sim. Ela escolheu as palavras com cuidado. Vejo que isso tudo parece estar associado. O problema é que... Ou me­lhor, o meu problema é que, pessoalmente, não consigo ver como jun­tar isso tudo, Macrae/Baxter/justo, que admito ser fascinante e incrível, às "outras" que supostamente virão.

Will desabou na cadeira.

Não, Will. Não fique assim. É um grande progresso. Estamos quase chegando lá, tenho certeza. Escute, vamos dormir um pouco e depois examinaremos com calma essa última parte disse ela, pondo a mão no ombro de Will e desencadeando uma avalanche de lembran­ças nos dois. — Nós vamos conseguir...



De repente, ele se levantou de um salto e saiu correndo da cozinha. TC foi atrás dele.

Will! Will! Por favor, não faça isso.



Encontrou-o em pé no escritório do pai, uma sala cheia de livros do piso ao teto. Uma fileira atrás da outra de livros jurídicos encaderna­dos em couro, relatórios de casos reunidos, volumes de julgamentos da Suprema Corte que remontavam ao século XPX. Em outra parede, viam-se obras mais contemporâneas, fileiras de títulos de capa dura sobre política, a constituição e, claro, a legislação. Pareciam arrumados com a mestria de um bibliotecário: agrupados por tema, e depois, den­tro de cada categoria, postos rigorosamente em ordem alfabética. TC concentrou-se na seção do cristianismo: Documentos da Igreja cristã, de Henry Bettenson, The Early Church, de Henry Chadwick, De Cristo a Constantino, de Eusébio, Doutrinas centrais da fé cristã, de JND Kelly, todos enfileirados em perfeita ordem.

Mas Will ignorou os livros e ligou o computador na mesa do pai. Passou os olhos por uma matéria da Associated Press, mal lendo as pa­lavras, à procura de algo específico.

Selecionou duas palavras com o cursor sobre o texto: o nome da ví­tima de seqüestro pelos hassídicos em Bancoc: Samak Sangsuk. Abriu uma janela do Google no alto à direita, colou o nome e teclou entrar.
Sua pesquisa — Samak Sangsuk — não encontrou nenhum documento correspondente.
Will ia xingar um palavrão, mas ficou quieto. Não por causa de TC, e sim pelo estranho barulho que vinha do corredor. Não apenas um, mas vários em rápida sucessão. Não havia dúvida. Tinha mais alguém na casa.
TRINTA E QUATRO
SÁBADO, 0H12, MANHATTAN
Ele havia esperado tempo demais. Foram as luzes apagando-se que o deixaram desconfiado. Disseram-lhe que aquele homem procura­va, desesperado, sua mulher: não fazia sentido ir dormir tranqüilo à meia-noite.

Além disso, temia estar despertando suspeita, andando de um lado para o outro diante de um prédio de apartamentos horas a fio. Embora ali fosse Manhattan, onde ninguém parecia notar nada, era um risco.

Telefonou aos superiores, pedindo permissão para prosseguir.

  • Tudo bem. Mas faça um serviço limpo. Está entendendo?

  • Estou.

  • E que o Senhor esteja convosco.

Esperou a chegada de alguém ao prédio, uma mulher que parecia retornar de uma loja de conveniência tarde da noite, com uma sacola cheia de mercadorias. Ele levou um segundo para percorrer os poucos metros até a entrada e emparelhar-se com ela.

Oh, deixe que eu faço isso disse, segurando a porta assim que ela a abriu e entrando logo atrás.



Enquanto a mulher conferia a caixa de correspondência, ele se diri­giu ao porão — parando apenas para cobrir o rosto com uma máscara de esqui.

Ouviu o som de uma televisão, que vinha por debaixo da porta. Ba­teu e esperou, conferindo mais uma vez o frio aço do revólver que mos­traria assim que a porta se abrisse. Não demorou.

Com o susto, o Sr. Pugachov deu um salto para trás e ergueu as mãos.

Bom. Agora, só precisa ficar calmo. Precisamos fazer isso tran­qüilamente. Você tem apenas de me levar ao apartamento no sexto andar. O que dá para a rua. Onde mora a moça bonita. Sabe à qual me refiro. A moça bonita pra caramba.



Pugachov nunca tinha ouvido um sotaque como aquele antes; o ho­mem não falava como os nova-iorquinos que ele conhecia. Levou al­gum tempo para entender o que o homem dizia. Adivinhando, estendeu a mão direita para trás da porta.

Ei! Mãos para cima! O que foi que acabei de dizer, moço?

Desculpe, desculpe — balbuciou Pugachov. — Eu ia pegar a chave. Chave! — Gesticulou para onde ficavam as chaves, e o homem de máscara de esqui viu uma série de ganchos numerados: chaves de reserva para cada apartamento do prédio.

O homem empurrou Pugachov porta afora, em direção à escada dos fundos. Era tarde; não havia ninguém à vista. Mas era arriscado demais tomar o elevador. A ordem que tinha recebido era esta: não podia ser visto.

O zelador abriu hesitante a porta de TC, gritando um fraco olá. Sentia a arma na nuca.

O homem de máscara de esqui acendeu uma lanterna e procurou a porta do quarto. Empurrou o refém contra ela.

Abra.



Pugachov girou a maçaneta devagar, mas o homem armado esten­deu a mão por cima dele e escancarou a porta com força.

Parado! o homem gritou, apontando o feixe da lanterna para a cama.



Como não havia nada, deu meia-volta, antecipando uma possível emboscada vinda por trás. Nada. Agarrando Pugachov pelo colarinho, começou a abrir portas de armários, apontando o revólver para cada novo espaço escuro em que procurava. Quando chegou à porta do ba­nheiro, deu um chute firme e entrou de um salto, antes de virar-se para certificar-se de que ninguém ia pular em cima dele.

Revistou o resto do apartamento, iluminando com a lanterna todos os cantos.

Bem, moral da história: confie em seus impulsos. Achei que eles tinham ido embora e foram mesmo.



Acendeu as luzes e começou a olhar em volta mais atento, sem dei­xar Pugachov fora de sua visão ou fora da mira do revólver.

Ligou o computador de TC, abrindo de cara o navegador de internet. Acessou o "histórico", com a longa lista dos sites mais recentes que ela tinha visitado. Pegou uma caneta, uma caderneta preta e começou a escrever o que viu. Pela primeira vez Pugachov notou que ele usava luvas de couro preto justas.

Em seguida, o homem viu um bloco de Post-it. A folha de cima esta­va vazia, mas ele a ergueu para perto da luz mesmo assim. Com absolu­ta certeza, como tantas vezes, viu o traço de palavras e números marcados na página. Ficou impressionado com o fato de as pessoas ainda comete­rem esse erro elementar: julgava que Will Monroe fosse mais esperto.

Então pegou o telefone e teclou o botão "último número": 1-718-217-5477117366727341. Tantos dígitos só poderiam significar uma coi­sa: Monroe havia ligado para algum tipo de serviço automático, que oferecia uma série de opções numéricas. O homem com a arma copiou a série inteira de números e teclou religar.
Obrigado por ligar para a Ferrovia de Long Island…
Depois disso, foi simples: só precisou teclar a seqüência de núme­ros que ele havia anotado. "1" para usar ligação por tom, "1" para in­formação de horário, e depois, quando pediram para digitar as cinco letras de sua estação de partida, 73667, e assim por diante. Foi fácil. Com a maior boa vontade, a voz feminina automática informou os horários dos três trens seguintes que saíam da Penn Station para Bridgehampton, a estação mais próxima de Sag Harbor.

O homem jogou o facho de luz da lanterna pelo chão mais uma vez, notando um pedaço de papel amarelo que não tinha visto. Dizia: versículo 11. A boca do justo é uma fonte de vida; a do ímpio, porém, esconde injustiça.

Enfiou o papel no bolso e virou-se para Pugachov.

Muito bem, filho. Agora é a sua vez.



Usou o revólver para gesticular em direção à porta.

Quando Pugachov ergueu a mão para a maçaneta, virou ligeiramente as costas e ficou lado a lado com o homem. Agora, lembrando o treinamento que recebera como antigo reservista do Exército Vermelho, tinha chegado o momento. Num instante, agarrou o mascarado pelo pulso e prendeu a arma dele embaixo do ombro, logo derrubando o homem no chão.

A arma caiu, Pugachov estendeu a mão para pegá-la e foi chutado, com força, nos colhões. Dobrou-se em dois e sentiu um braço em volta do pescoço. Tentou soltar-se lançando com ímpeto os cotovelos para trás, mas não conseguiu se mover. Viu-se preso numa chave de pesco­ço, e o homem que o segurava parecia ter uma força sobre-humana. Pugachov sentia a respiração dele em sua orelha.

De algum modo, e só com supremo esforço, conseguiu girar o bra­ço direito, desprendê-lo e levá-lo à cabeça do homem. Mas não a tocou. Balançou as mãos até finalmente agarrar alguma coisa. Levou um se­gundo para perceber que não eram cabelos. Pelo canto do olho, viu o que segurava: ele tinha arrancado a máscara do homem.

De repente, o golpe de pescoço se afrouxou. Pugachov tombou, quase sufocando. Já não era mais a máquina de luta bem condicionada da juventude; aquele período de serviço militar no Afeganistão havia ficado no passado longínquo. Talvez o mascarado tivesse percebido isso; talvez entendesse que ele não poderia causar nenhum dano grave e o deixasse ir embora.

Acho que acabou de cometer um grande erro, meu amigo.



Pugachov ergueu os olhos e viu um homem muito mais jovem do que ele esperava. Agora sem a máscara, o zelador viu que os olhos eram do mais excepcional azul que já vira, quase feminino. Pareciam emitir raios de luz brilhante e incisiva.

Não teve muito tempo para encará-los, porque sua visão logo se obscureceu pela boca do que reconheceu ser um silenciador aponta­do direto entre seus olhos.
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