Sam bourne o código dos justos


Quantos desses homens justos existem? O rabino instantaneamente olhou para TC



Yüklə 2,48 Mb.
səhifə18/26
tarix01.11.2017
ölçüsü2,48 Mb.
#25483
1   ...   14   15   16   17   18   19   20   21   ...   26

Quantos desses homens justos existem? O rabino instantaneamente olhou para TC.

  • Você não sabe? Já se esqueceu?

    Não me esqueci, rabino Mandelbaum. Mas queria que Will ou­visse do senhor.

    Existem 36 tzaddikim em cada geração. Você sabe, talvez, que em hebraico cada letra também tem um valor numérico? Em hebraico, 36 é expresso pelos caracteres lamad, que é como um L com voo, equivalen­te à letra V. Lamad é 30 e vav é seis. Em iídiche, esses justos são chama­dos de lamadvavniks: os 36 justos que sustentam o mundo.



    Will sobressaltou-se, as antenas ligadas como quando ouvia as pa­lavras que dariam uma matéria jornalística.

    Perdão, mas o que quer dizer com "sustentam o mundo"? Viu TC assentir com a cabeça, um meio sorriso nos lábios que pare­cia dizer: Afinal estamos chegando ao âmago da questão.

    Ah, bem, nisso está todo o sentido dos contos. Lamento, Sr. Monroe, estou ficando velho. Devia ter falado disso no início. Por fa­vor, deixe-me voltar atrás. — O rabino pegou outro livro; um dos pou­cos que não era em hebraico na sala. A idéia messiânica no judaísmo, de Gershom Scholem. — Alguém deu este para o seminário. Acho que tenta explicar essas questões ao leitor comum...

    Will quase arranhava a própria pele de frustração. Meneou educada­mente a cabeça, os olhos arregalados, fazendo tudo o que podia para in­centivar o rabino a pular o que não interessava e ir direto ao assunto.


    • Ah, sim, aqui estamos. Scholem diz que a tradição judaica "fala de 36 tzaddikim, ou homens justos, sobre os quais, embora sejam des­conhecidos ou estejam ocultos, se apóia o destino do mundo". — Lia examinando mais abaixo a página. — "Já nos Provérbios bíblicos de Salomão, encontramos a afirmação de que os justos são os sustentáculos do mundo, e desse modo, por assim dizer, sustentam o mundo."

    • Espere, rabino Mandelbaum. — Era TC, de repente sentada na beira da cadeira. — Onde nos Provérbios está essa referência?

    Devagar, o rabino folheou uma página para trás.

    Capítulo 10, versículo 25.



    Num instante, ela enfiou a mão na mochila e retirou sua pilha de Post-its escritos por conta das pistas das mensagens de texto que os levaram aos Provérbios 10. Folheou-os até encontrar o que queria. Sor­riu e passou-o a Will. Versículo 25: Quando passa a tormenta, desaparece o perverso, mas o justo descansa sobre fundamentos duráveis.

    • Fundamentos disse em voz baixa. Depois, olhando para Will: Os justos são os alicerces sobre os quais se apoia o mundo. Sem eles, o mundo entra em colapso.

    • Tova Chaya resumiu muito bem. Há alguma divergência sobre a origem da idéia. Alguns estudiosos acham que remonta à discussão de Abraão com o Todo-Poderoso sobre o povo de Sodoma.

    TC percebeu que Will não sabia nada dessa discussão de Abraão e que o rabino Mandelbaum não parecia propenso a explicá-la. Tomou então a palavra.

    Basicamente, Deus ia destruir toda a cidade de Sodoma porque o povo havia se tornado pecaminoso disse, mais ansiosa para escla­recer do que começar uma nova discussão com o antigo professor. Abraão tenta fazer um acordo, propondo que se ele conseguir achar cinqüenta pessoas boas dentro na cidade, Deus devia poupá-la por cau­sa delas. Deus concorda e Abraão começa a negociar. Nesse caso, per­gunta, se a salvaria por cinqüenta, então que tal quarenta? Deus também concorda mais uma vez. Continuam negociando até Abraão por fim dobrar Deus, reduzindo para dez as pessoas boas. Muito bem, disse Deus. Encontre para mim dez homens justos e salvarei Sodoma. Assim se estabelece o princípio de que, enquanto houver pessoas verdadeiramen­te justas, o resto de nós ficará bem. Estamos salvos porque elas existem no mundo.



    O rabino Mandelbaum continuou.

    • Há alguma discordância sobre os números exatos. Uns dizem 30, outros 45. Mas do século IV em diante, estabeleceu-se o número em 36. É como escreve o rabino Abaye "não existe mais do que 36 pessoas justas em cada geração sobre a qual se apoia a Shekhina.

    • Perdão. Que palavra é essa?

    • Minhas desculpas. A Shekhina é a radiação de Deus, a Face Di­vina. É algo como uma luz divina — acrescentou com o que tinha cer­teza de que era orgulho — feminina.

    • Quero ter certeza de que entendi isso direito — começou Will, tentando concluir. — A doutrina judaica afirma que há 36 pessoas ver­dadeiramente justas em qualquer época. Podem estar ocultas na obs­curidade, fazendo trabalhos rotineiros, levando vidas imperfeitas, até pecaminosas. Mas, com discrição e em segredo, realizam atos de ex­traordinária bondade. E contanto que estejam entre nós, todos ficamos bem. Elas mantêm o mundo a salvo. — Acabou entendendo a última pista: a estátua de Atlas no Rockefeller Center, carregando todo o uni­verso nos ombros. — O que significa — disse, desacelerando a voz — que se não estivessem por aqui, por qualquer razão, isso seria, literal­mente, o fim do mundo.

    Pesada e vagarosamente, o idoso rabino assentiu com a cabeça.

    Receio que seja exatamente o que significa.


    QUARENTA E CINCO
    DOMINGO, 20H46, CROWN HEIGHTS, BROOKLYN
    Então era por isso que as pessoas vinham morrendo. Apenas por uma bizarra lenda quase bíblica. A perda de vidas atingiu Will com nova força: que insanidade, que crueldade, Howard Macrae ou Pat Baxter serem assassinados em nome de uma fantasia lunática. O fim do mundo, ora veja! Era um óbvio absurdo. Quem poderia acreditar seriamente que 36 pessoas justas mantinham o mundo vivo? Ele não respirara o ar cético, empírico, de Oxford para nada. Fora ensinado a descartar de imediato tal disparate: fazia mais sentido acreditar em duendes no jardim.

    No entanto, o que ele achava era sem dúvida irrelevante. Alguém obviamente acreditava mesmo nisso com uma intensidade que o deixava disposto a matar homens inteiramente inocentes, em todas as partes do mundo. Se essa era a motivação dos assassinos, que impor­tância tinha ser ou não racional?

    Era o que dizia a si mesmo. Mas algo continuava a preocupá-lo. Algo naquele homem e seus livros; alguma coisa no respeito que TC tinha por ele. Algo na própria TC, aliás, Tova Chaya. Essas pessoas não eram maníacas de olhos esbugalhados. Eram guardiães de uma antiga tradi­ção que resistira desde a cidade de Sodoma. A historia dos 36 havia passado tranqüilamente de geração a geração, desde os dias de Abraão, em séculos de perambulações da Babilônia ao leste europeu, e agora aos Estados Unidos. Os judeus não eram excêntricos, obcecados por fan­tasias; não pelo que ele conhecia. Suas conversas com TC sempre haviam projetado a mesma impressão: que o judaísmo não se preocupava mais com o sobrenatural do que com a maneira como os seres humanos tra­tavam uns aos outros aqui e agora. Não pareciam acreditar em discos voadores nem em aleijados jogando fora as muletas. Tinham convic­ções mais realistas que isso. Portanto, se acreditavam na presença oculta de 36 homens bons, talvez houvesse um motivo.

    Outra coisa atormentava os instintos em geral céticos de Will. Se não houvesse descoberto por si mesmo, jamais teria acreditado nisso. Mas Macrae e Baxter, Samak em Bancoc e Curtis em Londres tinham se encai­xado à perfeição na descrição do rabino. Haviam, na verdade, feito atos de rara bondade — e em total segredo. Evitaram a publicidade, exatamente como exigia a lenda. (O forte palpite de Will era que, até ele come­çar a investigar, os atos justos de Baxter e Macrae, pelo menos, haviam passado inteiramente despercebidos.) As quatro pessoas de que tinha co­nhecimento tinham se disfarçado de pecadores, pessoas que seriam mais maltratadas que reverenciadas. Um cafetão e um político.

    E se aceitasse a existência desses lamadvavniks, só por conta da dis­cussão? Isso permitiria a intrusão de um novo pensamento. Até esse momento, seu único interesse fora descobrir como essa estranha e an­tiga história poderia levá-lo de volta à sua mulher. Agora sentia as mãos se umedecerem com uma idéia diferente. Se esse mito tinha algum fundamento na realidade, a perseguição dos justos não era apenas um cri­me cruel. Também traria desastre ao mundo. Pela primeira vez entendia as palavras do rabino Freilich ao telefone na noite anterior. Sua mulher é importante para você, Sr. Monroe, claro que é. Mas o mundo, a criação e o Todo-Poderoso, é importante para mim.

    Trinta e seis, pensou Will. Tão poucos. Apenas 36 em todo esse plane­ta apertado, e superpovoado, fervilhando com seis bilhões de pessoas? Quatro homens estavam mortos, ele sabia. Significaria isso que havia outros 32 mortos ou morrendo nos mais diversos cantos do mun­do, só que despercebidos?

    Lembrou-se mais uma vez da conversa com o rabino Freilich. Urna antiga história se desenrola aqui, ameaçando um desfecho que a humanidade temeu durante milhares de anos. Então era isso que ele queria dizer. A anti­ga história era a lenda dos lamad vav, os 36 homens justos. O desfecho temido por tanto tempo era nada menos que o fim do mundo.

    Quem enviava aquelas mensagens de texto sabia de tudo isso, per­cebia agora Will. Enquanto o rabino Mandelbaum se esticava para pe­gar outro livro, ele deu uma rápida olhada para o telefone celular, para ver a última mensagem que recebera. Um poema de quatro versos, um quarteto.
    Somos apenas homens justos, em pequeno número

    Expressos em dois dígitos

    Ficaremos pela metade se eles se multiplicarem

    Se nós poucos perecermos, todos têm de morrer.
    Apenas homens... expressos em dois dígitos. Os dois dígitos eram três e seis. Se eles se multiplicarem. Três vezes seis são 18, metade de 36: Ficare­mos pela metade. E o autor do texto entendia o que estava em risco. Se nós poucos perecermos, todos têm de morrer.

    Will tentou com esforço recompor-se. Queria desesperadamente pegar o livrinho de anotações, começar a ordenar toda essa informa­ção. Mas ainda tinha algumas perguntas a fazer.

    • Esses 36? São todos judeus?

    • Em geral, no folclore hassídico os tzaddikim são judeus. Isso, porém, é mais sociologia que teologia: quem mais conhecia esses yidden?

    Conheciam apenas judeus. Era todo o mundo deles. Nos primeiros tex­tos rabínicos, há diferentes opiniões sobre a identidade dos tzaddikim Alguns acreditavam que viviam na terra de Israel, alguns diziam que uma parte vivia fora dela; outros que os justos surgiam entre os goyim, os não-judeus. Não existe nenhum entendimento quanto a isso. Podiam ser todos judeus, todos não-judeus, bem como uma mistura.

    Mas são sempre homens?

    Sempre. Nisso as fontes concordam. Não há a menor dúvida a respeito. Os lamadvavniks são todos homens.

    TC lia a mente de Will. Então por que mantêm minha Beth presa?

    A verdade era que Will ficou decepcionado. Desde que o rabino começara a falar, vinha tentando reconstituir o caminho de volta à mulher e seu seqüestro. Mesmo antes de chegar ali, aceitara que Macrae e Baxter tinham uma ligação entre si, mas não conseguia compreender sua ligação com Beth. Para ele, essa teoria dos 36 parecia bizarra e for­çada, senão inteiramente louca, mas pelo menos talvez explicasse o que os hassídicos tinham em mente. Talvez, por algum motivo enganoso, houvessem decidido que ela era um dos justos. Agora sabia que isso não podia ser verdade: ela era mulher. Continuava tão estupefato como sempre.

    Uma nova pergunta veio-lhe à mente. Ele a formulou de imediato.

    Quem ia querer fazer uma coisa dessas? Quem ia querer causar o fim do mundo?

    Só aquele que estivesse escravizado pelo Sitra Achra.

    Will franziu a testa.

    O rabino Mandelbaum percebeu que precisava dizer mais.

    Lamento, ando esquecido. Sitra Achra significa literalmente "o outro lado". Na cabala, é a expressão usada para se referir às forças do mal. Infelizmente, elas estão presentes em toda a nossa volta, todo dia e em tudo.



    • Assim como o diabo, como Satanás?

    • Não, na verdade, não. Porque o Sitra Achra não é uma força ex­terna a que podemos culpar por tudo que dá errado. O poder do Sitra Achra deriva das ações dos seres humanos. Não é Lucifer que introduz o mal no mundo. Receio, Sr. Monroe, que sejamos nós.

    • Por que pessoas religiosas, homens de Deus, iriam querer fazer uma coisa dessas... matar os homens justos?

    • Não posso imaginar por quê. Você sabe, nós, judeus, dizemos que quando salvamos uma vida, é como se houvéssemos salvado o mundo todo. Portanto, matar qualquer ser humano é um grande cri­me. O crime último. Matar um tzaddik? Seria outra profanação do nome do Todo-Poderoso. Matar mais de um? Querer matar todos? Eu não consigo nem contemplar tanta perversidade.

    • Nenhuma motivação que possamos imaginar?

    • Acho que é concebível alguém muito mal orientado querer tes­tar essa crença até os limites. Para ver se é realmente verdade, que os lamad vav sustentam o mundo. Se todos os lamad vav desaparecerem, se todos não estiverem mais aqui, bem, saberemos, não?

    • Ou talvez esse alguém já acredite — disse Will. — Acredita tan­to que quer provocar o fim do mundo.

    No silêncio que se seguiu, Will se deu conta de algo que chegara a passar-lhe pela cabeça, mas que só agora ele pensava com a devida aten­ção. Para alguém que acabara de ser confrontado com tais notícias, o rabi­no Mandelbaum parecia admiravelmente calmo. Continuava sentado em sua cadeira, folheando livros. Como se fosse apenas um problema teórico.

    Então foi a vez de o rabino ler a mente de Will.

    De qualquer modo, ninguém poderia fazer isso — disse o ve­lho, suspirando ao se acomodar na cadeira. — Porque ninguém jamais sabe onde estão os lamadvavniks. Este é o poder deles.



    Will ficou envergonhado ao perceber que essa era a única coisa em que nunca pensara. Trinta e seis pessoas, vivendo em humilde obscu­ridade em todo o mundo: como poderia alguém saber quem eram? Como os assassinos de Macrae e Baxter os haviam encontrado?

    • O tzaddik está escondido, às vezes até dele mesmo; pode não ter a menor idéia de sua própria natureza. Se um homem não conhece a si mesmo, quem mais pode conhecê-lo?

    • Então ninguém tem a menor idéia de quem são os 36? Não exis­te uma lista secreta?

    O rabino piscou os olhos.

    Não, Sr. Monroe, não existe nenhuma lista. Tova Chaya, atrás de você, pode me passar o livro do rabino Yosef Yitzhok?



    Will sobressaltou-se. Ouvira tão poucas palavras conhecidas desde que chegara àquela sala, mas aquele era um nome que conhecia. TC captou sua expressão e sussurrou um esclarecimento.

    • É o nome de um rabino já falecido. YY recebeu o nome em sua homenagem. Morreu há 50 anos.

    • Muito bem — disse o rabino, mais uma vez acomodado na ca­deira. — Isto é uma espécie de autobiografia do rabino. Aqui ele des­creve os tzaddikim como se fossem uma sociedade secreta. Não se refere a eles explicitamente como lamadvavniks, mas é sobre eles que fala. Su­gere que essas pessoas, cada uma habitando uma cidade diferente, fo­ram de algum modo as fundadoras do hassidismo. — Afastou-se do livro, os olhos fechados, como a ler um texto escrito dentro das pálpe­bras. Will percebeu que ele buscava algo na memória. — Também há o grande rabino Leib Sorrer. Do século XVIII. Dizia-se que mantinha con­tato secreto com os justos escondidos, que cuidava até para que fos­sem alimentados e vestidos. Dizem o mesmo sobre o Baal Shem Tov, o reconhecido fundador do hassidismo. — Abriu os olhos. — Mas essas são as exceções. Em geral, subentende-se que os tzaddikim permanecem ocultos. Há histórias de desencontros por um triz, tzaddikim prestes a conhecer outro de seu tipo, mas sem conseguirem. E acredita-se que um justo teria a sabedoria de reconhecer outro. Você sabe, ele de algum modo "sentiria o brilho, a irradiação." O rabino abriu o sorriso que Will vira antes, o que pertencia ao jovem brincalhão e travesso que ele parecia ter sido outrora. Mas em geral esses homens não são reco­nhecidos, por si mesmos, uns pelos outros, pelo resto de nós.

    Como alguém conseguiria encontrá-los?

    Ora, esse é o tipo de pergunta que Tova Chaya fazia, uma pergun­ta que o rabino Mandelbaum não sabe responder! Os dois trocaram sorrisos afetuosos, como um avô e a neta preferida. Eu gostaria de sa­ber, Sr. Monroe, mas não sei. Para isso, precisaria conversar com outros. Aqueles que penetraram nos mais profundos segredos da cabala.



    Will viu que o rabino começava a ficar cansado. E, no entanto, não quis deixar a conversa terminar. Na última meia hora, tivera mais res­postas que nas 48 horas anteriores. Afinal, não apenas entendera as pis­tas que haviam chegado por mensagem de texto, mas vira a imagem maior, a história antiga se desenrolando. Com certeza aquele velho sábio tinha a chave do motivo de Beth ser prisioneira. Se ao menos conse­guisse pensar na pergunta certa a fazer.

    Ouviu-se um zumbido, a baixa vibração de um telefone celular. TC, tão habituada a usar calça cargo com múltiplos bolsos, parecia confusa com a percepção de que agora vestia uma saia longa, sem bolsos: não sabia onde procurar. Por fim lembrou-se. Pegara emprestada uma ele­gante bolsa que pertencia a Beth algo que ela própria não possuía. O telefone estava lá. Pediu desculpas, saiu da sala para atender.

    Will esforçava-se para absorver tudo que acabara de ouvir. Teorias loucas sobre o fim do mundo, terríveis avisos de um profetizado cata­clismo. Pôs a cabeça nas mãos. No que havia se metido?

    De repente, sentiu uma mão no ombro.

    É uma coisa terrível um homem ficar sem sua mulher. A Sra. Mandelbaum morreu há três anos e eu sigo adiante com minha vida. Ainda estudo, ainda oro. Mas se de vez em quando sonho com ela à noite... ah, isso é que é shabbos.



    Will sentiu os olhos se encharcarem. Para quebrar o clima, pigar­reou e recompôs-se para fazer uma pergunta. Não sabia se ia ajudá-lo a encontrar Beth, mas queria saber tudo o que pudesse.

    • O que se conta como bom? O que conta como tão boa ação que destaca o homem como justo?

    • Não sei se é tão simples assim. Temos de pensar na alma do tzaddik. É uma alma de tanta pureza, de tanta bondade, que não pode deixar de manifestar-se para fazer o bem. As ações são apenas a mani­festação externa de uma bondade interior. — O rabino começou a arrastar-se para fora da cadeira, como em busca de um livro. — O texto-chave hassídico é conhecido como o Tanya. Nesse livro há uma definição de tzaddik. Explica que em cada pessoa há duas almas: uma divina e outra animal. A alma divina é onde temos nossa consciência, nossa grande vontade de fazer o bem, nosso desejo de aprender e estu­dar. A alma animal é onde temos nossos apetites por comida, por bebi­da: sensualidade. Tudo isso vem da alma animal.

    "Ora, essas duas almas vivem constantemente em conflito. Uma boa pessoa esforça-se muito para controlar a alma animal. Para reprimir os desejos, não se entregar a todo desejo irresistível. Isso é ser uma pessoa boa, normal: lutar!

    Ele esboçou um sorriso, como em reconhecimento à fragilidade do homem.

    Mas o tzaddik é diferente. O tzaddik não domestica sua alma ani­mal. Ele a transforma. Muda a alma animal para uma outra coisa, trans­formando-a numa força para o bem. Passa a funcionar com dois cilindros, por assim dizer! É como se tivesse duas almas divinas. Isso lhe dá um poder especial. Dá a ele as condições para salvar o mundo.



    • E um ato seria suficiente?

    • Como assim?

    Se um homem fizesse um ato de extraordinária bondade, isso bastaria para dizer que era um tzaddik?

    • Talvez você tenha algum exemplo em mente, não é? Minha res­posta é que pode nos parecer que o tzaddik realizou apenas um ato san­to. Mas se lembre de que esses homens escondem sua bondade. A verdade talvez seja que esse é o único ato de que tenhamos conhecimento.

    • E como seria um ato desses?

    • Ah, essa é uma boa pergunta. Na história sobre o rabino Abbahu e o homem do prostíbulo...

    • A do século III?

    • Sim. Naquela história, o tzaddik fez uma coisa bem pequena. Esqueço os detalhes, mas ele fez um pequeno sacrifício para preservar a dignidade de uma mulher.

    Will ouviu-se engolir em seco. Assim como Macrae.

    • E isso parece ser o fio comum. Às vezes é um ato em escala muito grande Will pensou no ministro Curtis em Londres, desviando pre­ciosos milhões para os pobres —, talvez um tzaddik salve toda uma ci­dade da destruição. Às vezes é um minúsculo gesto para um único indivíduo: uma refeição para quem sente fome, um cobertor para quem sente frio. Em cada caso, o tzaddik tratou um ser humano com justiça e generosidade.

    • E, assim, mesmo um pequeno gesto poderia salvar toda uma vida?

    • Sim, Sr. Monroe. O tzaddik pode ter vivido encharcado de peca­dos. Pense no Chaim, o carregador de água, embriagando-se para es­quecer. Mas esses atos de virtude mudam o mundo.

    • Então a bondade não tem a ver com regras. Nem na maneira de se penitenciar. Nem orar muito. Nem conhecer cada palavra da Bíblia. Mas sim como tratamos uns aos outros.

    • Bein adan v'adam. Entre homem e homem. É aí que reside a bon­dade, até mesmo a divindade. Não no Céu, mas bem aqui na Terra. Em nossas relações uns com os outros. Também significa que temos de ser cuidadosos. Temos de tratar todos que conhecemos com grande res­peito, porque, pelo que sabemos, o homem que dirige um táxi, varre as ruas ou pede esmolas numa esquina de rua, poderia ser um dos justos.

    Isso é muito igualitário, não é? O rabino sorriu.

    Toda vida humana tem o mesmo valor. Essa é a preocupação da Torá. Era isso que Tova Chaya estudava todo dia no seminário. E o que ela estudou aqui comigo, antes de...



    Yüklə 2,48 Mb.

    Dostları ilə paylaş:
  • 1   ...   14   15   16   17   18   19   20   21   ...   26




    Verilənlər bazası müəlliflik hüququ ilə müdafiə olunur ©muhaz.org 2024
    rəhbərliyinə müraciət

    gir | qeydiyyatdan keç
        Ana səhifə


    yükləyin