Samantha James Alana, a Bruxa



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* * *

No dia seguinte, a gravidez de Alana não era mais segredo.

Alguém, ela não sabia quem, escutara a briga da noite anterior no topo da escadaria. A novidade se espalhou como praga. Em questão de dois dias, todo o feudo sabia que ela gerava o bebê de Merrick. E, infelizmente, com o passar do tempo, as dúvidas que a perturbaram tanto naquela noite retornavam com muito mais intensidade.

E a situação tornou-se ainda pior quando ela encontrou Sybil sozinha no cômodo de Geneviève.

Ela queria pedir à amiga que lhe emprestasse um carretel de linha branca. Sybil, que arrumava a cama, ergueu o ros­to ao ver Alana.

— Geneviève foi até a aldeia falar com a mulher do lei­teiro, irmã.

— Está bem. Obrigada.

Alana fez menção de se retirar, mas Sybil parou o que estava fazendo e a chamou.

— Não vá ainda! Quero falar com você. Cautelosa, Alana permaneceu perto da porta.

De mãos na cintura, Sybil se aproximou. Olhou o ventre da irmã e assentiu.

— Foi uma idiotice ser tão descuidada.

Surpresa com o comentário, Alana não encontrou pala­vras para rebatê-lo.

— Com quantos meses você está? — Sybil indagou.

— Em uma quinzena completarei quatro meses — Alana respondeu.

— Quatro meses. Ora, você logo estará gorda como uma porca.

Por instinto, Alana protegeu o ventre com as mãos. Durante o banho, naquela manhã, havia notado quão larga estava sua cintura e quanto sua barriga havia crescido. Até os seios estavam cheios e sensíveis. Sybil continuou a espezinhá-la.

— É óbvio que em breve Merrick não vai mais querê-la. Sabe disso, não?

Enfim, o orgulho a socorreu.

— Você parece ter inveja, Sybil.

Ela jogou a cabeça para trás e gargalhou.

— Não sinto nenhuma inveja de você, Alana. — Sybil piscou para ela. — Raoul não me dá a chance de pensar em outros homens.

Enojada, Alana torceu o nariz. Por que Sybil desejava Raoul como amante estava além de sua compreensão.

— Aliás — ela prosseguiu —, é comum um homem se desgarrar quando sua mulher está prestes a dar à luz. Uma barriga enorme é uma visão grotesca e deselegante e mata o prazer do parceiro, se é que você me entende. E Merrick não tem motivos para ser fiel, já que não é a esposa dele.

Alana levou um susto. A idéia de ver Merrick com outra a desnorteou. Uma dor aguda cravou em seu peito.

— Talvez — Sybil continuou sem dó nem piedade — seja muito provável que o bebê nasça com sua maldição.

— Não — Alana a encarou, horrorizada. — Não! Os olhos mordazes de Sybil brilharam.

— Há sempre um jeito de impedir que tal possibilida­de ocorra. — Quando Alana a fitou como se nada entendes­se, Sybil soltou um suspiro impaciente. — Ora, minha irmã! Estou certa de que sua mãe conhecia uma poção para se livrar de um bebê indesejável.

Em estado de choque, Alana nada disse. Talvez Sybil só quisesse ajudar, mas não podia mais tolerar aquela conversa absurda. Virou-se e correu.

Em seu quarto, ela se jogou diante da lareira. Não desceu para jantar naquela noite, mas não obteve a paz que almeja­va em sua mente tumultuada.

Estaria Sybil correta? Merrick a desejava agora, mas o que aconteceria quando ela engordasse mais e ficasse tão redonda quanto a lua? Talvez a irmã estivesse certa e ele a dispensasse.



Mas não é exatamente isso que você queria desde o come­ço?, a intrusiva voz interior indagou. Livrar-se dele para sempre?

Alana na verdade não sabia mais. Deus do céu, não sabia de nada!

Merrick entrou logo depois. Parou à soleira da porta, alto e tão lindo, que ela sentiu-se ofegar. Seria fruto de sua ima­ginação ou havia certa apreensão naqueles olhos que sempre a iluminavam por dentro?

Mesmo incerta, ela se levantou. Não sabia como proceder. Uma estranha emoção se apossou de seu coração. Os cabe­los de Merrick estavam em desalinho, como se ele houves­se passado os dedos por entre os fios várias vezes. Notou, de súbito, que ele parecia incrivelmente cansado. Havia marcas significativas nas laterais da bela boca masculina.

— Você parece fatigado — ela murmurou. — Talvez um banho quente lhe faça bem. — Alana não esperou a resposta. Precipitou-se à porta, de onde solicitou baldes de água quen­te para o banho.

Pouco tempo depois, Merrick entrou na banheira, sem ligar para a própria nudez. Alana se despiu e deitou nua na cama. Fascinada, não conseguia tirar os olhos dele enquan­to se banhava.

Infelizmente, Merrick não lhe pedira assistência, mas como gostaria que ele o tivesse feito.

Com as chamas da lareira ao fundo, o perfil parecia ainda mais nobre e orgulhoso. Só de olhá-lo, ela traçou a saliência do nariz, as linhas precisas do maxilar. Os braços e ombros estavam molhados e os bíceps, claramente definidos.

Os dedos de Alana ardiam, dada a vontade louca de deslizar as mãos sobre aqueles músculos e saborear a sensa­ção que causavam.

Achou que conseguiria desviar o rosto quando ele se levantasse com a água escorrendo pelo corpo viril. As gotas cintilavam como pequenas jóias nos pelos negros do peito. O olhar traiçoeiro de Alana desceu ainda mais. As pernas eram longas e vigorosas. E o membro, mesmo relaxado, tinha um tamanho que a fazia corar.

Merrick se secou com uma toalha de linho e se acomodou na cama. Deitou-se de costas e, após suspirar, fitou o teto em silêncio. Ele nada tinha dito até então, o que surpreendeu e alertou Alana porque parecia distante demais.

Foi ela, portanto, quem rompeu o silêncio.

— Está muito quieto esta noite, normando.

Enfim, ele se virou. Entreolharam-se por um longo momento antes de Merrick falar.

— Há vários pensamentos em minha cabeça esta noite, saxã.

Alana ficou apreensiva. Ele havia dito que não a manda­ria embora. Teria mudado de idéia tão rapidamente?

A necessidade de ficar perto dele foi tão arrebatadora, tão poderosa que não podia ser negada. Queria senti-lo dentro de si, porque somente assim saberia se ainda a desejava.

— Teve um dia difícil? — A voz soou como um sussur­ro. Não queria que Merrick a rejeitasse. Que Deus a ajudas­se, mas não suportaria...

Ele se sentou na cama e continuou a fitá-la. As cobertas tombaram até a cintura, mas Merrick não prestou atenção no detalhe.

— Sim, foi um dia difícil — repetiu.

O coração de Alana bateu mais depressa quando Merrick olhou para seus lábios.

— Tenho uma pergunta para você, saxã. Aliviaria minhas perturbações, se pudesse? Conseguiria me fazer esquecer tudo, exceto o desejo que sinto por você? — Merrick traçou com o dedo a curva dos lábios sedutores.

Alana pousou a mão dele em seu rosto, um gesto que sur­preendeu a ambos. Seu coração estava tão acelerado que a respiração se tornou ofegante.

— Se estivesse em meu poder — ela se escutou dizer —, eu o faria.

Os olhos de Merrick cintilaram. Pegou-a pela cintura e a ergueu, segurando-a pelos braços para que pudesse fitá-la. A modéstia a compeliu a se cobrir, já que ainda tinha ressal­vas quanto a se mostrar nua diante dele, principalmente ago­ra que seu corpo mudava.

Mas o desejo crescente que a invadia ditou o contrário. O olhar de Merrick era lento e despreocupado, tão potente quanto uma carícia. Os seios intumesceram. Alana almeja­va os lábios quentes e ávidos em seus mamilos, sugando-os e umedecendo-os.

— Então me mostre, saxã — ele murmurou de forma tão intensa que ela estremeceu. — Mostre-me.

Mesmo tímida, Alana acariciou os pelos do tórax. Queria agradá-lo, levá-lo aos patamares da loucura como ele fizera com ela. Mas, de repente, ficou agoniada. Mordeu o lábio, sentindo-se mais uma vez insegura e confusa.

— Eu quero — confidenciou. — Mas não sei o que você quer que eu faça.

— Eu gostaria que me tocasse, saxã. Com suas mãos. Com seus lábios. Como quiser. Do jeito que quiser.

A declaração foi definitiva. Uma onda de excitação per­correu o corpo de Alana. Encorajada pelo brilho intenso dos olhos azuis, ela o abraçou. Com o coração hesitante, aproxi­mou os lábios trêmulos.

Merrick a capturou em um beijo ardente. Ela provou a urgência, uma fome brutal e algo mais desesperado ainda através do beijo.

Era o convite de que precisava. Alana se colou a ele, cega­mente, moldando-se ao corpo viril, pressionando os seios contra a musculatura avantajada do tórax.

Merrick tomou um seio em cada mão e se abaixou para saborear um mamilo e depois o outro. O coração de Alana pulava de puro frenesi. Lembrou-se o que ele dissera na pri­meira noite...



Vou possuí-la por medo ou à força.

Não fizera nada disso. Mesmo nos momentos em que ela mais resistira, Merrick simplesmente a tocara e seu cor­po respondera como se tivesse vontade própria. Sempre se entregara sem egoísmo, garantindo seu prazer em detrimen­to do dele.

Um abandono despreocupado a dominou, Não podia igno­rar a magia que fluía entre ambos na escuridão esplendorosa da noite. Muitas haviam sido as vezes em que ela ansiara por explorar o corpo masculino como ele explorava o dela, mas tivera tanto medo de se entregar, medo de que Merrick enten­desse sua rendição como mais uma vitória.

Mas almejava proporcionar a ele a mesma medida do deleite arrebatador que tantas vezes Merrick lhe concedera.

Agora mais segura do que sentia, interrompeu-o, fazen­do-o se afastar dos seios. Alana notou a expressão incerta de Merrick e meneou a cabeça. Ele ficou imóvel e a soltou.

Devagar, ajoelhou-se entre as coxas musculosas.

Rezando para que Merrick não percebesse sua incerteza, deslizou os dedos pelos músculos do peito até encontrar os mamilos que descobriu serem tão sensíveis a carícias quan­to os dela. Quando ele prendeu a respiração, a coragem de Alana desabrochou. Com os lábios, percorreu a pele quente, descendo até a barriga.

A respiração de Merrick acelerou para, em seguida, desa­celerar. Não havia nada que pudesse impedi-la. Santo Deus, aquele era o momento que havia esperado. Parecia a primei­ra vez que ela o acariciava por livre e espontânea vontade. Uma sombra inoportuna encobriu os recônditos de sua cons­ciência. Ignorou-a, ávido para aceitar o que Alana queria lhe oferecer.

Os músculos da barriga enrijeceram. As mãos delicadas abriam caminho para o toque dos lábios, tão suave quanto pétalas de rosa.

Os cabelos loiros caíam sobre as coxas, como seus sonhos haviam lhe mostrado um milhão de vezes. A língua de Alana descia agora em direção aos quadris. Ele cerrou os dentes. O sangue pulsava, tornando-o quente e excitado. Olhou para ela e quase gemeu. Deus, aquela suplício maravilhoso não terminaria nunca?

Os dedos diminutos o tocaram primeiro. A respiração quente roçava a parte mais sensível de Merrick. E então a carícia mais estupenda deu início. A medida que Alana inten­sificava o toque mágico, ele sentia que o ar lhe era rouba­do dos pulmões e as sensações eróticas o faziam estremecer por inteiro.

Merrick enroscou as mãos nos cabelos cacheados. Aquilo superava seus anseios mais sensuais. Começou a arfar. Jogou a cabeça para trás, incapaz de reprimir um gemido profundo. Imerso em uma agonia de prazer, usufruiu da tímida explora­ção quanto lhe foi possível, até ter certeza de que se despe­daçaria, caso não a detivesse.

— Jesus — ele sussurrou com a voz rouca. — Não agüen­to mais... Chega, querida! Pare ou não restará nada para lhe oferecer.

Ele a tomou nos braços com ferocidade e a levantou. Alana não se importou com a violência. Sentia-se embriagada com a constatação de que o agradara sobremaneira. Senti-lo estre­mecer foi o suficiente para instigar seu próprio desejo.

Mas arregalou os olhos quando Merrick a agarrou pelos quadris. Um grito de exclamação fugiu de seus lábios. Sabia que ele queria possuí-la, mas como o faria?

— Passe suas pernas ao redor de minha cintura — Merrick a orientou.

Não foi necessária mais nenhuma ordem. Uma emoção inusitada a fez tremer quando divisou o brilho da paixão no lindo rosto.

Alana fez o que ele pedira, exalando um suspiro profundo. Para se amparar, cravou as unhas nos ombros largos. Sentiu-se erguer para, em seguida, ser penetrada pelo membro pulsante. Gemeu, certa de que não mais suportaria tamanho deleite e ainda assim necessitava de tudo o que ele tivesse a lhe oferecer até que estivesse completamente dentro dela.

O tempo, mais uma vez, estagnou. No espaço de um segundo, Merrick ficou imóvel. Beijou-a com extrema ter­nura. Alana gemeu e o instigou a continuar, como se assim pudesse expressar os sentimentos muito mais que com palavras.

Algo se desfez dentro dele. Merrick a segurava pelas nádegas. Ela quase berrou quando se viu erguida. Os bra­ços fortes a seguraram quando a desceu. E assim o ritmo se intensificou para o espanto e felicidade de Alana.

Nunca fora desse jeito. Havia uma tempestade de emo­ções. O prazer escaldante a levava a patamares altíssimos. Merrick parecia fundir-se a ela, a sua alma. Foi então que o clímax atingiu a ambos.

Extasiados e ofegantes, caíram os dois sobre as peles. Merrick a abraçou e a trouxe para junto de si. Alana acon­chegou o rosto no peito moreno. Alheia ao que fazia, ten­tou acomodar-se ao máximo àquele corpo que representava segurança.

Embevecido, ele a beijou longa e deliciosamente. Quando enfim o beijo terminou, Alana voltou a deitar-se sobre o tórax avantajado. Mas antes acariciou o pescoço moreno.

— Meu senhor — sussurrou, submetida. — Meu senhor conquistador.



Capítulo XVII

Para variar, foi Alana quem acordou primeiro no dia seguinte. Permaneceu colada ao corpo de Merrick, sen­tindo o calor viril aquecê-la. Havia certo contentamento em despertar desse jeito, por isso permaneceu estática, não que­ria se mexer.

Merrick estava nu e coberto até a cintura. O peito amplo e másculo movia-se devagar, de acordo com a respiração tranqüila. Sorrindo, Alana reviveu em pensamento tudo o que acontecera entre ambos na noite anterior. Seu corpo inteiro pareceu enrubescer porque agora, sob a luz do dia, ficou mortificada de vergonha ao lembrar-se quão lasciva se mostrara.

Mas não se arrependia de nada. E como poderia? Merrick sussurrara diversas vezes ao longo da noite que ela o satisfa­zia enormemente.

Lânguida, percorreu com os olhos o perfil de traços marcantes. Dormindo, ele não se assemelhava ao valente guerreiro. As linhas do rosto suavizavam, a severidade se desfazia. Talvez agora, de humor mais leve, permitisse que ela visitasse Aubrey mais uma vez.

Pensativa, continuou mais algum tempo na cama e então se levantou cuidadosamente para não perturbá-lo.

Após atender às necessidades básicas, Alana se lavou, vestiu-se e alimentou o fogo da lareira. Quando se virou em direção à cama, sentiu uma pontada de alegria as ver que os olhos de Merrick estavam fixos nela.

Havia quanto tempo ele a estava observando? Como sem­pre, o semblante não dava nenhum indício do que estives­se pensando. Mas ela não se livrava da sensação de que ele parecia estar ruminando algo.

— Acordou cedo, saxã.

— Perdi o sono — ela murmurou, sentindo-se de repente tímida ao extremo.

— Planejou alguma coisa para o dia de hoje?

O olhar intenso a incomodou. Viu-se distintamente cons­trangida.

— Sim.

— É mesmo? — Seria sua imaginação ou a voz de Merrick revelou certa desconfiança? — Nesse caso, querida, você gostaria de me contar o que planejou?



Por que ele sempre a fazia se sentir culpada?, pensou, ner­vosa. Enlaçou os dedos das mãos com o intuito de conter a tremedeira.

— Eu queria que você me desse a permissão de visitar Aubrey. Faz dias que não o vejo.

Por um momento, Merrick não pôde acreditar no que escutara. Tudo dentro dele endureceu como se estivesse con­gelado. Pela Virgem Maria, agora sabia por que Alana se mostrara tão disponível, tão determinada a agradá-lo.

Ele deveria ter deduzido a artimanha! Na noite ante­rior, ela havia armado uma encenação sedutora apenas para amolecê-lo. O único objetivo era obter favores, mas ele não bancaria o tolo tão facilmente.

E já era hora de ela saber disso.

— Creio que não, saxã.

Infelizmente, quando Alana percebeu a expressão enrije­cida do belo rosto já era tarde demais. Em questão de um segundo, tudo mudou. Foi como se um vento gélido vies­se do mar. Os traços, outrora suaves durante o sono, agora revelavam frieza.

Maldito seja!, Alana pensou, arrasada. Que sua alma arda no inferno! Por que ele tem de ser tão duro, tão autoritário?

— Por quê? Você ainda acredita que tramei com os saxões? — ela bradou a plenos pulmões. — Juro pela alma de meu pai que não fiz nada disso!

— Não, saxã.

Os olhos azuis estavam tão frios quanto o mar do norte. O amante passional da noite anterior parecia nunca ter existi­do. Em seu lugar havia um cavaleiro severo e cruel que con­quistara Brynwald. Ele se levantou e começou a recolher as roupas.

Alheia à dor estampada em seus próprios olhos, Alana o observava em silêncio. Respirou fundo, sentindo a gargan­ta arder.

— O que é então? — Ela esmurrou a mesa, frustrada. — O que é?

Superior em sua arrogância e mortal em sua rudeza, Merrick, agora vestido, se virou para encará-la.

— Você está grávida — declarou. — Esta criança é tanto minha quanto sua. A despeito do que sente por mim, não vou admitir nenhuma tentativa de se livrar do bebê.

Assustada, Alana inspirou rapidamente. Um sentimento de pavor a invadiu. Fitou-o com o rosto pálido.

— Meu Deus — ela murmurou. — Você não disse que escutou Sybil...

— Pois escutei. Sybil disse que sua mãe conhecia uma poção capaz de fazer uma mulher se livrar de um bebê inde­sejável. E não ouvi nenhuma palavra de negação sair de seus lábios, saxã.

Alana já o tinha visto zangado, mas não daquele jeito. Os punhos estavam fechados. A ira implacável borbulhava no tom de voz.

Incrédula, meneou a cabeça. Se ao menos tudo aquilo fosse apenas um sonho ruim...

— Você não acredita que eu seja capaz de... Deus do céu, eu jamais faria algo tão hediondo!

— Não? É minha carne que carrega em seu ventre, saxã. E falou claramente que me odiava ontem à noite.

O rosto de Alana era pura angústia, os olhos faiscavam de ódio. Merrick ainda não confiava nela. Mesmo assim, era um pecado monstruoso acreditar que seria capaz de assassinar o bebê. A possibilidade fez com que seu coração sangrasse.

— Falei no calor do momento, depois de ter me acusado de dormir com outro homem! Por que você pode mudar de idéia tão rapidamente quanto o vento e eu não posso?

Mas Alana não lhe deu a chance de responder de tão toma­da pelas emoções conflitantes.

— Tentei fugir uma vez, apenas uma vez, normando, e parece que terei de pagar o preço pelo resto da vida. Você pediu a verdade e eu lhe dei a verdade. Mas prefere descon­fiar de mim sempre. E devo lembrá-lo de que Aubrey é o úni­co a sofrer aqui. Ele não merece isso porque é inocente...

— Mas você, saxã, não é inocente! — Merrick continua­va mais intransigente que nunca. — E devo lembrá-la de que é necessária somente uma ação para desfazer as outras. Se eu fosse você, não esqueceria isso.

Tomada por uma raiva insana, Alana ficou tão colérica que começou a tremer.

— Você é cruel, normando. Cruel por me negar a única coisa que lhe peço, a única coisa que sabe me ferir profunda­mente. — Cada palavra soava mais amarga que a anterior e saía sem pensar. — Maldito seja! Por que não me larga? Sei que despreza esse bebê tanto quanto eu!

Foi a pior coisa que ela podia dizer. Alana percebeu isso tão logo se calou. Porém, já era tarde demais, pois cada mús­culo do rosto de Merrick enrijeceu de ódio.

Ele se precipitou tão rapidamente que Alana gritou.

Agarrou-a pelos pulsos e a puxou com violência. Ficaram tão próximos que a respiração ofegante era como chibatadas em suas faces.

Quando Merrick falou, os lábios praticamente não se mexeram.

— Um aviso, saxã. Se fizer qualquer coisa para prejudicar essa criança, prometo que pagará um preço alto. E se eu me convencer de que tentou qualquer maldade, juro que a tran­carei neste quarto até você dar à luz.

Por um instante infinito, os dois se entreolharam. O ar parecia pulsar conforme a fúria de Merrick. Alana recuou, perplexa. O controle excessivo que ele demonstrava era qua­se tão assustador quanto o semblante.

Com a expressão frígida, soltou-a, como se a achasse hor­renda. Sem olhar para trás, Merrick saiu e bateu a porta com tanta violência que o piso estremeceu.

Abalada, Alana levou a mão aos lábios trêmulos. As lágri­mas ofuscavam sua visão e rasgavam seu coração. E agora que Merrick não mais estava presente, todo vestígio de con­trole se foi. Ela tombou no chão e se entregou ao pranto.

Foi assim que Geneviève a encontrou.

E foi Geneviève que enxugou suas lágrimas, acariciou seus cabelos e a embalou como se ela fosse um bebê. Foi Geneviève que a escutou, enquanto ela abria a alma e o cora­ção, despejava a raiva e o ódio, as dúvidas e os medos.

Muito tempo depois, Alana, sentada diante da lareira, fita­va as chamas douradas com os olhos vermelhos de tanto cho­rar. Mas quando falou sua voz soou curiosamente profunda.

— Ele se mostra piedoso com os outros, mas não comi­go. Nunca comigo.

— Não acredito que meu irmão realmente pense que você seja capaz de maltratar seu bebê — Geneviève alegou. — Não o estou defendendo. Só estou dizendo que ele é desconfiado por natureza e necessidade. Tudo vai passar, prometo-lhe.

— Ela hesitou por um instante, imaginando se deveria reve­lar o que já sabia havia muito. — Alana, eu conheço Merrick. Vejo em seus olhos o que nunca vi antes em relação a nenhu­ma outra mulher. Ele gosta de você...

— Ele não se importa comigo! — Alana exclamou, inca­paz de conter a amargura na alma. — Fui uma meretriz con­veniente em sua cama. E agora sou apenas aquela que gera o filho dele.

Geneviève não se intimidou.

— Confie em si mesma, Alana. E confie nele.

— Confiança! — ela berrou, frustrada. — Se ele não con­fia em mim, para que eu confiaria nele? Merrick matou meu pai, Geneviève.

— Não, Alana. — Ela tocou a mão da amiga. — A guer­ra matou seu pai.

— Merrick me aprisionou! — Não, uma voz profunda sussurrou. Seu coração a fez prisioneira. Mas o significa­do disso ela não ousou pronunciar. Não se atreveu sequer a pensar.

Aflita, segurou as mãos de Geneviève entre as dela.

— Se Merrick não consegue confiar em mim, não pode­rei confiar nele. — Embora o pânico dominasse as feições de Alana, sua expressão suavizou de repente. — Mas confio em você, Geneviève. Eu faria qualquer coisa que estivesse a meu alcance para ajudá-la. Então só me cabe rezar para que a recí­proca seja verdadeira.

Os olhos suplicantes fitaram a normanda.

— O que quer de mim, Alana?

Ela respirou fundo, maravilhada por aquela mulher, que conhecia havia tão pouco tempo, a entender tão bem.

— Sei que Merrick mantém Aubrey alimentado. Mas ele está velho e, além da comida, meu bom amigo necessita de companhia. Não creio que Merrick entenda isso. — Alana sorriu. — Acho que nem Aubrey admitiria que precisa de alguém para conversar. Mas sei que ele gosta de você. Se pudesse visitá-lo de quando em quando, Aubrey se sentiria mais animado. Não precisa ser todos os dias...

— Não diga mais nada, Alana. Direi a ele que irá visitá-lo assim que puder — Geneviève prometeu. — E farei o que eu puder para confortá-lo.

O sorriso de Alana foi trêmulo.

— Não vou lhe pedir mais nada. Algum dia, Deus a aben­çoará, Geneviève. Rezarei para que seja logo.

Embora sorrisse, Geneviève sentiu um aperto no peito. Tinha Simon e o amava profundamente. Enquanto parte de seu coração pertenceria sempre a Philippe, o vazio na alma vinha aumentando nos últimos tempos. Sentia-se feminina ainda e não era velha a ponto de não almejar a proximidade de um corpo masculino no auge do inverno.

Uma visão emergiu em sua mente, a imagem de cabe­los negros em desalinho e olhos famélicos. Mas logo descar­tou o pensamento, porque tal coisa seria improvável... não, impossível!

De fato, os humores permaneceram instáveis nos dias que se seguiram. Geneviève era a única ligação de Alana com Aubrey e, embora estivesse em dívida para com a normanda, a separação a magoava sobremaneira.

Por mais que ela gritasse, esperneasse, argumentasse e implorasse, Merrick continuava irredutível. A vontade saxã combatia o orgulho normando constantemente.

Se ele bancava o teimoso, ela também o fazia. Não mais se deixou capturar pelos caprichos de Merrick. Muitas foram as noites em que Alana manteve os lábios selados para os bei­jos abrasadores. Apesar de que no final, ele conseguia derru­bar suas defesas e conquistá-la. No entanto, a vitória não era mais tão fácil quanto antes.

Certa noite, estavam deitados na cama, envoltos por um silêncio desconfortável. De repente, Merrick se levantou, soltando uma imprecação. Recolheu as roupas que jaziam no chão e saiu do quarto a passos duros.

E não retornou.

Quase uma semana se passou depois disso. Alana fingia não se importar onde Merrick dormia... e com quem. Porém, um dia espiou Sybil sorrindo para ele e tocando-lhe o braço. Antes que as lágrimas caíssem em profusão, correu para lon­ge deles.

Havia uma tensão constante sempre que ele estava por perto; uma dor de cabeça latejante cada vez que ele perma­necia afastado.

Alana nunca se vira tão dividida. Ressentia-se por causa da crueldade de Merrick e, embora a raiva houvesse feneci­do, a mágoa prevalecia. Contudo, uma parte dela sentia sau­dades do contato dos corpos, do homem em si. Acordava no meio da noite, almejando os braços fortes que a abraçaram com tanto carinho e, pela manhã, doía-lhe não poder mais repousar a cabeça no ombro largo.

Confusa, não entendia por que tanta contradição, já que Merrick era seu maior inimigo e sempre o seria.

Estava triste, infeliz e, acima de tudo, solitária.

Para completar, seus nervos estavam à flor da pele. Não conseguia conciliar o sono até a madrugada. Tomada pela agitação interna, esticou-se na cama certa tarde, exaurida. Por fim, acabou adormecendo.

Mas o sono foi invadido por um sonho perturbador.

Estava imersa na escuridão, uma escuridão que abarcava tudo. A sensação sempre presente do mal pairava ao redor, perseguindo-a, querendo agarrá-la com suas garras. O vento assoviou. Luzes explodiram. E lá longe estava Merrick, mon­tado em seu imponente cavalo negro, espada empunho...

Então, de uma só vez, tudo mudou. A escuridão se foi. Havia luz por todo lado. Uma figura surgiu diante dela, magra e com os cabelos grisalhos ao vento. Aubrey. Dedos ossudos se esticaram para tocá-la.

Alana um sussurro emergiu. Venha até mim, criança. Venha me ver agora...

Ela se levantou com um grito. Levou a mão trêmula à testa. Algo estava errado. Havia algo terrivelmente errado. Jogou as cobertas de lado e correu porta afora.

Alana não parou nem no hall nem no pátio. Não ligou para as expressões de espanto em seu caminho, enquanto precipi­tava-se aos portões. Estava quase saindo quando uma pode­rosa mão a segurou pelo braço e a deteve.

Era Merrick.

— Saxã! O que está... — Ele se calou ao ver o semblan­te apavorado de Alana. — O que foi? — Merrick a segurou pelos ombros e a sacudiu um pouco. — Diga-me, saxã. O que houve?

Com a vista enevoada por causa das lágrimas, ela sacu­diu a cabeça.

— Aubrey! Tenho de vê-lo! Agora!

Merrick se virou e gesticulou. Em um instante, seu corcel estava diante deles. Montou na sela e, em seguida, puxou Alana.

Uma nuvem de poeira se formou atrás deles quando o cavalo saiu a galope em direção à aldeia.

Assim que se aproximaram da choupana de Aubrey, ela apeou sem esperar que o animal parasse!

Geneviève apareceu tão logo Alana alcançou a porta. As lágrimas marejavam os olhos entristecidos da boa normanda.

— Alana! Graças a Deus, está aqui. Eu pretendia mandar alguém chamá-la.

Alana examinou o rosto de Geneviève e viu o que havia pressentido no sonho... o que sempre temera. O coração pare­ceu murchar em seu peito.

— Deus, não me diga que eleja...

— Não, querida. Mas precisa estar com ele. Apresse-se, Alana!

Depois de apertar as mãos de Geneviève, ela entrou na cabana. Quando Merrick fez menção de segui-la, a irmã o segurou pelo braço e meneou a cabeça com olhar suplicante.

Dentro da cabana, Alana divisou Aubrey deitado em sua cama de palha. Estava tão imóvel que, por um momento, ela achou que Geneviève se enganara, que o pior já houvesse ocorrido. Mas de repente Aubrey abriu os olhos. Estendeu o braço e a chamou.

— Venha até mim, criança — a voz fraca pediu, como no sonho. — Venha me ver agora.

Alana se ajoelhou ao lado dele. Piscando a lágrima que anuviava sua visão, inclinou e beijou o rosto pálido. Então segurou as mãos ossudas entre as suas.

— Estou aqui, Aubrey. E não vou deixá-lo.

Ele expressou um sorriso tão fraco quanto seu corpo.

— Eu sabia que viria. Sabia.

No decorrer das horas que se seguiram, Alana permane­ceu de vigília ao lado dele. Às vezes, Aubrey dormia. Em outros momentos, falavam do passado... e do futuro.

A voz de Aubrey, de súbito, mudou de tom.

— Vai dar à luz um menino, Alana. Um filho da força e coragem normandas, um filho do espírito e orgulho saxões. Seus cabelos serão tão negros quanto os do pai, mas os olhos serão verdes como os campos da primavera... seus olhos, Alana.

Por um instante, Alana ficou sem fala. Ignorava que Aubrey soubesse do bebê que ela gerava.

Apertou a mão de Aubrey de encontro ao peito, como se assim pudesse lhe transmitir vida.

— Eu lhe imploro, Aubrey. Quero que conheça meu filho. Precisa combater essa fraqueza para ficar bem outra vez. Por favor...

— Não posso combater a vontade de Deus. — Ele inspi­rou lenta e profundamente. — Estou velho, chegou minha hora. Aceito meu fim. Você também deve aceitar.

— Não posso — Alana disse, em prantos. — Não conse­guirei viver sem você.

— Vai ficar bem, criança. Eu sinto aqui. — Com a outra mão, ele indicou o peito. — E agora terei de deixá-la. Mas quero vê-la pela última vez. — Aubrey a fitou com extrema ternura. Então os olhos se fecharam, como se ele estivesse muito cansado.

A mão que Alana segurava perdeu a força. Aubrey havia partido daquele mundo.


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