Silvia Maria de Araújo · Maria Aparecida Bridi · Benilde Lenzi Motim



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transnacional: relativo a várias nações e também à inter-relação entre elas.

Fim do glossário.

LEGENDA: Tirinha de Laerte, julho de 2008.

FONTE: Laerte/Acervo do cartunista



359

Uma das consequências desses fenômenos de degradação ambiental é a redução do volume de água potável no planeta. Os exemplos de desertificação de nosso planeta e das consequências de seu aquecimento se multiplicam. Um caso conhecido é o da introdução de espécies vegetais australianas de grande porte (como o eucalipto) na África do Sul, durante o século XIX, por colonizadores britânicos. O objetivo era abastecer o país de madeira, pois a cobertura vegetal nativa era herbáceo-arbustiva, e criar um ambiente de maior umidade naquela região semidesértica. Porém, como essas espécies consomem muita água, o efeito foi o oposto: o volume de água nos rios e nas reservas subterrâneas diminuiu, o que agravou o problema de abastecimento dos mananciais de centros urbanos como a Cidade do Cabo, prejudicando a agricultura.

Outro exemplo de conjunção de fatores ambientais causados pela ação humana foi a crise, em 2014, no sistema de abastecimento de água da região metropolitana de São Paulo, a mais populosa do país. Pesquisadores apontam que a redução da cobertura vegetal no sul da floresta Amazônica e no Cerrado pode ter alterado o regime de chuvas no Sudeste do Brasil. Em conjunto com o fenômeno climático El Niño, isso fez com que as precipitações fossem insuficientes para compensar o consumo humano de água. Como não havia um plano emergencial e um terço do volume de água captada se perdia em vazamentos na rede de abastecimento, o governo adotou informalmente medidas de racionamento, como a redução da pressão nos encanamentos. Além disso, por causa da ocupação humana de áreas de mananciais e da falta de coleta e tratamento universal de esgotos, a água de alguns reservatórios não pôde ser captada por estar poluída. Enquanto isso, na região Sul do país, milhares de pessoas foram prejudicadas por chuvas em excesso - desde agricultores que perderam parte da safra até pessoas que tiveram suas casas e bens arruinados em enchentes.

Muitos movimentos ambientais que denunciam as situações de degradação atuam no plano local, mas servem de exemplo para mobilizações em outros lugares. Eles tendem a se alinhar em ações coletivas que reivindicam condições de trabalho seguras e saudáveis, com o objetivo de prevenir malefícios à saúde nas minas, plantações e fábricas. Um desses movimentos é o de camponeses que se opõem ao crescimento da agricultura antiecológica, recusando-se a utilizar pesticidas e sementes transgênicas, entre outros insumos.

O campo interdisciplinar da ecologia estuda as interações entre os seres vivos e o meio ambiente, além das condições necessárias para a reprodução das diferentes formas de vida.

Uso de água no mundo por tipo de atividade (2010)

FONTE: Aquastat/FAO.

LEGENDA: Entidades ligadas à Via Campesina realizam manifestação em Cancún, México, em 2010, durante a Convenção do Clima (COP-16) da ONU. Movimentos sociais locais ligados à agricultura e ao direito à terra também atuam por questões ambientais, buscando se organizar em rede.

FONTE: Juan Barreto/Agence France Presse



360

Boxe complementar:



Encontro com cientistas sociais

O sociólogo Ulrich Beck (1944-2015) pensa em como a sociedade se "globaliza" também na missão de enfrentar os riscos ambientais. Leia esta sua interpretação do problema e responda à questão em seu caderno.



Ouve-se continuamente afirmar que a noção de "sociedade mundial de risco" [...] bloqueia qualquer tipo de ação política. O contrário, porém, também é verdadeiro: como sociedade mundial de risco, a sociedade se torna reflexiva em um triplo sentido. Em primeiro lugar, ela se torna uma questão por si mesma: os perigos globais geram comunidades globais, e de fato se delineiam os contornos de uma (virtual) esfera pública mundial. Em segundo lugar, a percepção do caráter global das ameaças produzidas a si mesmo pelo progresso dá um impulso politicamente orientável à revitalização da política nacional e à formação e configuração de instituições cooperativas internacionais. [...] Em terceiro lugar, os limites da política se perdem. Criam-se constelações de "subpolítica" global e direta, que não se ajustam às coordenações e coalizações da política nacional-estatal e, portanto, a relativizam. [...] nessa concepção das emergências geradas pela sociedade mundial de risco podem se delinear os contornos de uma "sociedade civil mundial".

BECK, Ulrich. Conditio humana: il rischio nell'età globale. Roma-Bari: Latterza, 2008. p. 133. Texto traduzido.

· Considerando que a sociedade moderna, ao pensar a respeito de si mesma, é reflexiva, busque nos meios de comunicação de massa exemplos de ações sociais que indiquem como se dá a cooperação internacional diante de ameaças às formas de vida no planeta - seja em ações de defesa de espécies em extinção, seja diante de catástrofes naturais como furacões, enchentes, incêndios florestais e terremotos, entre outras frentes de atuação.

Fim do complemento.



Os dois lados da inovação

Inovação é a introdução, adoção e aplicação de uma nova técnica de produção, controle, administração, organização ou comunicação. Enfim, trata-se de uma intervenção em qualquer setor da sociedade que se vale de uma nova tecnologia, como foi a adoção dos microprocessadores nas calculadoras eletrônicas, no final dos anos 1970. Mesmo a adoção de uma técnica já existente, mas inédita em determinada sociedade ou setor produtivo - por exemplo, o uso de um combustível mais econômico -, configura uma inovação. Assim, as inovações estão presentes na indústria, na agricultura, no comércio, na educação, na medicina, na administração do Estado, na família, no trabalho e no planejamento da cidade.

As corporações têm acelerado a taxa de inovação em numerosos campos da produção e de gestão, como a automação e a informática. A preparação para possíveis conflitos armados também é um dos mais ativos fatores de renovação tecnológica: a indústria bélica estimula testes e experimentos que envolvem, eventualmente, a população civil e alimentam a disputa do poder político entre as nações. Nesse contexto, as empresas exercem um papel ambíguo por produzirem em série armas que facilitam a destruição da vida.

A lógica da inovação e do consumo faz com que os produtos tenham uma obsolescência programada, ou seja, logo se transformam em algo descartável, visto que o prazo de validade é definido antes mesmo de o objeto ser produzido.

LEGENDA: Consumidores aguardam em fila para comprar um modelo recém-lançado de tablet na cidade de Munique, Alemanha, em março de 2012.

FONTE: Michaela Rehle/Reuters/Latinstock

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Existe também a obsolescência psíquica, em que a demanda é causada pela insatisfação do consumidor com o produto que possui diante da possibilidade de trocá-lo por outro mais recente. Isso tudo faz com que os consumidores e as indústrias, principalmente, sejam grandes produtores de lixo: desde embalagens e material publicitário até dejetos resultantes do uso de produtos que geram problemas ambientais de difícil solução. Assim como o crescimento da indústria de embalagens revela o desenvolvimento das atividades econômicas, também a geração de lixo e seu acúmulo é um indicador do avanço capitalista de alguns países; daí a sua "exportação" poluidora para países menos desenvolvidos.

LEGENDA: Charge do artista britânico Polyp.

FONTE: Polyp/Acervo do cartunista

Uma inovação que tem causado enormes polêmicas são os organismos geneticamente modificados, conhecidos como transgênicos. Enquanto pesquisas encomendadas por laboratórios produtores afirmam que sementes geneticamente modificadas aumentam a produtividade e geram plantas resistentes a pragas, os ambientalistas alegam que elas reduzem a variabilidade das espécies e alteram o ambiente.

Boxe complementar:



Agrobiotecnologia: oportunidades ou riscos?

Leia a seguir alguns casos ilustrativos de controvérsias ambientais relacionadas à inovação, compilados pelo ativista Pat Mooney.



Janeiro de 2000

Reputação no chão: Enquanto as delegações se preparavam para uma reunião de biossegurança a realizar-se em Montreal, Canadá, pesquisadores estadunidenses e venezuelanos confirmavam (contrariamente às promessas da indústria) que a toxina Bt no milho transgênico pode dispersar-se no solo, matando larvas até 25 dias depois de ter sido liberada.

Fevereiro de 2000

Irresistível: Cientistas canadenses reconheceram que alguns herbicidas de transnacionais perderam sua efetividade para exterminar o mato apenas dois ou três anos depois que um agricultor de Alberta semeou pela primeira vez as sementes de canola que essas empresas modificaram geneticamente.

362

Março de 2000

Vocalizando: Um memorando do governo dos Estados Unidos, censurado por muito tempo, com data de 1993, revela uma experiência em que 4 de 20 roedores, alimentados [...] com um tomate geneticamente modificado, sofreram lesões sérias no estômago.

Abril de 2000

Uma batata quente: Os produtores estadunidenses

de milho evitam o uso de semente geneticamente modificada, uma vez que suas exportações para a Europa caíram de 2 milhões de toneladas em um ano a 137 mil toneladas no ano seguinte. [...]

Maio de 2000

"Seguras"... onde quer que estejam?: [...] Na Saxônia, um estado da Alemanha, um pesquisador descobriu que um gene da semente de canola geneticamente modificada se transferira para uma bactéria e um fungo descobertos no intestino das abelhas produtoras de mel. A indústria afirmara que essa transferência seria pouco provável ou mesmo impossível.

Junho de 2000

Homem-aranha: Um "gene saltador" utilizado na engenharia genética rompeu a barreira entre as espécies pelo menos sete vezes, até mesmo uma entre as moscas e os seres humanos. Se forem liberados organismos modificados que contenham esse gene promíscuo, corre-se o perigo de outros saltos inesperados [...].

Julho de 2000

Não existe lugar seguro: As plantações "refúgio" de milho convencional, que os agricultores semearam perto dos campos com milho geneticamente modificado, com o objetivo de diminuir a resistência destes campos a uma toxina bacteriana, simplesmente fracassaram. Os insetos vulneráveis das plantações "refúgio" recusaram-se a cruzar com os insetos resistentes, provenientes dos campos geneticamente modificados (no entanto, o gambá encontrou nos campos modificados um lugar ideal para reproduzir-se).

Agosto de 2000

[...] O verdadeiro arroz dourado: Um estudo realizado por uma universidade dos Estados Unidos que compreende diversas variedades de arroz na China e nas Filipinas mostrou que se diversas variedades de arroz forem cultivadas paralelamente, o rendimento aumenta 89%, enquanto as doenças reduzem-se 98%. O estudo conclui que a diversidade ultrapassa amplamente o desempenho das variedades geneticamente modificadas e homogêneas.



Setembro de 2000

Corrida de "tacos": Uma variedade de milho geneticamente modificado, proibida para consumo humano, mas permitida como forragem, apareceu nas panquecas com que preparam comida rápida em restaurantes. Essa situação fez com que surgissem novas preocupações com relação à capacidade da indústria e dos governos de controlar os produtos geneticamente modificados. [...]

Outubro de 2000

Hipodérmicas com a cara de Power Ranger: Gigante produtora de cereal matinal fechou uma fábrica, com medo de que um tipo de milho não permitido e geneticamente modificado tivesse infectado os cereais produzidos. Devido ao pânico gerado, [...] entre os consumidores contava-se a piada de que a empresa teria que distribuir, dentro das caixas de cereais, seringas para tratar os ataques alérgicos, em vez de bonecos dos Power Rangers ou da Guerra das Galáxias [...].

Novembro de 2000

Monopolizar não é ético: A primeira reunião da mesa-redonda sobre ética (um grupo de respeitados agrônomos e especialistas em ética) [...] concluiu que os plantios geneticamente modificados são perigosos, que a tecnologia de esterilização de sementes é imoral e que a patente sobre genes e outros materiais genéticos conduz à erosão genética dos plantios e a monopólios inaceitáveis.

Dezembro de 2000

Tentativa de resgatar a biossegurança: A "biocracia" mundial se reuniu na França para debater a normatização da biossegurança. Basicamente, o mercado de sementes geneticamente modificadas, com operações de 2,5 bilhões de dólares americanos, envolve quatro grandes culturas industriais (soja, milho, algodão e canola), que crescem em três países (Estados Unidos, Argentina e Canadá possuíam, no ano 2000, 98% da área total de culturas geneticamente modificadas).

Adaptado de MOONEY, Pat. O século XXI: erosão, transformação tecnológica e concentração do poder empresarial. São Paulo: Expressão Popular, 2002. p. 151-7.

LEGENDA: Tirinha de Armando Beck, de 2015, trata da possibilidade de revogação da lei brasileira que exige a rotulagem específica de produtos elaborados com matérias-primas transgênicas.

FONTE: © Alexandre Beck/Acervo do cartunista

Fim do complemento.

363

Debate

Em grupos, leiam o texto abaixo, anotando as principais ideias expostas pelo sociólogo Anthony Giddens. Discutam e redijam respostas para as perguntas propostas.



Nossa relação com a ciência e a tecnologia hoje é diferente daquela característica de tempos passados. Na sociedade ocidental a ciência atuou por cerca de dois séculos como uma espécie de tradição. Supostamente, o conhecimento científico superava a tradição, mas de fato ele próprio se transformou em uma, de certo modo. Era algo que a maioria das pessoas respeitava, mas que permanecia externo às atividades delas. Os leigos "consultavam" os especialistas. Quanto mais a ciência e a tecnologia se intrometem em nossas vidas, e o fazem num nível global, menos essa perspectiva se sustenta. A maioria de nós - incluindo autoridades governamentais e políticos - tem, e tem de ter, uma relação muito mais ativa ou comprometida com a ciência e a tecnologia do que antes. Não podemos simplesmente "aceitar" os achados que os cientistas produzem, para início de conversa por causa da frequência com que eles discordam uns dos outros, em particular em situações de risco fabricado. E hoje todos reconhecem o caráter essencialmente fluido da ciência. Cada vez que uma pessoa decide o que comer, o que tomar de café da manhã, se café descafeinado ou comum, ela toma uma decisão no contexto de informações científicas e tecnológicas conflitantes e mutáveis. [...] Seja qual for nossa perspectiva, vemo-nos envolvidos num problema de administração de risco. Com a difusão do risco fabricado, os governos não podem fingir que esse tipo de administração não lhes compete. E eles precisam colaborar uns com os outros, uma vez que muito poucos riscos de novo estilo têm algo a ver com as fronteiras nacionais. Mas tampouco nós, como pessoas comuns, podemos ignorar esses novos riscos - ou esperar a chegada de provas científicas conclusivas. Como con-sumidores, cada um de nós tem de decidir se vai tentar evitar produtos geneticamente modificados ou não. Esses riscos, e os dilemas que os envolvem, penetraram profundamente em nossas vidas cotidianas. [...] mas o equilíbrio de riscos e perigos se alterou.

GIDDENS, Anthony. Mundo em descontrole. 3ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2003. p. 40-4.

LEGENDA: Obra dos artistas britânicos Tim Noble e Sue Webster exposta durante feira de arte no Rio de Janeiro (RJ). O consumismo e o lixo gerado na sociedade contemporânea são temas dos trabalhos da dupla.

FONTE: YASUYOSHI CHIBA/Agence France Presse



1. Analisem os avanços para a humanidade trazidos pela ciência e reflitam sobre seus impactos no meio ambiente.

2. Relacionem e sistematizem por escrito, justificando suas respostas:

a) Como interesses econômicos e pesquisa científica se relacionam?

b) Como se relacionam esses interesses e o impacto dos produtos da ciência no meio ambiente? Isso pode ser mudado? De que modo?

3. Para o autor, de que modo cada pessoa, como ator social, pode se relacionar com as descobertas e os inventos científicos? Explique resumidamente.

364

Desenvolvimento capitalista e meio ambiente

Quando as Ciências Sociais se referem a desenvolvimento econômico ou de outra natureza, em geral remetem-nos à trajetória do sistema capitalista de produção, sua difusão e força política em se manter e se transformar. O desenvolvimento se realiza no espaço global, mas de modo descontínuo nas diversas nações e regiões do mundo. Por trás da imagem de um mundo unido pela globalização, há, na realidade, um mundo dividido, no qual o contraste entre ricos e pobres aumenta cada vez mais.

Nesse contexto de crescimento da população nos países mais pobres, globalização da economia e degradação ambiental, o desenvolvimento do capitalismo assume uma hegemonia global: alguns países detêm considerável poder de dominação sobre outros. Desse arranjo econômico-político entre os países configura-se uma divisão internacional do trabalho em que o perfil de cada país é determinado em relação ao que produz, seja matéria-prima (madeira, grãos, minérios, etc.), sejam produtos industrializados, que empregam mais ou menos tecnologia na sua produção, com mão de obra qualificada ou não. Os benefícios do desenvolvimento capitalista, porém, não se estendem da mesma maneira a todos os povos e países, pois uma parte considerável da população mundial não tem acesso a eles.

LEGENDA: Trabalhadores carregam carvão vegetal produzido de madeira extraída ilegalmente no município de Rondon do Pará, 2012. O carvão é usado, entre outras coisas, na produção de aço pela indústria siderúrgica. O setor carvoeiro é um dos líderes em denúncias de condições de trabalho análogas às de escravidão.

FONTE: Mario Tama/Getty Images

Os países mais desenvolvidos costumam ser os maiores poluidores, consumidores e exploradores de recursos naturais, quando realizado o cálculo per capita. O cientista político Elmar Altvater (1938-) mostra como isso se desdobra no que diz respeito a padrões de consumo e de exploração dos recursos. Por um lado, o pequeno grupo de países desenvolvidos consome, proporcionalmente, um volume muito grande de recursos naturais; boa parte desses recursos é fornecida pelos demais países, que ao fim acabam tendo um acesso muito mais limitado a eles. Para Altvater, o desafio não é apenas o de democratizar o acesso a esses recursos, pois isso ampliaria ainda mais os problemas ambientais enfrentados atualmente. Seria necessário, então, promover uma mudança radical nos hábitos de produção e consumo e investir cada vez mais em recursos renováveis e não poluidores.



365

O economista espanhol Joan Martínez Alier (1939-) chamou de distribuição ecológica as diferenças no acesso aos recursos. Elas são estabelecidas tanto pela presença natural desses recursos em determinado território como por fatores sociais, políticos e econômicos, entre outros. Alier mostra como os conflitos ecológicos em geral têm prejudicado justamente aquelas populações que lidam com os recursos de maneira mais controlada, como os povos indígenas. O problema é especialmente grave em países com alta desigualdade social e menor desenvolvimento tecnológico, que precisam produzir um volume cada vez maior de produtos primários para compensar suas importações de produtos mais sofisticados. Com isso, áreas cada vez mais extensas são desmatadas ou expostas a outros riscos ambientais.

Os países em desenvolvimento pouco têm agido para garantir o equilíbrio ecológico, seja por geralmente abrigarem indústrias com tecnologias defasadas, seja por possuírem legislação e fiscalização pouco rígidas quanto ao controle da poluição. Alguns deles acabam por se tornar receptáculos de lixo tóxico, principalmente de países desenvolvidos, em troca de dinheiro. Também o descarte do lixo eletrônico se constitui em um grande problema: segundo relatório da ONU, quase 42 milhões de toneladas foram produzidas em 2014, e a tendência era crescer a 49,8 milhões em 2018. Conforme a Organização Internacional do Trabalho (OIT), cerca de 80% desses resíduos são enviados aos países em desenvolvimento. Nesse sentido, a saída para os problemas mais sérios exige soluções em âmbito mundial que envolvam não apenas a mudança na dinâmica das relações político-econômicas entre países ricos e pobres, mas também novas formas de produzir e consumir no mundo.

Pesquisa

Faça uma pesquisa em revistas, jornais e na internet sobre casos de degradação ambiental no Brasil. Cite pelo menos três exemplos atuais, relacionando os problemas causados e os atores sociais responsáveis por eles.

LEGENDA: Indústrias em Camaçari (BA), em foto de 2015.

FONTE: Corbis Corporation/Fotoarena



366

Crise e impasses globais

Desenvolvimento e meio ambiente se encontram em uma relação recíproca, pois as atividades econômicas transformam o meio, enquanto o ambiente alterado constitui uma restrição externa ao desenvolvimento econômico. Com isso, têm sido constantes as resistências dos governos em firmar acordos globais. Na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-16) realizada em Copenhague, Dinamarca, em dezembro de 2009, os países concordaram quanto aos efeitos da ação humana sobre o clima do planeta. Porém, não chegaram a um acordo sobre quanto cada país deveria reduzir a sua emissão de poluentes, pois muitos temiam prejuízos à atividade econômica. Após sucessivas conferências, representantes de 195 países enfim chegaram a um acordo em 2015, na COP-21, em Paris, França. Ainda assim, grande parte dos movimentos ambientalistas considerou a meta estabelecida modesta: impedir que o aumento médio da temperatura global ultrapasse 2 ºC e reconhecer que os países em desenvolvimento precisarão de mais tempo para se ajustar, bem como de auxílio tecnológico para isso.

O uso desigual de recursos e serviços ambientais gera reivindicações por justiça ambiental em várias partes do mundo.

Atualmente, estudiosos e ativistas ambientais têm empregado novos termos para definir as consequências específicas da desigualdade. O chamado "racismo ambiental" ocorre quando populações socialmente desprivilegiadas, em especial as não brancas, são afetadas desproporcionalmente por mudanças ambientais. Essas populações sentem os impactos duplamente: por um lado, quando têm seus modos de vida e sua cultura ameaçados; por outro, quando vivem em áreas mais expostas à degradação ambiental e com condições materiais menos favoráveis. Exemplos do primeiro caso são a constante ameaça de contaminação de terras indígenas por agrotóxicos ou substâncias usadas no garimpo em áreas próximas, ou a redução na disponibilidade de peixes para a pesca tradicional após a instalação de um grande porto em uma região. No segundo caso, é emblemática a instalação de aterros sanitários nas periferias das grandes cidades, afetando uma população que em geral não dispõe de recursos para morar em outra região.

Outra variação desse processo é o "dumping ecológico", ou seja, a instalação de filiais de empresas poluidoras de países desenvolvidos em outros nos quais as leis ambientais são menos rígidas. Outros termos aplicados a esses efeitos são: "dívida ecológica" (quando há requisição de

LEGENDA: Charge do artista Angeli, de 2005, retratando uma atitude recorrente em meio a alguns administradores públicos.

FONTE: © Angeli/Folha de S.Paulo, 2005



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