Silvia Maria de Araújo · Maria Aparecida Bridi · Benilde Lenzi Motim


parte do que sabemos sobre a globalização é derivado das circulações que acontecem nas suas principais estradas ou vias: circulação de marcas conhecidas



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4. Grande parte do que sabemos sobre a globalização é derivado das circulações que acontecem nas suas principais estradas ou vias: circulação de marcas conhecidas [...], de tecnologias de ponta, de informação, de cadeias de produtos e de imagens midiatizadas. Discussões acerca da globalização são, geralmente, dominadas por um entendimento amplo da acumulação de capital. [...] Assim, estudos sobre a globalização estão mais preocupados com a formação de redes sociais (na verdade, a maioria são redes de negócios e econômicas), as quais se unem em torno de empresas multinacionais, cadeias de produtos, dinheiro e formas de mediação tecnológica (Castells, 1999; 2001) [...]. Esta versão restrita da globalização reduz para a lógica da acumulação do capital as formações sociais complexas que coproduzem a globalização, como os diversos cenários, vidas e as conexões geradas entre eles (Smith, 2001: 23). Tais interpretações da globalização omitem as texturas sociais que a carregam e a incorporam, [...]. Isto coloca as versões hegemônicas da globalização numa relação difícil com a agência humana.

Fonte: KNOWLES, Caroline. Trajetórias de um chinelo: microcenas da globalização. Revista Contemporânea. v. 4, n. 2, São Carlos: Ufscar, 2014. p. 291-292.

O fragmento do texto da socióloga britânica Caroline Knowles sobre o fenômeno da globalização expressa fundamentalmente:

a) a concordância da autora com os conceitos considerados hegemônicos sobre a globalização.

b) a ideia de que esse fenômeno padroniza os comportamentos e valores no mundo ocidental e oriental.

c) uma crítica às visões que tendem a desconsiderar as ações dos sujeitos nos planos locais, regionais e global.

d) a visão da autora, que concorda com a perspectiva dos estudos da globalização que se concentram nas redes e em seu funcionamento.

e) a necessidade de os governos buscarem ampliar a inserção em novos mercados globais, visto que a globalização da economia e dos movimentos sociais de modo global é uma tendência inexorável do capitalismo atual.



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Descubra mais

As Ciências Sociais na biblioteca

BAUMAN, Zygmunt. Globalização: as consequências humanas. Rio de Janeiro: Zahar, 1999.

O sociólogo polonês analisa a economia global e seus efeitos sobre as estruturas sociais e também sobre as nossas percepções de tempo e espaço.

LEGENDA: Capa do livro Globalização: as consequências humanas, de Zygmunt Bauman (ed. Zahar).

FONTE: Reprodução/Ed. Zahar

CATTANI, Antonio David; DÍAZ, Laura Mota (Org.). Desigualdades na América Latina: novas perspectivas analíticas. Porto Alegre: Ed. da UFRGS, 2005.

Esse livro interpreta as questões da desigualdade, da pobreza e da exclusão nas sociedades latino-americanas.

LEGENDA: Capa do livro Desigualdades na América Latina, organizado por Antonio Cattani e Laura Mota Díaz (ed. da UFRGS).

FONTE: Reprodução/Ed. UFRGS

As Ciências Sociais no cinema

Encontro com Milton Santos ou o mundo global visto do lado de cá, 2007, Brasil, direção de Silvio Tendler.

O documentário traz reflexão sobre a globalização e seus desdobramentos com base em uma entrevista com o geógrafo Milton Santos.



Oliver Twist, 2005, Reino Unido, direção de Roman Polanski.

A pobreza e suas consequências sociais são retratadas pelas condições dos miseráveis nos arredores de uma casa de correção da cidade de Londres em sua primeira fase de industrialização.



Vista minha pele, 2004, Brasil, direção de Joel Zito Araújo.

Vídeo ficcional-educativo que conta uma história invertida: os negros são a classe dominante e os brancos foram escravizados no passado. O enredo desperta uma discussão sobre o racismo, o preconceito e as desigualdades históricas.

LEGENDA: Cena do filme Vista minha pele, de 2004, dirigido por Joel Zito Araújo.

FONTE: Reprodução/Youtube

A Sociologia na rede

Ação Educativa. Disponível em: www.acaoeducativa.org.br. Acesso em: 27 maio 2016.

No portal dessa instituição voltada para a promoção dos direitos educativos e da juventude no Brasil, é possível acessar dados e conhecer projetos de inclusão social por meio da educação.



Ministério da Educação (MEC). Disponível em: www.mec.gov.br. Acesso em: 27 maio 2016.

Site da instituição máxima responsável pela educação no Brasil.

As Ciências Sociais na rede



Biblioteca do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Disponível em: www.ipea.gov.br/biblioteca. Acesso em: 27 maio 2016.

O site disponibiliza resultados de pesquisas sobre o Brasil atual, incluindo dados sobre emprego, inclusão social, desenvolvimento econômico, entre outros.



Centro de Estudos sobre Desenvolvimento e Desigualdade (Cede). Disponível em: www.proac.uff.br/cede. Acesso em: 27 maio 2016.

No site desse grupo de pesquisa da Universidade Federal Fluminense (UFF) constam estudos sobre a desigualdade social no Brasil e suas implicações para o desenvolvimento.



Por uma globalização justa: criar oportunidades para todos. Ministério do Trabalho e Emprego. Disponível em: www.mte.gov.br/rel_internacionais/pub_Resumo-Globalizacao.pdf. Acesso em: 27 maio 2016.

Apresenta dados e uma análise consistente dos vários aspectos da globalização e de propostas da Comissão Mundial sobre a Dimensão Social da Globalização, visando promover o debate acerca das possibilidades de "um processo de globalização justo e integrador".



Unesco Brasil. Disponível em: www.brasilia.unesco.org. Acesso em: 27 maio 2016.

O portal brasileiro da Unesco apresenta temas ligados à desigualdade social no Brasil.



Revista política social e desenvolvimento. Disponível em http://plataformapoliticasocial.com.br. Acesso em: 27 maio 2016.

Traz produções acadêmicas, artigos de jornais e revistas sobre o desenvolvimento econômico e social do Brasil e de outros países.



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Bibliografia

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POCHMANN, Marcio; AMORIM, Ricardo (Org.). Atlas da exclusão social no Brasil. 2ª ed. São Paulo: Cortez, 2003.

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SASSEN, Saskia. Sociologia da globalização. Porto Alegre: Artmed, 2010.

LEGENDA: Capa do livro Sociologia da globalização, de Saskia Sassen (Artmed).

FONTE: Reprodução/Editora Artmed

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WRIGHT MILLS, Charles. A imaginação sociológica. 3ª ed. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1972.



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CAPÍTULO 3 - A família no mundo de hoje

LEGENDA: A família, óleo sobre tela de Tarsila do Amaral, de 1925.

FONTE: Reprodução/Cedida por Tarsila do Amaral Empreendimentos



ESTUDAREMOS NESTE CAPÍTULO:

por que a família é considerada uma instituição social. Aprenderemos sobre as origens da família patriarcal no Brasil e perceberemos a influência da ideologia patriarcal na configuração da família nas sociedades ocidentais. Analisaremos as mudanças sociais envolvidas no reconhecimento de diferentes arranjos familiares e como as famílias contemporâneas dividem a socialização (transmissão de valores e comportamentos) com a escola, os meios de comunicação e outras instituições sociais.

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As muitas configurações da família

Entre todas as mudanças que estão se dando no mundo, nenhuma é mais importante do que aquelas que acontecem em nossas vidas pessoais - na sexualidade, nos relacionamentos, no casamento e na família.

GIDDENS, Anthony. Mundo em descontrole. 3ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2003. p. 61.

Há uma grande variedade de tipos e arranjos familiares no mundo.

Como é sua família? Que imagem vem à sua mente quando você pensa nesse assunto? Será que família é um grupo formado por pai, mãe e filhos vivendo na mesma casa? Ou você incluiria avós, tios e primos, ainda que nem todos morem juntos? Quem mais você consideraria parte da sua família?

As Ciências Sociais lançam questionamentos em relação a esse tema. O que significa dizer que a família é uma instituição social? Que papéis sociais desempenha cada um de seus membros? O que mantém a unidade familiar e como ela se configura em diferentes sociedades? Que tipos de família podem ser identificados?

A palavra família, atualmente, é usada para designar grupos bastante distintos, que vão além da estrutura antes chamada de "nuclear", composta das figuras paterna e materna e dos filhos, todos vivendo sob um mesmo teto. Durante muito tempo, perante o Estado brasileiro, somente esse modelo de família era considerado legítimo. Isso significa, por exemplo, que apenas as famílias formadas por um casal heterossexual e seus filhos tinham acesso a direitos como herança. O registro formal de casamento, feito pela Igreja católica ou pelo Estado, também era necessário para que esse grupo fosse considerado uma família aos olhos da lei. Assim, apenas uma parcela pequena da população atendia a essas exigências: em geral, as famílias mais ricas, que tinham propriedades e bens a serem herdados.

Recentemente, outros modelos de família, que sempre existiram, estão sendo reconhecidos pelo Estado, garantindo a ampliação dos direitos de pensão, divisão de bens, adoção e herança, entre outros. Assim, chegamos a uma concepção mais ampla de instituição familiar, que a caracteriza como um conjunto de pessoas que se relacionam entre si por laços afetivos, e não somente pelo casamento ou pela filiação. São os laços de parentesco e os vínculos de afinidade, como sentimentos e interesses semelhantes e/ou a necessidade de sobrevivência, que aproximam e mantêm unidos os membros de uma família, sem que obrigatoriamente esses indivíduos coabitem.

O parentesco é um sistema de alianças diretas (pais, avós, irmãos) ou colaterais (tios, primos) que ordena a vida social com especificidades no tempo e em diferentes sociedades. Os integrantes de uma rede de parentesco se reconhecem por meio de uma complexa lógica de classificação social, que varia entre os diferentes grupos, segundo o antropólogo francês Claude Lévi-Strauss (1908-2009). Ou seja, os sistemas de parentesco das sociedades ocidentais (pai, mãe, filhos, avós maternos, paternos, primos, tios, etc.) tendem a se distinguir dos sistemas das sociedades indígenas, cuja diversidade das alianças e dos vínculos de consanguinidade dos grupos foi objeto de muitos estudos.

As relações de parentesco determinam, muitas vezes, a distribuição de poder econômico ou político numa sociedade, e nos dizem quem tem direitos sobre quem. No caso da sociedade brasileira atual, por exemplo, uma mãe tem direitos sobre seu filho, e esse direito é regulado pelo Estado.

FONTE: Filipe Rocha/Arquivo da editora

Glossário:

consanguinidade: que diz respeito a laço determinado por origem biológica comum.

Fim do glossário.



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Não há um único modelo de estrutura familiar, podendo variar o número de membros e a composição de cada uma, como mostram estas imagens.

FONTE: Hugo Tavares/Opção Brasil Imagens

FONTE: Gerson Gerloff/Pulsar Imagens

FONTE: Fabio Colombini/Acervo do fotógrafo

FONTE: Onoky/Opção Brasil Imagens

FONTE: Ariel Skelley/Blend/Getty Images

LEGENDA DAS FOTOS: 1. Menino com seu pai e avós, em moradia no Rio de Janeiro (RJ). Foto de 2013. 2. Pai e filhos na zona rural de Restinga Seca (RS). Foto de 2011. 3. Grupo familiar da etnia Barasana, de Manaus (AM). Foto de 2014. 4. Família brasileira homoafetiva. Foto de 2013. 5. Três gerações de uma família norte-americana. Foto de 2012.



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É possível afirmar que o parentesco quase sempre engloba relações de poder, dominação e subordinação. Além de estarem presentes na esfera familiar, as relações de dominação também são encontradas na política, na economia e no trabalho. São relações assimétricas em que indivíduos e grupos, para impor autoridade e exercer influência sobre outros, podem se valer de meios físico-materiais e simbólicos, como a violência, a persuasão, a pressão, o assédio, a sedução e até a própria educação, os valores e a moral. Essas relações implicam dependência e obediência, na concepção de dominação do sociólogo alemão Max Weber (1864- -1920). Certas relações de dominação típicas da tradição da elite europeia deram origem à família moderna, cujo modelo ainda hoje é referência no Ocidente.

LEGENDA: Esta imagem exemplifica a chamada família nuclear na sociedade brasileira. Sabe-se que tal modelo não é o único, sendo bastante comuns os núcleos em que só há um dos pais ou em que eles são do mesmo sexo. Foto de 2015, na comunidade quilombola de Macuco, Minas Gerais (MG).

FONTE: G. Evangelista/Opção Brasil Imagens

LEGENDA: Grupo familiar em área rural de Lagoa da Prata (MG). Foto de 2014.

FONTE: Marcos André/Opção Brasil Imagens

A concepção hegemônica de família que tem persistido nos últimos séculos é a de um grupo social constituído, basicamente, pelas figuras do pai, da mãe e dos filhos, o que se convencionou denominar família nuclear. Nos dias de hoje, porém, o Estado reconhece como famílias outros tipos de grupo: mães e pais solteiros, cada qual com seus filhos, crianças criadas por seus avós e casais sem filhos. Outra configuração familiar hoje reconhecida pelo Estado é aquela em que a relação afetiva se dá entre pessoas adultas do mesmo sexo, além de famílias com filhos de outras uniões.

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O grupo familiar tende a se manter unido por relações sociais, econômicas e afetivas, mesmo quando seus membros não residem no mesmo domicílio. Se incluirmos nesse conjunto os ascendentes, os descendentes e os que se agregam ao grupo familiar indiretamente, estaremos nos referindo à família extensa.

Também se discute nas Ciências Sociais o sentido de outros tipos de laços familiares extensivos, como as relações profissionais entre patrões e empregados domésticos, muitas vezes incluídos na ideia de família. Um exemplo disso são casos em que empregadas domésticas vivem com a família que as contrata, participando ativamente da vida familiar e com ela se envolvendo emocionalmente. Embora essas dimensões de trabalho e afetividade encontrem-se misturadas e estejam presentes em muitas famílias na sociedade brasileira, serviram também para disfarçar uma relação de emprego e manter as trabalhadoras domésticas distantes dos direitos do trabalho. O filme Doméstica, dirigido por Gabriel Mascaro em 2012, nos faz refletir sobre essa realidade.

A família como instituição social

Em diferentes ritmos e momentos, as transformações que ocorrem nas áreas política, econômica, social, cultural influenciam o nosso cotidiano. Por isso as Ciências Sociais estudam esses acontecimentos de forma integrada. Assim, ao analisar as mudanças econômicas, por exemplo, os cientistas sociais também investigam o contexto social em que elas ocorreram, bem como suas razões e implicações.

As mudanças na família - seu tamanho, seus valores e os papéis sociais desempenhados pelas pessoas que a compõem - nos remetem a outros aspectos da sociedade, como os novos hábitos e estilos de vida, a acelerada urbanização, as adequações no mercado de trabalho, a melhoria dos níveis de escolarização, novos valores e culturas, a massificação dos meios de comunicação, entre outros. Levando em conta esses aspectos, podemos analisar a família de maneira ampla e dinâmica, compreendendo-a a partir de suas constantes transformações.

Normalmente, uma prática social repetida e aceita por indivíduos e grupos tende a se tornar um padrão de comportamento, ao menos durante certo período. Assim acontece com os grupos familiares em diversas culturas. Ainda que a família esteja em contínuo processo de mudanças, ela não é uma organização simples nem tende a desaparecer facilmente. Nas palavras do sociólogo francês Pierre Bourdieu (1930-2002):

[...] a família é produto de um verdadeiro trabalho de instituição, ritual e técnico ao mesmo tempo que visa instituir de maneira duradoura, em cada um dos membros da unidade instituída, sentimentos adequados a assegurar a integração que é a condição de existência e de persistência dessa unidade. Os ritos de instituição (palavra que vem de stare, 'manter-se, ser estável') visam constituir a família como entidade unida, integrada, unitária, logo, estável, constante, indiferente às flutuações dos sentimentos individuais. Esses atos inaugurais de criação (imposição do nome de família, casamento, etc.) encontram seu prolongamento lógico nos inumeráveis atos de reafirmação e de reforço que visam produzir, por uma espécie de criação continuada, as afeições obrigatórias e as obrigações afetivas do sentimento familiar (amor conjugal, amor paterno e materno, amor filial, amor fraterno, etc.).

BOURDIEU, Pierre. O espírito de família. In: BOURDIEU, Pierre. Razões práticas: sobre a teoria da ação. Campinas: Papirus, 1996. p. 126.



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