Silvia Maria de Araújo · Maria Aparecida Bridi · Benilde Lenzi Motim


O Brasil pensado pelos cientistas sociais



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O Brasil pensado pelos cientistas sociais

No   Brasil,   as   Ciências   Sociais   firmaram-se   em   resposta   às   indagações   da

sociedade, descortinando a diversidade cultural, as desigualdades sociais, as

diferenças regionais. Perspectivas analíticas procuram compreender e explicar

os grupos e as classes sociais em sua situação histórica, como fez o sociólogo

brasileiro   Florestan   Fernandes   (1920-1995),   para   quem   o   conhecimento

sociológico crítico é capaz de alertar a consciência social sobre o curso dos

acontecimentos históricos.

A estrutura social, a formação econômica e política, as relações de trabalho, o

processo   de   industrialização,   a   dinâmica   rural-urbana   e   outras   questões

relacionadas à cultura em um país de proporções continentais foram algumas

das temáticas abordadas pelos intelectuais do século XX que se debruçaram

sobre a nossa realidade.



Alguns autores brasileiros do início do século passado mesclaram estudos de

história, política e sociedade para o reconhecimento de uma identidade cultural

da   nação,   na   tentativa   de   apreender   um   sentimento   de   "brasilidade".   Entre

eles, destacam-se Silvio Romero (1851-1914), com  Ensaios de Sociologia e



literatura (1901); Euclides da Cunha (1866-1909), autor de Os sertões (1902); e

Oliveira Vianna (1883-1951), que escreveu  Populações meridionais do Brasil

(1920).

Autores estrangeiros também pesquisaram a cultura, a formação política e a

sociedade no Brasil e aqui fizeram escola, como o sociólogo francês Roger

Bastide   (1898-1974),   um   dos   cientistas   sociais   que   integraram   a   missão

europeia   trazida   à   Universidade   de   São   Paulo   (USP),   em   1938.   Bastide

lecionou Sociologia, especializou-se no estudo de religiões afro-brasileiras e foi

parceiro   de   Florestan   Fernandes   na   obra  Brancos   e   negros   em   São   Paulo

(1958).   O   francês   Jacques   Lambert   (1901-1991),   autor   de  Os   dois   Brasis

(1959), e o norte-americano Donald Pierson (1900-1995), que escreveu Negros

no Brasil  (1942),  Cruz das almas  (1951) e  Teoria e pesquisa em Sociologia

(1965),   também   trouxeram   sua   contribuição.   Cientista   social   renomado,   o

antropólogo   francês   Claude   Lévi-Strauss   (1908-2009)   viveu   no   Brasil   e

produziu trabalhos sobre os indígenas, entre eles, Tristes trópicos (1955).

LEGENDA: Retirantes, óleo sobre tela de Candido Portinari, de 1944, revela o

olhar do artista sobre as questões sociais do país.

FONTE: Reprodução autorizada por João Candido Portinari/Imagem do acervo

do Projeto Portinari/Coleção particular



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Após   a   década   de   1930,   a   temática   sociocultural   esteve   presente   em

interpretações   com   diferenças   teórico-metodológicas.   Obras   consagradas,

como Evolução política do Brasil (1933) e Formação do Brasil contemporâneo

(1942), de Caio Prado Júnior (1907-1990), Casa-grande & senzala (1933), de

Gilberto Freyre (1900-1987), e Raízes do Brasil (1936), de Sérgio Buarque de

Holanda (1902-1982), marcaram a institucionalização da Sociologia no país e

levaram gerações a refletir sobre as origens europeia, africana e indígena do

povo brasileiro.



Ao longo do século XX, as questões políticas, como a formação da nação e das

instituições, e a atuação do Estado brasileiro tornaram-se o objeto de pesquisa

de alguns intelectuais. Muitos estudos sobre o desenvolvimento econômico e

social, realizados em meados desse século, analisaram a questão agrária e a

modernização da sociedade, a formação da classe operária e do empresariado

industrial,   o   nacionalismo   econômico,   o   sindicalismo   e   os   governos   ditos

"populistas",   entre   outros   temas.   Dessa   geração   ressaltam-se:   Florestan

Fernandes, Hélio Jaguaribe (1923-), Celso Furtado (1920-2004), Octavio Ianni

e Juarez Brandão Lopes (1925-2011).

LEGENDA: Casa-grande do Engenho Noruega, antigo Engenho dos Bois, em

Pernambuco. Ilustração aquarelada de Cícero Dias para a primeira edição do

livro Casa-grande senzala, de Gilberto Freyre, 1933.

FONTE: Reprodução/Fundação Gilberto Freyre, Recife, Pernambuco.

Outro   tema   que   marcou   o   pensamento   social   brasileiro   foi   a   história   do

trabalho. Do escravo ao trabalhador livre, do habitante do campo ao da cidade,

além   de   análises   da   composição   étnica   da   classe   trabalhadora,   diversas

pesquisas foram publicadas. Entre as publicações, estão As metamorfoses do

escravo  (1962),   de   Octavio   Ianni,  A   integração   do   negro   na   sociedade   de

classes  (1965), de Florestan Fernandes,  História econômica do Brasil  (1953),

de Caio Prado Júnior, Sociedade industrial no Brasil (1964), de Juarez Brandão

Lopes, e  A imigração e a crise do Brasil agrário  (1973), de José de Souza

Martins (1938-).

Em   fins   do   século   XX,   alguns   dos   temas   tratados   pelos   cientistas   sociais

brasileiros   foram   a   transição   da   sociedade   agroexportadora   para   a   urbano-

industrial,   a   problemática   do   desenvolvimento   e   o   preconceito   racial.   Nas

primeiras décadas do século XXI, a inserção do país no contexto da economia

capitalista   mundial,   a   organização   política   brasileira   e   a   dinâmica   entre   a

realidade local e a global têm tomado a atenção dos estudiosos.

LEGENDA:   Capa   do   livro   Tristes   trópicos,   de   Claude   Lévi-Strauss   (ed.

Companhia das Letras).

FONTE: Reprodução/Ed. Companhia das Letras

LEGENDA: Capa do livro Os sertões, de Euclides da Cunha (ed. Ediouro).




FONTE: Reprodução/Editora Ediouro

LEGENDA: Capa do livro Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda (ed.

Companhia das Letras).

FONTE: Reprodução/Ed. Companhia das Letras

LEGENDA: Capa do livro A integração do negro na sociedade de classes, de

Florestan Fernandes (ed. Globo).

FONTE: Reprodução: Ed. Globo

Fim do complemento.




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