do Brasil desde o século XVI não foi o indivíduo, o Estado ou qualquer
companhia de comércio, mas a família, "a unidade produtiva, o capital que
força social que se desdobra em política, constituindo-se na aristocracia
colonial mais poderosa da América" (1997, p. 18).
Prado Jr. e sua família, em 1890.
Até o período republicano, as famílias da elite brasileira eram bastante
e garantir a manutenção ou melhora das condições econômicas, os
ricas - grandes proprietários de terras ou ocupantes de cargos de prestígio.
O processo de colonização do Brasil foi marcado pela dificuldade de
administração do governo colonial, diante da extensão do território e da
distância da metrópole. As famílias contavam apenas com seus membros e
vizinhos, o que favoreceu o desenvolvimento de relações de compadrio e a
prática do apadrinhamento, que estabelecia vínculos muitas vezes mais fortes
do que os consanguíneos.
Esse tipo de relação predominou de modo ostensivo até 1930, permanecendo
em várias regiões comandadas política e economicamente por centenárias
famílias da oligarquia. Essas famílias caracterizavam-se pela posse de terras,
de gado e de mão de obra (até a abolição da escravidão, em 1888), conferindo
status social a muitos líderes locais e seus familiares, fato que favorecia o
exercício do poder. Isso ajuda a explicar o caráter patrimonial ainda presente
na política brasileira, em que, geralmente, as esferas pública e privada tendem
a se confundir.
Os chefes políticos locais agiam segundo sua conveniência, guiando-se pela
posição social e fortuna das pessoas na escolha tanto do noivo para as filhas
quanto da profissão dos filhos. Os patriarcas interferiam na vida social da
localidade e nos cargos e jogos políticos. Na época, as relações de gênero
tinham nas esferas pública e doméstica um significado mais opressor e
conservador do que encontramos hoje. A autoridade dos homens sobre as
mulheres estava não apenas nas práticas sociais, mas legitimada na legislação
e no funcionamento do Estado. O fato de apenas homens poderem votar
durante mais de um século no Brasil independente é um exemplo do que
chamamos "sistema patriarcal".
No período de maior influência desse sistema, era marcante o desequilíbrio nas
relações de gênero. Pode-se lembrar, por exemplo, que as mulheres da elite,
em especial as filhas, eram mantidas nos espaços privados da casa, afastadas
da sala e da varanda. Considerados locais públicos, nesses espaços os
proprietários recebiam pessoas que só entravam se chamadas ou autorizadas
pelo fazendeiro.
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