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A cultura que se mundializa
A produção de bens de consumo se tornou flexível, como estudamos no
Capítulo 5, quando foram introduzidos, na década de 1970, processos de
automação e inovações na organização do trabalho, responsáveis pela
redução do tempo de produção e do tempo de consumo. Essas transformações
levam à mundialização da cultura, analisada pelo sociólogo Renato Ortiz
(1947-) como um acontecimento histórico no qual as formações nacionais
rompem com as realidades locais e as tradições regionais. Nesse processo,
chamado de desenraizamento cultural, algumas referências socioculturais
são retiradas dos indivíduos.
A cultura que ganha ares de fenômeno mundializado desestabiliza a tradição,
destituindo-a de seu papel legitimador das práticas e concepções de mundo
tradicionais. A cultura se torna ainda mais flexível.
Esse grande processo sociocultural não é homogêneo nem se explica
territorialmente, mas impõe uma nova lógica de tempo e espaço. Para designá-
lo, o sociólogo brasileiro Octavio Ianni (1926-2004) emprega a expressão
"modernidade-mundo", que é a sociedade global, o world system, onde se
intercambiam os universos micro e macrossocial e as relações entre as
dimensões local e global são intensas, mútuas e extensivas.
Na transição do século XX para o XXI, uma cultura mundializada, sob efeito
das comunicações e da informatização, atravessa os limites nacionais. O
consumo passa a ser seu traço dominante.
Determinadas práticas culturais - como o esporte, a moda, os estilos de
penteados, as compras, os jogos, os rituais - nivelam a cultura dos setores
sociais, sobrepondo hierarquias e extrapolando as fronteiras físicas e sociais,
avalia o crítico literário inglês Steven Connor (1955-). Isso significa que as
esferas do cultural, do social e do econômico deixam de ser distinguíveis umas
das outras. O rock é um exemplo de fenômeno de influência global que unifica
gostos, mas se combina com uma pluralidade de estilos, de mídias e de
identidades étnicas espalhadas pelo mundo.
LEGENDA: Centenas de fãs assistem a show de Elvis Presley, em 1957.
FONTE: Album/Latinstock
LEGENDA: O músico baiano Raul Seixas foi um dos principais artistas do rock
brasileiro. Seixas inovou ao misturar ritmos e temas brasileiros ao rock norte-
americano. Foto de 1982.
FONTE: Arquivo OESP/Agência Estado
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