Silvia Maria de Araújo · Maria Aparecida Bridi · Benilde Lenzi Motim



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simbólico que eles detêm. O poder simbólico não está na palavra em si, mas

na   legitimidade   que   os   indivíduos   dão   a   quem   as   enuncia.   Assim,   para

Bourdieu, esse poder é "quase mágico", ao permitir obter o equivalente daquilo

que é obtido pela força física ou econômica, em geral de forma pouco evidente.

LEGENDA: Localizado em São Paulo (SP), o templo de Salomão é um espaço

expressivo do crescimento da religião evangélica no Brasil. Foto de 2014.

FONTE: Juliana Knobel/Frame/Folhapress

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Fundamentalismo religioso

fundamentalismo religioso foi reconhecido como fenômeno recentemente,

quando   o   termo   passou   a   ser   mais   utilizado   pelos   cientistas   sociais.   O

sociólogo britânico Anthony Giddens (1938-) o descreve como um movimento

de adesão incondicional a determinados valores e crenças, cujos adeptos têm

um entendimento literal dos seus livros sagrados. Nos casos mais radicais, isso

leva à adoção de meios violentos para a imposição dessa leitura ao restante da

sociedade.

Na visão de Zygmunt Bauman, o radicalismo religioso resulta do desgaste dos

elementos   que   mantêm   unida   uma   congregação   de   fiéis,   levando   alguns

grupos a desejarem eliminar aquilo que pareça indiferente ou discordante com



relação   aos   princípios   que   professam.   Valores   como   a   fé,   a  confiança   e   a

capacidade   de   autoafirmação   são   oferecidos   aos   fiéis   por   meio   de   regras

simplificadas;   ao   mesmo   tempo,   os   fundamentalistas   geralmente   rejeitam   o

diálogo com os que pensam de maneira diferente da sua.

Bauman identifica que na sociedade atual, marcada social e culturalmente pelo

capitalismo   pós-industrial,   tudo   se   torna   efêmero   e   fragmentado.   Nela

prevalecem a diversidade e a flexibilidade nos relacionamentos nas diversas

instâncias sociais. Para explicar a instabilidade da sociedade contemporânea,

Bauman   utiliza   a   metáfora   do   estado   de   "liquidez"   da   matéria   e   denomina

"realidade   líquida"   as   mudanças   repentinas   e   estímulos   constantemente

renovados na presente fase da história.

Assim, o fascínio exercido pelo fundamentalismo proviria de sua promessa de

"libertar" o indivíduo da autossuficiência a que estava condenado, informando-o

do que ele deve fazer e eximindo-o da responsabilidade sobre seus atos e

ações.   Assim,   ele   oferece   uma   "racionalidade   alternativa"   que   se   opõe   às

incertezas da vida e aos seus riscos.

O fundamentalismo pode vir associado a situações de desigualdade social por

fornecer às populações pobres e injustiçadas um sentido já definido para a

realidade vivida. Desse modo, ele teria maior apelo entre as amplas parcelas

da   população   que   se   veem   impossibilitadas   de   consumir   tudo   o   que   a

sociedade   oferece   ostensivamente   e   vitimadas   pelo   desemprego   e   pela

desassistência social.

LEGENDA: Manifestantes indonésios reivindicam, em Jacarta, capital do país,

a expulsão da população Ahmadiyah, um grupo islâmico considerado herético

pelos   mais   ortodoxos.   A   Indonésia   é   o   país   com   a  maior   concentração   de

praticantes do islamismo. Foto de 2011.

FONTE: Ismoyo/Agência France-Presse

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Desfazendo mitos

O fato de alguns ataques de grupos terroristas serem feitos em nome de uma

crença específica não significa que todos os adeptos daquela religião sejam




terroristas   em   potencial.   Apenas   alguns   grupos   apresentam   reações

fundamentalistas diante de quem é alheio ou discordante com relação à sua

crença religiosa.

Entre os estudos sobre o terrorismo, é preciso destacar aqueles que sinalizam

para a situação de empobrecimento e marginalização de vastas populações em

diversas partes do mundo, sobretudo após os anos 1990. Muitas associações

religiosas assumiram obrigações e deveres até então exercidos pelo Estado,

que   reduziu   seu   papel   no   sistema   de   proteção   social   em   tempos   de

neoliberalismo.   Assim,   outros   fatores   sociais   e   políticos   também   estão

atrelados ao tema do terrorismo, mostrando que suas motivações se situam

além das questões religiosas.

Tampouco se deve associar o terrorismo a religiões específicas. O historiador

inglês   Eric   Hobsbawm   (1917-2012)   relacionou   o   aumento   da   violência   no

mundo   atual   com   as   guerras   no   final   do   século   XX,   quando   os   Estados

nacionais perderam em parte o monopólio do poder e da violência, que fazia

com que os cidadãos respeitassem a lei. Como exemplo disso o autor cita o

caso   do   Sri   Lanka:   antes   convivendo   pacificamente,   a   maioria   budista   e   a

minoria hinduísta envolveramse recentemente em sérios conflitos.

Os ataques às Torres Gêmeas, em Nova York, e ao prédio do Pentágono, sede

do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, em Washington, ocorridos

em 11 de setembro de 2001, colocaram sob suspeita a religião islâmica e seus

seguidores. Nesse contexto, o então presidente dos Estados Unidos, George

W. Bush, fez uma convocação internacional para a luta contra o terrorismo, na

forma   de   uma   "cruzada"   do   Ocidente   cristão   contra   os   muçulmanos.

Generalizou-se, desse modo, com auxílio da mídia de grande circulação a ideia

equivocada  de que o  islamismo era sinônimo de  terrorismo. Isso gerou um

aumento da intolerância e da violência contra os praticantes dessa religião no

mundo. A intervenção militar norte-americana no Iraque e no Afeganistão nos

anos 2000 aprofundou conflitos entre grupos religiosos e as disputas locais e

regionais. Desse contexto, formou-se um grupo extremista chamado Estado

Islâmico   (ou   EI),   cujas   ações   envolveram   disputas   territoriais   em   diversas

regiões   no   Oriente   Médio,   assassinatos   daqueles   considerados   inimigos   e

"infiéis" e atos terroristas, tal como ocorreu na França em novembro de 2015.



LEGENDA:   Membros  da  comunidade   islâmica  em  Roma,  Itália,  durante   ato

contra o terrorismo. Os cartazes dizem "não em meu nome" e "o terrorismo não

tem religião". Foto de 2015.

FONTE: Giuseppe Ciccia/NurPhoto/AFP



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Afinal, como começa o terrorismo? Os grupos que recorrem a essa estratégia

alegam reagir a um ataque anterior vindo da parte do Estado ou do sistema.

Para os que praticam o terror, trata-se de um contra-ataque a quem os privou

de   outra   forma   de   se   fazer   ouvir,   como   a   negociação.   Veiculador   de

reivindicações nem sempre precisas, o terrorismo é uma estratégia política que

usa   a   violência,   física   ou   psicológica,   em   ataques   a   governos,   a   grupos

políticos ou mesmo à população, criando um pavor incontrolável, o terror, que

se expande além do círculo de suas vítimas.


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