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A religiosidade no Brasil
O Brasil é um Estado laico, ou seja, legalmente o Estado é independente e não
está submetido aos desígnios de qualquer confissão religiosa. Os cidadãos
brasileiros têm a garantia constitucional de poder professar a religião que
desejarem, sem discriminações. Diz o inciso VI do artigo 5 da Constituição
Brasileira: "É inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo
assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a
proteção aos locais de culto e suas liturgias".
Tem aumentado no mundo o número de grupos religiosos, que em sua maioria
representam cisões nas denominações religiosas mais antigas. É o caso, na
América Latina e no Brasil, da expansão de grupos protestantes e
pentecostais. Embora os católicos ainda sejam a maioria da população
brasileira, a proporção com relação ao total caiu de 73,6% em 2000 para 64,6%
em 2010, de acordo com o Censo Demográfico 2010, do IBGE. Já os
seguidores de denominações evangélicas, que representavam 15,4% da
população em 2000, chegaram a 22,2% em 2010 - um aumento de cerca de 16
milhões de pessoas. Algumas pesquisas antropológicas discutem a tese de
que a conversão a esses novos grupos religiosos seria, em parte, uma reação
à situação de pobreza e de marginalidade da população.
FONTE: Adaptado de: Censo Demográfico 2010. Disponível em:
www.censo2010.ibge.gov.br/apps/mapa. Acesso em: 9 jul. 2015.
FONTE: Adaptado de: Censo Demográfico 2010. Disponível em:
www.censo2010.ibge.gov.br/apps/mapa. Acesso em: 9 jul. 2015. Créditos dos
Mapas: Portal de Mapas/Arquivo da editora
O Censo 2010 também aponta um aumento, no mesmo período, do número de
pessoas que se declaram sem religião, de 7,3% para 8% da população
brasileira. Para a antropóloga brasileira Regina Novaes (1952-), uma
explicação possível para esse crescimento, sobretudo entre os jovens, está
menos relacionada ao ateísmo e mais a formas de ligação com o sagrado que
se desvinculam de instituições religiosas. Essas formas se expressam numa
espiritualidade individualizada e também na participação em manifestações
coletivas, como festas religiosas e seus símbolos.
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Ainda de acordo com o Censo, os seguidores da umbanda e do candomblé
mantiveram-se em 0,3% em 2010, enquanto a população que se declara
espírita passou de 1,3%, em 2000, para 2%, em 2010. Embora sejam
contingentes populacionais pequenos, a presença dessas religiões é
significativa nas representações sociais e nas manifestações culturais e
artísticas brasileiras.
É comum ouvir que o Brasil é um país em que o sincretismo religioso está
muito presente, ou seja, no qual elementos de cultos e doutrinas diferentes se
combinam e são reinterpretados. Para o antropólogo e sociólogo francês
radicado no Brasil Pierre Sanchis (1928-), o sincretismo não é próprio do
campo da religião, mas da cultura, e procede de uma relação desigual entre
duas culturas ou religiões. Essa desigualdade é consequência de relações
históricas de dominação de classe, dominação política ou hegemonia cultural,
em que elementos de uma religião subjugada ou discriminada são
incorporados às práticas religiosas dominantes. Assim sendo, é preciso
considerar a diferença entre declarações de identidade (associadas à
instituição religiosa), em geral captadas pelo Censo, e declarações de
convicções (associadas à vivência e às crenças dos indivíduos).
LEGENDA: Francisco Cândido Xavier, o Chico Xavier, foi um médium,
filantropo e um dos expoentes do espiritismo. Foto de 1978.
FONTE: Acervo FSP/Folhapress
No conjunto das manifestações religiosas brasileiras, a umbanda seria a
expressão ideológica da integração do negro à sociedade nacional, segundo o
sociólogo francês Roger Bastide (1898-1974). No período colonial e do Brasil
Império, a repressão dos colonizadores portugueses e luso-descendentes,
primeiro, e das autoridades oficiais, depois, às religiões africanas e afro-
brasileiras levaram os seus adeptos a fazerem adaptações para escapar da
perseguição. Foi assim que entidades divinas como os orixás do povo ioruba e
os inquices dos povos bantos foram associados a santos católicos, como o
exemplo das associações entre a orixá Iemanjá e a inquice Dandalunda com
Nossa Senhora, ou entre a orixá Iansã e Santa Bárbara. A umbanda, fundada
no século XX, resultou da sistematização de um processo maior de
modificações, como a crença na manifestação de espíritos errantes em
sessões mediúnicas e o abandono de rituais de sacrifício.
Já o candomblé é a mais difundida entre as religiões trazidas pelos grupos
africanos para o Brasil. Seus rituais costumam ser embalados por cantos, em
terreiros, como são chamados os locais de culto aos orixás, onde se realizam
oferendas aos deuses e são feitas consultas espirituais. Tais locais são
cuidados e dirigidos por um pai (babalorixá) ou uma mãe (ialorixá) de santo.
As religiões dos indígenas brasileiros são tão diversas quanto os povos que
habitam o território nacional, e muitas delas ainda hoje são praticadas.
Recentemente houve aumento de pesquisas sobre elas por parte dos
etnólogos.
LEGENDA: Fiéis durante lavagem das escadarias da Igreja do Senhor do
Bonfim, em Salvador (BA). Foto de 2014.
FONTE: João Alvarez/Folhapress
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