Silvia Maria de Araújo · Maria Aparecida Bridi · Benilde Lenzi Motim


Cidadania: entre o público e o privado



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Cidadania: entre o público e o privado

O pensador francês Alexis de Tocqueville (1805-1859), como outros autores

clássicos, discutiu a cidadania pela óptica do espaço urbano, pois a cidade é o

local onde primeiro se manifesta a distinção entre o poder público e o poder

privado. A delimitação entre o espaço público (de interesse geral) e o espaço

privado (restrito a indivíduos) articula-se justamente por meio do Estado.

Pensar   a  cidadania  entre   as   duas   esferas   -   a  pública   e   a   privada   -   torna

possível   entendê-la   como   o   conjunto   de   direitos   e   deveres   na   convivência

coletiva. A tensão permanente entre indivíduo e sociedade que a cidadania faz

surgir é própria da vida política e é encontrada em muitos âmbitos da vida, seja

no uso e na conservação dos transportes públicos, seja na reivindicação por

creches e escolas, por empregos, acesso à moradia e muitas outras situações.

A cidadania diz respeito às relações entre o Estado e os cidadãos, definindo o

espaço público quanto a direitos e obrigações dos cidadãos.

LEGENDA: Voluntários participam de mutirão de limpeza durante a 46ª Ação

Voluntária EcoFaxina, realizada em praia do Guarujá (SP). Foto de 2014. Por

se   constituir   em   um   espaço   que   ao   mesmo   tempo   é   de   todos   e   não   é

propriedade de ninguém, a esfera pública está sujeita tanto ao descaso dos

indivíduos como ao benefício de ações coletivas.

FONTE: William R. Schepis / Instituto EcoFaxina

A filósofa política alemã Hannah Arendt (1906-1975) definiu a esfera pública

como   o   "mundo   comum"   -   aquilo   que   é   de   todos   e,   ao   mesmo   tempo,

aparentemente não é de ninguém. Isso implica respeito e responsabilidade ao

que é de todos para que cada um possa usufruir esse mundo comum. Quando

os membros de uma sociedade perdem essa noção, há um declínio da esfera

pública com consequências sociais graves para o conjunto das relações: há a




privatização   do   que   deveria   ser   de   todos,   a   democracia   se   restringe   e   os

direitos coletivos ficam diminuídos, dando margem ao fenômeno da corrupção.

A   Ciência   Política   aponta   a   origem   da   corrupção   política   na   queda   da

monarquia absolutista. Até então, tudo pertencia ao rei; no momento em que o

Estado moderno é instituído, os bens do rei ou governante são separados dos

recursos do Estado, e a apropriação destes por qualquer indivíduo ou grupo

passa a ser proibida e considerada um ato de corrupção.

LEGENDA: O palácio de Versalhes e seus jardins em pintura de Pierre Patel,

de   1668.   A   pomposa   construção   foi   sede   da   corte   francesa   e   símbolo   da

monarquia absolutista de Luís XIV.

FONTE: The Bridgeman Art Library/Getty Images


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