Movimentos sociais latino-americanos e o Estado neoliberal
Em meados dos anos 1970, as economias dos países desenvolvidos e também
das nações da América Latina foram atingidas por uma crise mundial
provocada pelo mercado do petróleo. Quando os países produtores do Oriente
Médio uniram-se para fixar um volume de extração de petróleo, o custo dessa
matéria -prima subiu, levando a uma queda de lucratividade no sistema
capitalista. Essa crise contribuiu para fragilizar as ditaduras, principalmente por
obrigar os Estados a modificar sua política econômica, pois os empréstimos
externos ficaram mais escassos e os juros internacionais, mais caros. Setores
conservadores passaram, então, a defender a proposição neoliberal, ou seja, a
redução da participação do Estado nos assuntos econômicos, como visto nos
Capítulos 5 e 8.
Glossário:
juro: de forma simplificada, é o valor do dinheiro comercializado. Ou seja, é a
remuneração adicional paga por um indivíduo, instituição ou país que tomou
um empréstimo ou comprou algo a prazo àquele que financiou o valor, ou seja,
o tomador do dinheiro precisa pagar o montante original acrescido de um
percentual a título de remuneração (o juro). Quando os juros sobem, o valor a
ser pago por novos empréstimos também sobe.
Fim do glossário.
LEGENDA: Filas para comprar combustível após o súbito aumento do preço do
barril de petróleo. Foto de 1973 na cidade de Nova York (EUA).
FONTE: AP Photo/Marty Lederhandler/Glow Images
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Para compreender a adesão mundial ao neoliberalismo - especificamente, de
muitos países latino-americanos - é preciso considerar dois fatores ocorridos
nos anos 1980 e 1990. Países da América Latina viram a inflação se elevar e a
atividade econômica estagnar ou cair, ao mesmo tempo. Também as relações
de forças entre as nações alteraram-se com o fim da União das Repúblicas
Socialistas Soviéticas (URSS), em 1991, e o abandono do sistema socialista - o
único que se apresentava como alternativa ao capitalismo - em boa parte dos
países que o adotavam. Abriu-se a possibilidade para a aceleração da
globalização da economia capitalista e o fortalecimento da ideologia neoliberal.
As políticas neoliberais apresentam ações que tendem a reproduzir as
desigualdades sociais, restringindo os direitos, tais como a estabilização
monetária mediante o controle dos salários, a redução dos gastos públicos e a
liberalização dos preços de venda das mercadorias. Por isso, vários
movimentos sociais contrários aos efeitos da implantação dessas políticas
constituíram-se na América Latina, desde o século XX até a atualidade.
Na Argentina, por exemplo, as políticas neoliberais provocaram a diminuição
drástica da participação do setor industrial na economia e mudanças nas
relações de trabalho que afetaram milhões de trabalhadores e parcelas da
classe média. Isso ocasionou a formação de movimentos exigindo mudanças
na política econômica do país, como o dos cartoneros (catadores de papelão) e
o dos piqueteros (piqueteiros), que reunia trabalhadores desempregados.
Constituíram-se formas de organização alternativas, como as cooperativas de
trabalhadores para gerir empresas desativadas pelos patrões durante a crise
que o país enfrentou a partir de 2001. Segundo o sociólogo argentino Héctor
Palomino, a base desses movimentos estava em exigir do Estado o
atendimento às necessidades de subsistência da população.
No México (mais precisamente no estado de Chiapas), no Equador e na
Bolívia, destacaram-se os movimentos indigenistas. Esses movimentos
buscavam alterar a relação entre o Estado e as comunidades indígenas - das
quais provém parcela significativa da população desses países -, a fim de que
estas obtivessem maior autonomia, reconhecimento e poder. Compostas de
setores indígenas e das classes trabalhadoras (notadamente as camponesas),
essas organizações sociais se colocaram contra as imposições de um sistema
econômico excludente, que mantém parte da população em estado de pobreza.
Além disso, valorizaram a diversidade cultural, em contraposição à
homogeneização direta e indiretamente promovida pela economia globalizada.
Atualmente, muitos movimentos sociais combatem as novas formas de
desigualdade e pobreza provocadas pelas políticas neoliberais.
LEGENDA: Manifestantes participam, em fevereiro de 2008, de cerimônia em
La Paz, capital da Bolívia, em favor da nova Constituição do país, aprovada por
referendo popular no ano seguinte. Entre outras mudanças, o texto concede
mais autonomia aos povos indígenas e repudia toda forma de discriminação.
FONTE: Gaston Brito/Reuters/Latinstock
LEGENDA: Congresso Nacional Indígena ocorrido na Cidade do México, em
2014.
FONTE: Cristian Estrada/Politicasmedia 2014
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