causas e consequências da intervenção humana ao apresentar estudos
questionando a própria definição do que é natureza. Trabalhos como o da
do que seja natureza é uma criação.
Outros antropólogos notam que, na sociedade ocidental, costuma-se
considerar a natureza como algo a ser dominado, e são frequentes as
associações entre natureza e grupos sociais dominados. Disso derivam
consequências ambientais como as que vimos até aqui, mas também
consequências sociais - por exemplo, as desigualdades produzidas entre
de maneira similar àquela que eles adotam para estudar a cosmologia de
sociedade ocidental atribuiu o estudo de tudo o que fosse considerado não
humano à ciência, como se esta fosse separada da política. Aquilo que é não
humano é visto como sem história, obedecendo a regras imemoriais. Assim,
acredita-se que a ciência produz verdades inquestionáveis, quando, na
realidade, ela se fundamenta em acordos entre seus "porta-vozes autorizados"
- a comunidade de cientistas. Esses consensos resultam de pesquisas de
laboratório e são apresentados como se os fatos falassem por si próprios,
embora a própria situação de laboratório seja construída fora de condições
ditas naturais.
LEGENDA: A produção das verdades científicas em laboratório reforça a
construção da ideia de separação entre seres humanos e natureza. Porém, é
em si mesma contraditória, por se tratar de uma reprodução de aspectos
"naturais" em um ambiente construído - é um exemplo do que Latour classifica
de híbrido. Na foto, de 2013, bióloga manipula bactérias em laboratório em
Nijmegen, Holanda.
FONTE: Dominik Asbach/laif/Glow Images
Os cientistas fizeram valer, por sua autoridade, um entendimento a respeito do
que é natureza e de como ela funciona, e isso fez com que as pessoas
passassem a identificar a natureza como algo separado delas, e não como algo
do qual fazem parte. Por meio dessa diferença de entendimento, os chamados
modernos tentam se diferenciar das sociedades vistas como não modernas,
nas quais a separação e a submissão da natureza pela cultura não estavam
colocadas nesses termos.
O antropólogo brasileiro Eduardo Viveiros de Castro (1951-) vai um passo além
e considera a progressiva separação e criação de desigualdades entre o
humano e o não humano - e, depois, entre outros grupos humanos - um fator
de exclusão e destruição. Assim, tentar compreender as diferenças entre os
modos como cada sociedade considera os diferentes seres é um ponto de
partida para as sociedades ocidentais alterarem suas próprias formas de agir.
O ser humano não somente se relaciona com o meio ambiente, mas é parte
dele. Para alguns cientistas sociais, seria mais correto pensarmos em
natureza-cultura como uma única coisa.