Silvia Maria de Araújo · Maria Aparecida Bridi · Benilde Lenzi Motim


 Há relação entre a falta de acesso aos alimentos no mundo e o agronegócio como a produção do biodiesel? 2



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1. Há relação entre a falta de acesso aos alimentos no mundo e o agronegócio

como a produção do biodiesel?



2. Como é possível promover desenvolvimento econômico que assegure renda

e emprego para a população, preserve o ambiente (com redução da poluição e

preservação   da   flora   e   fauna,   da   água,   do   ar)   e   priorize   a   produção   de

alimentos? Escreva sobre possíveis medidas que poderiam ser adotadas pelo

Estado brasileiro nesse sentido.

Em busca de uma sociedade sustentável

Como   vimos,   na   sociedade   moderna   ocorre   um   estranhamento   entre   ser

humano e natureza: o primeiro não se reconhece como parte dela. Parece ser

urgente que se redefina o sentido atribuído à natureza, o que significa alterar o

modo   como   nos   relacionamos   com   ela.   A   forma   capitalista   de   produzir

consome fartamente matérias-primas e recursos não renováveis e gera enorme

quantidade   de   lixo   para   aterros   sanitários,   que   mais   e   mais   se   mostram



insuficientes. Quando o solo, o ar e a água sofrem devastação, quando os

seres humanos estão submetidos à violência de sobreviver com dificuldades,

quando   há   a   incerteza   do   futuro,   tornam-se   necessárias   mudanças   de

comportamento e empenho na busca de soluções, em todos os níveis e áreas,

com foco na coletividade.

Atualmente,   entidades   como   o   Banco   Mundial   e   a   Organização   para   a

Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) falam em "paradigma de

crescimento  verde".   Esse  modelo  busca  agregar ciência,  tecnologia,  grupos

comunitários e governos para estabelecer objetivos e metas ambientais de uma

política de desenvolvimento sustentável.



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Seriam   privilegiados   os   "empregos   verdes",   ou   seja,   aqueles   que   visam

preservar   e   restaurar   a   qualidade   do   meio   ambiente.   Os   defensores   dos

"empregos verdes" argumentam que eles ajudam a proteger os ecossistemas e

a biodiversidade; reduzem o consumo de energia, materiais e água mediante a

utilização de estratégias de alta eficácia; minimizam ou evitam a geração de

diferentes   formas   de   lixo   e   poluição.   No   entanto,   críticos   apontam   a

insuficiência dessas medidas caso não se enfrentem outros problemas, como o

da obsolescência programada dos produtos vendidos e o do excesso de uso de

embalagens e produtos descartáveis.

O   filósofo   francês   Pierre-Félix   Guattari   (1930-1992)   propõe   uma   concepção

ampliada de ecologia, na qual nossa vida se desdobra em três dimensões: a

que envolve o meio ambiente (natural) propriamente dito; aquela em que se

dão   as   relações   sociais;   e   aquela   mental,   relativa   à   subjetividade   humana.

Essa concepção abrangente da natureza do ser humano, como ser individual,

cultural e também natural, está na base das teorias por um desenvolvimento

sustentável pós-consumista, ou seja, não desperdiçador.

Uma sociedade sustentável tem se tornado uma necessidade e pede uma nova

ética para a produção e para o consumo. Essa ética, que prioriza o ambiente,

gera uma consciência dos valores sociais primordiais: ecológicos, genéticos,

sociais,   econômicos,   científicos,   educacionais   e   culturais.   É   fundamental

recordar   o   fato   de   que   somos   indivíduos   numa   coletividade.   O   filósofo   e




sociólogo Edgar Morin (1921-) propõe o desenvolvimento de uma ética que

respeite as três dimensões interligadas. Essa perspectiva de preservação do

gênero humano chama-se "ecoética" - uma ética ecológica, fruto da relação

respeitosa e responsável dos seres humanos com o planeta.

Numa   atitude   ética,   sustentada   na   responsabilidade   das   partes   e   entre   as

partes que integram a  sociedade, vivem-se princípios  e valores que podem

levar a uma crescente autonomia, permitindo aos indivíduos e grupos sociais

fazer suas escolhas e exercer um controle democrático sobre as instituições e

organizações da sociedade. Assim, pesquisas sobre o ambiente e a relação

humano-natureza   apontam   ser   necessário   investir   na   conscientização   e

consequente desenvolvimento do ser humano, mais que no desenvolvimento

da riqueza do ser humano.

Atitudes individuais e coletivas visando ao consumo sustentável, ao incentivo

aos produtos orgânicos, à redução do desperdício e ao reaproveitamento de

materiais são importantes. Porém, sabemos que elas, de forma isolada, não

darão   conta   de   reverter   os   processos   de   devastação   e   degradação   dos

ecossistemas ou garantir a preservação e a conservação deles. Também as

comunidades que estabelecem relações com o ambiente e os recursos naturais

fora do mercado de consumo ou que deles obtêm seu sustento de maneira

mais próxima precisam ser consideradas quando se realizam obras de grande

impacto ambiental, por exemplo.

Reflexões   sobre   o   ambiente   e   a   relação   ser   humano-natureza   reforçam   a

necessidade de amadurecer uma consciência social do equilíbrio ecológico.

LEGENDA: Funcionário manipula celulares destinados à reciclagem em São

José   dos   Campos,   em   São   Paulo,   no   ano   de   2008.   O   comportamento

consumista e a rápida obsolescência dos produtos que usam tecnologia da

informação   produzem   grandes   quantidades   de   lixo   eletrônico,   o   que   pode

comprometer o meio ambiente.

FONTE: Rogério Cassimiro/Folhapress

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Enquanto países e empresas procuram o desenvolvimento econômico tendo

em vista apenas as disputas de poder e de mercado, as consequências sociais



dessa   produção   em   larga   escala   quase   nunca   são   contabilizadas.   Os

interesses econômicos e políticos, ao se sobreporem às questões sociais e

ambientais,   dificultam   a   implementação   de   soluções   eficientes   em   âmbito

global,   como   podemos   compreender   ao   pesquisarmos   sobre   as   diversas

conferências   internacionais   sobre   clima,   meio   ambiente   e   desenvolvimento

sustentável, como a Eco-92 ou a Rio+20.

LEGENDA: Chefes de Estado posam para foto durante abertura da conferência

Rio+20   sobre   desenvolvimento   sustentável,   em   junho   de   2012,   no   Rio   de

Janeiro (RJ).

FONTE: Paulo Whitaker/Reuters/Latinstock

LEGENDA: Ativistas conduzem globo terrestre durante a Cúpula dos Povos por

Justiça Social e Ambiental, evento que ocorreu paralelamente à Rio+20, em

2012, no Rio de Janeiro. A sociedade civil se mobiliza pelo meio ambiente

diante da ação insuficiente dos Estados nacionais.

FONTE: Felipe Dana/Associated Press/Glow Images


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