dominação social. Em sua origem sociológica, esse fenômeno foi tratado por
Max Weber como a probabilidade de encontrar submissão a uma determinada
ordem por diversos motivos: conveniência, mera inclinação pessoal ou
costume. Mas, nas relações sociais, em geral, a dominação apoia-se em bases
jurídicas que lhe dão "legitimidade". Nesse aspecto, o fato de o Estado
organizar o poder político institucionalizado contribui para um complexo
ordenamento de deveres e direitos na sociedade.
LEGENDA: Charge do cartunista Laerte, publicada no jornal Folha de S.Paulo,
em 2010, sobre relações de gênero.
FONTE: Laerte/Acervo do cartunista
59
Em sua teoria da dominação, Weber reconhece três tipos puros de dominação
social: a legal (presente na obediência às leis e às ações da burocracia, ou
seja, da administração pública), a tradicional (presente na relação entre senhor
e súditos) e a carismática (proveniente da devoção afetiva a um líder/herói, em
razão de virtudes pessoais).
A dominação é fenômeno de comando de um grupo sobre outro e supõe que
os dois lados estejam condicionados a essa situação, pondera o sociólogo
brasileiro Pedro Demo (1941-). Nessa lógica, há os dominantes e os
dominados, o que não significa que estes não se rebelem. Leia e reflita sobre o
fenômeno, sempre presente e atual na sociedade.
A dominação, como desigualdade, é fenômeno dialético, porque estabelece
uma "identidade de contrários". Quer dizer, os dois lados se repelem, porque
são desiguais, mas se atraem, porque um não existe sem o outro. Há nele uma
dose de tensão que o torna histórico [...]. Cabem nele também os fenômenos
de influência consensual como podem ser encontrados num grupo de amigos,
numa comunidade religiosa, numa família. Aí também existe o fenômeno da
liderança, da obediência, do seguimento de normas. Pelo fato de a autoridade
ser aceita ou eleita pela maioria e até mesmo por aclamação geral, isto não
retira o âmago da questão: há desigualdade.
DEMO, Pedro. Sociologia: uma introdução crítica. São Paulo: Atlas, 1983. p.
27-28.
No dia a dia podemos perceber quanto a sociedade brasileira ainda reproduz
formas de discriminação a indivíduos de grupos sociais distintos. Assim como
as mulheres, os afrodescendentes são historicamente discriminados no
mercado de trabalho e em outras instituições. Os meios de comunicação e o
sistema educacional muitas vezes reforçam essas formas de discriminação
social, reproduzindo a desigualdade. Nos anúncios publicitários, por exemplo,
pardos e negros, geralmente, aparecem em pequeno número, embora
constituam a maioria da população brasileira.
Debate
Reunidos em grupos e com base na letra da música e na leitura deste capítulo,
debatam sobre os contrastes sociais presentes na sociedade brasileira.
Todo dia o sol da manhã
vem e lhes desafia,
traz do sonho pro mundo
quem já não o queria:
palafitas, trapiches, farrapos,
filhos da mesma agonia.
E a cidade que tem braços abertos
num cartão-postal,
com os punhos fechados na vida real
lhes nega oportunidades,
mostra a face dura do mal.
OS PARALAMAS DO SUCESSO. Alagados. In: Os Paralamas do Sucesso,
1986. EMI.
FONTE: Filipe Rocha/Arquivo da editora
60
O acesso ao ensino, por sua vez, garante participação diferenciada para os
grupos sociais, reproduzindo tendências elitistas. As classes dominantes,
intelectual, política e economicamente, procuram garantir aos membros de
suas famílias ocupações de posições privilegiadas. É comum investirem para
que seus filhos estudem em instituições em que convivem apenas com outros
jovens da mesma classe, o que contribui para a perpetuação da riqueza e dos
privilégios sociais.
Segundo o pensamento sociológico tradicional, elite refere-se a uma fração da
classe dominante que detém o poder, impõe seus padrões culturais,
econômicos e/ou políticos à população e dela se mantém distante. Ao
empregar o termo pela primeira vez, em 1902, no livro Os sistemas socialistas,
o sociólogo italiano Vilfredo Pareto (1848-1923) instituiu a conhecida teoria das
elites. Ele distinguiu a elite ampla - o conjunto de indivíduos que chegou a um
escalão elevado da hierarquia profissional - de uma elite governante - um grupo
mais restrito de indivíduos da elite ampla que exerce funções de direção
política.
O filósofo italiano Gaetano Mosca (1858-1941), pioneiro da Sociologia Política,
em sua obra Elementos da Ciência Política, afirmou que em todas as
sociedades há uma elite, uma minoria que detém o poder político em
detrimento da maioria. Ele criticou, portanto, as divisões baseadas nos escritos
políticos de Aristóteles (c. 384 a.C.-322 a.C.), que concebiam os regimes
políticos em tiranias, aristocracias e democracias. Para o filósofo italiano, em
todos esses regimes há sempre uma pequena classe política dominando a
sociedade. Essas elites, que costumam se perpetuar no poder por gerações,
impõem-se sobre a maioria da população utilizando variados métodos, aceitos
socialmente (legítimos) ou não.
Para além da desigualdade de classes, a sociedade é desigual na forma como
se estabelecem as relações étnico-raciais, as relações de gênero e outras
relações simbólicas.
LEGENDA: Manoel, do Atlético-PR, durante partida de futebol do Campeonato
Brasileiro de 2010. Em 2012, o atleta venceu um processo por injúria
qualificada contra um jogador que lhe dirigiu ofensas racistas durante uma
partida em 2010.
FONTE: Heuler Andrey/Agif/Folhapress
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