Encontro com cientistas sociais
Durkheim dá exemplos de como os sistemas educacionais expressam os valores dominantes nas sociedades de cada época. Leia e reflita sobre a afirmação destacada no trecho.
Nas cidades antigas, a educação conduzia o indivíduo a subordinar-se cegamente à coletividade. Hoje, esforça-se em fazer dele personalidade autônoma. Em Atenas, procurava-se formar espíritos delicados, prudentes, embebidos da graça e harmonia, capazes de apreciar o belo e os prazeres da pura especulação. Em Roma, a educação tornava as crianças homens de ação apaixonados pela glória militar, indiferentes às letras e às artes. Na Idade Média, ela era cristã, antes de tudo, enquanto na Renascença toma caráter mais leigo, mais literário. Nos dias de hoje [final do século XIX, início do XX], a ciência tende a ocupar o lugar da arte no processo de educação.
Glossário:
leigo: nesse contexto, relativo à esfera secular, ao meio civil, não religioso.
Fim do glossário.
DURKHEIM, Émile. A educação como processo socializador. Apud PEREIRA, Luiz; FORACCHI, Marialice (Org.). Educaçãoe sociedade. 6ª ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1973. p. 36.
Fim do complemento.
Embora os valores educacionais sejam diferentes em cada sociedade, como depreendemos do pensamento de Durkheim, é possível identificar algumas características em comum:
· a educação é um processo socializador por definição;
· cada sociedade organizada politicamente elabora, em cada época, sua própria sistematização da educação, direcionada a diferentes segmentos da população;
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· a educação implica, geralmente, a ação de adultos sobre as gerações mais novas, transmitindo-lhes conhecimentos e comportamentos compatíveis com os valores sociais estabelecidos. Nesse processo interativo e de aprendizagem estão presentes também resistências e adaptações por parte dos envolvidos;
· a mediação de conhecimentos pelo processo educativo objetiva desenvolver as capacidades cognitivas do ser humano;
· educação e escola tendem a se entrelaçar, embora a educação aconteça também na família, no trabalho e em outros ambientes de socialização.
FONTE: Joe Penney/Reuters/Latinstock
FONTE: Raquel Pacheco/Acervo da fotógrafa
LEGENDA DAS FOTOS: À esquerda, adolescentes durante aula em escola em Bamako, capital do Mali, em 2013. Na foto à direita, de 2012, crianças participam de assembleia na Escola da Ponte, em São Tomé de Negrelos, Portugal, na qual todos os alunos avaliam e planejam as atividades escolares. A educação é um fenômeno múltiplo.
Processo social que permite a inserção dos indivíduos na sociedade, a educação apresenta as características propostas por Durkheim para identificar um fato social, estudadas no Capítulo 1: generalidade, coercitividade e exterioridade. Para ele, a educação "cria um homem novo", torna a pessoa membro da sociedade, compartilhando dos valores, sentimentos, comportamentos próprios de uma cultura comum. Nesse sentido, a educação apresenta generalidade, pois existe para a coletividade como um todo. Na medida em que as maneiras de agir e sentir próprias de uma sociedade, suas normas e regras sociais são impostas pelo processo educativo, moldando as consciências individuais, a coercitividade também está presente na educação. Como os valores de uma sociedade não dependem de uma pessoa que os manifeste ou que com eles necessariamente esteja de acordo, a educação expressa essa exterioridade em relação às consciências individuais.
Mesmo na figura da instituição escola, na atualidade, reconhecemos traços dos fatos sociais de Durkheim. Ela é externa ao indivíduo: é uma realidade objetiva, um espaço físico e social para que aconteça a educação na sociedade. É geral: espera-se que todos os membros de uma sociedade passem por ela em algum momento de suas vidas. Há normas sociais e leis com a finalidade de incentivar e até mesmo coagir as famílias a colocar seus filhos na escola. No caso do Brasil, desde 2016 a obrigatoriedade vale para crianças e jovens entre 4 e 17 anos.
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