Silvia Maria de Araújo · Maria Aparecida Bridi · Benilde Lenzi Motim


Entre os colonizadores portugueses havia uma elite que implantou, no Brasil, o que chamamos de família patriarcal



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Entre os colonizadores portugueses havia uma elite que implantou, no Brasil, o que chamamos de família patriarcal, um modelo em que a autoridade é do patriarca e é passada apenas aos filhos homens. Em seu livro Casa-grande & senzala, Gilberto Freyre (1900-1987) ressaltou que o grande fator colonizador do Brasil desde o século XVI não foi o indivíduo, o Estado ou qualquer companhia de comércio, mas a família, "a unidade produtiva, o capital que desbrava o solo, instala as fazendas, compra escravos, bois, ferramentas, a força social que se desdobra em política, constituindo-se na aristocracia colonial mais poderosa da América" (1997, p. 18).

LEGENDA: Núcleo familiar típico da elite brasileira no século XIX: Martinho Prado Jr. e sua família, em 1890.

FONTE: Acervo Iconographia/Reminisc·ncias

Até o período republicano, as famílias da elite brasileira eram bastante numerosas, com muitos filhos. Tendo por objetivo evitar a divisão das fortunas e garantir a manutenção ou melhora das condições econômicas, os casamentos e os contratos sociais se estabeleciam entre membros de famílias ricas - grandes proprietários de terras ou ocupantes de cargos de prestígio.

O processo de colonização do Brasil foi marcado pela dificuldade de administração do governo colonial, diante da extensão do território e da distância da metrópole. As famílias contavam apenas com seus membros e vizinhos, o que favoreceu o desenvolvimento de relações de compadrio e a prática do apadrinhamento, que estabelecia vínculos muitas vezes mais fortes do que os consanguíneos.

Esse tipo de relação predominou de modo ostensivo até 1930, permanecendo em várias regiões comandadas política e economicamente por centenárias famílias da oligarquia. Essas famílias caracterizavam-se pela posse de terras, de gado e de mão de obra (até a abolição da escravidão, em 1888), conferindo status social a muitos líderes locais e seus familiares, fato que favorecia o exercício do poder. Isso ajuda a explicar o caráter patrimonial ainda presente na política brasileira, em que, geralmente, as esferas pública e privada tendem a se confundir.

Os chefes políticos locais agiam segundo sua conveniência, guiando-se pela posição social e fortuna das pessoas na escolha tanto do noivo para as filhas quanto da profissão dos filhos. Os patriarcas interferiam na vida social da localidade e nos cargos e jogos políticos. Na época, as relações de gênero tinham nas esferas pública e doméstica um significado mais opressor e conservador do que encontramos hoje. A autoridade dos homens sobre as mulheres estava não apenas nas práticas sociais, mas legitimada na legislação e no funcionamento do Estado. O fato de apenas homens poderem votar durante mais de um século no Brasil independente é um exemplo do que chamamos "sistema patriarcal".

No período de maior influência desse sistema, era marcante o desequilíbrio nas relações de gênero. Pode-se lembrar, por exemplo, que as mulheres da elite, em especial as filhas, eram mantidas nos espaços privados da casa, afastadas da sala e da varanda. Considerados locais públicos, nesses espaços os proprietários recebiam pessoas que só entravam se chamadas ou autorizadas pelo fazendeiro.

Glossário:



oligarquia: refere-se a "governo de poucos", no âmbito da Ciência Política, ou seja, uma forma de governo em que o poder está concentrado nas mãos de uma ou poucas famílias de um grupo econômico. A historiografia brasileira costuma nomear o período de 1898 a 1930 de República oligárquica, pelo fato de um grupo social, o dos grandes proprietários de terra, deter o poder sobre o país (local, regional e nacionalmente).


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