Silvia Maria de Araújo · Maria Aparecida Bridi · Benilde Lenzi Motim



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Fundamentalismo religioso

O fundamentalismo religioso foi reconhecido como fenômeno recentemente, quando o termo passou a ser mais utilizado pelos cientistas sociais. O sociólogo britânico Anthony Giddens (1938-) o descreve como um movimento de adesão incondicional a determinados valores e crenças, cujos adeptos têm um entendimento literal dos seus livros sagrados. Nos casos mais radicais, isso leva à adoção de meios violentos para a imposição dessa leitura ao restante da sociedade.

Na visão de Zygmunt Bauman, o radicalismo religioso resulta do desgaste dos elementos que mantêm unida uma congregação de fiéis, levando alguns grupos a desejarem eliminar aquilo que pareça indiferente ou discordante com relação aos princípios que professam. Valores como a fé, a confiança e a capacidade de autoafirmação são oferecidos aos fiéis por meio de regras simplificadas; ao mesmo tempo, os fundamentalistas geralmente rejeitam o diálogo com os que pensam de maneira diferente da sua.

Bauman identifica que na sociedade atual, marcada social e culturalmente pelo capitalismo pós-industrial, tudo se torna efêmero e fragmentado. Nela prevalecem a diversidade e a flexibilidade nos relacionamentos nas diversas instâncias sociais. Para explicar a instabilidade da sociedade contemporânea, Bauman utiliza a metáfora do estado de "liquidez" da matéria e denomina "realidade líquida" as mudanças repentinas e estímulos constantemente renovados na presente fase da história.

Assim, o fascínio exercido pelo fundamentalismo proviria de sua promessa de "libertar" o indivíduo da autossuficiência a que estava condenado, informando-o do que ele deve fazer e eximindo-o da responsabilidade sobre seus atos e ações. Assim, ele oferece uma "racionalidade alternativa" que se opõe às incertezas da vida e aos seus riscos.

O fundamentalismo pode vir associado a situações de desigualdade social por fornecer às populações pobres e injustiçadas um sentido já definido para a realidade vivida. Desse modo, ele teria maior apelo entre as amplas parcelas da população que se veem impossibilitadas de consumir tudo o que a sociedade oferece ostensivamente e vitimadas pelo desemprego e pela desassistência social.

LEGENDA: Manifestantes indonésios reivindicam, em Jacarta, capital do país, a expulsão da população Ahmadiyah, um grupo islâmico considerado herético pelos mais ortodoxos. A Indonésia é o país com a maior concentração de praticantes do islamismo. Foto de 2011.

FONTE: Ismoyo/Agência France-Presse



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Desfazendo mitos

O fato de alguns ataques de grupos terroristas serem feitos em nome de uma crença específica não significa que todos os adeptos daquela religião sejam terroristas em potencial. Apenas alguns grupos apresentam reações fundamentalistas diante de quem é alheio ou discordante com relação à sua crença religiosa.

Entre os estudos sobre o terrorismo, é preciso destacar aqueles que sinalizam para a situação de empobrecimento e marginalização de vastas populações em diversas partes do mundo, sobretudo após os anos 1990. Muitas associações religiosas assumiram obrigações e deveres até então exercidos pelo Estado, que reduziu seu papel no sistema de proteção social em tempos de neoliberalismo. Assim, outros fatores sociais e políticos também estão atrelados ao tema do terrorismo, mostrando que suas motivações se situam além das questões religiosas.

Tampouco se deve associar o terrorismo a religiões específicas. O historiador inglês Eric Hobsbawm (1917-2012) relacionou o aumento da violência no mundo atual com as guerras no final do século XX, quando os Estados nacionais perderam em parte o monopólio do poder e da violência, que fazia com que os cidadãos respeitassem a lei. Como exemplo disso o autor cita o caso do Sri Lanka: antes convivendo pacificamente, a maioria budista e a minoria hinduísta envolveramse recentemente em sérios conflitos.

Os ataques às Torres Gêmeas, em Nova York, e ao prédio do Pentágono, sede do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, em Washington, ocorridos em 11 de setembro de 2001, colocaram sob suspeita a religião islâmica e seus seguidores. Nesse contexto, o então presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, fez uma convocação internacional para a luta contra o terrorismo, na forma de uma "cruzada" do Ocidente cristão contra os muçulmanos. Generalizou-se, desse modo, com auxílio da mídia de grande circulação a ideia equivocada de que o islamismo era sinônimo de terrorismo. Isso gerou um aumento da intolerância e da violência contra os praticantes dessa religião no mundo. A intervenção militar norte-americana no Iraque e no Afeganistão nos anos 2000 aprofundou conflitos entre grupos religiosos e as disputas locais e regionais. Desse contexto, formou-se um grupo extremista chamado Estado Islâmico (ou EI), cujas ações envolveram disputas territoriais em diversas regiões no Oriente Médio, assassinatos daqueles considerados inimigos e "infiéis" e atos terroristas, tal como ocorreu na França em novembro de 2015.

LEGENDA: Membros da comunidade islâmica em Roma, Itália, durante ato contra o terrorismo. Os cartazes dizem "não em meu nome" e "o terrorismo não tem religião". Foto de 2015.

FONTE: Giuseppe Ciccia/NurPhoto/AFP



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Afinal, como começa o terrorismo? Os grupos que recorrem a essa estratégia alegam reagir a um ataque anterior vindo da parte do Estado ou do sistema. Para os que praticam o terror, trata-se de um contra-ataque a quem os privou de outra forma de se fazer ouvir, como a negociação. Veiculador de reivindicações nem sempre precisas, o terrorismo é uma estratégia política que usa a violência, física ou psicológica, em ataques a governos, a grupos políticos ou mesmo à população, criando um pavor incontrolável, o terror, que se expande além do círculo de suas vítimas.




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