Silvia Maria de Araújo · Maria Aparecida Bridi · Benilde Lenzi Motim



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Revisar e sistematizar

Ao final de cada capítulo, esta seção traz questões que abordam o conteúdo estudado. Elas objetivam a sistematização das informações e das análises das temáticas abordadas, a apreensão das ideias dos autores e das teorias trabalhadas, além de ajudar a compreender e rememorar as ideias centrais do capítulo. As questões elaboradas visam também organizar as ideias sobre o que o aluno leu individualmente, o que discutiu e aprendeu nas aulas expositivas e dialogais. É importante lembrar que a habilidade da escrita é conteúdo central de todas as disciplinas escolares.



Teste seus conhecimentos e habilidades

Esta seção, inspirada nas orientações do Ministério da Educação (MEC) para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), apresenta ao aluno questões de natureza objetiva elaboradas para assuntos de cada capítulo. O objetivo é desenvolver competências e habilidades requeridas no ensino e aprendizagem da disciplina Sociologia.



Imagens: charges, cartuns, fotografias, gravuras, ilustrações e a disciplina Sociologia

Temos clareza de que as imagens falam muito sobre uma dada realidade, pois estamos cercados por elas. É fundamental, portanto, que os estudantes reflitam sobre elas. Consideramos que o conteúdo imagético apresentado na obra, assim como aquele que povoa nosso cotidiano, fornece pontos de referência à realidade e complementa o processo de aprendizagem. As imagens cumprem não apenas o objetivo de ilustrar, mas também o de ampliar o conteúdo tratado, além de constituírem objetos de análise em diversas atividades propostas.

Destacamos que, embora o livro didático traga fotografias, gravuras, ilustrações, reproduções de obras de arte e sugestões de filmes que podem ser trabalhados de acordo com o que o professor julgar pertinente, as possibilidades em um livro impresso são limitadas. Por isso, sugerimos que o professor vá além do que está apresentado na obra. Ao trabalhar com farta quantidade de imagens, anúncios publicitários, reportagens fotográficas, filmes, obras de arte, outdoors e outros elementos visuais que nos rodeiam, o professor estará contribuindo para a formação de leitores críticos da vida em sociedade.

Bibliografia

Todos os autores utilizados em menção literal estão referenciados junto à citação no texto dos capítulos, e todas as leituras de obras e consultas a sites que auxiliaram a adensar o conteúdo integram a seção Bibliografia, no final de cada capítulo, como fontes e referências de pesquisa. O professor poderá complementar suas leituras com outras obras recomendadas especialmente para o seu trabalho de aprofundamento do conhecimento das Ciências Sociais, além das leituras da seção As Ciências Sociais na biblioteca, presente em cada capítulo. Vale reforçar que as indicações de filmes, vídeos, sites e outros são também fontes de pesquisa à disposição tanto para os professores quanto para os estudantes.



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5. Bibliografia

BASARAB, Nicolescu. O manifesto da transdisciplinaridade. São Paulo: Triom, 1999.

BASARAB, Nicolescu. Uma nova visão do mundo: a transdisciplinaridade. Disponível em: http://caosmose.net/candido/unisinos/textos/nicolescu.doc. Acesso em: 20 abr. 2013.

BAUMAN, Zygmunt. Em busca da política. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000.

BOURDIEU, Pierre. Razões práticas: sobre a teoria da ação. Campinas: Papirus, 1996.

CAPRA, Fritjof. O ponto de mutação: a ciência, a sociedade e a cultura emergente. São Paulo: Cultrix, 1995.

DOMINGUES, Ivan. Conhecimento e transdisciplinaridade. Belo Horizonte: Ed. da UFMG / Ieat, 2001.

DOMINGUES, José Maurício. Teorias sociológicas no século XX. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001.

IANNI, Octavio. Enigmas da modernidade-mundo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000.

MINAYO, Maria Cecília. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 6ª ed. São Paulo: Hucitec/Rio de Janeiro: Abrasco, 1999.

MINAYO, Maria Cecília. (Org.). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 30ª ed. São Paulo: Cortez, 2011.

MORIN, Edgar. A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. 9ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004.

NASCIMENTO, Alexandre do. Os manifestos, o debate público e a proposta de cotas. Lugar comum: estudos de mídia, cultura e democracia. Laboratório Território e Comunicação - LABTeC/ESS/UFRJ, v. 1, n. 1, 1997. Rio de Janeiro: UFRJ, n. 23-24, 2006-2008. p. 11-16.

PASSERON, Jean-Claude. O raciocínio sociológico. Petrópolis: Vozes, 1995.

PIAGET, Jean. Seis estudos de psicologia. Rio de Janeiro: Forense, 1967.

PIAGET, Jean et al. Tendencias de la investigación en las ciencias sociales. Madrid: Alianza Editorial, 1973.

SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. São Paulo: Cortez, 2007.

SILVA SOBRINHO, Helson da. "Eu odeio/adoro sociologia": sentidos que principiam uma prática de ensino. XIII Congresso Brasileiro de Sociologia. Recife: UFPE, 2007.

SOLOMON, Décio. Como fazer uma monografia. 8ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

SOUSA SANTOS, Boaventura de. Um discurso sobre as ciências. 10ª ed. Porto: Afrontamento, 1998.

TONI, Fabiano. Novos rumos e possibilidades para os estudos dos movimentos sociais. BIB, São Paulo, n. 52, 2º sem. 2001. p. 79-104.

TOURAINE, Alain. O que é a democracia?. 2ª ed. Petrópolis: Vozes, 1996.

VALADE, Bernard. Cultura. In: BOUDON, Raymond (Org.). Tratado de Sociologia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1995. p. 489-518.

VYGOTSKY, Lev S. Formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1987.



6. Estratégias de ensino para cada capítulo

A Sociologia não é uma ciência nova somente em relação às ciências naturais. Ela também é relativamente nova como disciplina no Ensino Médio. Esse caráter de "novidade" ocorre também por ela estar em constante transformação, como ciência histórica que é. A Sociologia, assim como a Antropologia e a Ciência Política, vem se aprimorando teórica e metodologicamente para interpretar adequadamente as aceleradas transformações sociais que acontecem no mundo.

Assim, faz parte da tradição das Ciências Sociais traduzir a realidade social (que é histórica), por meio da pesquisa científica, e transmitir esse saber às novas gerações, ensinando-o como disciplina curricular. Interessa-nos aqui a Sociologia como objeto de ensino. Há escolhas e avaliações sobre o conteúdo a ser passado aos jovens. Há expectativas e mediações sobre como ensinar a disciplina Sociologia no Ensino Médio.

Nessa empreitada de construção do currículo no projeto escolar, apresentaremos aqui algumas condições das Ciências Sociais que se aplicam aos recursos à disposição para atingir os objetivos propostos: ensinar e aprender com prazer e espírito crítico para a formação cidadã dos jovens estudantes brasileiros. Que condições e disposições são essas?

Consideramos que no ensino de Sociologia é fundamental o uso de alguns recursos e estratégias que facilitem a abordagem dos conteúdos, de modo contextualizado, tornando-os significativos e interessantes para os estudantes. Podemos citar, entre outros, os que sugerimos no decorrer de cada capítulo e que constam deste Manual, como: programação do conteúdo; recurso imagético, com base em cartuns e charges; produção de texto jornalístico; estratégias de ensino-aprendizagem diversas; pesquisa; pluri e interdisciplinaridade;

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sensibilização para a aprendizagem; conceituação; contextualização; pluralidade das teorias sociológicas; memorização; avaliação processual.

Se conseguirmos cativar o professor, e se o professor conseguir cativar o aluno, teremos cumprido nosso propósito de mostrar quão interessante e relevante é o conhecimento sociológico para a vida em sociedade.

Programação do conteúdo: um exemplo

Para o planejamento de todas as aulas, sugerimos que sejam projetados os objetivos a serem atingidos em cada capítulo. O tempo de duração do trabalho com cada capítulo depende de "o que" se pretende atingir (os objetivos) e de "como" se fará para que ocorra a aprendizagem (as estratégias), sempre levando em conta o aprendizado dos conceitos-chave e das teorias e autores que os informam.

No exemplo a seguir, com o conteúdo de parte do Capítulo 2 - Viver em sociedade: desafios e perspectivas das Ciências Sociais -, apresentamos uma proposta de planejamento das aulas, considerando os objetivos, os conceitos-chave e as estratégias programadas para trabalhar os conteúdos. Ressaltamos que se trata apenas de uma sugestão, entre outras possíveis, pois a maneira de trabalhar os conteúdos da disciplina será sempre definida pelo professor com base em variáveis como as condições da escola, o número de alunos na turma, seus conhecimentos e experiência, além das especificidades dos temas a serem abordados.

Capítulo 2 - Viver em sociedade: desafios e perspectivas das Ciências Sociais

Tabela: equivalente textual a seguir.



Tópicos

Objetivos

Conceitos-chave e temas

Estratégias

As transformações da sociedade
Vida em sociedade

- Refletir sobre o fenômeno sociedade e a contribuição das Ciências Sociais para interpretar a realidade social.
- Compreender os componentes fundamentais do fenômeno gregário: relações sociais, comunicação e interação

Mudanças sociais Teoria social
Sociedade
Relações sociais
Interação social

Autores contemporâneos discutem a relação indivíduo e sociedade e as características das mudanças sociais.
Com base no cotidiano da vida social, a noção de sociedade é apresentada na análise de autores clássicos, como Elias e Simmel.

As primeiras inquietações dos cientistas sociais

- Contextualizar o nascimento da Sociologia na Europa do século XIX.

Sociologia: uma ciência histórica

Análise de imagens históricas que ilustram as desigualdades sociais.

Desigualdade social e dominação

- Reconhecer a desigualdade como um fenômeno estrutural.
- Distinguir teorias sobre as classes e a estratificação social.
- Introduzir as teorias e os estudos de autores clássicos e contemporâneos das Ciências Sociais.
- Identificar o fenômeno da dominação social.
- Avaliar a contribuição sociológica para a compreensão da realidade nacional.

Desigualdades sociais
Pobreza
Estrutura social
Sociedade capitalista
Classes sociais
Estratificação social
Dominação social
Classes dominantes
Elite
Sociologia do Brasil

Uso das charges do capítulo para tratar do fenômeno das classes sociais.
Pesquisa sobre os temas estudados pelos autores brasileiros citados.

Globalização e novas questões sociais
As contribuições das Ciências Sociais

- Identificar questões sociais no mundo globalizado.
- Analisar como as mudanças sociais fazem emergir novas questões teóricas.
- Relacionar as grandes temáticas da investigação sociológica.
- Situar o conhecimento das Ciências Sociais no âmbito das Ciências Humanas e suas conexões.

Globalização
Inclusão social
Exclusão social
A "imaginação sociológica" e o pensamento crítico

Comparação entre as questões sociais da época do surgimento da Sociologia e as da atualidade.
Produção do mural que retrate situações de desigualdade social.

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O livro, capítulo por capítulo

Capítulo 1

AS CIÊNCIAS SOCIAIS NASCERAM COM A MODERNIDADE

Aqui começam as orientações para o Capítulo 1 (p. 11 a p. 42).

No Capítulo 1, o fenômeno sociedade é estudado com base nos autores clássicos, principalmente Durkheim, Weber e Marx, considerando o contexto das revoluções políticas, econômicas e culturais dos séculos XVIII e XIX e a preocupação dos primeiros sociólogos com a ordem e a mudança sociais. Serão estudadas as Ciências Sociais - Sociologia, Antropologia e Ciência Política -, cujas origens estão na modernidade. Da Sociologia serão apresentados o seu caráter histórico, seu objeto de estudo e suas múltiplas metodologias, em especial a perspectiva do positivismo e o método dialético.

Conceitos-chave: capitalismo, modernidade, evolucionismo, ordem social, senso comum, positivismo, dialética, fatos sociais, ação social, relações de produção, teorias sociais, teoria da integração social, funcionalismo, estruturalismo, teoria da ação social, modo de produção, teoria da acumulação.

Objetivos do capítulo para o estudante

· Conhecer as teorias sociológicas clássicas e seus principais objetos de estudo.

· Dimensionar o caráter científico da Sociologia no contexto da modernidade.

· Distinguir ciência de senso comum, sabendo que, embora a ciência social parta do senso comum, tende a se distinguir dele.

· Reconhecer que o positivismo está ligado à ideia de ciência objetiva e neutra, à crença na razão e nas possibilidades do progresso linear, ascendente e evolutivo.

· Compreender que o pensamento dialético se baseia no estudo da contradição, apreendendo o movimento do mundo pelo contraste entre partes opostas.

· Saber que as metodologias das Ciências Sociais são múltiplas.

Questão motivadora

Para sensibilizar os estudantes para a discussão sobre a Sociologia como ciência e suas principais teorias, sugerimos que você apresente um experimento científico e o método utilizado pelas Ciências da Natureza: pode ser um fenômeno da Física, da Química ou da Biologia. Se o professor tiver acesso, há inúmeros exemplos nos DVDs do programa televisivo O mundo de Beakman ou no site Manual do Mundo (disponível em: www.manualdomundo.com.br; acesso em: 22 abr. 2016). Após chamar a atenção para o fenômeno observado e o método adotado na experiência, indague sobre o estudo da sociedade: fenômenos naturais e fenômenos sociais são de mesma espécie? Como se pode estudar a sociedade? Como os clássicos das Ciências Sociais resolveram isso? Quando um conhecimento pode ser considerado científico? O que diferencia um conhecimento científico de uma opinião de senso comum? Essas e outras questões que você considerar relevantes podem ser o mote para iniciar a discussão desse capítulo.

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Dica

Uma vez que o objetivo é levar os estudantes a compreenderem a Sociologia, sua constituição como ciência e os métodos para analisar as realidades sociais, é recomendável que você apresente exemplos do cotidiano. Procure também conversar sobre as outras disciplinas do currículo no Ensino Médio e estabelecer pontos de contato entre elas.

Avaliação

A avaliação deste capítulo pode ser realizada por meio do projeto Elaboração de um jornal ou de uma revista de época. Os estudantes trabalharão as informações básicas do capítulo e elaborarão conteúdos em forma de notícia, reportagem, artigo, enfim, tudo o que pode compor um jornal. Eles também podem criar entrevistas sobre os fatos e/ou autores clássicos escolhidos, atentando sempre para a precisão e fidedignidade das informações. Esse tipo de trabalho é, muitas vezes, familiar para os estudantes, pois é uma estratégia bastante usual em outras disciplinas, além de se constituir em conteúdo da Língua Portuguesa, em que o estudante aprende a distinguir uma notícia, uma reportagem, um artigo e informações publicitárias.

Produção de texto jornalístico e reflexão: um exemplo no Capítulo 1

Objetivo: Elaboração, em equipe, de um jornal (ou revista) de época que noticie as mudanças em curso e trate do nascimento da Sociologia, de seus teóricos fundadores e do contexto social do final do século XIX e início do século XX.

Questão motivadora: Para estimular os estudantes a iniciar os estudos sobre a sociedade, sugerimos que você lhes apresente uma seleção de imagens e fotos de outras épocas e as compare com imagens e fotos atuais. Discuta com a turma sobre alterações no ambiente observado e apresente a Sociologia como uma ciência preocupada com as mudanças sociais. É fundamental que os estudantes conheçam o contexto histórico da formação da Sociologia para que a compreendam na atualidade, fazendo correspondência entre as condições de vida e de trabalho daquela época e as de hoje. Nesse sentido, você pode indagar sobre as questões sociais no século XIX e as questões sociais do presente.

Sugestão de roteiro para os estudantes: Imaginem-se vivendo na Europa ou no Brasil, no final do século XIX (optem por um desses locais). Quais seriam as grandes manchetes do período? Quais seriam as principais notícias políticas, econômicas, culturais, sociais? Investigue a fundo o período escolhido e elabore o jornal ou a revista com seus colegas. Redijam notícias sobre acontecimentos e descobertas da época. Escrevam um artigo que analise a visão de um dos autores clássicos da Sociologia sobre a sociedade. Noticiem o lançamento de um livro clássico de Sociologia. Enfim, usem a imaginação, mas mantenham-se fiéis aos fatos e conceitos apresentados.

Para isso é necessária a leitura do Capítulo 1 por todos os membros da equipe. Sigam estes passos:

a) Selecionem os fatos que a equipe apresentará no jornal ou na revista.

b) Decidam sobre a periodicidade desse jornal ou dessa revista (pode ser um jornal anual, por exemplo).

c) Dividam os temas, as questões, as notícias a serem redigidas pelos membros da equipe (por isso, não há problema se a equipe for grande).

d) Atentem para a sequência das notícias, das reportagens e dos artigos.

e) Destaquem o que for mais relevante nas manchetes (lembrando que se trata do título de uma notícia importante e deverá chamar a atenção do leitor).

f) Situem a reportagem no tempo e no espaço e assinem os textos que cada um escreveu.

g) Lembrem-se de ilustrar o jornal ou a revista com imagens da época.

Avaliação da atividade: Você pode fazer a avaliação com base em critérios como:

a) organização da equipe;

b) correção dos fatos e adequação das notícias e reportagens (dados corretos e exposição correta dos elementos teóricos);

c) sequência temporal e localização espacial adequadas;



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d) clareza e objetividade;

e) criatividade e originalidade;

f) redação e expressão de acordo com a norma-padrão da língua (exceto quando isso não convier, como em quadrinhos ou charges; nesses casos, pode-se utilizar linguagem informal ou com marcas da oralidade).

Complemento teórico

Uma das preocupações da Filosofia da Ciência é com a "juventude" das Ciências Sociais relativamente a outras disciplinas. No entanto, atualmente elas já demonstraram sua maturidade, com produção constante e sólida de teoria e constituição de um instrumental bem fundamentado de análise da realidade empírica. Além disso, as Ciências Sociais valem-se frequentemente da partilha de conhecimento com outras ciências (a interdisciplinaridade) para se aproximar da realidade concreta da vida em sociedade. Sobre a diversidade de teorias nas Ciências Sociais, o texto a seguir propõe uma interessante discussão:



Entre pesquisadores empiricamente orientados nas Ciências Sociais, amiúde reina ainda soberana a concepção empiricista ou positivista sobre a cumulatividade da teoria. Entre os teóricos, todavia, poucos são os que a levam a sério. Na verdade, o pêndulo moveu-se excessivamente na outra direção. A chamada revolução "pós-positivista" na Sociologia, na História e na epistemologia das ciências vem sublinhando que estas [as teorias] seriam meros artefatos, os quais, embora entretenham relações com o mundo empírico, têm pouca relação direta com ele. [...]

Quero, contudo, rejeitar essas duas perspectivas [a dos empiricistas ou positivistas e a dos que postulam uma teoria geral para a Sociologia], dos pontos de vista descritivo e normativo. Não creio que seja isso que acontece, notadamente no que se refere aos principais avanços conceituais nas Ciências Sociais. [...] O fato é que, busquemos isso de forma consciente ou não, tanto de um ângulo mais empiricamente orientado quanto no que se refere mais diretamente à elaboração de conceitos, a discussões metodológicas, ou ao estabelecimento de relações causais, os avanços na teoria têm claramente evidenciado uma cumulatividade que se patenteia em nossa crescente e mais sofisticada compreensão da vida social. De modo algum se pretende dizer que atingiremos uma teoria unificada, pois todas elas são construções que dependem de compromissos políticos e existenciais, de tradições de pensamento e escolhas de prioridades, de objetos e objetivos. Tampouco pretendo sugerir que as múltiplas teorias que havemos de continuar a construir serão capazes de dar conta de todos os aspectos da realidade. A teoria do cobertor curto [...] manterá sua validade perenemente, creio, embora a crescente imbricação da teoria sociológica com uma teoria social que incorpora outras disciplinas - uma tendência contemporânea crucial que deve muito, na verdade, ao projeto interdisciplinar da Escola de Frankfurt - ajude a minorar esse problema.

DOMINGUES, José Maurício. Teorias sociológicas no século XX. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001. p. 95-97.

Comentários sobre as atividades

Pausa para refletir (Aron)

1. A Sociologia no século XIX nasce como uma forma de filosofia social, uma ciência capaz de expressar o pensamento da sociedade sobre si mesma diante das grandes mudanças sociais trazidas pela Revolução Industrial, pela Revolução Francesa e pelo Iluminismo. Basicamente, a originalidade desse pensamento estava no esforço de ser científico, isto é, de obedecer a regras do conhecimento sistemático da realidade.

2. A resposta é pessoal. Vale frisar, porém, que a adoção de métodos positivistas inspirados no modelo de análise das ciências naturais implicava a concepção de que a sociedade estaria sujeita a leis explicativas análogas às encontradas na natureza física. Desse pensamento decorria a ideia de que os fenômenos sociais seriam passíveis de previsão e intervenção, facilmente determináveis.

Encontro com cientistas sociais (Malinowski)

A resposta implica a interpretação do estudante com base na leitura do texto, observando nos grupos humanos organizados a existência de fatores que ordenam a vida em instituições, tais como hierarquia, liderança, normas e regras de funcionamento, atendimento a objetivos comuns e finalidades a serem alcançadas, espaço social que ocupam, integração com outras organizações, etc.



Debate (Durkheim)

Você pode organizar o debate sobre a situação do



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achado no hotel, ouvir os estudantes e, ao final, estabelecer relações com as ideias de Durkheim sobre fatos sociais e suas características, coerção social e valores morais. Exemplifique as diversas manifestações de um fato social: nesta situação específica de procurar ou não o dono da carteira com a ajuda do gerente do hotel, de devolver ou não o dinheiro, o dilema se baseia em valores sociais. Essa pressão exercida sobre a consciência do indivíduo, na teoria de Durkheim, é uma característica fundamental do fato social.



Encontro com cientistas sociais (Weber)

1. A resposta é pessoal, mas você deve observar se o estudante de fato descreveu uma ação que possa ser considerada social: assim, comer não é uma ação social, pois atende a uma necessidade de sobrevivência; no entanto, comer com talheres, à mesa, é uma ação social, ao ser guiada pela conduta do outro.

2. Pode-se dizer que Weber inaugura a ideia de uma sociologia da ação, para a qual o fenômeno social é resultado da reciprocidade das ações humanas que motivam e são motivadas pelo comportamento uns dos outros. As sociedades seriam caracterizadas pelos valores sociais significativos em cada época. Por exemplo, a sociedade capitalista aplica a racionalidade às mais diferentes esferas de vida: nas transações econômicas, na organização do Estado moderno e de sua burocracia, até mesmo na contabilidade doméstica.

Pausa para refletir (Marx)

Resposta pessoal. Os estudantes devem perceber, em sua resposta, que em todos os aspectos estamos sujeitos à influência da História e da sociedade. A ideologia capitalista, que apregoa uma suposta liberdade do indivíduo, de fato oculta as determinantes históricas e sociais que influenciam na constituição da personalidade, dos hábitos, do modo de produzir do indivíduo, tendo em vista uma sociedade onde prevalece a busca do lucro e a assimetria nas relações sociais de produção.



Pesquisa (Foto)

Neste exercício de diferenciação entre ciência social e senso comum, o estudante pode recorrer ao conteúdo do capítulo e ao apoio de textos complementares indicados por você. De modo geral, o senso comum poderia classificar a imagem de diferentes formas: alguns podem considerar os manifestantes "baderneiros", fazendo algo "errado" ou "inútil"; outros podem achar a atitude deles "legal", "bacana". O senso comum observa a manifestação como um evento que foge ao cotidiano, à regularidade, mas não apreende suas motivações reais e realiza julgamentos pautados pela subjetividade.

O conhecimento da Sociologia, porém, analisa outros aspectos. Pela perspectiva marxista, os manifestantes podem ser vistos como grupo social que se mobiliza em favor de seus direitos, intervindo na realidade para transformá-la; já a polícia, como aparelho de repressão a serviço da ordem estabelecida. Durkheim veria na polícia a instituição responsável por uma função específica de estabelecer a ordem, necessária para o funcionamento da sociedade, a qual se espera que funcione de forma harmoniosa e estável; por outro lado, se há descontentamento por parte dos manifestantes, o protesto pode ser um indício de anormalidade no funcionamento de instituições, o que, em última instância, poderia levar ao que ele chamava de patologia social. Weber, por sua vez, analisaria as ações sociais expressas nessa imagem: ao tomar a decisão de protestar, os indivíduos esperam obter um resultado naquele contexto histórico-cultural, enquanto a polícia faz o papel a ela reservado na manutenção da dominação legal.

Intelectuais leem o mundo social (Mészáros)

As Ciências Sociais constroem suas explicações com base na análise de fenômenos sociológicos e fatos sociais que estão sempre em transformação. Assim, essa análise depende do contexto social e histórico em que esses fenômenos acontecem. Os conceitos e teorias também se modificam à medida que a sociedade se transforma, passando a fazer parte da vida do sujeito que estuda esta mesma realidade. Se o objeto se transforma, se a sociedade se altera, o pesquisador também buscará outros métodos, conceitos e instrumentos de pesquisa para concluir suas análises. Nesse caso, ciência e realidade estão sempre em conexão, como explicitado nas produções teóricas de Durkheim, Weber e Marx.



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Diálogos interdisciplinares

A atividade interdisciplinar sugerida para esse capítulo relaciona-se com a chamada "sociologia da ciência". Utilizando conhecimentos específicos de diferentes ciências, associados à análise sociológica trazida no capítulo sobre a própria Sociologia, os estudantes desenvolverão uma experiência inicial em investigações da sociologia da ciência.

A ideia de dividir o trabalho de pesquisa entre os estudantes, que depois reúnem seus resultados para construir um conhecimento comum, visa facilitar o trabalho de pesquisa, que demandará um esforço maior deles.

A comparação proposta entre disciplinas científicas tem o objetivo de levá-los a perceber que o conhecimento e as técnicas e métodos científicos não são dados da natureza, mas construções sociais - a Sociologia inclusive. Com base nessa percepção, os estudantes podem questionar a própria ciência e refletir sobre suas possibilidades de mudança e transformação, como acontece com qualquer produto social. Assim, torna-se possível fazer uma crítica à ideia de "verdade" científica universal.



Revisar e sistematizar

1. A Sociologia desenvolve-se no contexto das revoluções Industrial e Francesa, ainda sob influência do Iluminismo. Diante das conse quências desses processos sobre as instituições sociais do século XIX na Europa ocidental, buscava-se formar um pensamento científico capaz de estudar as relações sociais e explicar a constituição e a transformação das sociedades. O contexto econômico e social das revoluções implicou novas formas de produção, novas tecnologias, novos conflitos sociais decorrentes das crescentes pobreza e desigualdade social, resultantes da industrialização, da intensificação do comércio e da expansão econômica, além de um intenso processo de urbanização em meio a migrações ocorridas em razão da expropriação de terras nas áreas rurais. A Sociologia visava compreender ou explicar a sociedade a fim de vislumbrar saídas para as crises naquele contexto.

2. Como as Ciências Sociais têm por objetivo explicar a realidade social, e essa realidade é histórica, isto é, passível de mudanças com significado cultural ao longo do tempo, elas precisam atualizar-se e considerar sempre os diferentes contextos histórico-sociais para analisar seus objetos.

3. Esta atividade permite incentivar a criatividade dos estudantes, a união dos grupos, além de exigir que eles estudem as concepções dos autores clássicos sobre a relação entre indivíduo e sociedade. É importante orientá-los a, antes de elaborar a atividade a ser apresentada, produzir um resumo escrito das ideias do autor escolhido vistas no capítulo. Para além das questões formais e/ou estéticas do meio de apresentação escolhido pelas equipes, observe se o projeto apresenta claramente as concepções do autor selecionado sobre o tema proposto.

4. A ciência submete à investigação metódica os conhecimentos do senso comum - o conhecimento primeiro que é produzido e reproduzido nas relações sociais estabelecidas entre os seres humanos. A ciência parte disso para elaborar hipóteses e, com a aplicação de um método e o auxílio de teorias que orientam a observação da realidade, apura, testa, verifica e valida interpretações sobre o real. A ciência passa a se distanciar do conhecimento do senso comum à medida que adota um método racional, analítico e sistemático para explicar a realidade e relacionar os diversos fenômenos, propondo modos de intervenção. Esse processo histórico iniciou-se na Idade Moderna e intensificou-se no século XIX, quando as Ciências da Natureza já se encontravam consolidadas.

5. O conhecimento sociológico mostra-se fundamental para a compreensão da realidade pois tira da zona de conforto as questões presentes na sociedade, as problematiza e as desnaturaliza. Assim, muitas coisas que vemos como "normais" ou "naturais" no dia a dia têm esse estatuto questionado. Por exemplo: por que seria "natural" que houvesse desigualdade de condições entre seres humanos se ela não existe em todas as sociedades e se somos capazes de percebê-la como injusta? Uma vez

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que compreendemos o funcionamento das relações sociais, podemos pensar em saídas para melhorá-las.



Teste seu conhecimento e habilidades

1. e;

2. c;

3. e.

Atividade complementar



Debate

Com base no que foi estudado sobre os métodos positivista e dialético, proponha aos alunos que discutam, em equipes, as duas abordagens e apresentem três argumentos favoráveis e três desfavoráveis para cada uma delas. Ao final, indiquem qual metodologia a equipe considerou mais adequada para o estudo das sociedades.



Comentário: Professor, a turma pode ser dividida em dois grandes grupos, orientados para atender à questão proposta.

Leituras recomendadas

Não é possível encontrar um só autor, um único livro que contemple a complexidade do pensamento sociológico e a diversidade da realidade social. Procure dar preferência a textos de autores clássicos e de contemporâneos de maior destaque, assim como a leituras que possam trazer ideias básicas e críticas sobre as temáticas abordadas. As indicações seguidas aqui não se propõem a cobrir integralmente o conteúdo tratado. Há outros recortes de tratamento analítico do assunto, bem como edições recentes de obras de alguns autores clássicos.

São também recomendadas as obras referenciadas na Bibliografia e as leituras sugeridas aos estudantes, ambas ao final de cada capítulo, pois ainda é escasso o material sociológico especialmente produzido para o público jovem.

BAUMAN, Zygmunt; MAY, Tim. Aprendendo a pensar com a Sociologia. Rio de Janeiro: Zahar, 2010. Partindo de aspectos da vida cotidiana, como amor, religião, consumo e lazer, os autores propõem conhecer o outro e a nós mesmos por meio da Sociologia.

CASTRO, Anna Maria de; DIAS, Edmundo (Org.). Introdução ao pensamento sociológico. Rio de Janeiro: Eldorado, 1974. Reunião de excertos de obras dos autores clássicos que expõe suas teorias e as concepções de realidade e de ciência que eles têm.

FORACCHI, Marialice; SOUZA MARTINS, José de (Org.). Sociologia e sociedade: leituras de introdução à Sociologia. Rio de Janeiro: LTC, 1977. Coletânea de textos reconhecidos, com destaque para "A herança intelectual da Sociologia", do sociólogo Florestan Fernandes.

HARVEY, David. Condição pós-moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural. São Paulo: Loyola, 1993. O autor faz uma análise das transformações político-econômicas na passagem da modernidade à condição pós-moderna.

SOUSA SANTOS, Boaventura de. Introdução a uma ciência pós-moderna. Rio de Janeiro: Graal, 1989. Com uma discussão sobre a ciência moderna, o autor apresenta a problemática da relação entre ciência e senso comum.

FONTE: Filipe Rocha/Arquivo da editora



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Capítulo 2

VIVER EM SOCIEDADE: DESAFIOS E PERSPECTIVAS DAS CIÊNCIAS SOCIAIS

Aqui começam as orientações para o Capítulo 2 (p. 43 a p. 76).

O Capítulo 2 discute algumas grandes questões sociais que se configuram no contexto das desigualdades sociais e da recente globalização. Tais questões são expressões da estrutura social da sociedade contemporânea, identificadas pela Sociologia ao estudar as transformações sociais, explicar as suas razões e mostrar que os fenômenos sociais não são "naturais". As Ciências Sociais - principalmente a Sociologia e a Ciência Política - procuram desvendar os mecanismos de dominação social e de construção de desigualdades.

Conceitos-chave: mudanças sociais, sociedade, sociabilidade, interação social, relações sociais, relações de poder, Sociologia, Antropologia, Ciência Política, teoria social, desigualdades sociais, pobreza, estrutura social, mobilidade social, classes sociais, exclusão social, sociedade capitalista, capital, status, estratificação social, dominação social, classes dominantes, elite, globalização, práticas transnacionais.

Objetivos do capítulo para o estudante

· Perceber a realidade social como objeto de investigação sociológica.

· Compreender que as Ciências Sociais emergem no contexto das revoluções políticas, econômicas e culturais dos séculos XVIII e XIX e que suas questões sociais se ampliam na contemporaneidade.

· Refletir sobre a Sociologia como uma ciência histórica que interpreta a realidade social, atenta tanto para as mudanças sociais quanto para a estrutura duradoura da sociedade.

· Analisar questões como o fato de que as migrações, o desemprego e as diferenças entre as nações mantêm parcela da população à margem da sociedade.

· Identificar as expressões do fenômeno da desigualdade social na sociedade contemporânea.

· Reconhecer a globalização como um fenômeno político-social com dimensões culturais que se intensificou desde o fim do século XX.

· Conhecer algumas teorias explicativas de fenômenos como as posições sociais, as classes sociais e a estratificação social.

Questão motivadora

Ao tomar como objeto central da análise o momento da sociedade em que vivemos, suas transformações mais recentes e as desigualdades sociais, este capítulo traz uma ampla variedade de imagens. As charges e cartuns apresentados podem despertar a atenção dos estudantes para o tema. As imagens de contrastes sociais facilitam o início de uma discussão sobre pobreza, dominação, classes sociais, sociedade capitalista. Os estudantes podem ser indagados sobre quais fatos do cotidiano retratados pelos chargistas e cartunistas revelam desigualdades existentes na sociedade.



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Dica

Sociologia, sociedade, ciência e realidade não são conceitos simples de aprender; por isso é recomendável abordá-los com base na realidade histórica das novas questões sociais, mais próximas da percepção e visibilidade dos estudantes. Pode-se começar perguntando à turma que tipo de desigualdades sociais eles conseguem perceber no meio social em que vivem e o que mais lhes chama a atenção sobre elas. Com base na observação de seu entorno social, o estudante poderá perceber algumas nuances da realidade brasileira, o que facilitará sua iniciação nas indagações e na linguagem das Ciências Sociais e nas ideias de seus principais autores.

Avaliação

Sugerimos uma avaliação processual e cotidiana. A atividade Intelectuais leem o mundo social, com texto de Octavio Ianni, permite avaliar a aprendizagem dos objetivos propostos para o Capítulo 2, bem como as questões 2 e 4 da seção Revisar e sistematizar, respondidas por escrito no caderno.

Recursos imagéticos - charges e cartuns: um exemplo no Capítulo 2

A Sociologia se propõe a desnaturalizar fenômenos sociais como as desigualdades, a pobreza, as classes sociais e a estratificação social. Assim, veículos de crítica social como as charges e os cartuns podem exemplificar e tipificar esses fenômenos com humor e ironia, provocando o estranhamento.

Tomemos alguns dos objetivos propostos para o estudo deste capítulo: a) discutir como a desigualdade é produzida e reproduzida pelas ações do ser humano e pela forma de organização econômica e política da sociedade; b) compreender a sociedade brasileira e a forma como as relações étnico-raciais e de gênero historicamente estabelecidas geram a discriminação e reproduzem a desigualdade social; c) analisar o fenômeno da globalização, suas implicações e as novas questões sociais que emergiram no século XXI.

A temática do viver em sociedade e defrontar-se com o fenômeno das desigualdades sociais ganha destaque nas charges e nos cartuns selecionados, por causa de linguagem bem-humorada. Uma das questões sociológicas abordadas no Capítulo 2 - um desdobramento das desigualdades estruturais na sociedade - é o preconceito e a desigualdade étnico-racial no Brasil, e a interpretação da charge do cartunista Angeli (seção Pausa para refletir, p. 61) pode ser usada como atividade em sala de aula. Os estudantes também devem ser motivados a buscar outras charges e cartuns referentes ao tema, em fontes como revistas, jornais e sites. Na escola, os estudantes podem incentivar a discussão, expondo o material coletado no mural da sala.

Complemento teórico

Quando a Sociologia discute questões relativas à estrutura social na sociedade capitalista, vêm à tona, entre outros, os fenômenos da pobreza urbana e da exclusão social - esta última, tratada de forma mais detalhada no Capítulo 9 (Movimentos sociais). O trecho que reproduzimos a seguir, da socióloga argentina Alicia Gutiérrez, insere a discussão da pobreza no quadro analítico da teoria da reprodução social de Pierre Bourdieu. Gutierrez alerta para o fato de a pobreza ser muitas vezes estudada pelo viés externo, pelas condições que a objetivam, o que pode fazer com que seja interpretada como um fenômeno marginal.



A determinação externa das situações de pobreza tende a ser analisada, na maioria das vezes, [...] em termos de "pobreza" ou de "marginalidade": num caso, a aproximação privilegia a busca de indicadores de pobreza absoluta ou relativa (seja através do que se denomina "necessidades básicas insatisfeitas", seja através da chamada "linha da pobreza") -, elementos certamente importantes para a descrição das "condições de classe" mas insuficientes para definir o espaço social e as propriedades específicas e relativas dos agentes. No outro caso, [...] a noção de "marginalidade" implica uma ambiguidade que reside no próprio fato de saber se o que está em questão é o estar à margem (defeito de integração) ou o ocupar uma certa posição no seio mesmo do sistema social.

GUTIÉRREZ, Alicia. Estratégias, capitais e redes: elementos para a análise da pobreza urbana. In: CATTANI, Antonio David; DÍAZ, Laura Mota (Org.). Desigualdades na América Latina: novas perspectivas analíticas. Porto Alegre: Ed. da UFRGS, 2005. p. 31.

Comentários sobre as atividades

Encontro com cientistas sociais (Elias)

O texto mostra como os indivíduos vivenciam as



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relações sociais. O trecho revela que, mesmo sem conhecermos muitas das pessoas com quem cruzamos na rua cotidianamente, temos formas de agir e interagir com elas que estão internalizadas. Ao nos relacionar e conviver com os outros indivíduos e grupos, tomamos consciência de fazer parte de algo que está ao mesmo tempo fora e dentro de nós - a sociedade, um fenômeno de natureza coletiva.



Pausa para refletir (Engels)

1. O texto busca retratar as condições de vida dos trabalhadores ingleses no século XIX. Ao reproduzir esse artigo de revista que mostrava os problemas da falta de infraestrutura da cidade e as precárias condições de moradia que afetavam a saúde dos trabalhadores, Engels tratou de questões sociais novas, fruto de um processo de urbanização inadequado e da miséria a que estavam reduzidos os trabalhadores das indústrias naquele período.

2. Até o século XIX, as consequências da industrialização e da urbanização aceleradas - moradias precárias, problemas de saneamento básico, de segurança pública, todos decorrentes da desigualdade e da exclusão social - careciam de análise baseada em pressupostos científicos. Assim, inspirados nas ideias de História, progresso e racionalidade advindas da produção filosófica da época, vários teóricos propuseram-se a entender a transição social nas sociedades industriais. Nessas sociedades, concentradas até então na Europa, formaram-se os primeiros teóricos das Ciências Sociais.

Pausa para refletir (Laerte - charge)

A resposta é pessoal. O importante é que os estudantes compreendam o significado da charge. Você pode fazer um comentário ao final reforçando o conceito de desigualdades sociais e as diferenças de condições de classe, reveladas no contraste dos que se locomovem em automóveis e daqueles que vivem sob o viaduto.



Debate (Dupas)

Dupas apresenta dados numéricos que revelam a expansão da pobreza e da exclusão social na América Latina na passagem do século XX para o XXI, apesar da suposta modernização de suas economias. Pode-se concluir que, embora tenha havido transformações políticas e econômicas, a pobreza perdura e as desigualdades se agravam em razão das características estruturais do capitalismo e da globalização, como a concentração de renda, a divisão internacional do trabalho e as mudanças nas relações trabalhistas.



Debate (Alagados - música)

Com base na letra da música e no texto lido, você pode pedir a cada equipe que apresente em frases breves o resultado do debate, procurando mostrar para o restante da turma como eles resumiriam a questão da desigualdade social no Brasil e seus diversos tópicos: moradia, pobreza, diferenças salariais e de distribuição de renda, estratificação social, formas de discriminação social, entre outros. Seria interessante também ouvir a música, se possível.



Pausa para refletir (Angeli - charge)

1. Ouça as respostas dos estudantes e procure explicitar o caráter crítico da imagem. A charge desvenda as contradições entre o discurso de combate ao preconceito e à discriminação, de um lado, e a persistência das desigualdades em razão da falta de medidas de transformação concreta das condições e oportunidades de vida para negros e pardos, de outro. Na imagem, em pleno feriado do Dia da Consciência Negra, os afrodescendentes são a maioria dos que trabalham como ambulantes, enquanto os que podem descansar na praia lotada são, majoritariamente, brancos.

2. O conceito weberiano de dominação se assenta na submissão a determinada ordem, com base na legitimidade de um grupo tacitamente aceita pelos demais (o que não significa ausência total de resistência por parte destes). O Brasil é uma sociedade com um histórico de exploração do trabalho escravo de negros trazidos da África e de seus descendentes, consolidando uma estrutura patriarcal e racista. Mesmo após a abolição da escravatura, foram quase inexistentes as ações voltadas para a inclusão social da população afrodescendente, que, portanto, partiu de condições desiguais. Em alguns momentos, o governo chegou mesmo a implantar

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medidas que desfavoreciam ainda mais a população afrodescendente, como no início do século XX, quando incentivou (inclusive financeiramente) a vinda de trabalhadores europeus com o objetivo de "branquear" a população brasileira. Só recentemente essa situação começou a mudar, de forma ainda tímida. Com isso, milhões de pessoas foram mantidas em condições desiguais na sociedade. A falta de ações para combater a discriminação social e promover a igualdade na sociedade colaboram para que a situação de dominação permaneça.



Pesquisa (Sociólogos brasileiros)

1. Para organizar a enquete, você pode pedir aos estudantes que preencham suas respostas em cédulas, para facilitar o trabalho de tabulação. É importante definir antecipadamente o universo de interesse da enquete: a comunidade, o bairro ou a cidade.

2. a) Nessa atividade de pesquisa, pretende-se que os estudantes conheçam algumas das temáticas abordadas pelos principais autores da teoria sociológica brasileira. Não deixe de orientá-los a selecionar fontes confiáveis, mesmo virtuais, checando as informações em mais de um lugar.

b) Ao corrigir os relatórios, procure discutir com a turma as informações sobre os sociólogos citados, estabelecendo relações entre eles. Essa pesquisa permitirá aos estudantes, eventualmente, criarem pontes com outras disciplinas, como História, Geografia e Língua Portuguesa, uma vez que parte desses autores transita em diversas áreas.



Encontro com cientistas sociais (Sassen)

Esta resposta é pessoal, pois depende do conhecimento dos estudantes, daquilo que priorizam ao observar seu ambiente e do que lhes chama a atenção na mídia. É importante verificar se o exemplo dado pelo estudante explicita os impactos locais e global do complexo processo cultural de globalização. O conjunto dos relatos contribui para um panorama sobre a relação local-global, o que amplia o conhecimento dos estudantes sobre a sociedade que os cerca.



Pesquisa (Bobbio)

O texto trata dos fenômenos de inclusão e exclusão sociais e sua relação com os movimentos de migração. Para apresentação em aula, a atividade propõe pesquisa em revistas e jornais sobre emigrados e as condições da emigração, em situações nacionais ou internacionais. A pesquisa servirá de base para troca de informações entre os estudantes e debates sobre fluxos migratórios, suas causas, consequências e condições em que foram realizados.



Intelectuais leem o mundo social (Ianni)

A resposta é pessoal, mas sugerimos analisar alguns fenômenos que caracterizam a globalização na atualidade, como a internacionalização cada vez maior da economia capitalista, a homogeneização de muitos padrões culturais, a intensificação das relações sociais, a interinfluência global/ local, a maior concorrência entre os países, a desregulamentação das relações de trabalho, entre outros fenômenos que apontam novos objetos de estudo para a Sociologia, como o processo de individualização, o consumismo, etc.



Diálogos interdisciplinares

Para a etapa da pesquisa, o acervo do Arquivo Público do Estado de São Paulo (disponível em: www.arquivoestado.sp.gov.br/acervo_digitalizado.php; acesso em: 7 ago. 2015) é uma ótima fonte para encontrar revistas, fotografias e jornais antigos digitalizados. A hemeroteca digital da Biblioteca Nacional (disponível em:


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