Silvia Maria de Araújo · Maria Aparecida Bridi · Benilde Lenzi Motim



Yüklə 2,99 Mb.
səhifə47/56
tarix02.08.2018
ölçüsü2,99 Mb.
#66341
1   ...   43   44   45   46   47   48   49   50   ...   56

· Nas últimas décadas, as mulheres das classes mais privilegiadas ganharam maior acesso ao trabalho externo remunerado, graças à intensa reivindicação dos movimentos feministas e outros movimentos sociais. No entanto, não se pode dizer que haja, atualmente, uma situação de igualdade de gênero. Primeiramente, as mulheres ainda hoje sofrem com a discriminação de gênero e o assédio no mercado de trabalho, além de receberem, em média, salários inferiores e terem maior dificuldade de acesso a cargos de chefia. Além disso, não se viu uma contrapartida semelhante na divisão de afazeres domésticos no círculo familiar. Muitas mulheres ainda enfrentam a terceira jornada em suas casas, principalmente as de menor renda, que acarreta muito desgaste físico e emocional. A divisão igualitária da responsabilidade pelos afazeres domésticos é necessária para que o espaço conquistado pela mulher na sociedade de fato se constitua em uma situação de equidade, e não num novo elemento de desigualdade de gênero e subordinação.

· Atualmente, o capitalismo exige dos profissionais adultos não apenas o desempenho regular de suas funções profissionais, mas também a constante qualificação por meio de cursos e treinamentos. Com isso, o tempo dedicado a atender às exigências profissionais tende a extrapolar o que é passado em ambiente de trabalho, levando as pessoas a concentrar tempo e energia demais em apenas uma das dimensões da vida. O desafio, portanto, para muitos adultos é conciliar o trabalho externo com o tempo para a família.

· Considerando a diversidade nas relações de gênero e as inúmeras configurações familiares existentes, assim como o reconhecimento das relações homoafetivas, seria interessante estimular os estudantes a pesquisar novos dados e estudos sobre as famílias brasileiras e as políticas sociais a elas voltadas.

Intelectuais leem o mundo social (Sennett)

A resposta é pessoal, mas o estudante precisa direta ou indiretamente considerar o que o texto relata a respeito das dificuldades das famílias para adequarem-se ao ritmo e às novas formas de trabalho. Nesse contexto, é um desafio manter um convívio familiar que promova a construção de laços afetivos e de confiança entre seus membros. Haveria, segundo o autor, uma espécie de conflito entre trabalho e família, pois enquanto esta exige compromissos e vínculos de longo prazo, o trabalho na nova economia é inseguro, de curto prazo, e não permite estabelecer laços mais duráveis.



Pesquisa

É importante acompanhar a elaboração das perguntas, propor novas questões e monitorar a escolha dos entrevistados para que haja uma aproximação fidedigna entre os dados e a realidade. Oriente os estudantes a identificar e elencar, por idade, as tendências nos agrupamentos de pais, e a atentar para as singularidades e as regularidades sociais reveladas pela pesquisa.



Diálogos interdisciplinares (IBGE Teen)

A proposta de atividade permite que os estudantes integrem os conhecimentos vistos ao longo do Capítulo 3 a conteúdos de outras disciplinas. As informações disponíveis na seção "IBGE Teen" do portal do IBGE são de fácil interpretação, o que permite a autonomia dos estudantes na hora de analisar os dados. Mesmo que a consulta ao site seja feita fora do horário da aula, sugerimos que haja momentos em sala de aula para que o professor verifique se os estudantes estão interpretando os dados corretamente. Caso necessário e possível, converse com os professores de Matemática e Geografia para orientações sobre o trabalho com gráficos e mapas.



427

Embora o tema do capítulo não esteja explicitado na proposta de atividade interdisciplinar, ele é central nos dados que serão encontrados no site. Além disso, será preciso mobilizar o conhecimento acumulado no trabalho com o capítulo para interpretar os dados e elaborar as perguntas propostas.



Uma vez que o trabalho sociológico consiste em um jogo constante entre perguntas e dados, pretendemos oferecer aos estudantes experiências com esse tipo de atividade.

Revisar e sistematizar

1. No contexto familiar brasileiro, o patriarcalismo representou, historicamente, uma posição de destaque e poder centrada em um chefe de família, geralmente o homem proprietário de terras. Além de exercer a liderança política no plano local, esse homem exerce sua dominação sobre os familiares e servidores no plano doméstico. A submissão e dependência econômica e social da mulher e das filhas é um componente da situação familiar patriarcal, expresso em proibições, interferências e extremo zelo pela privacidade da família. Essa ideologia patriarcal está intimamente ligada ao machismo, comportamento presente ainda hoje em muitos relacionamentos modernos.

2. Algumas das transformações contemporâneas que mais influenciaram as configurações familiares são: a urbanização, que promoveu mudanças no estilo de vida e levou à redução da taxa de natalidade; a nova dinâmica do mercado de trabalho, que incorporou cada vez mais a mulher, favorecendo a mudança de valores; a massificação dos meios de comunicação, que influenciam comportamentos, inclusive por meio das campanhas de planejamento familiar; o poder de mobilização dos movimentos sociais reivindicativos, especialmente os feministas, que trouxeram a liberalização dos costumes. Novos comportamentos e a legitimação da diversidade de configurações da instituição familiar (por meio do reconhecimento do divórcio, dos casamentos homoafetivos, etc.) significam mudanças nos papéis e no modo de agir de seus diferentes membros.

3. Em sua proposta explicativa da realidade social, Durkheim concebe a família como uma das instituições sociais básicas, responsável pela socialização do indivíduo sob um feixe de normas capaz de promover a coesão e a reprodução sociais. Desse modo, a preservação dos valores e a transmissão das tradições sociais são garantidas pela atuação da família, que, como fato e ser social, tem preponderância sobre o indivíduo. O papel fundamental da família seria, portanto, a preparação dos indivíduos para a vida em sociedade.

4. Podemos citar, entre outras mudanças no reconhecimento de arranjos familiares: a introdução da possibilidade de separação e divórcio diante de crises conjugais, o maior reconhecimento de filhos gerados fora de relações conjugais, as mudanças nas relações afetivas (casamentos tardios, laços não matrimoniais ou que não envolvem coabitação, etc.), o reconhecimento das uniões homoafetivas, entre outras. Alguns dos resultados disso são a alteração das relações conjugais e de gênero, e o reconhecimento de papéis familiares diferentes dos tradicionalmente prescritos. Assim, as famílias monoparentais (ou seja, aquelas em que somente o pai ou a mãe vivem com seus filhos) passaram a ser mais bem aceitas, assim como famílias recompostas, fruto de segunda ou terceira união dos cônjuges. Além disso, a mulher assume cada vez mais o papel de mantenedora do núcleo familiar, principalmente nas classes mais pobres.

5. Uma rede de relações familiares, neste caso, é um conjunto de alianças estratégicas de cooperação e de solidariedade inter e intrafamiliares, nas grandes metrópoles. Esse tipo de organização informal, que envolve parentes e vizinhos, tece uma trama de obrigações morais que dificulta a individualização e prioriza os indivíduos responsáveis pela renda familiar, com o objetivo de garantir a sobrevivência do grupo.

6. As obrigações sociais e morais da família para com as crianças e os jovens têm se transformado, principalmente em razão da urbanização, da maior participação da mulher no mercado de

428

trabalho e da maior possibilidade de reconfiguração de vínculos conjugais. Além do menor tamanho das famílias, também se reduziu o tempo de convívio familiar. Nesse sentido, muitas famílias delegam à escola uma série de incumbências, como a transmissão de valores sociais e morais. Também o maior acesso e a maior variedade de meios de comunicação modificou as formas de socialização das crianças.



Teste seu conhecimento e habilidades

1. b;

2. c;

3. c.

Atividades complementares

1. Pesquisa: história de vida

Oriente os estudantes a realizar uma pesquisa em universo próximo e, literalmente, familiar. O objetivo dessa pesquisa é levar o estudante a colocar-se em posição de estranhamento diante de sua própria família, buscando conhecer as condições de vida dela com base na trajetória social dos avós, pais e filhos (portanto, de três gerações). Essa pesquisa deve se basear, se possível, na fala do pai, da mãe ou outro responsável do estudante. Caso ele não possa recorrer a esses familiares, oriente-o a buscar alternativas em sua família. Numa conversa conduzida, que poderá ser gravada e transcrita, ou simplesmente anotada, o estudante perguntará ao entrevistado:

a) local ou região de nascimento e de casamento ou união estável (se tiver acontecido);

b) número de filhos;

c) atividade que exerce ou exercia;

d) mudanças de moradia e de trabalho;

e) acontecimentos familiares que considera marcantes;

f) situação no momento da pesquisa (o que faz profissionalmente, se estuda, a idade, etc.).

Os estudantes devem observar e descrever, por escrito, os tipos de mudanças pelos quais essas pessoas passaram (de moradia, de trabalho, de número de filhos e membros da família, de escolaridade, etc.), registrando data e ano dos acontecimentos.

2. Debate

Após a leitura do capítulo, reúnam-se em grupo para discutir as seguintes questões:

· O trabalho doméstico deve ser partilhado entre os membros da família? Justifique.

· O trabalho remunerado libera ou subordina as mulheres? Explique.

· Quais são os impactos, na criação dos jovens, da participação de seus responsáveis no mercado de trabalho?

· Que outros fatores influenciam a coesão familiar? Comentário: Esta atividade exige que os estudantes sejam orientados a se organizar em equipe, discutir as questões propostas como roteiro e sistematizar as análises feitas na equipe (oralmente e/ou por escrito).

O texto a seguir pode auxiliar na condução da atividade ou mesmo ser distribuído aos estudantes como introdução ao debate:



Autonomia econômica e igualdade no mundo do trabalho

[...] O fato de as mulheres terem consolidado sua participação no mercado de trabalho não significa dizer que elas não trabalhavam de forma remunerada antes. Como exemplo, podemos citar as mulheres negras que trabalham desde a escravidão e mesmo com a abolição continuaram como empregadas domésticas e cozinheiras, recebendo baixos salários. Atualmente, o mercado de trabalho tem participação crescente de mulheres em sua multiplicidade raça/etnia, idade e classe social.



Isso reflete o fato que o mercado de trabalho deixou de ser compreendido como um terreno proibido para as mulheres. Embora as barreiras formais tenham sido superadas, não significa que não existam barreiras invisíveis. As mulheres ainda enfrentam maiores taxas de desemprego que os homens: enquanto para eles o desemprego era de 4,7% em 2077, para elas era de 7,5% (dados da Pesquisa Mensal de Emprego, IBGE, 2077). Além disso, as mulheres seguem responsáveis pelo cuidado e pelos afazeres domésticos já que, dentro das famílias, os homens não assumiram essas tarefas de forma igualitária.

A responsabilidade das mulheres pelas tarefas concretas de cuidar de outros, combinada aos valores associados à feminilidade, leva as mulheres a estarem em menor quantidade e em piores cargos do que os homens no mercado de trabalho. Menos disponíveis para a inserção nas ocupações remuneradas e com grande chance de terem a trajetória interrompida pela gravidez, elas também estão em ocupações de pior qualidade, mais precárias, mais informais, em jornadas flexíveis e parciais, resultando em uma diferença

429

expressiva na remuneração entre mulheres e homens. Essa diferença aumenta, inclusive, entre as mulheres, quando consideramos os fatores raciais, de classe, regional etc. Além disso, aquelas que estão inseridas no mercado de trabalho tendem a se concentrar em determinados nichos ocupacionais, de acordo com os estereótipos associados às profissões femininas e masculinas. As ocupações consideradas femininas costumam ser menos remuneradas que as masculinas.

O trabalho doméstico remunerado é o elo entre esses diferentes processos. Primeiro, porque é a maneira pela qual mulheres de classe média e alta transferem a execução dos trabalhos domésticos para outras mulheres, de forma relativamente barata, sem que os homens tenham que assumir tais trabalhos. Segundo, porque é uma ocupação realizada majoritariamente por mulheres, sobretudo negras e empobrecidas, cujas condições de trabalho (piores remunerações, precariedade de garantia de proteção social e trabalhista) garantem que esse modelo seja economicamente viável para quem dele se utiliza. Sendo mal remunerado, tal trabalho não contribui para a superação da situação de pobreza dessas mulheres. [...]

AUTONOMIA econômica e igualdade no mundo do trabalho. Observatório Brasil da Igualdade de Gênero. Disponível em: www.observatoriodegenero.gov.br/menu/areas-tematicas/trabalho. Acesso em: 17 jan. 2016.

3. Links para outras atividades

Corpo, sexo e gênero: alguns contributos das teorias antropológicas clássicas às contemporâneas.

O link apresenta algumas sugestões de atividades relacionadas à questão da construção da identidade de gênero.

· Roteiro de atividades. Disponível em: http://ensinosociologia.fflch.usp.br/sites/ensinosociologia.fflch.usp.br/files/Repertorio_1.pdf. Acesso em: 2 fev. 2016.

Leituras complementares

Leia a seguir um trecho de artigo que trata das mudanças no perfil geral da família brasileira.



População e família no Brasil contemporâneo: muitas mudanças e algumas reflexões

Uma apreciação abrangente sobre a população brasileira, abarcando desde os meados do século XX até o final da primeira década do século XXI, revela mudanças profundas. Em 1940, éramos pouco mais de 40 milhões, em 2010 ultrapassamos os 190 milhões. Como estamos? Transformamo-nos numa população mais urbana, que vive mais, que gera menos filhos e que fica cada vez mais velha. De um país eminentemente rural e agrário, passamos a ser um país industrializado e com predomínio da população urbana, com uma taxa de urbanização que chega perto de 85%. Além disso, enquanto naquela época mais da metade da população era analfabeta, hoje o índice de analfabetismo está em torno de 12%.

Vivemos mais, independentemente do sexo. A esperança média de vida mais que duplicou em relação ao início dos anos novecentos. Como consequência, a população brasileira está mais velha. Se, em 1950, para cada 100 pessoas jovens, menos de 6% tinham mais de 65 anos, em 2009, este grupo já ultrapassava os 32%. Assistimos também ao consistente descenso da natalidade e da mortalidade infantil e, nesse último quesito, o Brasil apresentou queda significativa, em que pesem as grandes variações regionais. A melhoria desses indicadores pode ser atribuída ao desenvolvimento de políticas públicas introduzidas, especialmente, a partir das décadas de 1970 e 1980, que visavam diminuir as profundas diferenças que marcavam a nossa população.

Outro aspecto que merece ser registrado diz respeito às mudanças nas famílias. Basta citar que, desde 2009, a distribuição percentual dos arranjos domiciliares indica que os casais com filhos deixaram de ser maioria: em 1999, segundo o IBGE e a PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), eles conformavam 55% dos domicílios, passando a representar 47% do total, em 2009. Além disso, verificou-se o aumento das unidades compostas por casais sem filhos (de 13% para 17%, no mesmo período).

Esta é uma tendência interessante. Pelo visto, pode-se deduzir que mais e mais casais estão optando por manter uma relação que exclui a participação de crianças/filhos. São as "famílias de dois", ou os "casais Dinc" (duplo ingresso, nenhuma criança): ambos têm rendimentos e optaram por não ter filhos. Esta é uma mudança sensível para uma sociedade em que, até poucas décadas atrás, as pessoas eram educadas para se casar e procriar, como se o sucesso da família ou mesmo a felicidade delas dependesse disso.

Os novos e variados arranjos familiares permitem uma convivência plural dentro das casas e estão gerando a necessidade de se compreender a "vida em família" sob outros moldes, incluindo as mudanças nos papéis desempenhados por homens e mulheres.

Outra novidade diz respeito à relação entre filhos e pais: nas últimas décadas, tem sido reforçada a tendência de que os filhos permanecem cada vez por mais tempo na casa dos pais. Se, anteriormente (desde os anos 1970 pelo menos), falava-se da "síndrome do ninho vazio" que ocorria com muitos pais (especialmente as mães) no momento em que os filhos crescidos

430

saíam da casa, hoje talvez devêssemos falar na "síndrome do ninho permanentemente cheio", já que os filhos em idade adulta não querem ou não conseguem deixar a casa dos pais.

Resta evidente o fato de que as grandes transformações pelas quais a população e a família brasileira têm passado nas últimas décadas constituem temas desafiadores para os estudiosos, não apenas pelas questões que colocam, mas também pela necessidade de desenvolver métodos e técnicas para avaliar e interpretar esses câmbios.

POPULAÇÃO e família no Brasil contemporâneo: muitas mudanças e algumas reflexões. Revista Brasileira de Estudos Populacionais, v. 29, n. 1, jan.-jun. 2012. Disponível em: www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-30982012000100001. Acesso em: 27 maio 2016.

Leituras recomendadas

ALGUNS mitos sobre a adoção de crianças por casais homossexuais. Sim, toda criança pode aprender, 4 jan. 2016. Disponível em: www.todacriancapodeaprender.org.br/alguns-mitos-sobre-a-adocao-de-criancas-por-casais-homossexuais/. Acesso em: 2 fev. 2016.

O artigo procura desfazer ideias preconcebidas a respeito da adoção por casais homoafetivos.

BILAC, Elisabete. A família e a fragmentação do social. Cadernos de Sociologia. Número especial: Natureza, história e cultura. Programa de Pós-graduação em Sociologia, IFCH/UFRGS, 1993. p. 93-98.

No artigo, a autora explora as transformações nas estruturas familiares no Brasil.

CASTELLS, Manuel. O fim do patriarcalismo: movimentos sociais, família e sexualidade na era da informação. In: . O poder da identidade. A era da informação. São Paulo: Paz e Terra, 1999. v. 2. p. 169-286.

Ao tomar a crise da família patriarcal, o autor analisa a participação das mulheres e dos movimentos feministas na sociedade contemporânea.

FAMÍLIAS homoafetivas: gays e lésbicas falam sobre os desafios na criação dos filhos. Huffington Post Brasil, 21 out. 2014. Disponível em: www.brasil post.com.br/2014/10/21/familia-homoafevitas-gay-_n_6024664.html. Acesso em: 18 jan. 2016.

O vídeo mostra depoimentos de diferentes pessoas sobre as diversas maneiras de formação e sobre o cotidiano de famílias homoafetivas.

SHIMODA, Letícia Yumi. Corpo, sexo e gênero: alguns contributos das teorias antropológicas clássicas às contemporâneas. Laboratório didático - USP ensina Sociologia. Disponível em: http://ensinosociologia.fflch.usp.br/sites/ensinosociologia.fflch.usp.br/files/Texto_2.pdf. Acesso em: 2 fev. 2016.

Este texto traça um panorama de como as questões de corpo, sexo e gênero foram trabalhados pelos estudos antropológicos desde o início do século XX até a contemporaneidade.

FONTE: Filipe Rocha/Arquivo da editora



431

Capítulo 4

O SENTIDO DO TRABALHO

Aqui começam as orientações para o Capítulo 4 (p. 107 a p. 134).

O Capítulo 4 analisa as relações dos trabalhadores com seu trabalho e o sentido do trabalho na modernidade. Discute a crise do trabalho, as situações de desemprego e as mudanças observadas na sociedade, que levaram alguns estudiosos a duvidar da centralidade do trabalho na sociedade contemporânea. Explica as diferenciações e desigualdades que se produzem no mercado de trabalho com base nas relações de gênero e na discriminação associada às características étnico-raciais.

Conceitos-chave: trabalho, trabalho alienado, força de trabalho, mais-valia, capitalismo, capital, mundo do trabalho, desemprego estrutural, emprego, desemprego, inclusão social, divisão internacional do trabalho, mercado de trabalho, trabalho solidário, dupla jornada.

Objetivos do capítulo para o estudante

· Discutir o sentido do trabalho hoje e em outros tempos.

· Discernir trabalho, emprego e desemprego como condições de vida dos trabalhadores.

· Avaliar o trabalho como fator organizador da vida em sociedade.

· Compreender as novas questões relacionadas ao trabalho no contexto da globalização.

· Analisar a desigualdade na inserção dos trabalhadores no mercado de trabalho, tomando, por exemplo, as questões de gênero e étnico-raciais.

· Compreender a realidade recente do trabalho solidário.

Questão motivadora

A realidade do trabalho envolve expectativas e a realidade dos estudantes. Por tratar de uma dimensão que afeta seus projetos de vida, a perspectiva de análise das Ciências Sociais tende a sensibilizá-los facilmente. Como o capítulo trata das mutações no âmbito do trabalho, sugerimos a você que reproduza para a turma, em sala de aula, uma gravação da música "Capitão de indústria", de Marcos e Paulo Sérgio Valle, mais conhecida pela interpretação do grupo Os Paralamas do Sucesso nos anos 1990. Em seguida, solicite aos estudantes que leiam o excerto da letra e os comentários apresentados no capítulo.

Dica

A análise da letra da música objetiva aproximar os estudantes do tema, seja porque é interpretada por um grupo musical até hoje conhecido, seja porque trata de uma situação que pode ser vivida por seus familiares, amigos ou mesmo por eles próprios, caso trabalhem e estudem. Com base nessa introdução sobre o sentido do trabalho hoje, desenvolva com os estudantes o conteúdo do capítulo, atentando para possíveis dificuldades na compreensão de conceitos e do contexto em que as mudanças se deram. Afinal, as transformações do trabalho ocorreram em longos períodos históricos, em diferentes sociedades e sistemas de produção, e se refletiram



432

na sua organização moderna, no mercado de trabalho, no perfil do trabalhador requerido, na sua regulamentação político-jurídica, na escassez do emprego, entre outros fatores.

Avaliação

Recomendamos não realizar avaliação única nem de uma só modalidade para essa temática. Seria produtivo submeter os estudantes a uma avaliação escrita discursiva, com algumas das questões da seção Revisar e sistematizar. A essa avaliação de aprendizagem, associe os resultados da pesquisa que sugerimos a seguir.

Pesquisa: um exemplo no Capítulo 4

A pesquisa em sala de aula ou a partir da sala de aula é muito proveitosa, principalmente se for uma pesquisa de campo, pois o estudante terá contato direto com a realidade social. Qualquer atividade de pesquisa com os estudantes requer cuidados prévios por parte do professor: preparar e indicar leituras, fazer explanações sobre o tema, elaborar um projeto de pesquisa, montar um roteiro de pesquisa com informações sobre a metodologia (qual teoria dará sustentação à pesquisa e qual técnica será empregada: questionário, entrevista, meios de comunicação, visita a empresas, etc.).

O objetivo da pesquisa com estudantes do Ensino Médio é levá-los a trabalhar em equipe para planejar a atividade, coletar os dados e sistematizar os resultados. Conhecer é, portanto, desenvolver a capacidade de estruturar, relacionar, organizar e transmitir as informações, percebendo como essas relações estruturam a realidade e o próprio processo de aprendizagem.

Sugere-se, no decorrer do estudo deste capítulo, que os estudantes realizem uma pesquisa de campo visando investigar o que mudou no trabalho nas últimas décadas. Os estudantes podem ser organizados em equipes, ficando cada uma delas responsável por pesquisar uma questão (trabalhadores nos bancos, nas indústrias, no comércio, no setor de serviços, desempregados, trabalhadores domésticos, etc.). É importante que as equipes escolham um aspecto que querem investigar e o explicitem para receber sua orientação. Lembramos que os critérios de avaliação da pesquisa devem ser explicitados antes do início da atividade e os estudantes devem ser instruídos a serem respeitosos nas diferentes etapas de abordagem a terceiros.

Embora a pesquisa ocorra fora de sala de aula, você deve discutir em classe com os estudantes temas como o trabalho, sua importância e suas mudanças. Essas análises os ajudarão na sistematização escrita das pesquisas das equipes. Oriente os estudantes a relacionar algum aspecto da discussão em sala com a pesquisa de campo. A apresentação dos resultados pode ocorrer em forma de produção escrita ou oral, conforme a decisão conjunta da turma.

Complemento teórico

A inter-relação entre os fenômenos tem proporções políticas que expõem as desigualdades sociais (estudadas no Capítulo 2) alcançadas com o desenvolvimento capitalista no mundo. O filósofo István Mészáros (1930-) refere-se às transformações ocorridas no mundo do trabalho de duas maneiras: como destruição produtiva (séculos XVIII e XIX) e como produção destrutiva (do século XIX aos dias atuais). Afirma o autor:

O sistema do capital não conseguiria sobreviver durante uma semana sem as suas mediações de segunda ordem: principalmente o Estado, a relação de troca orientada para o mercado, e o trabalho, em sua subordinação estrutural ao capital. [...]

As gritantes desigualdades sociais, atualmente em evidência, e ainda mais pronunciadas no seu desenvolvimento revelador são bem ilustradas pelos seguintes números:

Segundo as Nações Unidas, no seu Relatório sobre o Desenvolvimento Humano, o 7% mais rico do mundo aufere tanta renda quanto os 57% mais pobres. A proporção, no que se refere aos rendimentos, entre os 20% mais pobres no mundo aumentou de 30 para 7 em 7960, para 60 para 7 em 7990 e para 74 para 7 em 7999, e estima-se que atinja os 700 para 7 em 2075. Em 7999-2000, 2,8 bilhões de pessoas viviam com menos de dois dólares por dia, 840 milhões estavam subnutridos, 2,4 bilhões não tinham acesso a nenhuma forma aprimorada de serviço de saneamento e uma em cada seis crianças em idade de frequentar a escola primária não estava na escola. Estima-se que cerca de 50% da força de trabalho não agrícola esteja desempregada ou subempregada.

MÉSZÁROS, István. O desafio e o fardo do tempo histórico: o socialismo no século XXI. São Paulo: Boitempo, 2007. p. 221.



Yüklə 2,99 Mb.

Dostları ilə paylaş:
1   ...   43   44   45   46   47   48   49   50   ...   56




Verilənlər bazası müəlliflik hüququ ilə müdafiə olunur ©muhaz.org 2024
rəhbərliyinə müraciət

gir | qeydiyyatdan keç
    Ana səhifə


yükləyin