Sumário prólogo capítulo



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CAPÍTULO 44
Viu quando saíram do hotel e se dirigiram ao Museu Arqueológico. Reconheceu Sholomo de imediato, coisa que não a surpreendeu, em absoluto. Era evidente que ele conhecia Leonardo Cárdenas, por isso fez a relação com o tal arquiteto amigo dele e que respondia pelo nome de Salvador Riera. Ambos deviam ser a mesma pessoa.

Sua mão segurava a arma de fogo de cano curto com firmeza, pressionando com o canhão a nuca do agente, para recordar a ele que não titubearia em disparar ao menor movimento dele. Olhou Cristina de soslaio. Parecia arrasada. O fato de ter-se equivocado com ela fazia com que a moça se destruísse, animicamente, aos poucos.

Nada do que lhe havia contado sobre a Arca a satisfazia tanto como observar seu fracasso.

"Você acreditava que era muito importante... é, não é?" pensou Lilith, com profundo desprezo.

Um forte odor de sangue e pólvora acelerou as batidas de seu coração. Olhou de relance à direita. O cadáver que tinha a seu lado continuava na mesma postura e, assim, continuaria durante algum tempo. Jogá-lo fora do carro era uma possibilidade, mas isso daria tempo a Eric, que aproveitaria qualquer distração para surpreendê-la. Estava certa de que em algum lugar ele escondia uma arma, talvez sob o banco.

—Quem é o homem que acompanha Leo? — perguntou Cristina, esperando que a jovem alemã fosse capaz de saber e dizer.

—Chama-se Sholomo e é o Grão Mestre da ordem Maçônica que me contratou para matar o paleógrafo e a diretora da casa de leilões. Penso, porém, que o nome verdadeiro dele seja Salvador Riera, meu suposto pai, a quem você iria libertar de seus seqüestradores.

Não pôde evitar: começou a rir.

—Então foi você! — concluiu a criptógrafa, entre dentes, ao compreender a verdade, para, em seguida, aumentar o tom irritado da voz e dizer: — E eu achando que você era uma jovem frágil e assustada, quando tudo não passava de uma farsa!

—Não seja mal humorada. Isso é muito comum... — havia um toque de vaidade na voz dela. — Minha maior estratégia é a aparência inocente. Nunca esperam que a morte tenha rosto de menina.

—E o que você pensa fazer conosco?

Não houve resposta. A alemã ficou em silêncio, sem vontade de continuar falando. Mas de uma coisa estava certa: tinha de se desfazer do agente o quanto antes. Não em vão, havia sido treinada para resolver as ocorrências que pudessem colocar sua missão em perigo. Isso significava que acabaria com a moça, caso houvesse a mais ínfima possibilidade. Precisava pôr fim a essa ameaça latente.


Eram vinte horas e dez minutos. O Museu Arqueológico acabava de fechar as portas. Em seu interior, o silêncio e a penumbra dominavam os espaços vazios. Apesar da escuridão, puderam ver as silhuetas de três pessoas no centro da sala 23, ao fundo das colossais estátuas de Amenotep III e de sua esposa Tiyi. Estavam esperando por eles.

—Eu me alegro de vê-lo outra vez, Leo... — Balkis adiantou-se, para saudá-lo. — Suponho que deseja falar com Cláudia.

Voltou-se, para lhe indicar a jovem, que se aproximara. Das sombras, surgiu a figura de uma mulher. Era ela, vestida com as cores maçônicas. Representava a pureza e a Sabedoria.

Quando ficaram frente a frente, Balkis voltou-se para o lado de Hiram. O arquiteto fez o mesmo, afastando-se do casal, para permitir que tivessem um momento de intimidade.

—Você está lindíssima — disse o bibliotecário, segurando as mãos dela.

Cláudia, longe de ficar ruborizada, parecia emocionada com a situação.

—Lamento que você tenha sido informado dessa maneira, bem como de tê-lo envolvido em algo que talvez não desejasse fazer.

—Reconheço que é uma situação muito incômoda — ele admitiu, com franqueza. — Embora suponha que, como me levaram a acreditar, você não estava envolvida com os assassinatos. Por favor, diga-me que não sabia!

—Claro que não! — ela exclamou, indignada. — Fiquei tão surpresa quanto você. Ainda não perdoei meu tio por ter me usado para algo tão horrível. Você precisa acreditar em mim! Eu contei a eles sobre a história do manuscrito porque conhecia a lenda do pedreiro murciano e de sua relação com a família Fajardo. Isso foi tudo. Jamais pensei que alguém fosse morrer:

Seus olhos se encheram de lágrimas. Leonardo foi secando uma a uma.

—Responda com sinceridade... Você sabia o que o criptograma dizia, antes que eu o decifrasse?

—Não inteiramente — ele respondeu, baixando a voz. — Veja... — respirou fundo — ...dias antes de sua morte, fui à casa de Balboa com a desculpa de que fazia tempo que não o víamos no trabalho. Sabia da existência do documento porque você mesma me contara e por isso lhe pedi que me deixasse ajudá-lo na tradução.

—Claro! Por isso você sabia do conto de Poe e de como decifrar o manuscrito.

—Na realidade, foi Balboa quem descobriu a chave — reconheceu no mesmo instante. — Era muito bom no trabalho de decodificação.

Sem dúvida, uma vez terminado o trabalho, ele não quis me mostrar porque antes deveria falar com você. Salvador, então, ordenou que fosse morto, bem como que vigiassem você, obrigado pelos membros mais conservadores da loja, os quais não desejavam que o segredo fosse propalado. Imaginava-se que você fosse a única pessoa com quem Jorge havia falado sobre sua aquisição de Toledo, razão pela qual me pediram que seguisse seus passos, em troca da promessa de mantê-lo vivo.

—O que você lhes disse a meu respeito? — ele sentia muita curiosidade... queria saber.

—Na tarde em que Balboa foi enterrado, vi que você foi embora com Mercedes. Aquilo me pareceu estranho, entre outras coisas, porque você saiu sem se despedir. Eu os segui até o escritório. Fiquei escondida no gabinete ao lado do dela e ouvi toda a conversa de vocês. Sem avaliar as conseqüências, telefonei imediatamente para o meu tio, contando tudo. Não sabia que a estava condenando à morte... sinto muito! De verdade! — lamentou-se com profunda tristeza. — Creio que foi uma estupidez de minha parte.

—Ainda estou vivo... — ele tratou de animá-la. — E isso deveria alegrar você.

—E estou alegre mesmo! Mas se está vivo é graças a Balkis, uma vez que o Conselho, às minhas costas, planejava sua execução. Ao saber dos crimes planejados pelo comitê da loja, ela ordenou o fim de toda e qualquer violência. O certo é que todos lamentamos muito o que houve.

Não que aquilo fosse mudar as coisas, mas a desculpa merecia ser aceita. Cárdenas resolveu esquecer tudo, pensando no que ia acontecer naquela mesma noite, porém, dadas as circunstâncias, precisava saber mais a respeito do ritual de iniciação.

—Escute, Cláudia... quero que você me diga o que vai acontecer — pediu. — Se você soubesse os disparates que tive de escutar ultimamente!

Ela se colocou na ponta dos pés, aproximando seus lábios do ouvido do companheiro.

—Eu sei... — disse com suavidade — e temo que tudo o que lhe disseram seja verdade. Mas não deixe que o pensamento racional se imponha à vontade de acreditar. Apenas aceite. A única coisa que nos resta é a fé.

—Tenho de acreditar, então, que realmente falarei com Deus?

—Sim... se formos capazes de vencer nossos demônios ... — beijou-o docemente no rosto. — E estou certa de que juntos conseguiremos isso.

Com aquelas palavras, deu por encerrada a conversa. Afastou-se dele e foi até os Guardiões.

Havia chegado a hora da verdade.

CAPÍTULO 45

Quando o automóvel chegou ao posto da guarda, teve de parar diante do soldado que impedia sua passagem; seu companheiro observava tudo, com atenção, a partir da guarita. O homem se aproximou do motorista com a lanterna em uma das mãos, enquanto a outra acariciava a cartucheira de sua pistola. Hiram, a quem já conhecia por suas constantes pesquisas na planície, lhe entregou uma permissão especial para visitar o interior da Grande Pirâmide. Era assinada por Adel Hussein, diretor geral de Gizé, de maneira que a entrada foi imediatamente franqueada depois que o soldado fez uma saudação aos viajantes, desejando que a paz de Alá os acompanhasse. Tanto Khalib como Riera — que ia a seu lado — corresponderam com a mesma atitude. E seguiram seu caminho até Quéops.

Minutos depois, Hiram estacionou o carro no acostamento da rodovia e apagou os faróis, deixando que a escuridão tomasse conta do cenário. Saltou do veículo em companhia de Salvador. Os demais ficaram lá dentro.

— Antes de entrar, quero lembrar vocês de que a chave da loja é sua única aliada — disse Balkis com certa obstinação. — E que só conseguirão vencer o caos provocado pelo pensamento se suas almas caminharem seguras enquanto vocês ascendem na escada. Mas, sobretudo, não percam a calma na hora de decifrar a charada. Acreditem em mim: vai dar tudo certo.

Dito isso, abriu a porta para que pudessem sair. Hiram e Sholomo os aguardavam lá fora. Juntos e em silêncio, foram até a ala norte da pirâmide. Naquele lado estava o escritório de Mansour Boraik, onde dormia o restante dos guardas à espera do revezamento. Por isso, tinham de andar com cuidado, fazendo o mínimo de ruído possível, para não chamar atenção.

Leonardo teve um ataque de irracionalidade ao se aproximar daquela gigantesca massa de pedra, pela qual estava tão obcecado. Quanto mais perto se sentia dela, menor e insignificante lhe parecia sua vida. Era como se a pirâmide fosse devorá-lo, triturar suas lembranças e até mesmo engolir sua alma para sempre. Nunca havia parado para pensar que sentido teria construir algo tão magnífico em uma área assim inóspita, onde o sol, os mosquitos e as eventuais cheias do rio seriam suas únicas testemunhas. Devia haver algo mais. Talvez a loja tivesse razão e as pirâmides tenham sido monumentos destinados a preservar a memória de Deus através do tempo, e que o homem não estivesse preparado para receber certos conhecimentos no âmbito da Sabedoria. Mesmo que isso fosse correto, não conseguia compreender o motivo pelo qual, precisamente, tivesse sido escolhido. Não fazia sentido, até porque ele sequer conhecia as leis e costumes maçônicos, exceto se as histórias que escutara até aquele momento fizessem parte da instrução do neófito. Reconheceu haver aprendido o suficiente para assumir o trabalho da loja, e isso era bastante significativo. Talvez, sem saber, já fazia parte da irmandade.

Finalmente, alcançaram a primeira fileira de pedras. A entrada mais acessível era a aberta por Al-Mahmun, situada dezessete metros acima do solo. Sholomo explicou a eles que teriam de subir um pouco mais para chegar à principal, pois deviam seguir a antiga trajetória dos iniciados. Com extremo cuidado, começaram a escalar os enormes blocos. Mas houve um detalhe que não escapou a Leonardo: tanto Balkis como Khalib os observavam lá debaixo; não tinham a intenção de acompanhá-los.

—Não pensam subir? — a pergunta foi dirigida a Salvador, que parecia acostumado a movimentar-se com facilidade nas alturas, tal como um jovem alpinista.

—Não se preocupe com eles — respondeu o arquiteto, sem deter-se. — Chegarão ao Salão do trono antes de nós ...E não me perguntem como é que fazem isso. Para entender a magia deles é preciso ser um Guardião da Sabedoria, cargo que não tenho o privilégio de ostentar. Sou apenas o Mestre dos Construtores.

O bibliotecário acreditou captar certa amargura no tom da voz dele. Não quis criticar aquela atitude, mas, no fundo, não deixava de ser irônico que os demais membros da loja se sentissem decepcionados quando eles mesmos colocavam obstáculos ao fato de que fossem outros os que se sentavam no Trono de Deus. Teria ocasião de opinar, se tudo caminhasse bem e era certo o que lhe haviam prometido.

Quando os homens alcançaram o nível da entrada, Cláudia já estava sob os gigantescos blocos de granito — em formato piramidal — que descansavam sobre o umbral da porta.

—Tenha cuidado ao descer — Riera advertiu a sobrinha. — O canal descendente é muito baixo para a gente caminhar ereto. Mede apenas um metro de largura por pouco mais de altura.

—Isso me lembra a cripta da catedral de Múrcia! Não é mesmo, Salvador?

A observação de Leonardo, não isenta de sarcasmo, fez com que Riera esboçasse um de seus típicos e velhacos sorrisos.

—Se você sentiu claustrofobia lá, espere entrar no interior da Quéops — disse-lhe com seriedade. — Para sua informação, eu lhe direi que teremos de descer de cócoras uns cento e trinta metros de canal, até chegar à Câmara do Caos, tendo sobre nossas costas o peso de milhões de toneladas de pedra. Será um grande desafio para quem, como você, precisa de espaços amplos.

—Creio que poderei suportar.

—Então, se ambos estão de acordo, será melhor que entremos — foi a prática sugestão de Cláudia.

Aceitando a proposta como um dever, ligaram suas lanternas e penetraram sem mais demora no reduzido corredor de pedra, engatinhando pelo piso de tábuas transversais e grades, em ambos os lados do muro.

Diante deles, a escuridão e o silêncio que precedem o desconhecido.


Para Abdelaziz, soldado raso do exército egípcio desde os dezoito anos de idade, custodiar monumentos com mais de quarenta séculos de antiguidade, que, presumivelmente, foram construídos como tumbas de reis do passado, não deixava de ser uma tarefa desagradável à qual não estava acostumado. Define-se como um homem capaz de enfrentar tudo, inclusive a pior das mortes, mas havia certos temores ligados à superstição que carregava desde a infância dos quais não conseguia se livrar. Conhecia de memória as histórias que corriam de boca em boca pelos becos de Fustat, o bairro que o viu nascer. Sua avó costumava dizer-lhe que Abu-el-Hol" despertaria no futuro de sua letargia para libertar-se da prisão de pedra que o tolhia e que, então, o homem seria seu alimento. Por isso, cada noite que enfrentava o feitiço da Esfinge sem mais recursos do que seu fuzil, seus pelos se arrepiavam e os den¬tes começavam a bater loucamente, devido à ansiedade. Era pânico o que sentia. Daria um mês de seu soldo para estar a mil quilômetros de distância, lutando em uma guerra estúpida, se necessário. Qualquer coisa, menos fazer a ronda noturna.

Para afastar seus temores, decidiu analisar a inesperada visita do diretor do Museu Arqueológico. Não era precisamente a hora mais apropriada para entrar em nenhuma das pirâmides — podendo fazer isso de dia —, como, tampouco, era lógico que se fizesse acompanhar de um grupo de desconhecidos. Mas o fato de ter um passe especial, assinado por Adel Hussein em pessoa, era razão suficiente para deixá-lo passar sem ter de pedir explicações. Além disso, sabia que aquele homem adorava o que fazia. Talvez estivesse trabalhando em segredo, com alguns de seus colegas estrangeiros.

Sentiu um ligeiro calafrio. Atribuiu a sensação à temperatura do ambiente, porque o deserto estava especialmente deserto aquela noite. O uivar do vento, deslizando com fúria pelo planalto, lhe trouxe à memória o gargalhar enlouquecido de uma alma penada. Olhou seu companheiro, que estava sentado no interior da guarita lendo o jornal. Pensou que ali dentro era como estar em outro mundo. Hassan tinha sorte de ser genro de um famoso ministro. Nem todos gozavam de uma influência tão notável e proveitosa. Mas ele, filho de um simples tecelão de tapetes, se tivesse que ganhar alguma benesse de seus superiores, havia de ser por seus próprios méritos.

Fez uma pausa em seus dolorosos pensamentos ao observar que se aproximavam os faróis de um outro automóvel. Teve, então, o pressentimento de que aquela noite seria especial.

—Pare o carro a alguns metros do posto da guarda e abaixe-se, com as mãos no alto, onde eu possa vê-las.

Enquanto sussurrava a Eric o que tinha de fazer, Lilith introduziu a mão no interior de sua jaqueta e, sigilosamente, pegou o silenciador da pistola para enroscá-lo no cano de saída.

—O que pensa fazer? — perguntou Cristina, ao presumir a manobra da jovem alemã.

—Espere e verá — respondeu, glacialmente. — Mas eu lhe aviso que se você tentar fugir será a última coisa que fará com vida... — franziu a testa. — Compreendeu bem?

A criptógrafa captou a mensagem. Era perigoso contrariá-la. Teria tempo de urdir um plano favorável a seus interesses.

O automóvel se deteve a uma distância prudente da área de segurança fixada pelo exército egípcio. Lilith pressionou com força a nuca do agente, obrigando-o a sair, diante da iminente chegada do soldado de vigia. Eric obedeceu imediatamente, disposto a colaborar em tudo o que fosse possível, com medo de acabar com uma bala na cabeça. A assassina de aluguel, por sua vez, fez o mesmo: de forma sincronizada, desceu do automóvel, colando-se às costas de Eric que, estrategicamente, ficou entre ela e a sentinela.

Lilith agiu com rapidez e profissionalismo, disparando em primeiro lugar no soldado que lia o jornal na guarita, enquanto agarrava a camisa do agente, a fim de proteger-se. Abdelaziz, alertado pela violenta reação da jovem, abriu fogo sem contemplação. Eric foi alvejado no pescoço e no peito, e naquele momento a alemã aproveitou para eliminar o militar egípcio com um tiro certeiro no rosto.

Tudo acabou em breves segundos, como se nem tivesse começado.

Já mais relaxada, a jovem foi até a janela do carro e introduziu a cabeça no interior.

—Dirija — ordenou a Cristina, abrindo a porta para sentar-se no lugar onde estava a criptógrafa.

Esta se movimentou para o lado, atônita ao observar a capacidade criminosa daquela criatura que, a princípio, havia confundido com um anjo. Fazendo um tremendo esforço para não ter uma crise ner¬vosa, virou a chave e o automóvel partiu, de novo.

—Dirija-se à Grande Pirâmide — ordenou Lilith. — Vamos! Rápido, antes que cheguem mais soldados!

—É possível que não tenham ouvido os disparos. Os alojamentos onde dormem os substitutos encontram-se no lado norte de Quéops.

—Como você sabe disso? — a voz dela, demonstrava surpresa.

—Tenho amigos que me informam de tudo... Amigos generosos, capazes de pagar uma fortuna para serem os donos da Arca. Eu poderia apresentá-los a você, se quiser.

A sugestão implicava alguma colaboração entre ambas as partes, mas Lilith, muito mais cerebral, não se deixou levar pelo jogo de Cristina, embora não tenha virado totalmente as costas à possibilidade de uma falsa aliança. De certo modo, precisava dela viva, pois no momento certo lhe seria útil toda a informação referente à relíquia e também a força de seus braços. Tirar a Arca da pirâmide, sem ajuda, poderia ser um grave problema. Sempre teria a chance de acabar com ela, uma vez finalizado o trabalho previsto.

—Falaremos sobre isso mais adiante — disse-lhe, sussurrando.

—Agora, dirija!

A senhorita Hiepes não quis insistir, sabia que cedo ou tarde acabariam se associando. Ela também estava levando em conta que seria praticamente impossível a uma pessoa carregar um objeto tão pesado.

Pouco depois, viram o carro de Riera estacionado no acostamento, diante da pirâmide de Quéops. A criptógrafa reduziu a marcha até colocar-se bem atrás do veículo. Apagou as luzes, aguardando novas indicações de Lilith.

—Vejamos se você é capaz de entender — começou dizendo a jovem. — Você é a única que pode me levar até a Arca, porém não seja imprudente e aja com inteligência. Preciso assegurar-me de que não vai tentar nada contra mim, pois se isso acontecer terei de matá-la.

Cristina demonstrou determinação. Não ficou amedrontada diante daquelas palavras e nem sequer chegou a pestanejar.

—Está claro que nós duas queremos a mesma coisa, ainda que por motivos diferentes. Por isso, creio que a confiança deveria ser mútua.

—De acordo — acrescentou a jovem alemã, abrindo a porta do carro para sair. — Mas sou eu quem vai dizer o que fazer com a relíquia, uma vez que seja nossa. Ah... — exclamou, dizendo friamente — lembro que continuo armada.

A espanhola concordou, reconhecendo a primazia de sua adversária. Não era nenhuma tonta. Um movimento em falso e sua vida estaria acabada. Virava história.

Depois de pegar um par de lanternas das mochilas que haviam pertencido aos agentes da Agência de Segurança Nacional, dirigiram-se até a face norte da pirâmide, empurradas pelo forte vento que fustigava suas costas.

Um silêncio profundo as envolveu, enquanto caminhavam pelo planalto, condicionando-as a uma introversão, à luta interna do pensamento. Cada uma à sua maneira tratava de reorganizar a situação, para que a balança se inclinasse a seu favor. É certo que deveriam unir suas forças para vencer o inimigo, mas apenas de forma circunstancial. O fingimento de ambas não podia ocultar o fato de que continuavam sendo adversárias e que, cedo ou tarde, uma das duas apodreceria debaixo da terra, enquanto a outra iniciaria o caminho para a glória.

Depois de uma rápida reflexão, Lilith concluiu que não sabia nada sobre a Arca. O pouco que Cristina lhe contara, durante o trajeto, era informação muito imprecisa. Necessitava aprofundar-se nas origens daquela relíquia legendária, tão oculta como impenetrável, desde tempos imemoriais.

—Afinal, com o que vamos nos deparar? — perguntou, interessada, olhando sua companheira de soslaio.

—Suponho que será a maior descoberta da história — disse a ruiva, sem parar de caminhar.

—Você bem sabe a que me refiro — insistiu a assassina de aluguel, com certa ênfase. — E evite esquivar-se quando faço uma pergunta, se não quiser que eu corte sua língua, como fiz com os outros.

A criptógrafa lamentou ter sido tão descuidada. A astúcia daquela jovem da Europa Central era algo que devia levar em conta sempre. Um detalhe que não podia ignorar.

—Está bem! — tomou fôlego. — O que deseja saber?

—Tudo o que puder me dizer que não esteja escrito nos livros de história.

—Está bem... — rendeu-se, finalmente. — Vou lhe contar qual é a minha teoria... — nesse momento, se deteve para olhar a alemã fixamente. — Na realidade, a Arca é um trono... É o trono onde Moisés se sentava para estabelecer contato direto com Deus.

—Você acredita mesmo nisso?

—Sim, mas, para ser sincera, não estou totalmente segura, pois existem diversas histórias em torno da Arca que afirmam que seu poder provém de uma civilização muito mais avançada que a nossa. Muitos acham que se trata de um transmissor ultrassônico de ondas, outros que é um gerador de energia responsável por manter o planeta vivo.

Lilith sacudiu a cabeça.

—Explique isso — exigiu, impaciente.

—Da mesma forma que o homem usa certos amuletos para canalizar o bem a seu favor, a Terra também necessita da magia que as pedras irradiam. E são os templos que desempenham a função mediadora entre a Mãe Natureza e a ciência do Grande Arquiteto. Daí que os templários construíram suas catedrais por toda a Europa, fazendo-o precisamente onde as forças telúricas atuam de forma positiva sobre a Terra.

—Você fala de nosso planeta como algo vivo.

—E é mesmo! — afirmou Cristina, convencida. — A gravidade, os campos magnéticos, os movimentos sísmicos... Tudo isso faz parte de sua atividade, como um ser vivo. E as pirâmides de Quéops e Quéfren, por assim dizer, viriam a ser as aortas de um mesmo coração, a Arca.

—Ora..., mas não se vive de misticismo... — Lilith estava farta de escutar loucuras. — A mim o que interessa é seu lado destruidor. Ouvi dizer que os judeus a levavam consigo a todas as batalhas para que lhes propiciasse a vitória sobre o inimigo, e que um homem morreu apenas por tocar nela.

—A Bíblia está cheia de relatos semelhantes, histórias que assustariam o homem mais ousado. No Apocalipse, inclusive, é citado o seu poder caótico: "E o Santuário de Deus se abriu e apareceu a Arca da Aliança. Então foram produzidos relâmpagos e trovões e a terra tremeu." — sorriu, insinuando certa incredulidade, para continuar: — Mas nada é certo. A Arca, segundo minha crença, permite que você se comunique com Deus, que não é outra coisa senão uma fonte de energia inesgotável, um milhão de vezes mais poderosa que a nuclear. Daí a importância de manter oculta sua localização do resto dos homens.

—Isso quer dizer que quem venha a possuir a Arca poderá dirigir o destino da humanidade — acrescentou a alemã, pensativa —, o que converteria a pessoa na criatura mais poderosa do planeta.

—Gostei de sua definição. Você não deve esquecer, contudo, que sentar-se no Trono de Deus é algo reservado a uns poucos eleitos, que, certamente possuirão alguma experiência relacionada à maçonaria e seus arcanos secretos. E eu os tenho.

Era verdade. Lilith valorizou o fato de que sem a ajuda de Cristina lhe seria impossível decifrar os mistérios da Arca. Muitas incógnitas poderiam surgir no interior da pirâmide, como hieróglifos que somente uma criptógrafa seria capaz de traduzir.

—E o que me diz das salas da Grande Pirâmide? — quis saber a fria executora da Agência Corpsson. — Até onde sei, estão vazias, inclusive o sarcófago do rei.

—Você quer saber onde a Arca está escondida? — perguntou Cristina.

—Sim, isso mesmo — afirmou, carrancuda. — Porque em alguma parte dessa massa imensa de pedra... — apontou para Quéops, com o indicador — se encontra escondido o que viemos buscar.

—Você tem razão. Não há nada de interessante nas diversas salas da pirâmide, mas sim nos corredores que se estendem abaixo.

A ruiva fez um sinal, para que continuassem caminhando. Não era prudente permanecer ali, pois faltava menos de uma hora para a mudança da guarda.

Pouco depois, chegaram à primeira fileira de pedras. Sem mais perda de tempo, começaram a escalar, subindo de um bloco a outro, assim seguindo até chegar à entrada de Al-Mahmun. Cristina olhou para cima, onde se localizava a porta original. Não disse nada, mas fez um gesto para Lilith, dando-lhe a entender sua intenção de subir um pouco mais. A alemã concordou, deixando-se conduzir.

Finalmente, lograram seu objetivo: chegar à grade que protegia a entrada da siringa. E estava aberta. Isso queria dizer que Leonardo Cardenas e o resto haviam entrado no interior da pirâmide.


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