Capa
Sociologia
Volume único
Ensino Médio
Tempos modernos, tempos de sociologia
Helena Bomeny, Bianca Freire-Medeiros, Raquel Balmant Emerique, Julia O’Donnell
Editora do Brasil
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SOCIOLOGIA
VOLUME ÚNICO
ENSINO MÉDIO
TEMPOS MODERNOS
TEMPOS DE SOCIOLOGIA
HELENA BOMENY
Doutora em Sociologia pelo Instituto Universitário de Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro. Professora titular do Departamento de Sociologia do Instituto de Ciências Sociais – UERJ.
BIANCA FREIRE-MEDEIROS
Doutora em História e Teoria da Arte e da Arquitetura pela Binghamton University – SUNY. Professora adjunta do Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo – USP.
RAQUEL BALMANT EMERIQUE
Doutora em Ciências Sociais pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais – UERJ. Licenciada em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professora adjunta do Departamento de Sociologia do Instituto de Ciências Sociais – UERJ.
JULIA O’DONNELL
Doutora em Antropologia Social pelo Museu Nacional – UFRJ. Professora adjunta do Departamento de Antropologia Cultural do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais – UFRJ.
3ª edição, São Paulo, 2016
Editora do Brasil
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Tempos modernos, tempos de sociologia: ensino médio: volume único / Helena Bomeny... [et al.]. – 3. ed. – São Paulo: Editora do Brasil, 2016.
Outros autores: Bianca Freire-Medeiros, Raquel Balmant Emerique, Julia O’Donnell
ISBN 978-85-10-06155-1 (aluno)
ISBN 978-85-10-06156-8 (professor)
1. Sociologia (Ensino médio) I. Bomeny, Helena. II. Freire-Medeiros, Bianca. III. Emerique, Raquel Balmant.
16-03358
CDD-301
Índices para catálogo sistemático: 1. Sociologia: Ensino Médio 301
© Editora do Brasil S.A., 2016
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Consultoria de iconografia: Tempo Composto Col. de Dados Ltda.
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Coordenação de revisão: Otacilio Palareti
Copidesque: Gisélia Costa, Ricardo Liberal e Sylmara Beletti
Revisão: Alexandra Resende, Ana Carla Ximenes, Andréia Andrade, Elaine Fares e Maria Alice Gonçalves
Coordenação de iconografia: Léo Burgos
Pesquisa iconográfica: Douglas Cometti
Coordenação de arte: Maria Aparecida Alves
Assistência de arte: Carla Del Matto
Design gráfico: Alexandre Gusmão
Capa: Andrea Melo
Imagem de capa: Cena do fime Tempos Modernos, de Charles Chaplin, 1936. Fotografia: Universal Images Group/Diomedia
Ilustrações: Alex Argozino, Cristiane Viana, Formato Comunicações e Paula Radi
Produção cartográfica: DAE (Departamento de Arte e Editoração) Sonia Vaz, Alessandro Passos da Costa
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Editoração eletrônica: Gilvan Alves da Silva
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3ª edição
Editora do Brasil
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Fone: (11) 3226-0211 – Fax: (11) 3222-5583
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Sumário
PARTE I Saberes cruzados 6
Roteiro de viagem 8
Leitura complementar: A promessa 10
Construindo seus conhecimentos 11
Capítulo 1: A chegada dos “tempos modernos” 12
Do campo para a cidade 13
Novos tempos 15
Seres humanos interpretando e transformando o mundo 16
Nova mobilidade de coisas e pessoas 17
Ampliando horizontes e descobrindo o “outro” 19
O Século das Luzes e as grandes revoluções modernas 20
A vez da indústria 22
Afinal, para onde a razão nos conduziu? 23
Leitura complementar: Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789 24
Construindo seus conhecimentos 26
Capítulo 2: Saber o que está perto 30
A Sociologia e a crítica do tempo presente 32
Da Europa do século XIX ao Brasil do século XXI 34
Leitura complementar: Em defesa da Sociologia 36
Construindo seus conhecimentos 37
Capítulo 3: Saber o que está distante 40
Antropologia e alteridade 41
Superando o etnocentrismo científico 42
Lições do trabalho de campo 45
Leitura complementar: Raça e história 46
Construindo seus conhecimentos 48
Capítulo 4: Saber as manhas e a astúcia da política 54
Tempos modernos e a nova ordem política 55
Poder, obediência e suas veredas 57
Democracia e Ciência Política no Brasil 59
A política na vida contemporânea 60
Saberes cruzados 64
Leitura complementar: As políticas públicas 66
Construindo seus conhecimentos 68
PARTE II A Sociologia vai ao cinema 72
Sociologia e cinema 74
Leitura complementar: Imagens em movimento 76
Construindo seus conhecimentos 77
Capítulo 5: O apito da fábrica 78
Em cena: Na linha de montagem 78
Apresentando Émile Durkheim 79
Solidariedade e coesão 79
Direito e anomia 81
Ética e mercado 82
Leitura complementar: Prenoções e o método sociológico 84
Construindo seus conhecimentos 85
Capítulo 6: Tempo é dinheiro! 90
Em cena: A máquina de alimentar 90
Apresentando Max Weber 91
Os caminhos da racionalidade 91
As máquinas modernas 93
O tempo mudou? 94
Mudanças e resistências 95
O protestantismo e o “espírito” do capitalismo 96
O mundo desencantado 96
Leitura complementar: O significado da disciplina 99
Construindo seus conhecimentos 100
Página 4
Capítulo 7: A metrópole acelerada 104
Em cena: O surto e o manicômio 104
Apresentando Georg Simmel 105
Tempos nervosos 105
O ritmo do tempo nas cidades grandes 108
A cultura subjetiva e a cultura objetiva 109
Leitura complementar: O significado sociológico da semelhança e da diferença entre indivíduos 111
Construindo seus conhecimentos 112
Capítulo 8: Trabalhadores, uni-vos! 116
Em cena: Comunista por engano 116
Apresentando Karl Marx 117
Da cooperação à propriedade privada 119
As classes sociais 120
Teoria e prática 122
Leitura complementar: As condições de vida e trabalho dos operários 125
Construindo seus conhecimentos 126
Capítulo 9: Liberdade ou segurança? 132
Em cena: Os confortos da cadeia 132
Apresentando Alexis de Tocqueville 133
Quando a liberdade é ameaçada 133
O Novo Mundo e o sonho da liberdade 134
O Velho Mundo e suas contradições 136
Livre na prisão? 139
Leitura complementar: Do espírito público nos Estados Unidos 140
Construindo seus conhecimentos 142
Capítulo 10: As muitas faces do poder 148
Em cena: A garota órfã 148
Apresentando Michel Foucault 149
Curar e adestrar, vigiar e punir 149
Os corpos dóceis e o saber interessado 152
Indivíduos e populações 153
O poder da resistência 154
Leitura complementar: O panóptico 156
Construindo seus conhecimentos 158
Capítulo 11: Sonhos de civilização 162
Em cena: Lar, doce lar 162
Apresentando Norbert Elias 163
As sociedades reveladas 163
Um manual que virou catecismo 166
Julgar os outros pelo próprio ponto de vista 168
Os sonhos dos novos tempos 169
Leitura complementar: Tecnização e civilização 170
Construindo seus conhecimentos 172
Capítulo 12: Sonhos de consumo 178
Em cena: Na loja de departamentos 178
Apresentando Walter Benjamin 179
A capital do século XIX 180
Um mundo em miniatura 183
Ilusões e realidades da arte e da tecnologia 185
Leitura complementar: Experiência e pobreza 190
Construindo seus conhecimentos 192
Capítulo 13: Caminhos abertos pela Sociologia 196
Em cena: A realidade do sonho 196
Apresentando Um mapa imaginário 198
Um sarau imaginário 199
A estrada aberta e outros caminhos possíveis 202
Leitura complementar: Ruptura histórica 203
Construindo seus conhecimentos 204
PARTE III A Sociologia vem ao Brasil 208
Que país é este? 210
Leitura complementar: O destino nacional 212
Construindo seus conhecimentos 213
Capítulo 14: Brasil, mostra a tua cara! 216
Caras e caras 216
A mancha nacional 219
Tudo virando urbano 222
As muitas famílias 224
Outros brasis 226
Leitura complementar: A situação dos povos indígenas na educação superior 228
Construindo seus conhecimentos 230
Página 5
Capítulo 15: Quem faz e como se faz o Brasil? 234
A Sociologia e o mundo do trabalho 234
Começamos mal ou o passado nos condena? 235
O mercado de gente 236
Trabalho livre: libertos e imigrantes 238
Trabalhadores do Brasil! 239
E as mulheres? E as crianças? 242
Leitura complementar: O rural sobrevive 244
Construindo seus conhecimentos 245
Capítulo 16: O Brasil ainda é um país católico? 250
Por que a Sociologia se interessa pela religião? 250
Em que acreditam os brasileiros? 251
O que diz o Estado e o que faz a sociedade? 254
A polêmica sobre a pluralidade religiosa brasileira 256
Leitura complementar: A invenção de novas religiões 258
Construindo seus conhecimentos 260
Capítulo 17: Qual é sua tribo? 264
Tribos urbanas: encontros entre o arcaico e o tecnológico 264
Identidade ou identificação? 266
“Eu sou punk da periferia” 267
Uma escolha ou um rótulo? 269
“Cada um no seu quadrado” 271
Leitura complementar: A validação do tecnobrega no contexto dos novos processos de circulação cultural 272
Construindo seus conhecimentos 274
Capítulo 18: Desigualdades de várias ordens 278
Brasil, país das desigualdades? 278
Oportunidades iguais, condições iguais? 279
Onde estão e como vão as mulheres no Brasil 281
Todos iguais ou muito diferentes? 284
Negro na pele ou negro no sangue? 286
Raça e racismo na legislação brasileira 289
A geografia da fome 290
Leitura complementar: Segregação residencial 292
Construindo seus conhecimentos 294
Capítulo 19: Participação política, direitos e democracia 300
A vida escrita de um país 300
De volta à democracia 302
Democracia se aprende, cidadania também 305
Uma história do voto no Brasil 307
Cidadãos de que classe? 310
Leitura complementar: O voto 312
Construindo seus conhecimentos 314
Capítulo 20: Violência, crime e justiça no Brasil 320
Pobreza gera violência? 321
Sociabilidade violenta 324
Um problema de todos nós 326
Leitura complementar: Sobre violência contra velhos 328
Construindo seus conhecimentos 330
Capítulo 21: O que os brasileiros consomem? 336
Padrões de consumo 336
O consumo de bens culturais 338
O que vai à mesa? 340
Públicos consumidores e campanhas publicitárias 343
Leitura complementar: Necessidade e consumo 346
Construindo seus conhecimentos 347
Capítulo 22: Interpretando o Brasil 352
Refletindo sobre nós mesmos 352
Civilizados ou cordiais? 353
O Brasil e seus dilemas 357
Missão (quase) impossível 359
Leitura complementar: As novas relações no campo 360
Construindo seus conhecimentos 361
Conceitos sociológicos 364
Referências 378
Página 6
PARTE I Saberes cruzados
Sebastiano Luciano
Ekaterina Panikanova, Celestial Phenomena, 2014. 2,10 m × 2,60 m.
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Roteiro de viagem
1 A chegada dos “tempos modernos”
2 Saber o que está perto
3 Saber o que está distante
4 Saber as manhas e a astúcia da política
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Roteiro de viagem
Paul Bradbury/Caiaimage/Latinstock
A Sociologia trata de questões que reconhecemos. Muitas dessas questões estão presentes em mídias como jornal, rádio, TV e internet, ou em conversas com amigos, como observado na fotografia acima.
Este livro foi escrito para apresentar a Sociologia a jovens estudantes do Ensino Médio – como você. Nossa primeira tarefa é, assim, expor de forma viva e clara o que é a Sociologia. A segunda é despertar seu interesse para esse campo do conhecimento.
A alternativa mais óbvia para enfrentar esse desafio seria escolher um caminho já traçado por outros e nos deixar guiar por uma definição consensual: a Sociologia é uma disciplina intelectual que pretende produzir um conhecimento sistemático sobre as relações sociais. Por trás do consenso, no entanto, encontraríamos uma série de outras perguntas: O que é uma “disciplina intelectual”? Como se produz um “conhecimento sistemático”? O que são “relações sociais”? Essas perguntas carecem de devida explicação e provocam em nós a vontade de ir adiante, perguntar e refletir mais para saber melhor. Foi aí que a lembrança de um famoso sociólogo nos ajudou. Anthony Giddens escreveu certa vez que “[...] a objeção que os membros leigos da sociedade frequentemente fazem aos postulados da Sociologia é [...] que seus ‘achados’ não lhes dizem nada além do que já sabem – ou, o que é pior, vestem com linguagem técnica o que é perfeitamente familiar na terminologia de todos os dias”. Em outras palavras, aqueles que criticam a Sociologia, segundo Giddens, muitas vezes dizem que ela trata do que todo mundo sabe em uma linguagem que ninguém entende. Por que se diz que a Sociologia “trata do que todo mundo sabe”?
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A Sociologia se debruça sobre fenômenos sociais que afetam nosso dia a dia. Afinal, somos seres que, por definição, vivem em sociedade. Algumas vezes, colaboramos e competimos uns com os outros, e em outras entramos em conflito uns com os outros – qualquer que seja a alternativa, estamos sempre em relação. Mesmo os que optam por viver isoladamente, longe do contato com outros seres humanos, carregam consigo uma noção, uma ideia de “sociedade” da qual pretendem se afastar e cujos princípios renegam. Não à toa, o que estamos chamando aqui de fenômenos sociais muitas vezes provoca indagações. Por que a vida em sociedade é como é? Por que uns têm tanto e outros, tão pouco? Por que obedecemos ou contestamos? Por que as pessoas se unem ou se tornam rivais? O que é proibido e o que nos é imposto como obrigação? Por que os governos se organizam de determinada maneira e não de outra? Essas e outras questões nos intrigam, mesmo que não sejamos sociólogos de ofício. Quando, por exemplo, conversamos com um amigo ou colega, somos capazes de expressar opinião sobre qualquer um desses temas. Portanto, fazemos as mesmas perguntas que a Sociologia faz e identificamos os problemas nelas envolvidos. Nesse sentido, sabemos daquilo que a Sociologia trata. Mas será que a Sociologia usa mesmo “uma linguagem que ninguém entende”?
Sem dúvida, a Sociologia trata de questões que reconhecemos, mas com uma linguagem própria, diferente daquela a que estamos acostumados na vida cotidiana. É que a Sociologia se expressa por meio de conceitos, ou seja, noções formuladas de modo deliberado e preciso, e não por meio do senso comum. O senso comum refere-se a um “saber-fazer”, a uma habilidade baseada na experiência prática, cujo domínio possibilita a realização de tarefas específicas: para fazer um ovo cozido, é preciso saber cozinhar. O senso comum inclui ainda o que a Filosofia chama de conhecimento proposicional, ou seja, um conhecimento que não é prático, um “saber que”: você não precisa ser sociólogo para saber que a sociedade é composta de pessoas com diferentes níveis de renda. Crenças sem qualquer justificação plausível, aquilo que chamamos de superstição, assim como convicções morais e políticas, também formam o senso comum. Por mais parcial ou fragmentada que seja a noção que as pessoas têm de como funciona o mundo social, esse é um conhecimento que fundamenta suas ações e interações cotidianas. É o que Giddens chama de “sociologias práticas”, conhecimentos que quaisquer pessoas utilizam rotineiramente e que não pressupõem necessariamente o domínio de regras formais. A Sociologia como disciplina se vale do senso comum na medida em que usa essas explicações que as pessoas dão para sua existência social como objeto de estudo.
Mas será que realmente existe apenas uma Sociologia? Ou seria mais adequado falarmos em “teorias sociológicas”?
A Sociologia, e sua pluralidade de vertentes teóricas, ajuda-nos a refletir sobre nossas certezas, põe sob observação as opiniões mais arraigadas. Uma boa teoria sociológica é como um Sistema de Posicionamento Global (GPS): ela nos ajuda a identificar os pontos relevantes, guia-nos em percursos mais sinuosos e evita que nos percamos entre lugares e fatos triviais. Fruto da concepção de seres humanos em um tempo específico, a Sociologia se aproxima da ideia de um mapa em construção, um GPS que só é eficiente à medida que se atualiza. Ela é um campo do conhecimento que modifica nossa percepção do cotidiano e, assim, contribui alterando a maneira pela qual enxergamos a própria vida e o mundo que nos cerca. Voltando à crítica de Anthony Giddens, podemos concordar com a primeira parte, contanto que o fim seja modificado: a Sociologia trata daquilo que já sabemos de um modo que não conhecíamos antes. E quanto mais conhecemos a organização geral da sociedade, seus diferentes grupos e interesses, seus valores e suas instituições coletivas, mais capacidade temos de intervir na realidade e transformá-la.
Essa maneira de olhar as motivações dos indivíduos e as relações que estabelecem em sua vida cotidiana dependeram de acontecimentos que possibilitaram a construção de um conhecimento especial. A Sociologia apresentada neste livro é filha direta do que ficou conhecido como “tempos modernos”. Os próximos capítulos nos ajudarão a entrar na atmosfera desse tempo de grandes transformações, fazendo com que seja possível levar a ciência da sociedade aos estudantes do Ensino Médio. Venha conosco! A viagem está começando.
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Leitura complementar
A promessa
Hoje em dia, os homens sentem, frequentemente, suas vidas privadas como uma série de armadilhas. Percebem que, dentro dos mundos cotidianos, não podem superar as suas preocupações, e quase sempre têm razão nesse sentimento: tudo aquilo de que os homens comuns têm consciência direta e tudo o que tentam fazer está limitado pelas órbitas privadas em que vivem. Sua visão, sua capacidade estão limitadas pelo cenário próximo: o emprego, a família, os vizinhos; em outros ambientes, movimentam-se como estranhos, e permanecem espectadores. [...]
Subjacentes a essa sensação de estar encurralados estão mudanças aparentemente impessoais na estrutura mesma de sociedades e que se estendem por continentes inteiros. As realidades da história contemporânea constituem também realidades para êxito e fracasso de homens e mulheres individualmente. Quando uma sociedade se industrializa, o camponês se transforma em trabalhador; o senhor feudal desaparece, ou passa a ser homem de negócios. Quando as classes ascendem ou caem, o homem tem emprego ou fica desempregado; quando a taxa de investimento se eleva ou desce, o homem se entusiasma, ou se desanima. Quando há guerras, o corretor de seguros se transforma no lançador de foguetes, o caixeiro da loja, em homem do radar; a mulher vive só, a criança cresce sem pai. A vida do indivíduo e a história da sociedade não podem ser compreendidas sem compreendermos essas alternativas.
E, apesar disso, os homens não definem, habitualmente, suas ansiedades em termos de transformação histórica [...]. O bem-estar que desfrutam, não o atribuem habitualmente aos grandes altos e baixos da sociedade em que vivem. Raramente têm consciência da complexa ligação entre suas vidas e o curso da história mundial [...]. Não dispõem da qualidade intelectual básica para sentir o jogo que se processa entre os homens e a sociedade, a biografia e a história, o eu e o mundo. Não podem enfrentar suas preocupações pessoais de modo a controlar sempre as transformações estruturais que habitualmente estão atrás deles. [...]
A própria evolução da história ultrapassa, hoje, a capacidade que têm os homens de se orientarem de acordo com valores que amam. E quais são esses valores? [...] as velhas maneiras de pensar e sentir entraram em colapso. [...] Que – em defesa do eu – se tornem moralmente insensíveis, tentando permanecer como seres totalmente particulares? [...]
Não é apenas de informação que precisam. [...]
O que precisam [...] é uma qualidade do espírito que lhes ajude a usar a informação e a desenvolver a razão, a fim de perceber com lucidez o que está ocorrendo no mundo e o que pode estar acontecendo dentro deles mesmos. É essa qualidade, afirmo, que jornalistas e professores, artistas e públicos, cientistas e editores estão começando a esperar daquilo que poderemos chamar de imaginação sociológica. [...]
O primeiro fruto dessa imaginação – e a primeira lição da ciência social que a incorpora – é a ideia de que o indivíduo só pode compreender a sua própria experiência e avaliar seu próprio destino localizando-se dentro de seu próprio período; só pode conhecer suas possibilidades na vida tornando-se cônscio das possibilidades de todas as pessoas, nas mesmas circunstâncias em que ele.
MILLS, C. Wright. A imaginação sociológica. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1980 [1959]. p. 9-12 (grifo nosso).
Sessão de cinema
Forrest Gump: o contador de histórias
EUA, 1994, 142 min. Direção de Robert Zemeckis.
Wendy Finerman/Steve Tish/Paramount Pictures
Enquanto espera a chegada de um ônibus, Forrest Gump relata sua trajetória a pessoas sentadas próximas a ele, entrelaçando sua biografia a acontecimentos da história de seu país.
Memórias póstumas de Brás Cubas
Brasil, 2001, 101 min. Direção de André Klotzel.
Cinemate material cinematográfico
Adaptado do romance homônimo de Machado de Assis, o defunto Brás Cubas decide se distrair na eternidade relembrando fatos de sua vida e de seu tempo.
Página 11
Construindo seus conhecimentos
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