Tempos modernos tempos de sociologia helena bomeny


(Bocaiúva, Minas Gerais, 3 de novembro de 1935 – Rio de Janeiro, 9 de agosto de 1997)



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(Bocaiúva, Minas Gerais, 3 de novembro de 1935 – Rio de Janeiro, 9 de agosto de 1997)

Otávio Dias de Oliveira/Folhapress

Herbert de Souza, 1993.

É impossível falar no tema da fome no Brasil sem lembrar outro sociólogo: Herbert de Souza, o Betinho. “A alma da fome é política!”, dizia ele, numa afirmação que lembra bastante a proposta delineada por Josué de Castro. Conhecido por sua militância, Betinho engajou-se na luta contra a ditadura na década de 1960, o que lhe rendeu oito anos vivendo no Chile, México e Canadá como exilado político. De volta ao Brasil, em 1979, tornou-se um dos símbolos do processo de abertura política e dois anos mais tarde fundou o Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase).

Defensor da Reforma Agrária, Betinho dizia que a concentração de terra era a principal causa da miséria e da fome no Brasil. Foi com essa certeza que, paralelamente aos trabalhos de articulação na Campanha Nacional pela Reforma Agrária, na década de 1990, ele desenvolveu a “Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida” (ou simplesmente a Campanha contra a Fome), que fez dele uma referência internacional no assunto. Entre 1993 e 2005, com comitês espalhados por todo o Brasil, a campanha criada por Betinho arrecadou 30 mil toneladas de alimentos, que foram distribuídos por todo o território nacional, beneficiando cerca de 15 milhões de pessoas. Mas, para além dos alimentos arrecadados, o ganho mais permanente da campanha foi sua contribuição decisiva para que o tema da pobreza ingressasse de forma definitiva no centro do debate político, tornando-o visível a todos os brasileiros. Ao mobilizar a discussão integrada de temas como saúde, nutrição, tecnologia e desenvolvimento local, ela provocou uma reflexão mais ampla acerca das relações entre economia, políticas sociais e qualidade de vida.

Ainda ouvimos muito sobre a possibilidade de uma futura escassez mundial de alimentos, associada ao crescimento da população e à impossibilidade de produzir comida para todos. Mas basta lembrarmos que, atualmente, cerca de 40 mil toneladas de comida são desperdiçadas diariamente no país (quantidade suficiente para alimentar 19 milhões de pessoas) para percebermos que a questão envolve, em casos como o do Brasil, principalmente a possibilidade de acesso à comida.

De acordo com uma pesquisa feita pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), a desnutrição brasileira caiu 82,1% entre 2002 e 2014. Com isso, o número de pessoas desnutridas passou a ser em torno de 3,4 milhões, o equivalente a 1,7% da população do país. Apesar disso, estima-se que, em 2013, 22,6% dos brasileiros (cerca de 50 milhões de pessoas) viviam em situação de insegurança alimentar, ou seja, sem garantia de que fariam três refeições diárias em quantidade e qualidade suficientes. Além disso, estudos recentes mostram que a fome no Brasil mudou de cara. Antes relacionada exclusivamente à magreza, a fome hoje aparece também sob a forma de obesidade. Parece estranho? É que o sobrepeso, em regiões muito pobres, está associado ao consumo excessivo de carboidratos, que mascaram a falta de nutrientes e vitaminas. É a fome oculta, de que nos falava Josué de Castro e que, para muitos especialistas em nutrição, chega ao século XXI marcada também pelo crescimento da população obesa.

Os três exemplos tratados neste capítulo (gênero, etnia e fome) não esgotam a questão da desigualdade do ponto de vista da relação entre pessoas e grupos. Eles nos dão pistas sobre formas de discriminação que afetam de maneira diferenciada a população brasileira. A Constituição de 1988 trouxe esse debate à tona e abriu espaço para que muitos grupos que se sentem discriminados defendam seus direitos.

Recapitulando

Em nome da igualdade – ideal proclamado pela Revolução Francesa –, as hierarquias sociais baseadas em privilégios de nascimento foram contestadas, e os méritos e talentos individuais se tornaram critérios válidos de distinção social. A modernidade, contudo, também se tornou palco de múltiplas expressões de desigualdades, derivadas da distribuição dos bens materiais e culturais produzidos. Quando os sociólogos abordam esse problema, procuram encontrar as relações de um tipo de desigualdade (desigualdade de renda, de gênero, racial, de oportunidade, de condição etc.) com outro a fim de conhecer como as desigualdades se reforçam e se multiplicam.

A desigualdade na distribuição da renda – contraste entre ricos e pobres – é a mais evidente expressão da injustiça social, pois priva os mais vulneráveis do direito à vida (a baixa renda pode ocasionar fome e subnutrição), do direito de abrigar-se (é o caso dos sem-teto, dos moradores de ruas ou dos sem-terra) e até mesmo do direito à liberdade e ao trabalho digno. Indivíduos ou grupos podem apresentar condições desiguais ainda que tenham tido as mesmas oportunidades e se encontrem em posições semelhantes.

As desigualdades sociais são concomitantemente causa e consequência da exclusão e da discriminação social, e muitas políticas públicas e ações sociais de organizações não governamentais, instituições filantrópicas, voluntários etc. voltam-se para a inclusão e a afirmação de segmentos em situações desvantajosas.


Página 292

Leitura complementar


Segregação residencial

O que é segregação residencial? [...] é o grau de aglomeração de um determinado grupo social/étnico em uma dada área. Nesse sentido, a formação de condomínios fechados de alta renda – como os da Barra (Rio de Janeiro) ou os de Alphaville (São Paulo) – poderia ser considerada uma forma de autossegregação.

[Usando uma definição mais rigorosa, é o] processo por meio do qual uma determinada população é forçada de modo involuntário a se agrupar em uma dada área. Entre os componentes que induziriam essa aglomeração forçada estariam tanto mecanismos de mercado – que induzem à valorização ou à desvalorização imobiliária de determinadas áreas – como instrumentos institucionais (taxação, investimentos públicos, remoção de favelas etc.) e práticas efetivas de discriminação (por exemplo, por parte de agentes imobiliários).

Essa definição também ressalta o aspecto, algumas vezes menosprezado, de que a segregação é – sobretudo – um fenômeno relacional: só existe segregação de um grupo quando outro grupo se segrega ou é segregado. [...]



[...] De modo geral, seis elementos principais podem ser apresentados como evidência de que a segregação residencial contribui para o aumento e/ou a perpetuação da pobreza:

Má qualidade residencial, riscos ambientais e para a saúde: A principal maneira por meio da qual as famílias de menor renda lidam com a disputa pelo espaço urbano no mercado de terras tem a ver com a busca por residências e/ou áreas desvalorizadas, isto é, domicílios pequenos, mal dotados de infraestrutura urbanística e, muitas vezes, sujeitos a riscos de diversos tipos relacionados à ausência de saneamento e a problemas ambientais como inundações e deslizamentos. [...]

Custos de moradia desproporcionais: De modo geral, famílias mais pobres tendem a apresentar um gasto com moradia [...] superior ao de famílias de classe média e alta. [...] Como consequência, a renda disponível para o consumo de alimentos e outros bens e serviços é proporcionalmente menor, contribuindo para o empobrecimento relativo dessas famílias. [...]

Efeitos de vizinhança: Diversos estudos evidenciam que crescer em bairros com alta concentração de pobreza tem efeitos negativos relevantes em termos de avanço educacional, emprego, gravidez na adolescência e atividade criminal. Embora os mecanismos que explicam a relação entre pior desempenho educacional e residência em locais de elevada concentração de pobres, por exemplo, não sejam bem conhecidos, é evidente que o pior desempenho educacional nessas áreas contribui para perpetuar e reproduzir a pobreza a longo prazo. Por outro lado, na medida em que a rede de relações sociais de um indivíduo ou família contribui para seu acesso a empregos e a serviços públicos, o isolamento social presente nas áreas segregadas tende a contribuir significativamente para a redução das oportunidades das famílias residentes nesses locais.

Distância entre moradia e emprego: Este fenômeno [...] diz respeito à baixa frequência de empregos nos locais de moradia da população de baixa renda. [...] Como consequência, a moradia em periferias distantes e em cidades-dormitórios além de aumentar os custos de transporte, com impactos para a renda disponível e conforto dos moradores, traz também efeitos sobre o acesso à informação sobre postos de trabalho, bem como eleva substancialmente os custos de procurar emprego.

A moradia em situação irregular: A posse irregular da terra, em favelas ou loteamentos clandestinos, induz pior acesso a serviços públicos. Tal fenômeno ocorre porque a provisão de serviços públicos nesses locais tende a ser problemática, uma vez que – em muitos casos – a oferta de serviços depende da existência de terras pertencentes ao Estado (ou passíveis de aquisição), disponíveis para a construção de escolas, infraestrutura urbana e outros equipamentos sociais.

A moradia como fator de geração de renda: Por diversas razões, a moradia pode ser também entendida como um fator de geração de renda. Espaço residencial pode ser utilizado para fins produtivos: cômodos podem ser alugados; produtos podem ser estocados; a casa pode ser o locus de produção de roupas, alimentos e serviços; a casa pode ser utilizada como ponto de venda. [...] Todas essas possibilidades são menos prováveis em locais muito segregados, em virtude da fragilidade do mercado local, da ausência de espaço disponível, da precariedade tanto de residências como do status jurídico dos domicílios.

Em suma, existe grande evidência [...] de que, por diferenciados mecanismos, a segregação espacial contribui para a reprodução da pobreza e de problemas sociais nas áreas de emprego, educação, habitação, saúde, transportes, geração de renda e segurança pública.

TORRES, Haroldo da Gama. Segregação residencial e políticas públicas: São Paulo na década de 1990. Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo: Anpocs, v. 19, n. 54, p. 41-55, fev. 2004. Disponível em: . Acesso em: maio 2016.
Página 293

Fique atento!


Definição dos conceitos sociológicos estudados neste capítulo.
Desigualdade: no verbete “Igualdade/desigualdade” da seção Conceitos sociológicos, página 371.
Direitos sociais: na seção Conceitos sociológicos, página 367.
Discriminação racial: na página 284.
Etnia: no verbete “Etnia/raça” da seção Conceitos sociológicos, página 369.
Gênero: na página 282.
Igualdade: no verbete “Igualdade/desigualdade” da seção Conceitos sociológicos, página 371.
Meritocracia: na página 279.
Mobilidade social: na seção Conceitos sociológicos, página 373.

Sessão de cinema



Morte e vida severina

Brasil, 1977, 85 min. Direção de Zelito Viana.



Embrafilme/Mapa Filmes

Filme inspirado no livro homônimo de João Cabral de Melo Neto. Mostra a saga dos nordestinos do sertão em direção ao litoral, em busca de trabalho e uma vida melhor.

Que horas ela volta?

Brasil, 2015, 111 min. Direção de Anna Muylaert.



Gullane Filmes/Africa Filmes/Globo Filmes

Val deixou a filha no interior de Pernambuco para trabalhar em São Paulo, à procura de estabilidade financeira. Treze anos depois, sua filha vai à capital paulista prestar vestibular. Ela questiona então a forma pela qual Val é tratada na casa dos patrões.

Branco sai, preto fica

Brasil, 2014, 83 min. Direção de Adirley Queirós.



Cinco da Norte

Tiros em um baile de black music na periferia de Brasília ferem dois homens, que ficam marcados para sempre. Um terceiro vem do futuro para investigar o acontecido e provar que a culpa é da sociedade repressiva.

Reforma Universitária: o que é que eu tenho a ver com isso?

Brasil, 2007. Documentário, 26 min. Direção de Felipe Peres Calheiros.



O tema do documentário é a exclusão do Ensino Superior de cerca de 90% dos jovens brasileiros entre 18 e 24 anos de idade. A reforma do sistema universitário pernambucana é abordada como um recurso político visando à extensão do direito à educação superior para um maior número de cidadãos. Disponível em:


. Acesso em: maio 2016.

O xadrez das cores

Brasil, 2004. 22 min. Direção de Marco Schiavon.



Cida é a acompanhante de dona Estela, uma mulher branca que a discrimina por causa de sua cor. A relação entre as duas mulheres muda ao jogarem xadrez. Disponível em


. Acesso em: maio 2016.
Página 294

Construindo seus conhecimentos



MONITORANDO A APRENDIZAGEM

1. Você aprendeu que a palavra desigualdade, quando usada pelos sociólogos, necessita de um complemento: desigualdade de renda, desigualdade de gênero etc. Por essa razão, o título do capítulo traz a palavra no plural: Desigualdades de várias ordens.

Proponha uma definição para as desigualdades em geral e explique o que significa dizer que “as desigualdades se reforçam”.



2. Explique com suas palavras o que é igualdade de oportunidades e igualdade de condições.

3. Explique a frase a seguir.

“Masculino e feminino são mais que traços biológicos: são construções arbitrárias, variáveis segundo cada cultura e cada sociedade.”



4. Oracy Nogueira, em seus estudos, identificou duas formas de preconceito: de marca e de origem. Explique cada um deles.

5. O que faz contraste com a desigualdade é a igualdade. A primeira palavra tem um conteúdo negativo, e a segunda, positivo. Mas será que toda igualdade é realmente positiva e toda desigualdade é negativa?

Para refletir sobre isso, compare o conteúdo deste capítulo com o do capítulo anterior (sobre as tribos urbanas), no qual também falamos sobre a igualdade e a desigualdade, mas com outra abordagem, mencionando que a diversidade de estilos de vida é positiva e que toda manifestação cultural deve ser respeitada e tratada com tolerância.

A igualdade, nesse contexto, significaria homogeneizar as pessoas, eliminar as diferenças que tornam a vida social tão rica.

Reflita sobre os aspectos positivos e os negativos da igualdade e da desigualdade/diferença e em seguida redija um texto que explore alguns exemplos.



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DE OLHO NO ENEM

1. (Enem 2015)

A população negra teve que enfrentar sozinha o desafio da ascensão social, e frequentemente procurou fazê-lo por rotas originais, como o esporte, a música e a dança. Esporte, sobretudo o futebol, música, sobretudo o samba, e dança, sobretudo o carnaval, foram os principais canais de ascensão social dos negros até recentemente. A libertação dos escravos não trouxe consigo a igualdade efetiva. Essa igualdade era afirmada nas leis, mas negada na prática. Ainda hoje, apesar das leis, aos privilégios e arrogâncias de poucos correspondem o desfavorecimento e a humilhação de muitos.

CARVALHO, J. M. Cidadania no Brasil: o longo caminho. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006 (adaptado).

Em relação ao argumento de que no Brasil existe uma democracia racial, o autor demonstra que



(A) essa ideologia equipara a nação a outros países modernos.
(B) esse modelo de democracia foi possibilitado pela miscigenação.
(C) essa peculiaridade nacional garantiu mobilidade social aos negros.
(D) esse mito camuflou formas de exclusão em relação aos afrodescendentes.
(E) essa dinâmica política depende da participação ativa de todas as etnias.
Página 295

2. (Enem 2011)

A Lei 10.639, de 9 de janeiro de 2003, inclui no currículo dos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, a obrigatoriedade do ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira e determina que o conteúdo programático incluirá o estudo da História da África e dos africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil, além de instituir, no calendário escolar, o dia 20 de novembro como data comemorativa do “Dia da Consciência Negra”.

Disponível em: http://www.planalto.gov.br. Acesso em: 27 jul. 2010 (adaptado).

A referida lei representa um avanço não só para a educação nacional, mas também para a sociedade brasileira, porque



(A) legitima o ensino das ciências humanas nas escolas.
(B) divulga conhecimentos para a população afro-brasileira.
(C) reforça a concepção etnocêntrica sobre a África e sua cultura.
(D) garante aos afrodescendentes a igualdade no acesso à educação.
(E) impulsiona o reconhecimento da pluralidade etnicorracial do país.

3. (Enem 2010)

A primeira instituição de ensino brasileira que inclui disciplinas voltadas ao público LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transexuais) abriu inscrições na semana passada. A grade curricular é inspirada em similares dos Estados Unidos da América e da Europa. Ela atenderá jovens com aulas de expressão artística, dança e criação de fanzines. É aberta a todo público estudantil e tem como principal objetivo impedir a evasão escolar de grupos socialmente discriminados.

Época, 11 jan. 2010 (adaptado).

O texto trata de uma política pública de ação afirmativa voltada ao público LGBT. Com a criação de uma instituição de ensino para atender esse público, pretende-se



(A) contribuir para a invisibilidade do preconceito ao grupo do LGBT.
(B) copiar os modelos educacionais dos EUA e da Europa.
(C) permitir o acesso desse segmento ao ensino técnico.
(D) criar uma estratégia de proteção e isolamento.
(E) promover o respeito à diversidade sexual no sistema de ensino.

4. (Enem 2015)

Ninguém nasce mulher: torna-se mulher. Nenhum destino biológico, psíquico, econômico define a forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade; é o conjunto da civilização que elabora esse produto intermediário entre o macho e o castrado que qualificam o feminino.

BEAUVOIR, S. O segundo sexo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980.

Na década de 1960, a proposição de Simone de Beauvoir contribuiu para estruturar um movimento social que teve como marca o(a)



(A) ação do Poder Judiciário para criminalizar a violência sexual.
(B) pressão do Poder Legislativo para impedir a dupla jornada de trabalho.
(C) organização de protestos públicos para garantir a igualdade de gênero.
(D) oposição de grupos religiosos para impedir os casamentos homoafetivos.
(E)estabelecimento de políticas governamentais para promover ações afirmativas.
Página 296

5. (Enem 2015)

ENEM, 2015

GILMAR. Disponível em: www.deficientefisico.com. Acesso em: 6 dez. 2012.

O cartum evidencia um desafio que o tema da inclusão social impõe às democracias contemporâneas. Esse desafio exige a combinação entre



(A) a participação política e formação profissional diferenciada.
(B) exercício da cidadania e políticas de transferência de renda.
(C) modernização das leis e ampliação do mercado de trabalho.
(D) universalização de direitos e reconhecimento das diferenças.
(E) crescimento econômico e flexibilização dos processos seletivos.

ASSIMILANDO CONCEITOS

Vá até a página 242 e analise o gráfico do “Valor médio dos rendimentos mensais por sexo e por cor” (Brasil, IBGE, Censo 2010).

Selecione no gráfico dados que confirmem a mensagem transmitida pela charge abaixo.

Tom Toles © 2014 Tom Toles/Dist. by Universal Uclick

Charge de Tom Toles. Disponível em: . Acesso em: maio 2016.
Página 297

[ícone] ATIVIDADE INTERDISCIPLINAR

OLHARES SOBRE A SOCIEDADE

1. Leia o texto e faça o que se pede.

RACISMO

– Escuta aqui, ó criolo...

– O que foi?

– Você andou dizendo por aí que no Brasil existe racismo.

– E não existe?

– Isso é negrice sua. E eu que sempre te considerei um negro de alma branca... É, não adianta. Negro quando não faz na entrada...

– Mas aqui existe racismo.

– Existe nada. Vocês têm toda a liberdade, têm tudo o que gostam. Têm carnaval, têm futebol, têm melancia... E emprego é o que não falta. Lá em casa, por exemplo, estão precisando de empregada. Pra ser lixeiro, pra abrir buraco, ninguém se habilita. Agora, pra uma cachacinha e um baile estão sempre prontos. Raça de safados! E ainda se queixam!

– Eu insisto, aqui tem racismo.

– Então prova, Beiçola. Prova. Eu alguma vez te virei a cara? Naquela vez que te encontrei conversando com a minha irmã, não te pedi com toda a educação que não aparecesse mais na nossa rua? Hein, tição? Quem apanhou de toda a família foi a minha irmã. Vais dizer que nós temos preconceito contra branco?

– Não, mas...

– Eu expliquei lá em casa que você não fez por mal, que não tinha confundido a menina com alguma empregadoza de cabelo ruim, não, que foi só um engano porque negro é burro mesmo. Fui teu amigão. Isso é racismo?

– Eu sei, mas...

– Onde é que está o racismo, então? Fala, Macaco.

– É que outro dia eu quis entrar de sócio num clube e não me deixaram.

– Bom, mas pera um pouquinho. Aí também já é demais. Vocês não têm clubes de vocês? Vão querer entrar nos nossos também? Pera um pouquinho.

– Mas isso é racismo.

– Racismo coisa nenhuma! Racismo é quando a gente faz diferença entre as pessoas por causa da cor da pele, como nos Estados Unidos. É uma coisa completamente diferente. Nós estamos falando do crioléu começar a frequentar clube de branco, assim sem mais nem menos. Nadar na mesma piscina e tudo.

– Sim, mas...

– Não, senhor. Eu, por acaso, quero entrar nos clubes de vocês? Deus me livre.

– Pois é, mas...

– Não, tem paciência. Eu não faço diferença entre negro e branco, pra mim é tudo igual. Agora, eles lá e eu aqui. Quer dizer, há um limite.

– Pois então. O...

– Você precisa aprender qual é o seu lugar, só isso.

– Mas...

– E digo mais. É por isso que não existe racismo no Brasil. Porque aqui o negro conhece o lugar dele.

– É, mas...

– E enquanto o negro conhecer o lugar dele, nunca vai haver racismo no Brasil. Está entendendo? Nunca. Aqui existe o diálogo.

– Sim, mas...

– E agora chega, você está ficando impertinente. Bate um samba aí que é isso que tu faz bem.

Luis Fernando Verissimo. Comédias da vida pública. LP&M, Porto Alegre. © by Luis Fernando Verissimo.
Página 298

■ Luis Fernando Verissimo, autor do diálogo que você acabou de ler, captou com grande sensibilidade o “racismo à moda brasileira”. O diálogo entre um personagem negro e outro branco parece muito mais um monólogo – o negro não consegue completar suas frases porque sempre é interrompido pelo branco, que não demonstra interesse algum em escutar o que seu interlocutor diz. O branco defende a ideia de que não há preconceito no Brasil. Destaque no texto as expressões ou frases do branco que evidenciam seu preconceito racial.



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