Tempos modernos tempos de sociologia helena bomeny



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Bens culturais: na página 338.
Estratificação social: na seção Conceitos sociológicos, página 369.
Grupo focal: na seção Conceitos sociológicos, página 370.
Metodologias qualitativas/quantitativas: na seção Conceitos sociológicos, página 372.
Opinião pública: na seção Conceitos sociológicos, página 374.
Socialização: na seção Conceitos sociológicos, página 376.

Sessão de cinema



Estamira

Brasil, 2006, 115 min. Direção de Marcos Prado.



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Europa Filmes

Documentário sobre Estamira Gomes de Sousa, uma mulher de 63 anos que mora e trabalha em um aterro sanitário, situado em Jardim Gramacho, no Rio de Janeiro.

Muito além do peso

Brasil, 2012, 84 min. Direção de Estela Renner.



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Maria Farinha Filmes

O filme aborda o problema da obesidade infantil no Brasil e os efeitos da propaganda de alimentos nas crianças.
Página 347

Construindo seus conhecimentos



MONITORANDO A APRENDIZAGEM

1. Consulte, na página 337, o quadro do boxe Economia de mercado e cite outros exemplos de:

a) bens tangíveis, não duráveis e supérfluos;

b) bens essenciais tangíveis e intangíveis;

c) recursos renováveis e não renováveis.

2. Nossos gostos e preferências – aspectos que orientam as escolhas que fazemos quando consumimos produtos ou bens culturais – são naturais ou recebem outro tipo de influência? Explique.

3. O que significa dizer que os alimentos são consumidos de forma cultural? Cite exemplos.

4. O que significa ser um consumidor-cidadão?

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DE OLHO NO ENEM

1. (Enem 2010)

Os tropeiros foram figuras decisivas na formação de vilarejos e cidades no Brasil colonial. A palavra tropeiro vem de “tropa” que, no passado, se referia ao conjunto de homens que transportava gado e mercadoria. Por volta do século XVIII, muita coisa era levada de um lugar a outro no lombo de mulas. O tropeirismo acabou associado à atividade mineradora, cujo auge foi a exploração de ouro em Minas Gerais e, mais tarde, em Goiás. A extração de pedras preciosas também atraiu grandes contingentes populacionais para as novas áreas e, por isso, era cada vez mais necessário dispor de alimentos e produtos básicos. A alimentação dos tropeiros era constituída por toucinho, feijão-preto, farinha, pimenta-do-reino, café, fubá e coité (um molho de vinagre com fruto cáustico espremido). Nos pousos, os tropeiros comiam feijão quase sem molho com pedaços de carne de sol e toucinho, que era servido com farofa e couve picada. O feijão tropeiro é um dos pratos típicos da cozinha mineira e recebe esse nome porque era preparado pelos cozinheiros das tropas que conduziam o gado.

Disponível em: http://tribunadoplanalto.com.br. Acesso em: 27 nov. 2008.

A criação do feijão tropeiro na culinária brasileira está relacionada à



(A) atividade comercial exercida pelos homens que trabalham nas minas.
(B) atividade culinária exercida pelos moradores cozinheiros que viviam nas regiões das minas.
(C) atividade mercantil exercida pelos homens que transportavam gado e mercadoria.
(D) atividade agropecuária exercida pelos tropeiros que necessitavam dispor de alimentos.
(E) atividade mineradora exercida pelos tropeiros no auge da exploração do ouro.

2. (Enem 2004)

Entre outubro e fevereiro, a cada ano, em alguns estados das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, os relógios permanecem adiantados em uma hora, passando a vigorar o chamado horário de verão. Essa medida, que se repete todos os anos, visa



(A) promover a economia de energia, permitindo um melhor aproveitamento do período de iluminação natural do dia, que é maior nessa época do ano.
(B) diminuir o consumo de energia em todas as horas do dia, propiciando uma melhor distribuição da demanda entre o período da manhã e da tarde.
(C) adequar o sistema de abastecimento das barragens hidrelétricas ao regime de chuvas, abundantes nessa época do ano nas regiões que adotam esse horário.
Página 348

(D) incentivar o turismo, permitindo um melhor aproveitamento do período da tarde, horário em que os bares e restaurantes são mais frequentados.
(E) responder a uma exigência das indústrias, possibilitando que elas realizem um melhor escalonamento das férias de seus funcionários.

3. (Enem 2007)

Quanto mais desenvolvida é uma nação, mais lixo cada um de seus habitantes produz. Além de o progresso elevar o volume de lixo, ele também modifica a qualidade do material despejado. Quando a sociedade progride, ela troca a televisão, o computador, compra mais brinquedos e aparelhos eletrônicos. Calcula-se que 700 milhões de aparelhos celulares já foram jogados fora em todo o mundo. O novo lixo contém mais mercúrio, chumbo, alumínio e bário. Abandonado nos lixões, esse material se deteriora e vaza. As substâncias liberadas infiltram-se no solo e podem chegar aos lençóis freáticos ou a rios próximos, espalhando-se pela água.

Anuário Gestão Ambiental 2007, p. 47-48 (com adaptações).

A respeito da produção de lixo e de sua relação com o ambiente, é correto afirmar que



(A) as substâncias químicas encontradas no lixo levam, frequentemente, ao aumento da diversidade de espécies e, portanto, ao aumento da produtividade agrícola do solo.
(B) o tipo e a quantidade de lixo produzido pela sociedade independem de políticas de educação que proponham mudanças no padrão de consumo.
(C) a produção de lixo é inversamente proporcional ao nível de desenvolvimento econômico das sociedades.
(D) o desenvolvimento sustentável requer controle e monitoramento dos efeitos do lixo sobre espécies existentes em cursos de água, solo e vegetação.
(E) o desenvolvimento tecnológico tem elevado a criação de produtos descartáveis, o que evita a geração de lixo e resíduos químicos.

4. (Enem 2015)

Falava-se, antes, de autonomia da produção para significar que uma empresa, ao assegurar uma produção, buscava também manipular a opinião pela via da publicidade. Nesse caso, o fato gerador do consumo seria a produção. Mas, atualmente, as empresas hegemônicas produzem o consumidor antes mesmo de produzirem os produtos. Um dado essencial do entendimento do consumo é que a produção do consumidor, hoje, precede a produção dos bens e dos serviços.

SANTOS, M. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. Rio de Janeiro: Record, 2000 (adaptado).

O tipo de relação entre produção e consumo discutido no texto pressupõe o(a)



(A) aumento do poder aquisitivo.
(B) estímulo à livre concorrência.
(C) criação de novas necessidades.
(D) formação de grandes estoques.
(E) implantação de linhas de montagem.
Página 349

ASSIMILANDO CONCEITOS

1. Observe esta fotografia:

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Raimundo Paccó/Frame/Folhapress

Catadores separam lixo e materiais recicláveis em meio a urubus no bairro do Pantanal, em Castanhal (PA), 2014.

a) Descreva os elementos da imagem.

b) Que atividade está relacionada com a cena fotografada?

c) Analise a fotografia e responda: Como o consumo, o meio ambiente, as desigualdades sociais e a cidadania se relacionam em nosso dia a dia?

[ícone] ATIVIDADE INTERDISCIPLINAR

OLHARES SOBRE A SOCIEDADE

CÓDIGO DE CIDADANIA

[...]


Direitos do consumidor são tão importantes porque estão entrelaçados a outros conceitos de cidadania: os quatro atributos do ser humano, como cidadão, eleitor, contribuinte e consumidor.

Somente de posse desses quatro direitos (e deveres) somos completos, íntegros, sujeitos e agentes da história.

Consumir é uma responsabilidade sem par, porque afeta as relações de trabalho, ecologia e ambiente, relações humanas e empresariais. Comprar um produto ou serviço significa, de alguma maneira, chancelar ou não comportamentos, práticas e decisões.

Quem compra um tênis fabricado por crianças que deveriam estar na escola, em um país pobre, queira ou não, assina embaixo a exploração daqueles menores de idade.


Página 350

Quem adquire os frutos do combate, do tráfico de drogas, da exploração de subempregados, é coautor desses crimes.

Quem se deslumbra com um móvel esculpido em madeira nobre, ameaçada de extinção, que cale a boca antes de falar em defesa do planeta Terra.

O mundo globalizado, interligado pela internet, já não admite quem olha para o lado enquanto bandidos corrompem ou dilapidam patrimônios universais.

O consumidor [...] pode e deve ser consciente.

Lembrar-se de que a água é escassa e valiosa demais para substituir a vassoura na limpeza de uma calçada.

Que não se jogam sofás, geladeiras e fogões em córregos, em um dia, e depois se lamenta a enchente inesperada de um dia tórrido de verão.

Se você é contra a exploração de crianças no mercado de trabalho, informe-se sobre a origem dos produtos que compra.

Se acha um absurdo que patrões abusam dos direitos do trabalhador, avalie se vale a pena comprar um MP4 de um país que não respeita esses direitos.

Vivemos em um mundo em que a hipocrisia não passa mais despercebida aos olhos dos outros. Quem quiser tratamento digno deve agir dignamente em relação aos demais.

Um automóvel sem catalisador não polui somente o ar que os outros respiram. Uma gelatina com corante proibido em países desenvolvidos ou excesso de açúcar faz mal para todos, inclusive para nossas crianças.

Lutar pelos direitos do consumidor não é veleidade, não é atitude xiita, é somente autodefesa. O produto que faz mal para os filhos dos outros também afeta nossos filhos.

Por isso, nunca penso no CDC somente como um Código de Defesa do Consumidor. Para mim, é também o Código da Cidadania. A forma de melhorar ou piorar o mundo. Você, leitor, leitora, escolhe em que mundo quer viver. Mas já sabe que o bumerangue dos maus atos é rápido e nada sutil. Volta na sua cabeça, dos seus filhos, dos seus entes queridos. Pense nisso.

DOLCI, Maria Inês. Código de cidadania. Folha de S.Paulo, São Paulo, 14 mar. 2009. Vitrine. Disponível em: . Acesso em: abr. 2016. Fornecido pela Folhapress.



1. A autora do texto acima é coordenadora da Proteste – Associação Brasileira de Defesa do Consumidor e colunista do jornal Folha de S.Paulo. Em seu artigo ela defende a ideia de que o Código de Defesa do Consumidor é um Código de Cidadania. Destaque os aspectos citados no texto que tratam dos direitos e deveres do consumidor-cidadão e responda: Você concorda com o ponto de vista da autora?

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EXERCITANDO A IMAGINAÇÃO SOCIOLÓGICA
TEMA DE REDAÇÃO DO ENEM (2014)

A partir da leitura dos textos motivadores seguintes e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija texto dissertativo-argumentativo em norma-padrão da língua portuguesa sobre o tema Publicidade infantil em questão no Brasil, apresentando proposta de intervenção, que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.



TEXTO I

A aprovação, em abril de 2014, de uma resolução que considera abusiva a publicidade infantil, emitida pelo Conselho Nacional de Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda), deu início a um verdadeiro cabo de guerra envolvendo ONGs de defesa dos direitos das crianças e setores interessados na continuidade das propagandas dirigidas a esse público.


Página 351

Elogiada por pais, ativistas e entidades, a resolução estabelece como abusiva toda propaganda dirigida à criança que tem “a intenção de persuadi-la para o consumo de qualquer produto ou serviço” e que utilize aspectos como desenhos animados, bonecos, linguagem infantil, trilhas sonoras com temas infantis, oferta de prêmios, brindes ou artigos colecionáveis que tenham apelo às crianças.

Ainda há dúvidas, porém, sobre como será a aplicação prática da resolução. E associações de anunciantes, emissoras, revistas e de empresas de licenciamento e fabricantes de produtos infantis criticam a medida e dizem não reconhecer a legitimidade constitucional do Conanda para legislar sobre publicidade e para impor a resolução tanto às famílias quanto ao mercado publicitário. Além disso, defendem que a autorregulamentação pelo Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) já seria uma forma de controlar e evitar abusos.

IDOETA, P. A.; BARBA, M. D. A publicidade infantil deve ser proibida? Disponível em: www.bbc.co.uk. Acesso em: 23 maio 2014 (adaptado).



TEXTO II

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© DAE/Alessandro Passos Da Costa

Fontes: OMS e Conar/2013 Disponível em: www1.folha.uol.com.br. Acesso em: 24 jun. 2014 (adaptado).

TEXTO III

Precisamos preparar a criança, desde pequena, para receber as informações do mundo exterior, para compreender o que está por trás da divulgação de produtos. Só assim ela se tornará o consumidor do futuro, aquele capaz de saber o que, como e por que comprar, ciente de suas reais necessidades e consciente de suas responsabilidades consigo mesma e com o mundo.

SILVA, A. M. D.; VASCONCELOS, L. R. A criança e o marketing: informações essenciais para proteger as crianças dos apelos do marketing infantil. São Paulo: Summus, 2012 (adaptado).
Página 352

22 Interpretando o Brasil



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Pinacoteca do Estado de São Paulo

Almeida Junior. O violeiro, 1899. Óleo sobre tela, 1,41 m × 1,72 m.
José Ferraz de Almeida Junior (1850-1899) introduziu temas inéditos na produção artística brasileira do século XIX, como o cotidiano e a vida dos habitantes rurais da região da pauliceia. Caipira picando fumo (1893) é uma de suas telas mais conhecidas. Em O violeiro, vemos uma dupla de caipiras cantando modas... Essas imagens dos caipiras foram se consolidando por meio de outras obras, como o livro Urupês – especificamente o personagem Jeca Tatu –, de Monteiro Lobato, a famosa canção Tristeza do Jeca, de Angelino de Oliveira – ambos de 1918 –, e muitas outras expressões. O caipira, o sertanejo, o homem rural e mestiço do interior do Brasil foram as primeiras imagens sobre os brasileiros gestadas no início da república.

Refletindo sobre nós mesmos

Como nos ensinou o sociólogo alemão Norbert Elias, as sociedades podem ser compreendidas com base no exame de seus costumes. Observando as maneiras de se comportar de uma sociedade ou seus hábitos mais comuns, podemos entender melhor como ela concebe a si mesma e como é percebida por quem está de fora. Neste capítulo veremos, com base na observação de nossos hábitos e costumes, como certos intelectuais delinearam interpretações fascinantes sobre nossa identidade nacional.

A lista dos que se colocaram o desafio de responder à pergunta “O que é o Brasil?” é longa e inclui so ció logos, advogados, literatos, antropólogos, geógrafos, cientistas políticos, entre outros. Alguns, como Gilberto Freyre e Oliveira Vianna, partiram de uma reflexão sobre nossa constituição racial.


Página 353

Outros, como Monteiro Lobato e Roberto DaMatta, para citar apenas dois, foram descobrindo traços da identidade brasileira por meio da comparação com outras nações. Outros, ainda, tomaram como ponto de partida elementos geográficos. Euclides da Cunha, por exemplo, acreditava que não era possível entender o Brasil sem passar pelas categorias de litoral e de sertão, e aqui vale lembrar o que nos diz a cientista social Lúcia Lippi Oliveira: a ideia de sertão, que aparece sob diferentes roupagens – às vezes como paraíso, outras como inferno ou purgatório –, é tão pre- sente no imaginário social brasileiro que “o sertão pode e deve ser tomado como uma metáfora do Brasil”. Se o sertão é concebido como marca do atraso econômico social, é visto também como lugar de gente valente, capaz de resistir às maiores penúrias.

Quer concordemos, quer não com o que é dito por esses intelectuais, o exame de suas interpretações nos leva a refletir sobre nós mesmos, sobre quem somos e como chegamos a sê-lo. Vejamos, então, algumas dessas tentativas de desenhar o retrato do Brasil, começando por uma interpretação que se tornou famosa, ainda que algumas vezes mal compreendida.

Civilizados ou cordiais?



Sérgio Buarque de Holanda figura sem dúvida entre os maiores intérpretes da nação. Seu livro Raízes do Brasil, publicado pela primeira vez em 1936, propõe um estudo sociológico da história brasileira com o objetivo de identificar nossas raízes socioculturais. O autor recua, então, até os tempos coloniais e constrói um panorama histórico de nossa estrutura política, econômica e social, influenciada pelo modelo português. Para o autor, a estrutura social de Portugal era marcada por uma “frouxidão organizacional” que levava a um padrão de convivência ao mesmo tempo mais flexível e mais instável. E isso, evidentemente, teve reflexos no Brasil.

Em Raízes do Brasil, ele desenvolve uma ideia em torno da qual constrói sua interpretação sociológica: a do “homem cordial”. Este seria o brasileiro típico, fruto da colonização portuguesa e representante conceitual de nossa sociedade. Acontece que, como a palavra cordial na linguagem comum tem o sentido de afável, afetuoso, a ideia do homem cordial ficou associada à concepção do brasileiro como gentil, hospitaleiro, pacífico. E Sérgio Buarque foi muito criticado por essa maneira de ver os brasileiros. Era uma forma idealizada, que não correspondia às atitudes mais corriqueiras percebidas no convívio social. A polêmica indica que é preciso examinar mais de perto o sentido da expressão escolhida pelo autor – por que “cordial”?

Sérgio Buarque de Holanda

(São Paulo, 11 de julho de 1902 – São Paulo, 24 de abril de 1982)

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Acervo UH/Folhapress

Sérgio Buarque de Holanda, 1957.

Sérgio Buarque de Holanda foi um dos mais importantes pensadores brasileiros. Historiador, sociólogo, crítico literário e jornalista, dedicou-se a estudar a sociedade brasileira a partir de sua história, deixando textos que são grandes clássicos do nosso pensamento social. Apesar de graduado em direito, trabalhou grande parte de sua vida na imprensa e na academia. Viveu em diversos países e cidades, mas foi na Alemanha, e mais especificamente em Berlim (onde viveu entre 1929 e 1930), que sofreu uma grande guinada intelectual, passando a investir mais intensamente numa interpretação sociológica do Brasil.

Em sua temporada na Alemanha, ele entrou em contato com a escola alemã de sociologia e identificou-se com a obra de Max Weber, autor que desde então passou a exercer forte influência sobre seu pensamento. Essa influência pode ser facilmente percebida no livro que publicou logo após sua volta ao país, Raízes do Brasil (1936), em que analisa a colonização portuguesa e as conformações sociais que dela derivaram.

Sérgio Buarque de Holanda é, ao lado de Gilberto Freyre e Caio Prado Júnior, um dos maiores intérpretes do Brasil e um dos mais eminentes intelectuais do país. Teve grande reconhecimento no exterior, e Raízes do Brasil foi traduzido para vários idiomas, entre eles inglês, espanhol, italiano, alemão, francês e japonês. Além desse trabalho, suas obras mais importantes são Monções (1945), Visão do paraíso (1959) e Do império à república (1972).


Página 354

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Galeria Jacques Ardies, São Paulo

Constância Nery. Boa convivência, 2009. Oléo sobre tela, 64 cm × 88 cm.

“Cordial” provém da palavra latina cordialis, que significa “relativo ao coração”. Sérgio Buarque usa a expressão para indicar um tipo de sujeito que age de acordo com um “fundo emotivo transbordante”, ou seja, com o coração, movido pela emoção. No lugar da formalidade, do respeito a leis universais, o homem cordial se vale da espontaneidade e aposta na lógica dos favores. É, assim, o exato oposto do homem que se orienta pelos códigos das boas maneiras e da civilidade, feitos para controlar e conter as emoções em nome de rituais e regras de convívio social. Por essa razão começamos com a referência a Norbert Elias. Ele foi o sociólogo que dedicou grande parte de seu investimento intelectual a compreender o papel sociológico das condutas, dos códigos de comportamento, daquilo que denominou “processo civilizador”.

A cordialidade, tal como entendida por Sérgio Buarque, sugere aversão à impessoalidade. Nós, brasileiros, estaríamos sempre buscando estabelecer intimidade, pondo os laços pessoais e os sentimentos como intermediários de nossas relações. Estamos acostumados a “fazer amizade”, “contar a vida”, “pedir conselho” a pessoas que nunca vimos antes enquanto aguardamos na fila do banco ou do supermercado. Não por acaso, estranhamos o que vemos como formalidade excessiva em outros povos, como os europeus. Achamos muito estranho quando um inglês recusa um abraço apertado como sinal de gratidão ou quando um sueco que acabamos de conhecer se constrange diante de perguntas sobre sua vida pessoal.

A cordialidade pode vir travestida de uma polidez aparente, superficial, que muitas vezes se apresenta como simpatia. De fato, a “simpatia brasileira” chega a ser uma “mercadoria” de grande valor no mercado turístico internacional. Daí derivam outros traços do estereótipo do brasileiro, como a generosidade, a alegria e a hospitalidade. Nosso “calor”, nossa receptividade são usados como mecanismos de aproximação, criação de intimidade e quebra da impessoalidade.


Página 355

Exemplos de nossa “cordialidade”? Sérgio Buarque oferece uma longa lista. Ele destaca nossa mania de utilizar diminutivos (“inho”) como meio de familiarização com pessoas e coisas. Para tornar a espera menos aborrecida, pedimos que nosso interlocutor aguarde “cinco minutinhos”; se alguém nos pede um “favorzinho”, por maior que este seja, tendemos a atender de melhor grado. Esse emprego recorrente do diminutivo, assim como nossa aversão ao emprego dos verbos no modo imperativo (em geral, substituímos o “faça” por um “será que daria para você fazer”), chama a atenção dos estrangeiros que entram em contato com a língua portuguesa tal como falada no Brasil.

Mas o autor desce a detalhes curiosos. Destaca, ainda, a tendência brasileira à omissão do nome de família (sobrenome) no tratamento social. Enquanto nos Estados Unidos a professora do Ensino Fundamental é chamada por seus pequenos alunos de “Mrs. Smith”, aqui ela é “Tia Maria”. No campo religioso, essa informalidade também se faz presente. Segundo Sérgio Buarque, tratamos “os santos com uma intimidade quase desrespeitosa”. Assim, Santo Antônio, quando não arranja o noivo que a mocinha tanto pediu, tem sua imagem virada de cabeça para baixo. Quando São Benedito não atende às preces dos fiéis, corre o risco de ficar sem sua xícara de café, em geral posta ao lado de sua imagem todas as manhãs.

Podemos concluir, assim, que o homem cordial caracteriza-se fundamentalmente pela rejeição da distância e do formalismo nas relações sociais. Mas o caso brasileiro tem outra característica: as atitudes e princípios vigentes no universo íntimo da família acabaram por transbordar para a esfera pública. A consequência desse transbordamento é outro tema que aparece cotidianamente na imprensa e nos textos acadêmicos. Os políticos tratam os assuntos públicos como se fossem assuntos privados, tornando o Estado mais “pessoal” e menos “burocrático”. É nesse sentido que Sérgio Buarque de Holanda sugere a classificação do Estado brasileiro como “patrimonial”, numa clara alusão à diferenciação feita por Max Weber entre burocracia e patrimonialismo. Vamos entender melhor essa diferença.

Para Max Weber, a burocracia representava um aparato indispensável para o funcionamento da “máquina” administrativa do Estado. Numa sociedade em que impera a lógica legal-burocrática, o Estado é regido pela impessoalidade, pelo formalismo, pela previsibilidade e pela universalidade dos critérios. Numa sociedade organizada segundo o patrimonialismo, ao contrário, os homens públicos atuam na esfera estatal de acordo com regras e valores da esfera doméstica. Em vez de critérios universais e objetivos, levam em consideração os laços sentimentais e familiares. Os jornais noticiam com muita frequência aquilo que os cientistas sociais há mais tempo apontam como problemas a serem enfrentados na vida política brasileira: a prática da nomeação de funcionários públicos por critérios familiares, e não por critérios universais, por concurso, por exemplo.

Diminutivos

No domínio da linguística [...] esse modo de ser parece refletir-se em nosso pendor acentuado para o emprego dos diminutivos. A terminação “ inho”, aposta às palavras, serve para nos familiarizar mais com as pessoas ou os objetos e, ao mesmo tempo, para lhes dar relevo. É a maneira de fazê-los mais acessíveis aos sentidos e também de aproximá-los do coração.

[...]


Um estudo atento das nossas formas sintáxicas traria, sem dúvida, revelações preciosas a esse respeito. À mesma ordem de manifestações pertence certamente a tendência para a omissão do nome de família no tratamento social. Em regra é o nome individual, de batismo, que prevalece. Essa tendência, que entre portugueses resulta de uma tradição com velhas raízes — como se sabe, os nomes de família só entram a predominar na Europa cristã e medieval a partir do século XII —, acentuou-se estranhamente entre nós. Seria talvez plausível relacionar tal fato à sugestão de que o uso do simples prenome importa em abolir psicologicamente as barreiras determinadas pelo fato de existirem famílias diferentes e independentes umas das outras.

Corresponde à atitude natural aos grupos humanos que, aceitando de bom grado uma disciplina da simpatia, da “concórdia”, repelem as do raciocínio abstrato ou que não tenham como fundamento [...] as comunidades de sangue, de lugar ou de espírito. O desconhecimento de qualquer forma de convívio que não seja ditada por uma ética de fundo emotivo representa um aspecto da vida brasileira que raros estrangeiros chegam a penetrar com facilidade. E é tão característica, entre nós, essa maneira de ser, que não desaparece sequer nos tipos de atividade que devem alimentar-se normalmente da concorrência. [...]

HOLANDA, Sérgio Buarque. Raízes do Brasil. 26. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 148-149.
Página 356

Ainda hoje lutamos contra a prática do nepotismo na distribuição dos cargos públicos. Sérgio Buarque diria que isso acontece porque onde deveriam reinar os princípios da racionalidade e da impessoalidade, acabam por imperar critérios caros à cordialidade e à lógica dos favores. Há um ditado popular famoso que expressa bem o que nosso intérprete afirma: “Quem tem padrinho não morre pagão”. Quem tem um protetor consegue seu lugar independentemente de seu mérito profissional, sua capacidade comprovada, seu sucesso na competição com outros candidatos.

Vemos, portanto, que o conceito de homem cordial se presta à compreensão de uma sociedade marcada por uma confusão, por uma diferenciação precária entre o que é público e o que é privado. O homem cordial, tipo ideal do brasileiro e produto sociológico de nossa história, é o símbolo dessa confusão público/ privado, o representante de uma sociedade baseada no personalismo e no patrimonialismo.

Ao contrário do que pode sugerir o sentido mais comum da expressão, o conceito de homem cordial representa um traço problemático de nossa nacionalidade. Ao escolhermos o personalismo em detrimento das regras impessoais, acabamos por ferir os princípios da horizontalidade e da igualdade, tão caros ao desenvolvimento da cidadania e da democracia. O patrimonialismo impede, segundo Sérgio Buarque, a consolidação de um Estado propriamente moderno e eficaz porque opera na lógica do “meus amigos em primeiro lugar”. Na sociedade do homem cordial, em que o espaço público é tomado como um prolongamento do espaço privado, fenômenos como o coronelismo, o apadrinhamento, o jeitinho e a corrupção põem os interesses pessoais acima do bem comum.



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Ivan Cabral

Charge originalmente publicada em Sorriso Pensante, 2008. Disponível em: . Acesso em: maio. 2016.

Sérgio Buarque de Holanda acreditava que a cordialidade seria superada com o avanço da urbanização, que levaria ao progressivo desenvolvimento da impessoalidade na vida pública. A urbanização e a industrialização seriam um golpe fatal nas relações calcadas na cordialidade, deixando esse traço histórico-cultural esquecido num passado de arcaísmo e ruralismo. Pensemos sobre o Brasil de hoje. Podemos dizer que a “aposta” de Sérgio Buarque se cumpriu?



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Jean Galvão

Quadrinho originalmente publicado em Jornal Diário de Natal, s.d.
Página 357

O “jeitinho brasileiro”

Todo brasileiro sabe o que é um “jeitinho”. Uma “carona” no ônibus, uma carteira de motorista “comprada”, ou uma alternativa “criativa” para se livrar de uma multa de trânsito: são inúmeras as situações do dia a dia que podemos identificar como exemplos de prática do famoso “jeitinho brasileiro”. Mas o que o jeitinho pode nos dizer sobre nossa sociedade? Será que ele pode ser objeto de análise social? A antropóloga Lívia Barbosa mostrou que sim. Em seu livro O jeitinho brasileiro: a arte de ser mais igual que os outros (1992), a pesquisadora fez, por meio de uma série de entrevistas, uma verdadeira radiografia dessa prática social tão conhecida entre nós, mostrando que ela revela, acima de tudo, a dificuldade do brasileiro em lidar com o princípio básico da igualdade.

De acordo com a autora, o jeitinho é uma reação comum do brasileiro quando confrontado com um “não pode”, com um impedimento legal (por exemplo, a proibição de estacionar em determinados lugares). Também conhecido como “quebra-galho” ou “malandragem”, o jeitinho seria uma forma “especial” de resolver uma situação difícil. Uma das principais características do jeitinho é, segundo o estudo, o fato de ele ser aceito e praticado por todas as camadas sociais, dependendo, assim, da capacidade de cada um para conseguir dar uma solução “criativa” a uma impossibilidade formalmente imposta. O sucesso ou não do jeitinho depende, portanto, de características pessoais, como o carisma, a simpatia, o “jogo de cintura” etc. E como o jeitinho é visto pelos brasileiros? Lívia Barbosa afirma que a maioria dos entrevistados o situa entre o favor e a corrupção, e que a diferença entre esta última e o jeitinho está, sobretudo, no montante de dinheiro envolvido. É importante frisar que a pesquisa mostrou não haver distinção nítida entre essas três práticas, e que uma multa “aliviada” por um guarda pode, dependendo da situação, ser vista como um favor, um jeitinho ou um ato de corrupção. Sempre permeado por um discurso emocional, o jeitinho tem um inevitável apelo à simpatia e à comoção do interlocutor. Ele é, assim, uma forma peculiar de sobrepor os interesses pessoais aos princípios da igualdade garantida por lei, numa prática que deixa bastante clara a relação complexa do brasileiro com os limites entre o mundo do privado e o do público.

O Brasil e seus dilemas

Apontado em um levantamento feito pela Universidade de Campinas (Unicamp) como o cientista social brasileiro mais citado nos trabalhos acadêmicos do país, Roberto DaMatta há muito vem refletindo sobre “o que faz o brasil, Brasil”. Com base em temas como Carnaval, jogo do bicho, piadas, músicas populares, futebol e trânsito, o antropólogo apresenta um retrato do rosto brasileiro em suas muitas faces.

Em Carnavais, malandros e heróis, publicado em 1979, e inspirado em sua vivência nos Estados Unidos, Roberto DaMatta discute os vários paradoxos e tensões que constituem nossa maneira de ser – ou, como ele próprio diz, nossos “dilemas”. Por um lado, cremos ser importante respeitar a lei; por outro, achamos igualmente lícito recorrer ao famoso “jeitinho”. Gostamos de pensar no Brasil como um país democrático e igualitário, mas isso não quer dizer que não sejamos também altamente hierárquicos. Como assim? Bem, imagine a seguinte situação: o filho de um empresário influente corta o sinal de trânsito a toda velocidade e é parado pelo guarda. O que você acha que vai acontecer em seguida? Como todos são iguais diante da lei, o rapaz será advertido e punido devidamente? Ou será que ele vai dizer um “Você sabe com quem está falando?”?

Roberto DaMatta



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