Universidade Anhembi Morumbi



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CAPITULO 3 – OS NIGERIANOS EM SÃO PAULO

O presente trabalho caracteriza-se como uma pesquisa exploratória qualitativa, baseada em fontes bibliográficas e documentais, utilizando primordialmente entrevistas com os próprios imigrantes, sempre focando os aspectos da sua trajetória em São Paulo.

Para a fase qualitativa da pesquisa, utilizamos o método de história de vida resumida, na concepção de Demartini (1999), que permitiu pela utilização de roteiro semiestruturado de entrevistas com imigrantes nigerianos residentes na cidade de São Paulo chegados desde a década de 1980, uma visualização do processo de adaptação em São Paulo.

Assim, dado que de fato, parte do grupo pesquisado está envolvido com o tráfico de drogas, segundo matérias jornalísticas, optamos, em nossa amostra, trabalhar com imigrantes com outro perfil, que nunca foram processados no Brasil, de forma a ressaltar o grupo de imigrantes que vieram em busca de uma nova vida trabalhando dentro da legalidade.

Para tanto, entendeu-se que a história oral
[...] é um método de pesquisa (histórica, antropológica, sociológica etc.) que privilegia a realização de entrevistas com pessoas que participaram de, ou testemunharam, acontecimentos, conjunturas, visões de mundo, como forma de aproximar do objeto de estudo. Como consequência, o método da história oral produz fontes de consulta (as entrevistas) para outros estudos, podendo ser reunidas em um acervo aberto a pesquisadores. Trata-se de estudar acontecimentos históricos, instituições, grupos sociais, categorias profissionais, movimentos, conjunturas, etc. à luz de depoimentos de pessoas que deles participaram ou lhe testemunharam [...] (ALBERTI, 2005, p. 18).

Assim, os sujeitos selecionados para a pesquisa são imigrantes nigerianos residentes na cidade de São Paulo, homens e mulheres, chegados ao Brasil desde 1980, além de imigrantes de diferentes condições sociais nos países de origem, como escolaridade (curso superior completo, incompleto, segundo grau), origem (local de naturalidade).

A seleção dos entrevistados se deu pela necessidade de tentar atingir um grupo representativo de imigrantes a fim de ampliar, o máximo possível devido ao tipo de pesquisa, o entendimento sobre o grupo, as razões e condições de migração para a cidade de São Paulo.

Seguindo os pressupostos colocados (Fernandes apud Demartini, 2005, p.134), “a realidade é inexaurível, cabendo a nós tentar apreender e entender algumas de suas dimensões e alguns processos em curso.”, assim o corpus para a análise da pesquisa é apenas parte da comunidade nigeriana residente em São Paulo.

Sendo desconhecido o grupo pesquisado no meio acadêmico, não encontramos estudos ou publicações que pudessem nos dar indicações sobre o que iríamos encontrar no trabalho de campo. Assim o método proposto nos deixou com a liberdade de rever e alterar a linha da entrevista, de acordo com as informações prestadas pelo entrevistado.

As entrevistas seguiram um roteiro semiestruturado (ver Apêndice) cujo objetivo foi coletar informações sobre os motivos para emigrar, a escolha do Brasil, cidade de chegada e experiências de acolhimento, por parte da sociedade receptora.

Thompson (1992) acredita que a entrevista é um recurso importante para fazer aparecer uma história oral e esclarece que os historiadores orais podem escolher exatamente a quem entrevistar e a respeito do que perguntar.

Segundo o autor, o registro das entrevistas é a primeira etapa do processo de coleta de documentação oral e deve ser um registro fidedigno e exato. A segunda etapa do processo é a transcrição, que é a “mudança do estágio da gravação oral para o escrito” (THOMPSON, 1992, p.57) e deve ser realizada com cautela. Após a transcrição, o historiador deverá fazer a textualização do material e finalmente, interpretar os relatos orais. Nesse sentido, a interpretação deve ser condizente com o contexto no qual foi coletado, afinal “trata-se de um material que não apenas se descobriu, mas que em certo sentido, ajudou-se a criar” (THOMPSON, 1992, p.305).

Sendo o método baseado em memórias individuais de todo o processo de imigração, desde o motivo de emigrar, a decisão pelo Brasil, em especial para São Paulo, até a sua chegada, recebimento e acolhida na cidade, tomamos um cuidado especial com a fidelidade dos depoimentos, uma vez que os depoimentos são individuais.

Pollack (1992) indica os cuidados necessários identificando a memória individual, dos fatos vividos pelo entrevistado e a memória coletiva, no caso em questão construída a partir da vivência do entrevistado nos dois mundos da sua cultura de origem e da sociedade receptora. O autor adverte para as diferenças que existem no discurso do entrevistado, conforme o seu grau de escolaridade:


Encontramos três tipos de estilo: estilo cronológico, estilo temático, e o que chamamos de estilo factual. Todo relato mistura esses três estilos. Mas descobrimos que o predomínio do estilo cronológico estava correlacionado com a característica de um grau mínimo de escolarização... Percebemos também que o relato que seguia uma cronologia era fortemente correlacionado com a presença de uma socialização política. O segundo estilo, o temático é quando alguém se liga pouco na cronologia, diz, por exemplo, que a infância não teve importância, mas depois fala no tempo de escola, não em termos de uma sequência escolar, mas para lembrar que o importante era a matemática. O estilo factual, por fim, correspondia a um grau educacional baixíssimo, a pouca experiência, tanto profissional como política (POLLACK, 1992, p. 14-15).

Dessa forma, verificamos que os entrevistados mesclam memórias individuais e coletivas, narrando fatos de suas vidas fazendo a correlação com eventos da sociedade em que viviam como forma de contextualizar os eventos narrados, todos na forma cronológica, característica que corrobora com o postulado de Pollack (1992), pois todos os entrevistados possuem no mínimo escolaridade média e metade deles o curso superior.




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