Vítima de sua própria armadilha, ela teria de renunciar ao amor



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  • É um prazer conhecê-las — declarou Jéssica, retribuindo a mesu­ra. — Eu a vi na Upper Room, ontem, srta. Pearson. Gostou do baile?

    A jovem murmurou algo que soou como a palavra "agradável".

    — Se não fosse pela gentileza do sr. Guynette, eu não teria tido um único parceiro a noite inteira. De qualquer modo, é desconcertante pas­sar a noite dançando com estranhos, não acha?

    A srta. Pearson ergueu a cabeça e fitou Jéssica, ansiosa, comentando:


    • Pensei ser a única a me sentir assim. É tão mais confortável quan­do se está cercada por conhecidos...

    • Eu diria que em breve ambas teremos muitos amigos em Bath —encorajou-a Jéssica. — Aliás, espero ser uma de suas amigas. Talvez pos­samos passear em Sidney Park, uma tarde dessas. O que acha da ideia?

    — Eu adoraria — respondeu a srta. Pearson, sorrindo.
    Depois de marcar o passeio, as jovens damas se despediram.

    Parabéns, srta. Franklin — disse Matthew, enquanto se afastavam. Conseguiu extrair mais palavras da srta. Pearson em alguns minutos do que eu durante toda uma dança.


    Pobre criança, ela é tão tímida! Foi maldade sua pegá-la de surpre­sa. E não adianta dizer que não foi intencional. Ele sorriu.

    Eu só pretendia punir a senhorita por ter me forçado a tomar aquela água horrorosa. Queria vê-la lutando em vão para conseguir manter uma conversa. Mas como a senhorita foi bem sucedida, meu plano falhou.



    • Como o senhor é maldoso! — riu Jéssica, antes de exclamar: — Oh, céus, agora preciso descobrir onde tia Tibby se meteu!

    • Se a senhorita deseja voltar para casa, por favor, permita-me acompanhá-la.

    — Seria conveniente? Não estou familiarizada com as convenções em Bath.

    • Já que eu conheço seu irmão e nós somos vizinhos, duvido que as mexeriqueiras tenham algo a dizer contra senhorita.

    • Talvez eu não devesse acreditar em sua palavra, depois de ter agido de maneira tão imprópria, mas aceito a oferta de bom grado, sr. Walsingham. Vamos?

    Passando pela Abadia, ela olhou para os anjos esculpidos em pedra na fachada.

    — Acredito que esta seja a melhor hora do dia para desenhá-los —declarou. — Voltarei amanhã a essa hora, se o tempo permitir.



    • Parece que a senhorita é uma artista séria — comentou Matthew.

    • Oh, não! Desenho apenas por prazer.

    • Então precisa levar seu bloco no passeio dessa tarde. A paisagem
      do alto de Beechen Cliff é fabulosa.

    • O problema em desenhar paisagens é que tudo perde o foco, à distância. Beechen Cliff fica muito longe?

    • Não muito. Calculo que fica a menos de um quilómetro do rio, seguindo pela Southgate Street.

    • Eu estava pensando... Talvez seja uma boa ideia o senhor levar seu cabriole, caso alguma das damas se canse.

    • Pedirei que meu cavalariço conduza o veículo.

    • Como preferir. Bem, obrigada por ter me trazido para casa, sr. Walsingham — agradeceu Jéssica, ao chegar à entrada da casa que alugara.

    Ele fez uma mesura. Um criado de libré abriu a porta e Jéssica entrou, sem olhar para trás.

    Matthew percorreu os poucos metros que o separavam da casa do tio, pensativo. Sabia que a srta. Franklin sugerira levar o cabriole porque es­tava preocupada com a saúde dele. Não podia fazer nada quanto à per­na, mas preferia não ter inventado a mentira a respeito do pulmão.


    CAPÍTULO VI
    Sukey! Sukey, venha rápido! — chamou Jéssica, subindo correndo para o quarto. — Quero usar o vestido de azul essa tarde, e precisamos mudar os enfeites do meu chapéu e da sombrinha! A criada a seguiu mais devagar, esfregando as mãos no avental.

    — Posso bordar florzinhas de seda azul em seu chapéu, senhorita —disse Sukey, entrando no quarto. — E também virar a aba para baixo, se quiser.



    Jéssica já tirara do guarda-roupa o vestido novo de cambraia azul e olhava para ele com aprovação.

    • Sim, será perfeito. E eu vou fazer um laço azul para amarrar no cabo da sombrinha! — excla-mou, entusiasmada.

    • A sra. Ancaster diz que cavalheiros nem notam o que uma dama está vestindo, desde que ela seja bonita e esperta — observou Sukey en­quanto soltava os pontos que prendiam uma pluma cor de damasco ao chapéu de palha.

    • Mas as outras damas notam e fazem mexericos. E cavalheiros dão ouvidos a mexericos tanto quanto as damas.

    • Oh, sim, srta. Franklin, sei que os homens também apreciam bis­bilhotices. Imagine só, o sr. Hayes pediu a Tad para ir ao mercado hoje de manhã e ele voltou cheio de novidades contadas pelo criado de quar­to do sr. Walsingham.

    • Pelo criado do sr. Walsingham?

    • Isso mesmo, senhorita. — Sukey notou que a patroa estava mor­rendo de curiosidade e acrescentou: — Parece que o sr. Walsingham é o sobrinho favorito do visconde Horace Stone. Ele herdará a fortuna da família, incluindo uma propriedade chamada Stone Gables, mas não her­dará o título por ser parente de lorde Stone apenas por parte de mãe.
      Ele deve ser um cavalheiro muito simpático, pelo que dizem.

    — Oh, sim. — Jéssica suspirou, sonhadora. — Muito simpático.
    Naquele instante ouviram Nathan subir a escada, chamando pela irmã.

    • Jess? Posso entrar? Com licença... Tad disse que recebemos um con­vite para passear, hoje à tarde. É verdade?

    • Sim, os Barlow nos convidaram para ir até Beechen Cliff — res­pondeu Jéssica.

    • Quem mais irá ao passeio?

    • O sr. Walsingham, lorde Peter, e algumas outras pessoas cujos no­mes não recordo agora.

    • Walsingham também vai? Ótimo! Você o encontrou no Pump Room?

    • Na verdade, encontrei-o antes de chegar lá. Tia Tibby desapareceu e ele teve a gentileza de me acompanhar.

    • Preciso ter uma palavrinha com tia Tibby — disse Nathan, fran­zindo o cenho.

    • Não faça isso, por favor. Ela ficaria mortificada e, de qualquer modo, nada de mal pode me acontecer nas ruas de Bath.

    • Jess, não há problema quando você se depara com um cavalheiro respeitável como Walsingham, mas e se fosse Alsop?

    — Quem é Alsop?
    Nathan enrubesceu.

    • Um sujeito que conheci no carteado, ontem à noite. Fui visitá-lo, hoje de manhã. Ele pode ser um barão, mas não é nada recomendável que uma dama fique sozinha na companhia dele.

    • Ora, como sugere que eu o evite, se é um amigo seu? — argumen­tou Jéssica, em tom de censura.

    • Tem razão. Eu não o verei mais. Walsingham é um cavalheiro muito mais interessante. Vou pedir à sra. Ancaster que prepare algo para nós antes de sairmos.

    Nathan saiu do quarto. Enquanto se vestia, Jéssica pensou na conver­sa que tivera com o irmão.

    Sentiu-se contente. Em primeiro lugar, porque Nathan não parecia in­teressado em Kitty Barlôw. Kitty era uma jovem encantadora, mas do ponto de vista prático não era um bom partido. Em segundo lugar, por­que seu irmão gostava de Matthew Walsingham...

    Ela desceu a escada, cantarolando.

    A srta. Tibbet estava com Nathan na sala de jantar, tomando chá e comendo bolinhos. A idosa senhora parecia envergonhada, e Jéssica ima­ginou que Nathan a havia repreendido. Apesar de ter pedido que não o fizesse, ela achou justa a atitude do irmão.

    Antes que tia Tibby achasse necessário desculpar-se, Jéssica começou a falar:


    • A senhora já foi informada sobre o passeio dessa tarde? Acho que a vista do alto de Beechen Cliff deve ser belíssima.

    • Imagino que sim. Estou aguardando o passeio com ansiedade.

    • Então a senhora vai conosco, tia Tibby? Fico contente.

    Instantes mais tarde, estavam passando diante da casa de número no­ve quando Matthew Walsingham saiu pela porta da frente e juntou-se a eles. Nathan entabulou conversa com ele no mesmo instante e os dois ficaram para trás, deixando que as damas caminhassem sozinhas à frente, a não ser quando havia alguma rua a ser atravessada. Desapontada, Jéssica se convenceu de que assim era melhor; afinal não seria de bom tom ser vista o tempo todo acompanhada pelo sr. Walsingham.

    Durante a tarde, Jéssica teve várias oportunidades para se lembrar dis­so. O sr. Barlow estava determinado a ficar ao lado dela. Annabel For­rester, uma morena recatada de olhar lânguido, logo se apropriou do sr. Walsingham, e Jéssica pôde ouvi-los conversarem e rirem. Ela esforçou-se para dar a impressão de também estar se divertindo.

    Kitty Barlow parecia contente, apesar de acompanhada pelo taciturno lorde Peter. A jovem tagarelava, sem tomar conhecimento do silêncio dele.

    Nathan caminhava com a srta. Maria Crane, uma ruivinha com um vasto repertório de olhares afetados e comentários provocantes. Ouvin­do os dois, Jéssica surpreendeu-se com a habilidade do irmão em man­ter uma conversa animada. Ele devia ter aprendido mais que a arte de guerrear na América, entre as beldades sulistas.

    Quando o grupo alcançou a parte mais íngreme do caminho que leva­va ao alto do morro, o sr. Barlow desculpou-se e foi ajudar a mãe a subir a ladeira. Nathan foi rápido em oferecer o braço à srta. Tibbet, e com um beicinho de desapontamento a jovem ruiva juntou-se a Jéssica. Ela revelou ser uma pessoa sensível quando não bancava a coquete, e ambas iniciaram uma interessante conversa.

    A vista do alto de Beechen Cliff era soberba. O grupo inteiro reuniu-se para admirá-la e Jéssica descobriu-se de repente ao lado de Matthew Walsingham.

    — Eu gostaria de ter trazido meu bloco de desenho — comentou ela.
    Em primeiro plano, estava o rio Avon. Do outro lado do rio, via-se a cidade com as ruas de pedras cor de mel cercadas de casas. Podia-se distinguir torres de igreja e a magnificência gótica da Abadia. Mais além via-se a encosta verde de Landsdown Hill.


    • A senhorita pode voltar outro dia para desenhar — sugeriu Mat­thew. — Eu ficaria contente em carregar seus apetrechos.

    • Oh, sim, precisamos voltar outra vez. — A srta. Crane materializou-se junto deles. — Vou pedir a mamãe que organize um piquenique. Po­deremos fazer um concurso de desenho.

    Kitty Barlow falou com Jéssica naquele instante, e a ruiva aproveitou para apropriar-se de Matthew. Ele dirigiu um sorriso sem graça a Jéssica e ergueu os ombros de leve. Ela irritou-se ao perceber que não consegui­ria ficar cinco minutos com ele sem que alguém interferisse.

    Descendo o morro, o grupo encontrou o cabriole de Matthew Walsing­ham, que aguardava na alameda que conduzia à ponte. A srta. Tibbet ofereceu-se para acompanhar os jovens, de forma que o cavalariço pôde conduzir a sra. Barlow, exausta, até em casa.

    . Gostaria que todos entrassem para tomar uma xícara de chá — con­vidou ela, enquanto Matthew a ajudava a subir no cabriole. Em seguida,

    agradeceu: — Obrigada pela gentileza, sr. Walsingham. Seu veículo é es­plêndido.

    A sra. Barlow acenou, radiante, enquanto o cabriole se afastava.

    Era impossível não gostar dos Barlow. Jéssica escolheu fazer o resto do caminho com Kitty, em vez de disputar a atenção de Matthew Wal­singham. Sentiu-se recompensada quando o viu disfarçar e fugir de Ma­ria Crane. Ele ofereceu o braço à srta. Tibbet e escutou, respeitoso, sua pequena dissertação sobre arquitetura romana.



    • O sr. Walsingham é um rapaz encantador — anunciou tia Tibby quando eles retornaram, por fim, à casa em North Parade. — Ele até fez algumas perguntas inteligentes!

    • Irei me encontrar com ele amanhã, para darmos uma volta de ca­briole — comentou Nathan.

    Quando subiu para seu quarto, a fim de trocar de roupa para o jantar, Jéssica imaginou se Matthew Walsingham preferiria uma donzela reca­tada como Annabel Forrester ou uma namoradeira afetada feito Maria Crane.

    • A senhorita se divertiu? — Sukey perguntou.

    • Sim, bastante — respondeu Jéssica, com honestidade.

    Os Franklin e a srta. Tibbet passaram a noite em casa. Eles não po­diam se dar ao luxo de sair todas as noites.

    — Deixe que pensem que nós preferimos uma noite tranquila de vez em quando — aconselhou a srta. Tibbet.

    Nathan e a idosa senhora sentaram-se para jogar xadrez, enquanto Jés­sica ia buscar seu bloco para praticar o desenho da vista de Beechen Cliff de memória. Se o concurso de desenho realmente acontecesse, pretendia estar preparada para vencê-lo. Não apreciara o brilho confiante no olhar de Maria Crane.

    No dia seguinte ela pegou o bloco de desenho e se pôs a caminho da Pump Room. Como esperava encontrar alguma de suas novas amizades, tia Tibby foi dispensada de acompanhá-la. No lugar da idosa senhora, Sukey caminhava, alegre.

    Depois de quase uma hora de conversa com Kitty, Maria e Annabel, Jéssica chamou Sukey e saiu para desenhar a Abadia. Elas encontraram um banco de pedras num lugar ideal. A criada ficou contente por poder ficar sentada ao sol enquanto a patroa se ocupava com lápis e papel.

    Jéssica mal havia feito um esboço da torre octogonal e começado a traçar os contornos do primeiro anjo quando sentiu a presença de al­guém às suas costas.

    — Um bom começo — disse Matthew, em tom de aprovação. — A senhorita tem um bom senso de proporção.

    Ela ergueu o olhar, sorridente.

    — Eu gosto de desenhar edificações. Elas não se movem, feito pes­soas e animais, e não aparecem desfocadas, como paisagens distantes.

    Diga-me, o senhor já foi tomar sua água medicinal, hoje?

    — Não, ainda não — confessou ele. — Eu pretendia...

    A explicação de Matthew foi interrompida por um acesso de tosse.



    • O senhor pretendia ir tomá-la agora — completou Jéssica.

    • Na verdade, eu ia dizer que pretendia ter o prazer de levá-la a dar uma volta pela Abadia, antes.

    • E depois, de forma conveniente, esquecer o remédio? O senhor de­veria envergonhar-se de seu comportamento.

    • Está bem, irei primeiro tomar a água se a senhorita prometer esperar por mini.

    • Já que a luz e as sombras estão do jeito que eu quero, prometo esperá-lo desenhando, a não ser que o senhor se depare com as senhoritas Forrester e Crane e demore a voltar.

    Matthew recuou.

    • Elas estão na Pump Room? Céus, preciso mesmo ir até lá?

    • Precisa, sim.

    Jéssica achou que seria interessante descobrir se as jovens damas, que começava a considerar suas rivais, conseguiriam reter Matthew Walsing­ham na Pump Room.

    — A senhorita é muito cruel — disse ele, com um suspiro —, mas eu a obedecerei. Até logo.

    "Será que perdi o juízo, ao mandá-lo embora?", pensou Jéssica. Cons­ciente dos minutos que passavam, ela voltou a concentrar-se nos anjos esculpidos em pedra.

    CAPÍTULO VII


    Q uais serão as intenções da srta. Franklin?", perguntou-se Matthew em pensamentos.

    Estaria assim tão preocupada com a saúde dele que se arriscava a perder sua companhia, ou simplesmente não valorizava essa companhia tanto quanto ele esperava?

    Ao entrar na Pump Room, Matthew olhou rapidamente ao redor e avis­tou as jovens damas que tentava evitar. Tomou o caminho oposto até a porta que conduzia ao salão das torneiras. Demorou-se lá por algum tem­po, até não conseguir mais suportar o odor da água sulfurosa. Então caminhou de volta até a saída, evitando outra vez o grupo de damas co­nhecidas. Respirou, aliviado, ao sair sem ser detido.

    Jéssica ainda estava sentada no mesmo banco, de costas para ele, apa­rentando estar absorvida no desenho. O chapéu de palha enfeitado por uma pena cor-de-rosa, combinando com o vestido, a deixava encantadora.

    Apesar da aparente concentração, Jéssica devia ter ouvido os passos de Matthew, pois olhou para trás quando ele se aproximou.


    • Oh! O senhor parece enjoado.

    • Está caçoando de mim, srta. Franklin?

    A pergunta fez com que ela risse de modo encantador.

    • Apenas imaginei se o médico estava certo ao dizer que a água medicinal de Bath seria boa para a sua saúde. Seria uma pena se o remédio para o peito prejudicasse sua digestão. O senhor pode ter puxado ao seu tio.

    • Deus me livre! Quero dizer, tio Horace é um bom homem — acres­centou ele, apressado —, mas eu não gostaria de herdar a dispepsia dele.
      Acho melhor parar de tomar essa água horrível. Agora mudemos de assunto, antes que eu comece a passar mal de verdade. Vamos entrar na Abadia?

    • Sim. Sukey, você pode tomar conta do meu material de desenho, por favor?

    • Claro, senhorita.

    Matthew ofereceu o braço a Jéssica e eles adentraram a penumbra fria da igreja. Jéssica ficou impressionada com o lugar.

    — Não imaginei que fosse tão diferente da catedral de Durham, tão leve e arejada, estendendo-se para cima como se quisesse elevar-se até o céu.



    • Eu nunca estive na catedral de Durham, mas ela é em estilo româ­ntico, não? Os normandos gostavam de construções sólidas.

    • Sim, a catedral dá uma impressão de forte solidez. As janelas são mais estreitas e todos os pilares são decorados, não têm a simplicidade elegante dos daqui.

    • A Abadia é uma das últimas catedrais góticas, construída no sécu­lo dezesseis. O arquiteto de Henrique VII, William Vertue, desenhou uma abóbada maravilhosa para o teto, mas ela nunca foi construída.

    • O senhor parece conhecer bem o assunto — comentou Jéssica, surpresa.

    • Sempre me interessei por arquitetura — disse Matthew, com timi­dez. — Sinto muito, eu não pretendia aborrecê-la com uma preleção so­bre o assunto.

    • Eu não me aborreci. Conheço muito pouco sobre qualquer arquitetura que não seja a romana, pois tia Tibby, responsável por minha educação, considera decadente qualquer construção posterior ao ano cem da nossa era. Conheço tudo sobre templos e anfiteatros romanos, e poderia desenhar até mesmo um hipocausto.

    • O que é um hipocausto?

    • Um forno subterrâneo para aquecer a água dos banhos termais ou estufas.

    • A senhorita poderia desenhar um para mim? Alguns arquitetos da atualidade estão projetando sistemas completos de aquecimento doméstico, e eu gostaria de saber como funcionava o sistema romano.

    • Verei o que posso fazer — ela prometeu.

    • A senhorita é surpreendente! Por acaso possui algum outro talento que eu ainda não conheço?

    • Oh, não. Com exceção dos estudos romanos, minha educação foi tradicional. Eu toco pianoforte e harpa, sei cantar, falo um pouco de fran­cês, bordo com perfeição e também me saio bem em poesia.

    Matthew riu.

    • Um exemplo perfeito de dotes refinados. Seu desenho, porém, de­ monstra um talento muito além do comum, a julgar pelo que vi.

    • Obrigada pela gentileza, sr. Walsingham — Sorrindo, ela fez uma mesura. — Isso me lembra que a pobre Sukey já deve estar cansada de me esperar.

    ~ Eu a levarei para junto de sua dama de companhia, se prometer que dançará comigo esta noite.

    — Uma promessa feita sob coação não é promessa — observou Jéssi­ca. Mas... Sim, eu lhe reservarei uma dança, se quiser.

    E claro que quero. E a senhorita aceitaria dar um passeio comigo, amanhã à tarde? — pediu Matthew, enquanto deixavam a Abadia. — A sra. Barlow pode atestar que meu veículo é altamente respeitável.


    • Obrigada, mas eu já me comprometi a passear com a srta. Pearson em Sidney Gardens — respondeu ela.

    • Eu gostaria de não ter convidado a srta. Pearson para passear comigo esta tarde — disse Jéssica à srta. Tibbet, quando atravessavam a ponte Pulteney. — Se soubesse que o sr. Walsingham iria me convidar para um passeio...

    • Você foi atenciosa com a moça, e pelo que me contou sobre ela, a pobrezinha deve estar precisando de atenção.

    • Não tanto de atenção, eu acho, mas de encorajamento. Oh, cuida­do, tia Tibby, a senhora vai ser atropelada! — Ela puxou a acompanhan­te de volta para a calçada ao avistar um veículo que se aproximava em alta velocidade. — Meu Deus! Essa carruagem consegue ser ainda mais impressio-nante que a do sr. Walsingham.

    O veículo em questão, puxado por um par de belo par de cavalos baios, era pintado de azul com frisos dourados, e o cocheiro usava um unifor­me luxuoso. Era um equipamento que poderia passar despercebido em Hyde Park, mas ali, em Bath, fazia com que as pessoas se virassem para olhá-lo.

    A carruagem parou de repente. Jéssica ergueu o olhar e deparou-se com a srta. Pearson à janela, fitando-a, ansiosa.

    — Srta. Franklin, eu sinto muitíssimo — disse a jovem dama, ofegante.
    — Nós deveríamos ter ido buscá-la em casa.

    Jéssica sorriu, argumentando:

    — Eu venho do campo, e gosto de andar. Mas já que a senhorita está aqui, seria uma tolice eu me recusar a acompanhá-la em sua carruagem.

    Quando Jéssica e a srta. Tibbet entraram no veículo, a sra. Woodcock cumprimentou-as e fez um comentário a respeito do tempo. A conversa continuou em termos polidos, com a srta. Pearson em silêncio, e a car­ruagem foi posta em movimento, em direção a Sidney Gardens.

    Lá chegando, elas deixaram o veículo no pavilhão e entraram no jar­dim. O caminho de cascalho, ladeado por gramados verdejantes, seguia na direção de Bathwick Hill. Em meio à paisagem bucólica desfilavam damas trajando vestidos brancos ou em tons pastéis.

    Jéssica percebeu, horrorizada, que o vestido violeta da srta. Pearson chamava tanta atenção quanto a carruagem luxuosa. Determinada a não demonstrar seu embaraço, Jéssica deu-lhe o braço e escolheu um cami­nho que parecia menos frequentado que os outros.



    • Eu nunca havia estado aqui, antes — disse ela, enquanto a srta. Tibbet e a sra. Woodcock as seguiam. — É um lugar encantador para se tomar ar fresco, não acha?

    Tem razão. Papai diz que o Hyde Park é mais elegante, mas está sempre tão cheio de gente... — comentou a srta. Pearson, tristonha.

    • A senhorita mora em Londres?

    • Sim, sempre morei lá, a não ser quando estava na escola. Eu era feliz na escola, até que papai decidiu que eu deveria ser apresentada à sociedade. Foi por isso que ele contratou a sra. Woodcock para me acompanhar. Papai imaginou que ela seria capaz de me apresentar às pessoas certas, mas isso não aconteceu.

    • É mesmo? — perguntou Jéssica, cautelosa.

    A tímida srta. Pearson parecia a ponto de abrir as comportas para uma torrente de confidências.

    • Sim. Apesar de ser filha de um barão, a sra. Woodcock casou-se com um pastor e ficou trinta anos sem visitar Londres. Nós fomos a um único baile durante toda a Temporada, e foi horrível. Ninguém falou conosco. Então, esse ano, papai decidiu comprar uma casa em Bath.

    • A senhorita prefere Bath a Londres?

    • De certa forma, sim. Aqui vou a todos os bailes e danço com vários cavalheiros, mas nunca sei direito o que dizer a eles. E detesto ficar sentada com a sra. Woodcock, esperando que o sr. Guynette encontre um parceiro para mim.

    • Os bailes são muito mais divertidos quando se tem amigas para conversar nos intervalos — opinou Jéssica. — A senhorita não quer sentar-se comigo no próximo baile?

    • Oh, srta. Franklin, seria esplêndido!

    Jéssica sorriu, comovida com a gratidão demonstrada pela srta. Pear­son. Decidiu que, se iriam sentar-se juntas, algo teria de ser feito com relação à vulgaridade das roupas da jovem dama. Apesar de fora de mo­da, o vestido da sra. Woodcock era preto, como convinha a uma viúva. Sem dúvida era "papai" o responsável pela falta de bom gosto da moça, e não a dama contratada para acompanhá-la.

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