É um prazer conhecê-las — declarou Jéssica, retribuindo a mesura. — Eu a vi na Upper Room, ontem, srta. Pearson. Gostou do baile?
A jovem murmurou algo que soou como a palavra "agradável".
— Se não fosse pela gentileza do sr. Guynette, eu não teria tido um único parceiro a noite inteira. De qualquer modo, é desconcertante passar a noite dançando com estranhos, não acha?
A srta. Pearson ergueu a cabeça e fitou Jéssica, ansiosa, comentando:
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Pensei ser a única a me sentir assim. É tão mais confortável quando se está cercada por conhecidos...
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Eu diria que em breve ambas teremos muitos amigos em Bath —encorajou-a Jéssica. — Aliás, espero ser uma de suas amigas. Talvez possamos passear em Sidney Park, uma tarde dessas. O que acha da ideia?
— Eu adoraria — respondeu a srta. Pearson, sorrindo.
Depois de marcar o passeio, as jovens damas se despediram.
Parabéns, srta. Franklin — disse Matthew, enquanto se afastavam. Conseguiu extrair mais palavras da srta. Pearson em alguns minutos do que eu durante toda uma dança.
Pobre criança, ela é tão tímida! Foi maldade sua pegá-la de surpresa. E não adianta dizer que não foi intencional. Ele sorriu.
Eu só pretendia punir a senhorita por ter me forçado a tomar aquela água horrorosa. Queria vê-la lutando em vão para conseguir manter uma conversa. Mas como a senhorita foi bem sucedida, meu plano falhou.
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Como o senhor é maldoso! — riu Jéssica, antes de exclamar: — Oh, céus, agora preciso descobrir onde tia Tibby se meteu!
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Se a senhorita deseja voltar para casa, por favor, permita-me acompanhá-la.
— Seria conveniente? Não estou familiarizada com as convenções em Bath.
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Já que eu conheço seu irmão e nós somos vizinhos, duvido que as mexeriqueiras tenham algo a dizer contra senhorita.
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Talvez eu não devesse acreditar em sua palavra, depois de ter agido de maneira tão imprópria, mas aceito a oferta de bom grado, sr. Walsingham. Vamos?
Passando pela Abadia, ela olhou para os anjos esculpidos em pedra na fachada.
— Acredito que esta seja a melhor hora do dia para desenhá-los —declarou. — Voltarei amanhã a essa hora, se o tempo permitir.
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Parece que a senhorita é uma artista séria — comentou Matthew.
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Oh, não! Desenho apenas por prazer.
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Então precisa levar seu bloco no passeio dessa tarde. A paisagem
do alto de Beechen Cliff é fabulosa.
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O problema em desenhar paisagens é que tudo perde o foco, à distância. Beechen Cliff fica muito longe?
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Não muito. Calculo que fica a menos de um quilómetro do rio, seguindo pela Southgate Street.
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Eu estava pensando... Talvez seja uma boa ideia o senhor levar seu cabriole, caso alguma das damas se canse.
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Pedirei que meu cavalariço conduza o veículo.
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Como preferir. Bem, obrigada por ter me trazido para casa, sr. Walsingham — agradeceu Jéssica, ao chegar à entrada da casa que alugara.
Ele fez uma mesura. Um criado de libré abriu a porta e Jéssica entrou, sem olhar para trás.
Matthew percorreu os poucos metros que o separavam da casa do tio, pensativo. Sabia que a srta. Franklin sugerira levar o cabriole porque estava preocupada com a saúde dele. Não podia fazer nada quanto à perna, mas preferia não ter inventado a mentira a respeito do pulmão.
CAPÍTULO VI
Sukey! Sukey, venha rápido! — chamou Jéssica, subindo correndo para o quarto. — Quero usar o vestido de azul essa tarde, e precisamos mudar os enfeites do meu chapéu e da sombrinha! A criada a seguiu mais devagar, esfregando as mãos no avental.
— Posso bordar florzinhas de seda azul em seu chapéu, senhorita —disse Sukey, entrando no quarto. — E também virar a aba para baixo, se quiser.
Jéssica já tirara do guarda-roupa o vestido novo de cambraia azul e olhava para ele com aprovação.
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Sim, será perfeito. E eu vou fazer um laço azul para amarrar no cabo da sombrinha! — excla-mou, entusiasmada.
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A sra. Ancaster diz que cavalheiros nem notam o que uma dama está vestindo, desde que ela seja bonita e esperta — observou Sukey enquanto soltava os pontos que prendiam uma pluma cor de damasco ao chapéu de palha.
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Mas as outras damas notam e fazem mexericos. E cavalheiros dão ouvidos a mexericos tanto quanto as damas.
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Oh, sim, srta. Franklin, sei que os homens também apreciam bisbilhotices. Imagine só, o sr. Hayes pediu a Tad para ir ao mercado hoje de manhã e ele voltou cheio de novidades contadas pelo criado de quarto do sr. Walsingham.
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Pelo criado do sr. Walsingham?
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Isso mesmo, senhorita. — Sukey notou que a patroa estava morrendo de curiosidade e acrescentou: — Parece que o sr. Walsingham é o sobrinho favorito do visconde Horace Stone. Ele herdará a fortuna da família, incluindo uma propriedade chamada Stone Gables, mas não herdará o título por ser parente de lorde Stone apenas por parte de mãe.
Ele deve ser um cavalheiro muito simpático, pelo que dizem.
— Oh, sim. — Jéssica suspirou, sonhadora. — Muito simpático.
Naquele instante ouviram Nathan subir a escada, chamando pela irmã.
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Jess? Posso entrar? Com licença... Tad disse que recebemos um convite para passear, hoje à tarde. É verdade?
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Sim, os Barlow nos convidaram para ir até Beechen Cliff — respondeu Jéssica.
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Quem mais irá ao passeio?
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O sr. Walsingham, lorde Peter, e algumas outras pessoas cujos nomes não recordo agora.
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Walsingham também vai? Ótimo! Você o encontrou no Pump Room?
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Na verdade, encontrei-o antes de chegar lá. Tia Tibby desapareceu e ele teve a gentileza de me acompanhar.
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Preciso ter uma palavrinha com tia Tibby — disse Nathan, franzindo o cenho.
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Não faça isso, por favor. Ela ficaria mortificada e, de qualquer modo, nada de mal pode me acontecer nas ruas de Bath.
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Jess, não há problema quando você se depara com um cavalheiro respeitável como Walsingham, mas e se fosse Alsop?
— Quem é Alsop?
Nathan enrubesceu.
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Um sujeito que conheci no carteado, ontem à noite. Fui visitá-lo, hoje de manhã. Ele pode ser um barão, mas não é nada recomendável que uma dama fique sozinha na companhia dele.
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Ora, como sugere que eu o evite, se é um amigo seu? — argumentou Jéssica, em tom de censura.
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Tem razão. Eu não o verei mais. Walsingham é um cavalheiro muito mais interessante. Vou pedir à sra. Ancaster que prepare algo para nós antes de sairmos.
Nathan saiu do quarto. Enquanto se vestia, Jéssica pensou na conversa que tivera com o irmão.
Sentiu-se contente. Em primeiro lugar, porque Nathan não parecia interessado em Kitty Barlôw. Kitty era uma jovem encantadora, mas do ponto de vista prático não era um bom partido. Em segundo lugar, porque seu irmão gostava de Matthew Walsingham...
Ela desceu a escada, cantarolando.
A srta. Tibbet estava com Nathan na sala de jantar, tomando chá e comendo bolinhos. A idosa senhora parecia envergonhada, e Jéssica imaginou que Nathan a havia repreendido. Apesar de ter pedido que não o fizesse, ela achou justa a atitude do irmão.
Antes que tia Tibby achasse necessário desculpar-se, Jéssica começou a falar:
-
A senhora já foi informada sobre o passeio dessa tarde? Acho que a vista do alto de Beechen Cliff deve ser belíssima.
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Imagino que sim. Estou aguardando o passeio com ansiedade.
-
Então a senhora vai conosco, tia Tibby? Fico contente.
Instantes mais tarde, estavam passando diante da casa de número nove quando Matthew Walsingham saiu pela porta da frente e juntou-se a eles. Nathan entabulou conversa com ele no mesmo instante e os dois ficaram para trás, deixando que as damas caminhassem sozinhas à frente, a não ser quando havia alguma rua a ser atravessada. Desapontada, Jéssica se convenceu de que assim era melhor; afinal não seria de bom tom ser vista o tempo todo acompanhada pelo sr. Walsingham.
Durante a tarde, Jéssica teve várias oportunidades para se lembrar disso. O sr. Barlow estava determinado a ficar ao lado dela. Annabel Forrester, uma morena recatada de olhar lânguido, logo se apropriou do sr. Walsingham, e Jéssica pôde ouvi-los conversarem e rirem. Ela esforçou-se para dar a impressão de também estar se divertindo.
Kitty Barlow parecia contente, apesar de acompanhada pelo taciturno lorde Peter. A jovem tagarelava, sem tomar conhecimento do silêncio dele.
Nathan caminhava com a srta. Maria Crane, uma ruivinha com um vasto repertório de olhares afetados e comentários provocantes. Ouvindo os dois, Jéssica surpreendeu-se com a habilidade do irmão em manter uma conversa animada. Ele devia ter aprendido mais que a arte de guerrear na América, entre as beldades sulistas.
Quando o grupo alcançou a parte mais íngreme do caminho que levava ao alto do morro, o sr. Barlow desculpou-se e foi ajudar a mãe a subir a ladeira. Nathan foi rápido em oferecer o braço à srta. Tibbet, e com um beicinho de desapontamento a jovem ruiva juntou-se a Jéssica. Ela revelou ser uma pessoa sensível quando não bancava a coquete, e ambas iniciaram uma interessante conversa.
A vista do alto de Beechen Cliff era soberba. O grupo inteiro reuniu-se para admirá-la e Jéssica descobriu-se de repente ao lado de Matthew Walsingham.
— Eu gostaria de ter trazido meu bloco de desenho — comentou ela.
Em primeiro plano, estava o rio Avon. Do outro lado do rio, via-se a cidade com as ruas de pedras cor de mel cercadas de casas. Podia-se distinguir torres de igreja e a magnificência gótica da Abadia. Mais além via-se a encosta verde de Landsdown Hill.
-
A senhorita pode voltar outro dia para desenhar — sugeriu Matthew. — Eu ficaria contente em carregar seus apetrechos.
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Oh, sim, precisamos voltar outra vez. — A srta. Crane materializou-se junto deles. — Vou pedir a mamãe que organize um piquenique. Poderemos fazer um concurso de desenho.
Kitty Barlow falou com Jéssica naquele instante, e a ruiva aproveitou para apropriar-se de Matthew. Ele dirigiu um sorriso sem graça a Jéssica e ergueu os ombros de leve. Ela irritou-se ao perceber que não conseguiria ficar cinco minutos com ele sem que alguém interferisse.
Descendo o morro, o grupo encontrou o cabriole de Matthew Walsingham, que aguardava na alameda que conduzia à ponte. A srta. Tibbet ofereceu-se para acompanhar os jovens, de forma que o cavalariço pôde conduzir a sra. Barlow, exausta, até em casa.
. Gostaria que todos entrassem para tomar uma xícara de chá — convidou ela, enquanto Matthew a ajudava a subir no cabriole. Em seguida,
agradeceu: — Obrigada pela gentileza, sr. Walsingham. Seu veículo é esplêndido.
A sra. Barlow acenou, radiante, enquanto o cabriole se afastava.
Era impossível não gostar dos Barlow. Jéssica escolheu fazer o resto do caminho com Kitty, em vez de disputar a atenção de Matthew Walsingham. Sentiu-se recompensada quando o viu disfarçar e fugir de Maria Crane. Ele ofereceu o braço à srta. Tibbet e escutou, respeitoso, sua pequena dissertação sobre arquitetura romana.
-
O sr. Walsingham é um rapaz encantador — anunciou tia Tibby quando eles retornaram, por fim, à casa em North Parade. — Ele até fez algumas perguntas inteligentes!
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Irei me encontrar com ele amanhã, para darmos uma volta de cabriole — comentou Nathan.
Quando subiu para seu quarto, a fim de trocar de roupa para o jantar, Jéssica imaginou se Matthew Walsingham preferiria uma donzela recatada como Annabel Forrester ou uma namoradeira afetada feito Maria Crane.
-
A senhorita se divertiu? — Sukey perguntou.
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Sim, bastante — respondeu Jéssica, com honestidade.
Os Franklin e a srta. Tibbet passaram a noite em casa. Eles não podiam se dar ao luxo de sair todas as noites.
— Deixe que pensem que nós preferimos uma noite tranquila de vez em quando — aconselhou a srta. Tibbet.
Nathan e a idosa senhora sentaram-se para jogar xadrez, enquanto Jéssica ia buscar seu bloco para praticar o desenho da vista de Beechen Cliff de memória. Se o concurso de desenho realmente acontecesse, pretendia estar preparada para vencê-lo. Não apreciara o brilho confiante no olhar de Maria Crane.
No dia seguinte ela pegou o bloco de desenho e se pôs a caminho da Pump Room. Como esperava encontrar alguma de suas novas amizades, tia Tibby foi dispensada de acompanhá-la. No lugar da idosa senhora, Sukey caminhava, alegre.
Depois de quase uma hora de conversa com Kitty, Maria e Annabel, Jéssica chamou Sukey e saiu para desenhar a Abadia. Elas encontraram um banco de pedras num lugar ideal. A criada ficou contente por poder ficar sentada ao sol enquanto a patroa se ocupava com lápis e papel.
Jéssica mal havia feito um esboço da torre octogonal e começado a traçar os contornos do primeiro anjo quando sentiu a presença de alguém às suas costas.
— Um bom começo — disse Matthew, em tom de aprovação. — A senhorita tem um bom senso de proporção.
Ela ergueu o olhar, sorridente.
— Eu gosto de desenhar edificações. Elas não se movem, feito pessoas e animais, e não aparecem desfocadas, como paisagens distantes.
Diga-me, o senhor já foi tomar sua água medicinal, hoje?
— Não, ainda não — confessou ele. — Eu pretendia...
A explicação de Matthew foi interrompida por um acesso de tosse.
-
O senhor pretendia ir tomá-la agora — completou Jéssica.
-
Na verdade, eu ia dizer que pretendia ter o prazer de levá-la a dar uma volta pela Abadia, antes.
-
E depois, de forma conveniente, esquecer o remédio? O senhor deveria envergonhar-se de seu comportamento.
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Está bem, irei primeiro tomar a água se a senhorita prometer esperar por mini.
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Já que a luz e as sombras estão do jeito que eu quero, prometo esperá-lo desenhando, a não ser que o senhor se depare com as senhoritas Forrester e Crane e demore a voltar.
Matthew recuou.
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Elas estão na Pump Room? Céus, preciso mesmo ir até lá?
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Precisa, sim.
Jéssica achou que seria interessante descobrir se as jovens damas, que começava a considerar suas rivais, conseguiriam reter Matthew Walsingham na Pump Room.
— A senhorita é muito cruel — disse ele, com um suspiro —, mas eu a obedecerei. Até logo.
"Será que perdi o juízo, ao mandá-lo embora?", pensou Jéssica. Consciente dos minutos que passavam, ela voltou a concentrar-se nos anjos esculpidos em pedra.
CAPÍTULO VII
Q uais serão as intenções da srta. Franklin?", perguntou-se Matthew em pensamentos.
Estaria assim tão preocupada com a saúde dele que se arriscava a perder sua companhia, ou simplesmente não valorizava essa companhia tanto quanto ele esperava?
Ao entrar na Pump Room, Matthew olhou rapidamente ao redor e avistou as jovens damas que tentava evitar. Tomou o caminho oposto até a porta que conduzia ao salão das torneiras. Demorou-se lá por algum tempo, até não conseguir mais suportar o odor da água sulfurosa. Então caminhou de volta até a saída, evitando outra vez o grupo de damas conhecidas. Respirou, aliviado, ao sair sem ser detido.
Jéssica ainda estava sentada no mesmo banco, de costas para ele, aparentando estar absorvida no desenho. O chapéu de palha enfeitado por uma pena cor-de-rosa, combinando com o vestido, a deixava encantadora.
Apesar da aparente concentração, Jéssica devia ter ouvido os passos de Matthew, pois olhou para trás quando ele se aproximou.
-
Oh! O senhor parece enjoado.
-
Está caçoando de mim, srta. Franklin?
A pergunta fez com que ela risse de modo encantador.
-
Apenas imaginei se o médico estava certo ao dizer que a água medicinal de Bath seria boa para a sua saúde. Seria uma pena se o remédio para o peito prejudicasse sua digestão. O senhor pode ter puxado ao seu tio.
-
Deus me livre! Quero dizer, tio Horace é um bom homem — acrescentou ele, apressado —, mas eu não gostaria de herdar a dispepsia dele.
Acho melhor parar de tomar essa água horrível. Agora mudemos de assunto, antes que eu comece a passar mal de verdade. Vamos entrar na Abadia?
-
Sim. Sukey, você pode tomar conta do meu material de desenho, por favor?
-
Claro, senhorita.
Matthew ofereceu o braço a Jéssica e eles adentraram a penumbra fria da igreja. Jéssica ficou impressionada com o lugar.
— Não imaginei que fosse tão diferente da catedral de Durham, tão leve e arejada, estendendo-se para cima como se quisesse elevar-se até o céu.
-
Eu nunca estive na catedral de Durham, mas ela é em estilo romântico, não? Os normandos gostavam de construções sólidas.
-
Sim, a catedral dá uma impressão de forte solidez. As janelas são mais estreitas e todos os pilares são decorados, não têm a simplicidade elegante dos daqui.
-
A Abadia é uma das últimas catedrais góticas, construída no século dezesseis. O arquiteto de Henrique VII, William Vertue, desenhou uma abóbada maravilhosa para o teto, mas ela nunca foi construída.
-
O senhor parece conhecer bem o assunto — comentou Jéssica, surpresa.
-
Sempre me interessei por arquitetura — disse Matthew, com timidez. — Sinto muito, eu não pretendia aborrecê-la com uma preleção sobre o assunto.
-
Eu não me aborreci. Conheço muito pouco sobre qualquer arquitetura que não seja a romana, pois tia Tibby, responsável por minha educação, considera decadente qualquer construção posterior ao ano cem da nossa era. Conheço tudo sobre templos e anfiteatros romanos, e poderia desenhar até mesmo um hipocausto.
-
O que é um hipocausto?
-
Um forno subterrâneo para aquecer a água dos banhos termais ou estufas.
-
A senhorita poderia desenhar um para mim? Alguns arquitetos da atualidade estão projetando sistemas completos de aquecimento doméstico, e eu gostaria de saber como funcionava o sistema romano.
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Verei o que posso fazer — ela prometeu.
-
A senhorita é surpreendente! Por acaso possui algum outro talento que eu ainda não conheço?
-
Oh, não. Com exceção dos estudos romanos, minha educação foi tradicional. Eu toco pianoforte e harpa, sei cantar, falo um pouco de francês, bordo com perfeição e também me saio bem em poesia.
Matthew riu.
-
Um exemplo perfeito de dotes refinados. Seu desenho, porém, de monstra um talento muito além do comum, a julgar pelo que vi.
-
Obrigada pela gentileza, sr. Walsingham — Sorrindo, ela fez uma mesura. — Isso me lembra que a pobre Sukey já deve estar cansada de me esperar.
~ Eu a levarei para junto de sua dama de companhia, se prometer que dançará comigo esta noite.
— Uma promessa feita sob coação não é promessa — observou Jéssica. Mas... Sim, eu lhe reservarei uma dança, se quiser.
E claro que quero. E a senhorita aceitaria dar um passeio comigo, amanhã à tarde? — pediu Matthew, enquanto deixavam a Abadia. — A sra. Barlow pode atestar que meu veículo é altamente respeitável.
-
Obrigada, mas eu já me comprometi a passear com a srta. Pearson em Sidney Gardens — respondeu ela.
-
Eu gostaria de não ter convidado a srta. Pearson para passear comigo esta tarde — disse Jéssica à srta. Tibbet, quando atravessavam a ponte Pulteney. — Se soubesse que o sr. Walsingham iria me convidar para um passeio...
-
Você foi atenciosa com a moça, e pelo que me contou sobre ela, a pobrezinha deve estar precisando de atenção.
-
Não tanto de atenção, eu acho, mas de encorajamento. Oh, cuidado, tia Tibby, a senhora vai ser atropelada! — Ela puxou a acompanhante de volta para a calçada ao avistar um veículo que se aproximava em alta velocidade. — Meu Deus! Essa carruagem consegue ser ainda mais impressio-nante que a do sr. Walsingham.
O veículo em questão, puxado por um par de belo par de cavalos baios, era pintado de azul com frisos dourados, e o cocheiro usava um uniforme luxuoso. Era um equipamento que poderia passar despercebido em Hyde Park, mas ali, em Bath, fazia com que as pessoas se virassem para olhá-lo.
A carruagem parou de repente. Jéssica ergueu o olhar e deparou-se com a srta. Pearson à janela, fitando-a, ansiosa.
— Srta. Franklin, eu sinto muitíssimo — disse a jovem dama, ofegante.
— Nós deveríamos ter ido buscá-la em casa.
Jéssica sorriu, argumentando:
— Eu venho do campo, e gosto de andar. Mas já que a senhorita está aqui, seria uma tolice eu me recusar a acompanhá-la em sua carruagem.
Quando Jéssica e a srta. Tibbet entraram no veículo, a sra. Woodcock cumprimentou-as e fez um comentário a respeito do tempo. A conversa continuou em termos polidos, com a srta. Pearson em silêncio, e a carruagem foi posta em movimento, em direção a Sidney Gardens.
Lá chegando, elas deixaram o veículo no pavilhão e entraram no jardim. O caminho de cascalho, ladeado por gramados verdejantes, seguia na direção de Bathwick Hill. Em meio à paisagem bucólica desfilavam damas trajando vestidos brancos ou em tons pastéis.
Jéssica percebeu, horrorizada, que o vestido violeta da srta. Pearson chamava tanta atenção quanto a carruagem luxuosa. Determinada a não demonstrar seu embaraço, Jéssica deu-lhe o braço e escolheu um caminho que parecia menos frequentado que os outros.
-
Eu nunca havia estado aqui, antes — disse ela, enquanto a srta. Tibbet e a sra. Woodcock as seguiam. — É um lugar encantador para se tomar ar fresco, não acha?
Tem razão. Papai diz que o Hyde Park é mais elegante, mas está sempre tão cheio de gente... — comentou a srta. Pearson, tristonha.
-
A senhorita mora em Londres?
-
Sim, sempre morei lá, a não ser quando estava na escola. Eu era feliz na escola, até que papai decidiu que eu deveria ser apresentada à sociedade. Foi por isso que ele contratou a sra. Woodcock para me acompanhar. Papai imaginou que ela seria capaz de me apresentar às pessoas certas, mas isso não aconteceu.
-
É mesmo? — perguntou Jéssica, cautelosa.
A tímida srta. Pearson parecia a ponto de abrir as comportas para uma torrente de confidências.
-
Sim. Apesar de ser filha de um barão, a sra. Woodcock casou-se com um pastor e ficou trinta anos sem visitar Londres. Nós fomos a um único baile durante toda a Temporada, e foi horrível. Ninguém falou conosco. Então, esse ano, papai decidiu comprar uma casa em Bath.
-
A senhorita prefere Bath a Londres?
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De certa forma, sim. Aqui vou a todos os bailes e danço com vários cavalheiros, mas nunca sei direito o que dizer a eles. E detesto ficar sentada com a sra. Woodcock, esperando que o sr. Guynette encontre um parceiro para mim.
-
Os bailes são muito mais divertidos quando se tem amigas para conversar nos intervalos — opinou Jéssica. — A senhorita não quer sentar-se comigo no próximo baile?
-
Oh, srta. Franklin, seria esplêndido!
Jéssica sorriu, comovida com a gratidão demonstrada pela srta. Pearson. Decidiu que, se iriam sentar-se juntas, algo teria de ser feito com relação à vulgaridade das roupas da jovem dama. Apesar de fora de moda, o vestido da sra. Woodcock era preto, como convinha a uma viúva. Sem dúvida era "papai" o responsável pela falta de bom gosto da moça, e não a dama contratada para acompanhá-la.
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