Vítima de sua própria armadilha, ela teria de renunciar ao amor



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Kitty. Enquanto isso, sou obrigado a adiar meu casamento cóm Mary...

  • Não desanime, pelo menos a marquesa de Leighton não rejeitou sua irmã logo de início — consolou-o Matthew. — Venha, vamos tomar algo para melhorar seu humor.

    Entraram no bar do hotel e Matthew pediu vinho para ambos.

    Ao retornar a North Parade, depois de acompanhar Barlow até em ca­sa, Matthew concluiu que já era muito tarde para fazer uma visita a Jés­sica. Ele poderia ir vê-la se Nathan estivesse em casa, mas como o rapaz estava ausente precisaria esperar para contar-lhe que os Fitzroy haviam aprovado seu projeto.

    No dia seguinte, tão cedo quanto a boa educação permitia, Matthew foi procurar Jéssica. Ela mostrou-se contente com as boas novas. Juntos examinaram os desenhos preliminares a residência de verão dos Fitzroy, e Jéssica fez várias sugestões interessantes.


    • Persianas de madeira contra as tempestades de inverno são uma boa ideia — concordou Matthew. — Mas não gosto muito da ideia de construir um terraço no telhado.

    • Ora, será um local agradável e arejado para se passar as tarde de calor — argumentou ela.

    Eles continuaram a discutir outros detalhes, e a srta. Tibbet contri­buiu com seu conhecimento sobre o uso dos mosaicos pelos romanos.

    Nem é preciso dizer que, ao ser convidado para o lanche, Matthew acei­tou de pronto.

    Ele pensara em levar Jéssica para um passeio de cabriole naquela tar­de, com Hanson como acompanhante, é claro, mas começou a chover. Decepcionado, sem querer abusar da hospitalidade das amáveis vizinhas, foi para casa trabalhar. Ainda estava à mesa da sala de jantar algumas horas mais tarde, esboçando uma escada em espiral, quando bateram à porta.

    — Lorde Ilfracombe — anunciou o mordomo.

    Matthew levantou-se, ansioso. Não via o amigo desde a noite em que haviam ido ao teatro. .


    • Estive em Stone Gables — disse o conde, assim que entrou noaposento.

    • É mesmo? Sente-se, por favor, e conte-me como foi.

    Lorde Ilfracombe sentou-se à mesa e examinou uma das plantas de Matthew.

    • Pelo que vejo, você andou ocupado.

    • Sim, os Fitzroy encomendaram-se um projeto. Foi muita gentileza sua ter-lhes mostrado os desenhos da cabana de caça. Mas o que aconteceu em Stone Gables, afinal?

    • Eu estive com a srta. Stone, e ela me aconselhou a não mencionar seu nome na presença de Horace.

    • Então meu tio continua irredutível... — Matthew não conseguiu esconder o desapontamento. — Como está tia Caroline?

    • Sua tia continua afável e bonita, como sempre. — O conde assu­miu um olhar distante antes de acrescentar: — Ela gosta muito de você, meu rapaz. Está lutando para defendê-lo.

    • Lutando?

    • Talvez "tramando um plano" seja o termo mais indicando. Ela convidou Archibald Biggin para uma visita, e tendo feito dele seu herdeiro, Horace não pôde fazer objeções ao convite.

    Matthew franziu o cenho.

    — Não vejo como isso pode me ajudar.



    • Os sermões de Archibald contra bebidas alcoólicas está deixando Horace maluco, e suas pregações sobre a caridade cristã está conseguindo tirar até a doce srta. Stone do sério.

    • Pobre tia Caroline!

    • A srta. Stone considera impossível provar ao irmão que você é um modelo de virtude. Por outro lado, talvez seja possível provar a Horace que ele não deseja um modelo de virtude como herdeiro...

    • Titio pode não gostar dos sermões de Archibald, mas sempre foi um defensor da igreja. Virar-se contra Archibald por causa de sua atitu­de piedosa o faria parecer tolo, senão hipócrita, e tio Horace não supor­ta fazer papel de tolo.

    • Ele parecerá mais tolo ainda se for forçado a banir seu herdeiro de casa para conseguir um pouco de paz. Vou lhe dizer uma coisa, Matthew, depois de meia hora em companhia de seu primo, tive vontade de estrangulá-lo. Que sujeito aborrecido!

    • Compreendo o que quer dizer — disse Matthew, sorrindo. — Tio Horace pode ficar tão desesperado que chegará ao ponto de deserdar Archibald. Mas isso não significa que eu serei nomeado seu herdeiro outra vez. Archibald e eu somos os parentes mais próximos de titio, por sermos seus sobrinhos, mas existem inúmeros primos dos mais variados graus. Tio Horace pode muito bem escolher um deles como herdeiro, ou mesmo dividir a fortuna entre a família toda...

    CAPÍTULO XV


    Nada parece mudar — disse Jéssica, me­lancólica.

    • É verdade, está chovendo há dias — queixou-se a srta. Tibbet.

    • Não falo só a chuva. Veja só meu irmão... Nathan já voltou de Londres há uma semana e não parece nada propenso a pedir a mão de Lucy em casamento.

    • A srta. Pearson parece achar a conduta de Nathan aceitável.

    • A presença de meu irmão é melhor que sua ausência, eu sei, mas mesmo assim acho que Lucy gostaria de um pouco mais de entusiasmo por parte dele. Quanto a mim, continuo sendo cortejada pelo sr. Walsingham, que infelizmente não pode ajudar a resolver nossos problemas financeiros.

    Jéssica suspirou, desanimada.

    • E lorde Ilfracombe? — indagou a srta. Tibbet.

    • Duvido que ele venha a pedir minha mão. Se o fizesse, não sei que resposta eu daria. Gosto da companhia dele, e sua fortuna nos ajudaria bastante. Mas o conde é tão mais velho que eu...

    • Não se aflija, Jéssica. Mantenha a calma e logo encontrará uma solução para o problema — aconselhou a srta. Tibbet.

    Jéssica cruzou a sala e sentou-se ao lado dela no sofá de brocado ver­de. Deu-lhe um abraço carinhoso.

    • Obrigada pelo apoio, tia Tibby. Não sei o que eu faria sem a se­nhora para me ajudar e consolar nos momentos difíceis! No entanto, se perdermos Langdale, não poderemos mais pagar seu salário. Talvez seja­ mos obrigadas a nos separar.

    • Minha querida, não precisa se preocupar comigo. Devido à generosidade de seu pai, consegui economizar boa parte do meu salário nesses últimos quinze anos em que trabalhei para a sua família. Desse modo, poderei continuar a seu lado contribuir para o sustento da casa em vez de ser uma fonte de despesas para você e seu irmão.

    Com lágrimas de gratidão nos olhos, Jéssica abraçou-a outra vez.

    — Obrigada, tia Tibby, é muito bom ouvir isso. Eu não suportaria perdê-la. Mas onde iremos morar se perdermos Langdale? Não podemos ficar por muito mais tempo em Bath, e se nada mudar dentro das próxi­mas duas ou três semanas...



    • O dinheiro da venda das jóias já está acabando? — indagou a srta. Tibbet.

    • Ainda não. Contudo, se a nossa situação não mudar para melhor, teremos de retornar a Langdale para vender as ovelhas, tirar os móveis da casa, dispensar os criados e procurar um novo lar — explicou Jéssica.
      Com um suspiro triste, acrescentou: — Sem as terras para administrar, talvez Nathan acabe voltando para o exército, e nesse caso não terei ou­ tra escolha senão ir morar com algum parente... Que destino horrível!
      Talvez eu deva aceitar lorde Ilfracombe, afinal, se ele pedir minha mão em casamento.

    Entretanto, longe de estar pensando em pedir Jéssica em casamento, lorde Ilfracombe parecia cada vez menos interessado nela. Na verdade o conde andava bastante esquivo, ausentando-se de Bath com relativa frequência; chegou a mencionar ter ido a Stone Gables uma ou duas ve­zes. Matthew não o acompanhara, confirmando, na opinião de Jéssica, que sobrinho e tio estavam mesmo rompidos.

    Alguns dias mais tarde, finalmente parou de chover. Jéssica e Nathan, contentes com o reaparecimento do sol, foram até a Pump Room para encontrar os amigos.

    Kitty Barlow contou a Jéssica que a marquesa de Leighton chegaria naquela noite. A jovem parecia desanimada com a perspectiva de encontrar-se com a mãe do seu amado, e lorde Peter Glossop estava apreensivo. Nathan e Matthew fizeram o possível para distraí-lo.

    Então Matthew virou-se para as damas e anunciou:

    — Glossop concorda comigo. Devemos aproveitar o tempo bom para darmos um passeio de barco no canal, hoje à tarde.

    Lorde Peter ficou surpreso ao ouvir tais palavras, mas assentiu:

    — Sim, acho que é uma boa ideia.

    Kitty adorou a sugestão. Nathan persuadiu Lucy a ir também, o que não foi muito difícil. Ele foram pedir permissão à sra. Woodcock, en­quanto Kitty e lorde Peter iam falar com a sra. Barlow. Jéssica ficou so­zinha com Matthew.

    Ela estava aborrecida por Matthew contar com sua presença no pas­seio sem ao menos consultá-la. Foi então que ele perguntou, an­sioso:


    • Espero que a senhorita possa ir conosco, hoje, caso contrário terei que correr atrás de nossos amigos e convencê-los a mudar a data do passeio.

    • Posso, sim, pois não tenho nenhum outro compromisso para esta tarde — disse Jéssica, esquecendo de imediato o aborrecimento. — Mas
      preciso ver se tia Tibby está disposta a nos acompanhar. Não consigo imaginar a sra. Woodcock ou a sra. Barlow em um barco a remo.

    • Nem eu! — Ele abriu o sorriso maroto que tanto a encantara na primeira vez em que o vira. — A srta. Tibbet, no entanto, parece estar sempre disposta a tudo.

    Algumas horas mais tarde, estavam todos no ancoradouro Sydney. A srta. Tibbet discorreu com sabedoria sobre o sistema naval romano e per­mitiu que Bob Barlow a ajudasse a entrar no bote alugado. Jéssica a se­guiu. Matthew e Barlow assumiram os remos. Os outros quatro mem­bros do grupo embarcaram numa pequena chalana. Depois que Nathan se certificou de que Kitty e Lucy estavam bem acomodadas, lorde Peter impulsionou a chalana com a vara.

    As duas embarcações começaram a mover-se, formando ondas suaves nas águas esverdeadas do canal. Por um instante Jéssica observou Mat­thew, preocupada, mas remar parecia não lhe causar nenhum desconfor­to físico.

    Seus olhares se cruzaram.


    • Teme que eu pegue um siri, srta. Franklin? — brincou ele. — Eu costumava remar em Eton, sabia?

    • Pegar um siri? — ela perguntou, incerta. — Duvido que haja al­gum no canal.

    Matthew riu.

    — "Pegar siri" significa mergulhar o remo fundo demais — explicou Bob Barlow. — Isso faz o bote oscilar, e o remo acaba espirrando água para todos os lados.

    Jéssica alisou a saia de seu vestido novo, cor de marfim.

    — Talvez fosse melhor eu ter embarcado na chalana — disse ela, olhan­do para o outro barco.

    Lorde Peter impulsionava a chalana com destreza, enquanto Nathan o observava com inveja.


    • Já aprendi como se faz. Deixe-me tentar um pouco — pediu o rapaz.

    • Espere passarmos o túnel — disse lorde Peter.

    Logo à frente via-se a boca escura de um túnel. Lucy não gostava de escuridão e estremeceu de medo, dando a Nathan uma desculpa para segurar-lhe as mãos.

    — Uuu! — Bob Barlow gritou, quando entraram no túnel.


    "Uuu, uuu, uuu", o eco respondeu, e logo todos estavam gritando tão alto que não conseguiam sequer ouvir o eco.

    — Crianças levadas! — exclamou a srta. Tibbet, sorrindo, quando os barcos saíram do túnel.

    De um lado do canal viam-se as árvores de Sidney Gardens. Várias da­mas e cavalheiros debruçavam-se sobre as duas pontes ornamentais para observar os barcos passando. Kitty avistou uma conhecida e acenou.

    Três criancinhas acenaram de volta.



    • Veja, Peter — disse Kitty. — Que crianças adoráveis!
      Ao mesmo tempo, Nathan pediu:

    • Agora é minha vez de conduzir a chalana.

    Distraído, lorde Peter perdeu o ritmo. A embarcação oscilou. Lorde Peter perdeu o equilíbrio e caiu na água, desaparecendo sob a superfície escura.

    No mesmo instante Nathan tirou o casaco e o chapéu e mergulhou na água para resgatá-lo.

    Matthew mergulhou também. Nathan e ele nadaram até o lugar onde lorde Peter havia submergido, chegando bem na hora em que o rapaz voltou à superfície.

    — Está tudo bem — disse ele. — O canal não é fundo neste local.


    De fato, lorde Peter Glossop parecia estar-de pé, os ombros estreitos acima da linha d'água. Logo em seguida Matthew também apoiou os pés no chão, ficando com a água na altura do queixo. Nathan ficou sub­merso até o nariz.

    O último empurrão de lorde Glossop havia impelido a chalana a uma distância considerável. Dentro dela estavam Lucy e Kitty, sem saber co­mo controlá-la.

    — Socorro! — gritou Lucy.

    Matthew e Nathan começaram a nadar atrás da chalana, enquanto lorde Peter avançava caminhando. Bob Barlow remava depressa, tentando al­cançar a outra embarcação.

    — Cuidado! — gritou Jéssica quando um dos remos passou a centí­metros da cabeça de Matthew.

    No segundo seguinte Barlow "pegou um siri", espirrando água den­tro do bote.

    — Oh, meu vestido novo — resmungou Jéssica.

    Nathan aproximou-se e agarrou-se à borda esquerda da chalana, que oscilou de forma perigosa. Lucy e Kitty inclinaram-se para o lado opos­to, apavoradas. Matthew os alcançou e segurou a embarcação, enquanto Nathan subia. Lucy e Kitty gritaram de novo, tentando proteger os vesti­dos dos respingos de água.

    — É assim que as senhoritas me recebem? — indagou Nathan, sentando-se. — Não irão agradecer por eu ter vindo resgatá-las?

    Lucy estendeu-lhe um lenço e ele enxugou o rosto.



    • Como o senhor pretende nos resgatar se não tem nem remos nem vara para conduzir a chalana? — Kitty perguntou, nervosa.

    • Peter os rebocará — brincou Matthew.

    Lorde Glossop continuava avançando, perseverante.

    Jéssica começou a rir de repente, e foi incapaz de dar instruções a Bob Barlow, que remava de costas para o destino que pretendiam alcançar. Por sorte a srta. Tibbet tomou o controle da situação; ela fez Barlow desviar de lorde Peter e deu-lhe instruções precisas para que parasse atrás da chalana.

    Uma onda de aplausos, vinda das pontes, fez com que o grupo se lem­brasse de que tinha plateia. Lorde Peter corou, embaraçado, e finalmen­te alcançou os amigos. Jéssica e Matthew trocaram um olhar pesaroso.

    O incidente seria assunto para vários dias de mexericos em Bath.

    Sentado na chalana, Nathan tremia de frio. Jéssica supôs que o irmão não se resfriaria num dia quente feito aquele, mas não pôde deixar de preocupar-se com Matthew. Há tempos deixara de acreditar que ele so­fria do pulmão, e quase nem reparava mais quando ele mancava, mas sabia que um mergulho nas águas frias do canal não faria bem a ele. O rosto de Matthew estava pálido. Quanto mais cedo ele saísse da água, melhor.

    Com a ajuda de Peter, Matthew encostou a chalana no bote. Por sor­te, Nathan descobriu uma corda sob o assento em que se encontrava e utilizou-a para unir as duas embarcações.



    • Acho melhor Peter e eu irmos para terra firme, agora. Não convém tentarmos subir no bote. Você aguenta remar sozinho até o embar­cadouro, Barlow?

    • Sim, Não se preocupe.

    Matthew e lorde Glossop saíram da água e seguiram pela margem do canal.

    Bob Barlow, com o rosto vermelho por causa do esforço que fazia, conseguiu colocar os dois barcos em movimento. Uma multidão os ob­servava do alto das pontes.

    Jéssica acenou para os espectadores, dizendo aos três ocupantes da chalana:

    — Finjam que estão achando tudo muito engraçado. Façam como eu, acenem.

    Nathan obedeceu com um sorriso, e depois de um. momento Kitty fez o mesmo. Lucy ergueu a mão, tímida, em um meio aceno. Jéssica ficou satisfeita. Se os participantes do acidente rissem da própria aventura, a recepção que teriam quando chegasse a terra firme seria amistosa, e não humilhante. De qualquer modo, não havia como negar que várias cenas hilariantes haviam acontecido, concluiu ela.

    Mas Jéssica perdeu a vontade de rir ao olhar para a margem e avistar Matthew. Mancando pronunciadamente, ele parecia exausto. Ela hesitou, temendo chamar atenção para o problema de Matthew e causar-lhe em­baraços desnecessários. A srta. Tibbet percebeu o que acontecia e in­terferiu:



    • Talvez lorde Peter e o sr. Walsingham possam embarcar em segu­rança, se nos aproximarmos da margem. O senhor consegue remar até lá, sr. Barlow?

    • Posso tentar — respondeu o rapaz.

    Eles atingiram a margem sem problemas e os dois cavalheiros, enso­pados até os ossos, entraram com cuidado nos barcos. Jéssica, atencio­sa, emprestou seu lenço a Matthew.

    Ele dirigiu-lhe um sorriso encabulado enquanto secava o cabelo o me­lhor que podia, comentando:

    Da próxima vez que eu a levar para passear de barco, srta. Franklin, será em um navio a vapor no Tamisa. Sentaremos no centro do con­vés, o mais longe possível da água.

    Nesse momento, Jéssica pensou que se tivesse chance Não hesitaria em casar-se com Matthew, mesmo que ele não possuísse um único pêni no bolso.

    Ela não teve tempo para refletir sobre as implicações de sua decisão, pois logo alcançaram o ancoradouro. Os homens que trabalhavam lá pa­raram para observar o estranho grupo que se aproximava.

    — Vamos ter de cobrar uma taxa extra pelo mergulho — disse um dos homens.

    Todos os outros riram, mas foram solícitos e corteses na hora de aju­dar a atracar as embarcações.

    O cabriole de Matthew, o faetonte de lorde Peter e a esplêndida car­ruagem do sr. Pearson aguardavam pelo grupo. Sem condições de se mos­trarem galantes, os três cavalheiros que haviam caído na água foram dí-reto para casa, tomar banho e vestir roupas secas. Bob Barlow ajudou as damas a entrarem na carruagem e sentou-se ao lado da irmã. O co­cheiro seguiu em direção a Pulteney Bridge.

    — Será que sir Nathan vai ficar bem? — Lucy perguntou, ansiosa.
    Pelo resto do caminho até North Parade, Jéssica ocupou-se em tentar convencer Lucy de que Nathan era forte e Não adoecia com facilidade.

    — Garanto que ele estará no baile dessa noite para dançar com você — disse Jéssica, ao descer do veículo.

    Ela acenou enquanto a carruagem se afastava, mas seus olhos esta­vam fixos na residência de Matthew.

    Jéssica e a srta. Tibbet entraram em casa e subiram para trocar de rou­pa. A água do canal havia secado, deixando manchas escuras no tecido, mas Sukey estava certa de que o vestido de musselina indiana de sua jo­vem patroa poderia ser recuperado com um tratamento cuidadoso.

    A criada sorriu quando Jéssica narrou os acontecimentos, mas depois comentou:


    • Espero que a água fria não tenha feito mal à perna do pobre sr. Walsingham. Acho melhor mandar Tàd ir até a casa dele com a desculpa de pedir uma cebola emprestada, para descobrirmos como ele está.

    • Brilhante ideia, Sukey! — exclamou Jéssica, abraçando-a.

    Embaraçada com a demonstração de carinho, a criada retirou-se le­vando consigo o vestido manchado. Jéssica acomodou-se em sua poltro­na preferida, perto da janela com vista para o Avon. Pensativa, obser­vou um casal de cisnes que nadava no rio. Como será que as belas aves escolhiam seus parceiros? Com certeza de uma forma bem menos com­plicada que a utilizada por seres humanos...

    Jéssica suspirou. Ah, como sua vida devia parecer alegre e despreocu­pada para quem a via! Visitar a Pump Room, passear de barco pelo ca nal, dançar a noite inteira... Mas sob a máscara de tranquilidade, ela es­condia um profundo pesar. Não podia revelar a Matthew que estivera mentindo o tempo todo. Agir desse modo seria o mesmo que confessar o amor que sentia por ele, algo que uma moça de família não podia se­quer sonhar em fazer. Por outro lado, julgando-a dona de uma grande fortuna, Matthew também encontraria dificuldade para confessar que fora deserdado pelo tio... Será que ele a amava o bastante para algum dia contar-lhe a verdade?


    CAPÍTULO XVI
    A caseira fez um cataplasma de linhaça para lo sr. Walsingham, e agora ele está descan­sando — noticiou Tad.

    Jéssica sentiu-se aliviada ao ouvir que Matthew permitira que a casei­ra lhe aplicasse um remédio. Ela agradeceu Tad pela informação e voltou sua atenção para as plantas da residência de verão dos Fitzroy.

    Matthew lhe entregara as plantas alguns dias antes. O projeto da casa era criativo e prático. Com a ajuda de lorde Ilfracombe, Matthew não encontraria dificuldade em se estabelecer como arquiteto, pensou Jéssi­ca, esperançosa. Quando começou a desenhar a fachada da residência, lembrou-se de que Nathan dissera, em tom de brincadeira, que Matthew e ela formariam uma boa sociedade. Quem sabe, talvez fosse pos­sível...

    Nathan entrou na sala de jantar nesse momento, anunciando:



    • Estou saindo para devolver o lenço de Lucy, que Sukey lavou e pas­sou para mim.

    • Estou certa de que Lucy ficará feliz em recebê-lo — disse Jéssica, irónica.

    Matthew estava com o lenço dela, e ela não ficaria nem um pouco fe­liz se ele insistisse em devolvê-lo. Preferiria que Matthew o conservasse, como lembrança.

    Nathan, porém, era insensível a ironias. Jéssica ouviu-o assobiar ao deixar a casa. Suspirando, voltou a concentrar-se no trabalho.

    Consultou as plantas; a residência de verão dos Fitzroy ficaria muito bonita, sem dúvida.

    Bateram à porta, e Tad foi atender.



    • É a srta. Pearson — anunciou o criado à porta da sala de jantar, pouco depois.

    • Mande-a entrar, por favor, Tad.

    Jéssica levantou-se quando Lucy entrou, carregando uma sacola de vime.

    — Minha querida, o que a traz de volta tão cedo?


    Lucy enrubesceu.

    — Eu contei que sir Nathan mergulhou no canal para salvar lorde Peter, e a sra. Woodcock me deu a receita de um xarope contra friagem.

    É muita gentileza sua trazer a receita.

    Jéssica preferiu não comentar que seu irmão odiava xaropes.



    • Eu trouxe todos os ingredientes — disse Lucy. — Pensei, caso sua cozinheira esteja ocupada, que eu mesma poderia preparar o xarope.

    • Bem, temo que Nathan tenha...

    A porta se abriu de repente e Nathan entrou.

    • Jess, eu... Oh, srta. Pearson! Vi sua carruagem na York Street, vindo nesta direção, e então voltei para casa. Algum problema?

    • Oh, não, sir. Se o senhor está bem... — O rubor de Lucy acentuou-se. — Eu estava com medo de que o senhor pegasse um resfriado, por isso trouxe uma receita de xarope. Pensei em prepará-lo para o senhor, mas vejo que não há necessidade.

    • Na verdade, estou sentindo um pouco de dor de garganta arranhar— mentiu o rapaz.

    • Por que vocês não vão para a cozinha? — sugeriu Jéssica, escon­dendo um sorriso. — A sra. Ancaster ficará contente em vê-los.

    Eles ficaram na cozinha por quase uma hora. Quando retornaram, Na­than contou que o xarope não era tão ruim, afinal, e que a sra. Ancaster lhes havia dado torta de groselha.

    • Ela também me deu licor de groselha — disse Lucy, retirando uma garrafa pequena da sacola. — Mas ela comentou que comprou as grose­lhas na feira, por isso o licor não deve estar tão bom quanto se tivesse sido feito com groselhas ainda molhadas de orvalho, colhidas no pomar de Langdale. Você realmente colhe groselhas, Jéssica?

    • Sim, mas nunca tão cedo a ponto de encontrá-las molhadas de orvalho!

    • Oh, parece maravilhoso. Eu também gostaria de ter uma casa com pomar e aprender a fazer licores e geléias.

    Lucy suspirou e olhou para Nathan, mas ele estava distraído estudan­do o desenho de Jéssica.

    — Bem, preciso ir agora. Já está na hora de eu me aprontar para o jantar e o baile — disse a srta. Pearson.

    Nathan acompanhou a jovem até a carruagem que a aguardava.

    Jéssica guardou os desenhos numa pasta. Ao sair da sala, viu seu ir­mão parado no hall. Ele segurava um pequeno lenço branco bordado, e o olhava não com o aborrecimento de alguém que havia esquecido de devolver algo, mas com um sorriso embevecido.


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