Vítima de sua própria armadilha, ela teria de renunciar ao amor



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Jéssica subiu as escadas, pensativa, a fim de se trocar para o jantar. Era óbvio que Nathan e Lucy haviam sido feitos um para o outro. Mas a teimosia de seu irmão, que insistia em considerar o pai de Lucy indig­no, seria capaz de arruinar a vida de ambos. Nathan estava seguro de­mais do amor de Lucy. Era necessário que um rival o fizesse sentir ciú­mes e entrar em ação. O problema é que lorde Alsop não importunava mais Lucy, pelo menos não na presença de Nathan.

Jéssica decidiu que deveria despertar os ciúmes do irmão. Precisava pensar num plano, e depressa.

Ela esqueceu tudo sobre Nathan e Lucy, porém, quando Sukey per­guntou que vestido ela queria usar para ir ao baile. Seu pensamento voltou-se para Matthew. Será que ele estaria bem o suficiente para ir ao baile?

— A sra. Ancaster mandou Tad levar de volta a cebola que havia pedido emprestada — disse Sukey de repente, parecendo ler o pensamento da jovem patroa. — Parece que o sr. Walsingham está muito bem-disposto, pediu até que seu criado polisse os sapatos de dança.

A preocupação que tomava conta da mente de Jéssica desapareceu co­mo que por encanto.

— Vou usar o vestido azul com a faixa de seda — disse ela, decidida.


Matthew tocou a sineta da casa dos Franklin quando eles terminavam o jantar.

  • Irei de cabriole esta noite — declarou ele. — Posso pedir permis­são para levar a srta. Franklin ao baile?

  • Oh, sim. Será um prazer — assegurou Jéssica.

  • Srta. Franklin, eu estava pedindo permissão a sua tia e a seu irmão — disse Matthew, sorrindo.

Ela fez beicinho.

  • Muito apropriado, sr. Walsingham — comentou a srta. Tibbet. —Suponho que seu cavalariço vá junto?

  • É claro, madame.

  • Muito bem, Walsingham, você pode levar Jéssica ao baile — con­cedeu Nathan.

  • Meu querido irmão, o dia que eu precisar de sua permissão para fazer algo, os cavalos criarão asas — resmungou Jéssica, que se considerava uma jovem independente. E, voltando-se para Matthew: — Dê-me cinco minutos, senhor, e estarei pronta para sair.

Ela foi buscar seu xale de gaze, leque, luvas e bolsa. Quando desceu as escadas, Matthew a esperava no hall, com o relógio na mão. Ele observou-a com divertida admiração.

— Exatamente cinco minutos, srta. Franklin. Meus parabéns!


Ele lhe ofereceu o braço e Tad abriu a porta.

  • Eu esperava que o senhor estivesse admirando minha aparência, não minha pontualidade — reclamou Jéssica, fingindo zanga.

  • A pontualidade é uma virtude, a beleza um mero atributo.

  • Vejo que o senhor está com vontade de me provocar, por isso vou diverti-lo com uma descrição de sua aparência ao sair do canal, esta tarde.

Enquanto atravessavam a cidade em direção à Upper Room, riram jun­tos do malsucedido passeio. Jéssica relutou em mencionar o efeito da água fria sobre a perna ferida de Matthew, e ficou feliz quando ele próprio abordou o assunto.

  • Por um instante temi que a água fria fosse me fazer mal — comentou Matthew, com um sorriso pesaroso.

  • Eu também. Foi um alívio vê-lo parado à porta de minha casa, bem de saúde.

  • No entanto, não pretendo dançar essa noite. A senhorita se importaria de ficar sentada durante as duas danças para as quais eu pretendia convidá-la?

  • O senhor não deveria ter dito isso, para que eu pudesse ser nobre e oferecer-me para lhe fazer companhia em vez de dançar.

  • Mas a senhorita poderia não querer ser nobre, e então eu perderia o prazer de sua companhia.

  • O senhor está colocando a nobreza de meu caráter em dúvida, sr. Walsingham? — perguntou Jéssica, arrependendo-se logo em seguida;
    não havia nada de nobre no jogo que Nathan e ela estavam jogando. —Não, não diga nada. Pode ser que eu não goste da resposta. Sentarei a seu lado durante duas danças, se o senhor me defender das brincadeiras que com certeza nos serão dirigidas.

  • As brincadeiras serão dirigidas a mim. Fui eu quem caiu na água, afinal.

  • Em uma nobre missão de resgate, não se esqueça. Imagino que o pobre lorde Peter vá encarar o fato com... Oh, céus, a mãe dele chega esta noite, não chega? Ele não irá ao baile, com certeza.

Bob Barlow os encontrou à porta, com um sorriso glorioso nos lábios.

  • Srta. Franklin, por favor, fique comigo enquanto o baile não começa — pediu o rapaz. — Minha irmã me incumbiu de lhe contar a no­vidade.

  • Você me parece muito feliz, Barlow — comentou Matthew. — E quanto a mim, não devo saber da novidade?

  • As confidências de uma jovem dama não devem ser espalhadas aos quatro ventos — observou Jéssica. — Eu lhe contarei tudo mais tarde, sr. Walsingham, se considerar o assunto apropriado para os ouvidos de um cavalheiro.

  • Lady Leighton chegou mais cedo e já está tudo acertado — o sr. Barlow disse, cheio de júbilo, quando Matthew se afastou. — Kitty está com ela. Venha, a música está começando.

  • Sem desmerecer sua irmã — disse Jéssica, enquanto atravessavam o salão lotado —, estou contente em saber que a marquesa aprovou Lucy tão depressa.

  • Na verdade, o destino deu uma ajuda. O pobre Glossop chegou em casa pingando e encontrou a mãe à sua espera.

  • Que desconcertante!

  • Sabe o que aconteceu depois? A marquesa foi para o hotel, mandou chamar Kitty e declarou que se ela realmente pretendia se casar com um trapalhão como seu filho, desejava-lhe toda sorte do mundo.

  • Com uma mãe dessas, não é de se surpreender que lorde Peter seja tão tímido.

  • Tem razão. Mas é claro que Kitty não conseguiu segurar a língua.
    Minha irmã disse a lady Leighton que o acidente não foi culpa de Glossop. Então a marquesa sorriu e disse "Acho que a senhorita será uma boa esposa para meu filho, mocinha". A seguir, convidou Kitty e minha mãe para jantarem com ela esta noite.

  • Se houvesse sido planejado, não teria dado tão certo — comentou Jéssica, lembrando-se do plano que imaginara para unir Lucy e Nathan.

A um canto do salão ela avistou lorde Alsop, que desempenharia um papel vital em seu plano. Ele usava um casaco de veludo vermelho com rendas douradas naquela noite. Era só acrescentar uma peruca branca e o barão faria boa figura em um baile do século dezoito. Mas nos tem­pos atuais ele mais parecia um mordomo de libré, com a ressalva de que nenhum mordomo refinado teria coragem de usar ombreiras e cintura de vespa.

Lorde Alsop observava a entrada. Jéssica seguiu-lhe o olhar e viu Na­than entrar com Lucy, acompanhados pela srta. Tibbet e pela sra. Wood-cock. Ela olhou de novo para o barão e notou uma expressão de cobiça e ressentimento em seu rosto.

Ótimo! Ele não se sentia capaz de competir com Nathan, mas ainda desejava Lucy.


  • Duvido que a senhorita tenha ouvido uma palavra do que eu disse — queixou-se Bob Barlow, bem-humorado.

  • Peço-lhe desculpas, senhor. Eu me distraí observando a roupa do lorde Alsop.

O rapaz riu.

  • Perfeita para um baile a fantasia...

  • Foi o que pensei. Mas eu não deixei de prestar atenção em suas palavras. O senhor dizia que pretende se casar no mesmo dia que Kitty, não é? Desejo-lhes muitas felicidades.

Sentindo-se encorajado, Barlow continuou a expor seus planos, enquan­to Jéssica pensava nos detalhes do dela. Ela deu um jeito de aproximar-se de lorde Alsop e cumprimentou-o:

— Boa noite, milorde.

Nem o barão e nem Bob Barlow conseguiram esconder a surpresa diante da súbita cordialidade de Jéssica. Lorde Alsop, porém, logo se aprovei­tou da situação.

— Permita-me a honra dessa dança, senhorita — convidou ele.

Jéssica sorriu; seu plano começava a dar certo. Disfarçando o desa­grado que a proximidade do barão lhe provocava, seguiu-o até o centro do salão.

— Ainda bem que o tempo melhorou — comentou ela, enquanto esperavam que a música começasse.



  • Sim, a chuva constante é deprimente — concordou lorde Alsop.
    — Nada é mais agradável que um passeio em Sidney Gardens em um dia bonito, com uma bela mulher. Talvez a senhorita...

  • Sinto falta de desenhar ao ar livre quando chove — interrompeu-o Jéssica. — Gosto de desenhar prédios.

  • Neste caso, Bath é o lugar ideal para exercer seus talentos, srta. Franklin.

  • De fato, há várias construções interessantes na cidade. Estou pen­ sando em desenhar o Royal Crescent.

  • Uma construção de curvas magníficas — lorde Alsop comentou, malicioso, fitando o decote de Jéssica.

  • Se fizer sol pretendo desenhá-lo amanhã cedo. Acredito que a luz estará perfeita por volta das dez horas. Convidarei a srta. Pearson para ir comigo, já que não posso esperar que meu irmão me acompanhe.

Era improvável que Lucy se recusasse a ir com ela, apesar de não gos­tar muito de desenhar.

Os olhos do barão estreitaram-se numa expressão calculista. Ele en­tendera o recado.

Jéssica suportou o resto da dança, desejando poder contar a Nathan como era obrigada a sofrer por causa dele. Quando o acorde final da música soou, Jéssica fez uma reverência em resposta à mesura de lorde Alsop. Em seguida, ela se aproximou de Lucy, que se encontrava nas pro­ximidades. Segurou-lhe o braço e puxou-a para um canto do salão, mur­murando:


  • Venha comigo, rápido, antes que o barão me peça outra dança. Ele estava me olhando de uma forma horrível, tenho medo de que ele me convide para passear amanhã.

  • Ora, você não precisa aceitar o convite — argumentou Lucy.

  • Eu o recusarei com mais convicção se já estiver comprometida. Você não quer ir comigo desenhar o Royal Crescent? Venho querendo fazer isso há dias.

Lucy assentiu, sem muito entusiasmo.

O próximo parceiro de Jéssica foi Nathan, que aproveitou a oportuni­dade para lhe passar um sermão por ter dançado com lorde Alsop. Ela distraiu o irmão contando-lhe o triunfo de Kitty Barlow.

— A srta. Barlow e lorde Glossop se amam — disse ele. — Acredito que lady Leighton fez bem em aprovar a união.

Jéssica encarou o comentário como um bom sinal. A diferença entre o filho de um marquês e a filha de um mero proprietário de terras era a mesma que entre um baronete e a filha de um comerciante. Nathan só precisava de um empurrãozinho.

Assim que teve chance de dançar com o irmão outra vez, ela disse:

— Lucy é uma moça gentil. Ela se ofereceu para me fazer companhia


amanhã, enquanto desenho o Royal Crescent. Mas acho que a pobrezi nha vai se aborrecer, porque não gosta muito de desenhar. Se você não estiver comprometido, não quer dar uma passada por lá por volta de dez e quinze, para lhe fazer companhia?

— Por puro acaso, terei de passar por lá nesse horário — assegurou o rapaz, rindo.

Matthew esperava por Jéssica quando ela voltou para junto da srta. Tibbet, no intervalo.


  • Pensei que precisaria ir buscá-lo no salão de jogos — disse ela, sorrindo.

  • Fico lisonjeado em saber que a senhorita pensou em tomar uma atitude tão imprópria ao invés de procurar um outro parceiro de dança — respondeu Matthew. — Mas fiquei pouco tempo no salão de jogos.
    Estive observando a senhorita, e gostaria de saber o que está tramando.

  • Tramando? — Jéssica fingiu inocência. — Não sei do que está fa­lando, sr. Walsingham.

Ele a tomou pelo braço e a conduziu até duas cadeiras desocupadas, a certa distância.

  • Primeiro, a senhorita parecia taciturna enquanto dançava com Barlow,

  • O sr. Barlow fala por dois. A propósito, preciso lhe contar sobre Kitty.

  • Mais tarde. Segundo, a senhorita dançou com o lorde Alsop, e eu conheço muito bem sua habilidade em fugir dele quando quer.

  • É muito rude recusar uma dança a um cavalheiro — defendeu-se Jéssica.

  • Terceiro, a senhorita parecia não encontrar dificuldade alguma em conversar com ele. Na verdade, tive a impressão de que a senhorita abor­dou o barão, e não o contrário, eu estava perto dele. Não pude fingir que não o vi!
    Matthew sorriu.

  • Não tente me enganar. O que está tramando, afinal?

Jéssica virou o rosto para que ele não visse seus olhos encherem-se de lágrimas. Se ele a considerava suspeita de tramar algo agora, o que não seria capaz de pensar quando ela lhe revelasse que não era uma moça rica? Jéssica fungou, infeliz.

— Não chore — disse Matthew, preocupado. — Eu não pretendia magoá-la. Tome.

Ele ofereceu-lhe um lenço de linho branco que tirou do bolso do colete.

Nesse momento, Jéssica vislumbrou uma ponta do lencinho rendado que emprestara a ele dentro do mesmo bolso. A vontade de chorar pas­sou no mesmo instante. Ela sorriu para si mesma enquanto fingia secar os olhos enxutos.

Matthew começou a conversar sobre o noivado de Kitty Barlow e lor­de Peter Glossop, mas no íntimo não havia dado o outro assunto por

terminado. Durante os próximos dias pretendia seguir os passos da srta. Jéssica Franklin bem de perto. Fosse qual fosse a confusão que ela pre­tendia armar, ele queria estar nas proximidades para salvá-la das conse­quências.


CAPÍTULO XVII
Quero que fique de olho na srta. Pearson, Tad — disse Jéssica enquanto subia a Gay Street acompa-nhada pelo criado. — Mas, aconteça o que acontecer, só interfira se eu chamar.

— Está bem, srta. Franklin — assentiu Tad, surpreso com a ordem.

Ainda não eram dez horas quando eles chegaram a Circus, mas já fa­zia calor. Jéssica estava apreensiva; lembrou-se de que Lucy não gostava de calor. Mas ela precisaria passar por isso, afinal o plano todo era pelo bem de Lucy e de Nathan.

Lucy a esperava, encantadora no vestido de musselina branca com ba­bados cor-de rosa. As duas moças seguiram pela Brock Street, acompa­nhadas por Tad, conversando sobre o baile da véspera. Chegaram ao Royal Crescent e pararam para admirar a magnífica construção, com um enor­me arco de pedra e colunas gregas emoldurando as janelas do andar su­perior.

— Será um desafio e tanto fazer o desenho desta bela fachada — disse Jéssica, quase se esquecendo do plano que armara em meio a seu en­tusiasmo.

Ela virou-se, olhando para o jardim. Dois homens aparavam o grama­do com foices de lâminas reluzentes.

— Vamos nos sentar sob o carvalho? — sugeriu Jéssica.

— Oh, sim, a sombra será agradável — concordou Lucy.


As duas amigas acomodaram-se sob a árvore.

Tad afastou-se um pouco para conversar com uma criada que varria a calçada, mas Jéssica percebeu que o rapaz não despregava os olhos delas.

Com um suspiro de satisfação começou o desenho, como se este fosse o objetivo real do passeio. Havia uma carruagem parada na esquina da Brock Street, mas ela não atentou ao detalhe.

Então lorde Alsop apareceu, caminhando em sua direção.

Jéssica ficou de pé.

— Acho melhor fazer um exame mais detalhado das colunas, antes de começar a desenhar — disse ela, ignorando o protesto de Lucy.

Atravessou o gramado, indo ao encontro do barão. Ele usava um casaco listrado de verde e branco, botas brancas de cano alto, e segurava uma bengala laqueada de verde. Quando Jéssica se apro

ximou lorde Alsop tirou o chapéu e curvou-se.


  • Bom dia, srta. Franklin — Ele ofereceu-lhe o braço. — Vamos dar uma volta?

  • Eu estava indo observar os detalhes das colunas, milorde.

  • Ah, sim, seu desenho. Uma desculpa engenhosa para um encontro...

  • A srta. Pearson concordou em vir comigo, como eu esperava. Ela está sentada sob o carvalho. — Jéssica indicou a figura solitária.

Lucy havia se levantado e olhava ansiosa para eles. Tad também os ob­servava, a uma certa distância.

— Duvido que a srta. Pearson vá sentir ciúmes de um simples beijo — disse o barão.

Ele segurou Jéssica pelos ombros, pressionou-a contra o peito e depositou-lhe um beijo molhado nos lábios.

Furiosa, Jéssica debateu-se, virando a cabeça. Não era isso que deve­ria acontecer. O maldito barão havia entendido tudo errado: ele deveria dedicar sua atenção a Lucy!

Lorde Alsop era um homem forte. Ela não conseguia se libertar, e ele conseguiu lhe dar mais um beijo. O barão soltou-a de repente ao levar uma cabeçada no nariz.

— Srta. Franklin! — gritou, espantado, com uma careta de dor. — Gosto de moças espirituosas, mas isso já é...

A voz morreu-lhe na garganta ao avistar Nathan aproximar-se com cara de poucos amigos.

Sem perder tempo com palavras, o rapaz, indignado, deu-lhe um so­co. Lorde Alsop caiu estendido sobre a grama.

— Levante-se, para que eu possa lhe dar outro soco — ordenou Na­than, furioso.

O barão, prudente, não fez nenhum movimento nesse sentido.

Jéssica pendurou-se no braço do irmão. Ele havia se excedido no pa­pel de salvador. Uma pequena multidão se agrupava em torno deles, in­cluindo os dois jardineiros e os serviçais das casas em volta.

Como por milagre, Matthew surgiu de repente e abriu caminho até Na­than. Segurou-o pelo ombro, tentando acalmá-lo.

Lorde Alsop ergueu a cabeça, cauteloso, e apontou um dedo acusador para seu atacante.

— Como ousa agredir um barão? — esbravejou. — Farei com que seja degredado por isso, rapaz. Tenho testemunhas de que você me atacou sem razão! — Ele chamou os jardineiros. — Vocês dois, prendam-no!

Os homens com as foices hesitaram. Um rapaz com roupas de cavala­
riço deu um passo à frente, sugerindo: '


  • É melhor levá-lo ao Guildhall. O caso deve ser entregue à justiça.

  • Não! — gritou Jéssica. — Ele é meu irmão, e queria apenas...

  • Eu me apresentarei de livre e espontânea vontade perante o magistrado — declarou Nathan, com voz tensa. — Sem dúvida ele terá algo a dizer sobre cavalheiros libertinos que tentam tirar vantagem de jovens damas inocentes. Walsingham, cuide de minha irmã, por favor.

O cavalariço ajudou o barão a levantar-se. Nathan se pôs a caminho do Guildhall, seguido pelos jardineiros. Meia dúzia de espectadores fo­ram atrás deles; os outros se dispersaram.

A cabeça de Jéssica girava. Matthew estava ao aldo dela, amparando-a.

— O miserável a machucou? — perguntou ele, ansioso. — Vim o mais rápido que pude, mas essa minha maldita perna...

— Eu estou bem — murmurou ela. — Céus, foi tudo culpa minha.


Preciso ir atrás deles e explicar o que aconteceu.

— Meu cabriole está aqui perto, em Brock Street. Eu a levarei até o Guildhall. Diga-me, a srta. Pearson não estava lhe fazendo companhia?

— É verdade, eu havia esquecido.

Sentindo-se culpada Jéssica olhou ao redor, aflita. Lucy havia desapa­recido, assim como Tad.

— Lucy deve ter ido embora, acompanhada por meu criado — disse ela, por fim. — Por favor, leve-me ao Guildhall, agora!

Quando o cabriole foi posto em movimento, Jéssica já havia se recu­perado um pouco do susto.



  • Afinal, o que estava fazendo em Brock Street, sr. Walsingham? —perguntou, curiosa.

  • Eu estava vigiando uma jovem dama cujos olhos brilhavam de for­ma estranha ontem à noite.

Ela enrubesceu e confessou, pesarosa:

  • Acho que cometi um grande erro.

  • Por que não me conta tudo desde o princípio, srta. Franklin?

  • Bem... Meu irmão ama Lucy, mas recusa-se a admitir isso só por
    que ela é filha de um comerciante aposentado. Pensei que se o fizesse salvar Lucy dos avanços de lorde Alsop ele acabaria esquecendo o orgulho e...

  • Eu compreendo onde a senhorita queria chegar — disse Matthew.

  • Sim, só que acabou dando tudo errado. Céus, como eu poderia ima­ginar que o barão não estava interessado em Lucy? — concluiu ela, in­dignada.

  • A senhorita há de convir que deu motivos para que lorde Alsop pensasse que estava interessada nele.

  • Que horror! Aposto que é isso que ele dirá à justiça. Mas Nathan não pode ser degredado por tê-lo agredido, pode?

  • Duvido. Seu irmão também é um nobre e, seja lá o que for que a senhorita tenha feito, ele foi forçado a defendê-la. Além do mais, a reputação de lorde Alsop não é boa, mesmo aqui em Bath.

Jéssica estava certa de que o otimismo de Matthew era forçado, ape­nas para tranquilizá-la. A visão do irmão, acorrentado, sendo enviado de navio para a Austrália, passou-lhe pela cabeça. Mesmo que isso não acontecesse, uma pesada multa ou trinta dias na cadeia o arruinariam para sempre. E era tudo culpa dela. Como pudera ser tão estúpida?

Finalmente eles chegaram ao Guíldhall, a tempo de ver lorde Alsop entrar seguido por um dos criados que haviam testemunhado o inciden­te. Assim que o cabriole parou, Jéssica desceu apressada e correu atrás deles.

Viu-se de repente dentro de uma sala enorme, repleta de pessoas que falavam ao mesmo tempo, em voz alta. No fundo do salão, sentado à mesa colocada sobre uma plataforma, encontrava-se o magistrado. Jés­sica pensou reconhecer o magistrado, um homem magro e calvo. Ela ou­viu alguém se dirigir a ele como "sr. Perrin". Mas claro, era o dono da joalheria onde comprara um modesto broche, semanas atrás.

A multidão parecia haver engolido Nathan. Jéssica conseguiu avistar lorde Alsop, mas não desejava chegar perto dele. A sala era dividida por grades baixas de madeira. Ela não sabia que caminho tomar.

Ao sentir alguém tocar-lhe o braço, virou-se e viu Matthew.

— Meu Deus — murmurou ele, examinando-lhe a aparência. — A senhorita está toda despenteada. Não pode apresentar-se ao magistrado desse jeito.

As pessoas ao redor observaram, indiferentes, Matthew tirar o chapéu de Jéssica e ajeitar-lhe os cabelos.


  • Obrigada — agradeceu ela num fio de voz, comovida com o gesto atencioso.

  • Passemos ao próximo caso — disse o sr. Perrin, batendo com o martelo sobre a mesa.

  • Próximo caso — repetiu o escrivão, entediado.

  • Clamo por justiça! — gritou lorde Alsop. — Sou um barão!

O sr. Perrin conferenciou com o escrivão. A multidão abriu caminho para o barão e seus acompanhantes passarem. Matthew segurou a mão de Jéssica e a conduziu até o fundo da sala. Quando chegaram à última divisão de madeira, Nathan já estava lá. Lorde Alsop encontrava-se ao lado dele, apoiando-se no braço do cavalariço, como se estivesse a ponto dê desmaiar.

  • Nome? — perguntou o escrivão.

  • Barão Alsop de Crowmoor.

  • Assunto?

  • Este rapaz impertinente me agrediu — respondeu o barão, indicando Nathan.

  • Nome? — indagou o escrivão ao rapaz.

  • Sir Nathan Franklin, baronete, de Langdale.

  • O que tem a dizer em sua defesa?

  • Este libertino insultou minha irmã.

  • Testemunhas?

Diversas vozes murmuraram "Sim, senhor", "Aqui, senhor", "Somos nós". Eram os criados e os jardineiros que haviam presenciado o incidente.

  • Eu também sou testemunha — declarou Jéssica, com firmeza. — Sou a srta. Jéssica Franklin, irmã de sir Nathan.

  • Tragam uma cadeira para a srta. Franklin — ordenou o sr. Perrin, cortês.

Jéssica não queria soltar a mão de Matthew, cuja proximidade lhe pro­porcionava segurança, mas foi obrigada a fazê-lo quando um funcioná­rio do tribunal lhe trouxe uma cadeira.

— Então o senhor não nega ter agredido o barão, sir Nathan? — in­dagou o magistrado, a seguir.

Nathan aquiesceu com um gesto de cabeça.


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