Zíbia gasparetto



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O silêncio se fez, apenas cortado pelos soluços abafados de Gabrie­la, que não conseguia conter o pranto. A emoção tomava conta dos presentes, que se rejubilavam com a mensagem.

Renato, tocado em seus sentimentos, tinha receio de acreditar que, falando do amor de Gabriela, Roberto estivesse se referindo a ele.

Lembrava-se da história que Elvira havia contado, entre Gabriel­le, Alberto, o conde que a desposara, e Raul, o mercador que ela ama­va. Tinha certeza de que se tratava de Gabriela e Roberto. Mas e Raul, teria sido ele? Nesse caso, teria sido o verdadeiro amor de Gabriela?

Roberto disse que eles seriam felizes. Haveria tempo ainda? Gabrie­la reconheceria seu amor por ele?

Hamílton fez breve pausa, depois proferiu ligeira prece e encerrou a reunião. As luzes acenderam-se. As pessoas silenciosamente serviram-se da água, beberam-na e foram-se. Não sentiam vontade de conversar. Desejavam guardar a magia daquele momento.

Ficaram apenas Aurélio, Renato, Gabriela e Hamílton. Depois de abraçar Gabriela, Hamílton disse apenas:

— Nós vamos indo. Renato a levará para casa.

Todos se foram. Renato deu um lenço para Gabriela, que enxugou os olhos tentando sorrir.

— Vamos — disse ele tomando-lhe o braço.

Saíram em silêncio. Uma vez no carro, ele a abraçou, dizendo:

— Esta noite recebemos um presente divino. Sinto-me comovido.

Ela descansou a cabeça em seu peito, depois se afastou um pouco e respondeu:

— Eu também. De repente, muitas coisas ficaram claras em minha mente. Compreendi tudo.

Eu fui Gabrielle, Roberto foi o conde e você foi Raul, o homem que...

Ela parou hesitante e Renato segurou as mãos dela, dizendo emo­cionado:

— Você também acha que eu posso ter sido ele?

Ela baixou a cabeça e não respondeu. Seu coração batia descom­passado e ela sentia a força de um amor que o tempo adormecera e que despertara agora em toda a plenitude.

— Olhe para mim, Gabriela. Diga que também sente este amor que tenho tentado conter mas que agora rompe todas as barreiras e toma con­ta de mim.

Renato começou a beijá-la com carinho e Gabriela correspondeu, revelando o que sentia sem precisar das palavras.

Quando conseguiram se acalmar, Renato considerou:

— Gabriela, quero casar com você. Juntos criaremos nossos filhos. Seremos felizes. Diga que aceita.

- Essa seria a maior felicidade. Mas e Gioconda?

— Estamos divorciados. Mas cuidarei dela como sempre. Nada lhe faltará.

— Quando ela souber que estamos juntos, irá sofrer.

— Ela nunca saberá. Gioconda enlouqueceu. Esqueceu tudo, vol­tou no tempo. Está como uma adolescente. Nem sequer se lembra de mim ou das crianças.

— É muito triste.

— O Dr. Aurélio acha que ela encontrou um jeito de não sofrer. Você aceita?

—Sim.

— Amanhã mesmo falarei com nosso advogado para tratar de tudo. Quero que você seja minha sócia na empresa.



— Não é preciso nada disso.

— Eu quero cuidar do seu futuro e do futuro dos seus filhos. Acha que eles me aceitarão?

— Tenho certeza. E os seus, gostarão de mim?

— Eles já gostam. Célia só fala em você.

Gabriela sorriu feliz. Renato beijou-a levemente na face.

— Adoro seu sorriso.

Enquanto eles se beijavam felizes, Elvira e Roberto estavam lá. Ele observava calado, olhos marejados.

Elvira segurou-o pelo braço, dizendo:

— Devíamos ter ido embora. Você poderia ter se poupado.

Ele a fitou nos olhos e respondeu:

— Não. Eu precisava ver para avaliar melhor meus sentimentos.

— Está se atormentando sem necessidade.

— Engana-se. Eu mudei. Minha paixão por Gabriela também mu­dou. Analisando meus sentimentos, descobri que meu amor por ela foi o desejo de auto-afirmação. Eu a via como um prêmio para minha vai­dade. Perdê-la significava afirmar minha incapacidade. Por isso quis fi­car aqui. Vendo-a nos braços de Renato, não senti ciúme nem raiva. Con­fesso que senti até um certo alívio. Agora eu sei que posso cuidar de mim, que tenho capacidade para escolher melhor meu caminho. Desejo que sejam felizes. Outra é minha preocupação...

— O que quer dizer?

— Vamos sair daqui. Nos últimos tempos tenho pensado muito em você. Sei que ainda terei que aprender muito para viver sempre a seu lado. Apesar disso, é o que mais desejo.

— Você sabe que eu o amo muito e que sempre o amei.

Haviam deixado o carro e tomado o caminho de volta. Roberto pe­gou as mãos dela e disse emocionado:

— É isso que me intriga. Sinto que a amo, desejo tomá-la nos bra­ços, beijá-la, mas ao mesmo tempo fico inibido. Parece que estou co­metendo um pecado.

Ela sorriu e respondeu:

— Está na hora de saber que nós já vivemos uma louca paixão. Juntos mergulhamos em perigosas ilusões. Mas nosso amor era verda­deiro, e para descobrir isso tivemos que reencarnar como mãe e filho. Esses sentimentos contraditórios que você sente resultam dessa expe­riência.

Contudo, os laços de sangue são apenas limitações do mundo físico. O que conta é o amor incondicional que sela nossas vidas.

Roberto abraçou-a inebriado, beijando seus lábios com amor. Sen­tiu um calor no peito, ao mesmo tempo que dentro dele acendeu-se uma luz que o envolveu todo, provocándo indescritível bem-estar.

Elvira não conteve uma exclamação de alegria:

— Você conseguiu! Meu amor, você alcançou a vibração de amor e luz que sempre esperei.

Agora poderemos ficar juntos para sempre! Nun­ca mais nos separaremos. A nossa frente estende-se um caminho de progresso e de felicidade.

Tomando a mão dele com delicadeza, Elvira pediu:

— Venha, ajoelhe-se a meu lado. Veja este céu cheio de estrelas e de maravilhosos mundos. Agradeçamos a Deus a glória de viver e a felicidade que nos une para sempre neste momento.

Juntos, caminha­remos trabalhando sempre a favor da vida. Onde quer que estejamos, cantaremos o amor e distribuiremos a alegria. Que Deus nos abençoe.



Nesse instante uma claridade desceu do alto e envolveu os dois, que, abraçados, se elevaram desaparecendo rumo ao infinito.
Fim
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