ColecçÃo dois mundos frederick forsyth o punho de deus cmpv tradução livros do brasil lisboa rua dos Caetanos



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COLECÇÃO DOIS MUNDOS FREDERICK FORSYTH O PUNHO DE DEUS

C M P V Tradução LIVROS DO BRASIL LISBOA Rua dos Caetanos. 22

Tradução de EDUARDO SALÓ

Capa de A. PEDRO

Título da edição original THE FIST OF GOD

Copyright (c) Transworld Publishers Ltd, London 1994 "This edition is published by arrangement with Transworld Publishers Ltd, London"

Reservados todos os direitos pela legislação em vigor

Lisboa 1994

VENDA INTERDITA NA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL

Às viúvas e órfãos do Regimento do Serviço Aéreo Especial E à Sandy, sem cujo apoio isto teria sido muito mais difícil

Aos que sabem o que realmente aconteceu no Golfo e me falaram disso, os meus sinceros agradecimentos. Vocês sabem quem são; deixemos as coisas assim

PRINCIPAIS PERSONAGENS INGLESES MARGARET THATCHER ------ JOHN MAJOR TENENTE-GENERAL SIR PETER DE LA BILLIÈRE SIR COLUN MCCOLL SIR PAUL SPRUCE BRIGADEIRO J. P. LeVAT CORONEL BRUCE CRAIG MAJOR MIKE MARTIN MAJOR SPARKY LOW DR. TERRY MARTIN STEVE LAING SIMON PAXMAN STUART HARRIS , JULIAN GRAY DR. BRYANT DR. REINHART DR. JOHN HIPWELL SEAN PLUMMER TENENTE-CORONEL PHlLIP CURZON Primeira-Ministra Sucessor de Thatcher como Primeiro-Ministro Comandante das Forças Britânicas Teatro de Guerra do Golfo Chefe do SIS f) Presidente da Comissão Medusa Britânica Director das Forças Especiais Oficial Comandante, 22. Regimento SASH Major do SAS Oficial do SAS, Khafji Académico e Arabista Director de Operações, Divisão do Médio-Oriente, SIS Chefe Secção do Iraque, SIS Homem de negócios inglês, Bagdade Chefe de posto do SIS, Riade Bacteriologista, Comissão Medusa Perito de gases venenosos, Comissão Medusa Perito nuclear, Comissão Medusa Chefe Serviços Árabes, GCHQ (3) Oficial Comandante, Esquadrilha 608, RAF

Secret Intelligence Service. (N. do T.) (2) Special Air Service. (N. do T.) (3) Government Cc,mUnications Headqmrters. (N. do T.)

BENJAMIN NETANYAHU ITZHAK SHAMIR GIDEON "GIDI" BARZILAI MOSHE HADARI AVI HERZOG, ALIÁS KARIM AZIZ Subsecretário do Ministério dos Assuntos Estrangeiros Primeiro-Ministro Controlador de Missão, Operação Joshué Arabista, Universidade de Telavive Agente da Mossad em Viena

VIENENSES WOLFGANG GEMUTLICH EDITH HARDENBERG Vice-presidente do Banco Winkier Secretária particular de Gemutíich

KOWEITIANOS AHMED AL-KHALIFA CORONEL ABU FOUAD ASRAR QABANDI Comerciante Do movimento de resistência Heroína da resistência

IRAQUIANOS SADDAM HUSSEIN IZZAT IBRAHIM HUSSEIN KAMIL TAHA RAMADAM SADOUN HAMMAD TARIO AZIZ ALI HASSAN MAJID GENERAL SAADI TUMAH ABBAS GENERAL ALI MUSULI GENERAL ABBULLAH KADIRI DR. AMER SAADI BRIGADEIRO HASSAN RAHMANI DR. ISMAIL UBAIDI BRIGADEIRO OMAR KHATIB CORONEL OSMAN BADRI Presidente Vice-presidente Genro de Saddam, Chefe da MIMi (Ministry of Industry & Military industrialization) (5) Primeiro-Ministro Vice-Primeiro-Ministro Ministro dos Assuntos Estrangeiros Governador-Geral do Koweit ocupado Comandante da Guarda Republicana Comandante do Corpo de Engenharia Comandante do Corpo de Blindados Assessor de Hussein Kamil Chefe da Contra-Espionagem Chefe da Espionagem no Estrangeiro Chefe da Polícia Secreta (Amn-al-Amm) Oficial da arma de Engenharia (5) Ministério da Indústria & Industrialização Militar. (N. do T.) CHEFE DE ESQUADRILHA LOFTY WILLIAMSON CAPITÃO-AVIADOR SID BLAIR CAPITÃO-AVIADOR PETER JOHNS CAPITÃO-AVIADOR NICKY TYNE SARGENTO PETER STEPHENSON CABO BEN EASTMAN CABO KERVIN NORTH Piloto, Esquadrilha 608, RAF Navegador de Wiiliamson Piloto, Esquadrilha 608, RAF Navegador de John Membro do SAS Membro do SAS Membro do SAS

AMERICANOS GEORGE BUSH JAMES BAKER COLIN POWELL GENERAL NORMAN SCHWARZKOPF TENENTE-GENERAL CHARLES (CHUCK) HORNER BRIGADEIRO-GENERAL BUSTER GLOSSON BILL STEWART CHIP BARBER ;.;. WILLIAM WEBSTER DON WALKER STEVE TURNER RANDY ROBERTS JIM HENRY HARRY SINCLAIR SAUL NATHANSON "PAPÁ" LOMAX : . Presidente Secretário de Estado Comandante do Estado-Maior General Comandante das Forças da Coligação, Teatro de Guerra do Golfo Comandante das Forças Aéreas da Coligação, Teatro de Guerra do Golfo Adjunto de Chuck Horner Subdirector (Operações) da CIA Chefe, Divisão do Médio-Oriente, CIA Director da Central lntelligence, CIA Piloto de "caça" da USAF V) Comandante de esquadrilha de "caças" da USAF Piloto de Don Walker Piloto de Randy Roberte Chefe do Posto de Londres, CIA Banqueiro e filantropo Físico nuclear aposentado ISRAELITAS GENERAL YAACOV "KOBI" DROR SAMI GERSHON DAVID SHARON Chefe da Mossad Chefe Divisão Combatentes, Mossad Chefe Departamento do Iraque, Mossad () United States Air Force, (N. do T.)



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capítulo 1



O homem a quem restavam dez minutos de vida estava a rir. A fonte do seu divertimento era uma história acabada de contar pela sua assessora pessoal, Monique Jamirié, que o levava a casa naquele entardecer glacial e chuvoso de 22 de Março de 1990, do escritório para o apartamento. Dizia respeito a uma colega mútua nos escritórios., da Sociedade de Pesquisas Especiais na Rua de Stalle, considerada uma autêntica vamp devoradora de homens, que se tornara homossexual. A fraude encantava o sentido de humor obsceno do homem. Eles tinham abandonado os escritórios no subúrbio de Bruxelas de Uccle às sete menos dez, com Monique ao volante do Renault 12 do Estado. Alguns meses atrás, ela vendera o Volkswagen do patrão, porque receara que este, péssimo condutor, acabasse por se matar. Embora o percurso entre os escritórios e o apartamento no bloco central do complexo de três edifícios Chendreu, perto da Rua François Folie, não excedesse dez minutos, pararam pelo caminho numa padaria. Entraram ambos, a fim de ele comprar um pain de oampagne, que apreciava particularmente. A chuva era varrida por vento agreste, pelo que eles inclinavam a cabeça para o peito, o que os impediu de se aperceberem do carro que os seguia. Não havia nada de estranho na omissão, pois nenhum dos dois possuía treino na matéria, O veículo anónimo, com dois ocupantes de expressões sinistras, seguia o cientista,com persistência nas últimas semanas, sem se aproximar demasiado, apenas na expectativa, e ele não se dera conta. Outros tinham reparado, sem que se achasse, porém, ao corrente. ; Emergiu da padaria diante do cemitério, colocou o pão no banco de trás e subiu para o carro, a fim de completar o 13 trajecto até casa. Às sete e dez, Monique travou diante da porta de vidro laminado do bloco de apartamentos, que se erguia a quinze metros da borda do passeio. Ofereceu-se para subir também, todavia ele recusou. Ela sabia que esperava a sua amiguinha Helene e não queria que as duas mulheres se conhecessem. Tratava-se de uma das vaidades em que o seu respeitoso pessoal feminino colaborava: Helene não passava de uma boa amiga, que lhe fazia companhia, quando se encontrava em Bruxelas e a esposa no Canadá. Ele apeou-se, a gola do impermeável levantada, como sempre, e suspendeu do ombro o enorme saco de lona preto que quase nunca abandonava. Pesava mais de quinze quilogramas e continha uma grande quantidade de papéis -documentos científicos, projectos, cálculos e dados. O cientista não confiava nos cofres e pensava ilogicamente que todos os pormenores dos seus planos mais recentes beneficiavam de maior segurança suspensos do seu ombro. A última vez que Monique o viu, o seu patrão encontrava-se diante da porta de vidro, o saco pendurado num dos ombros e o pão debaixo do outro braço, enquanto procurava as chaves. Aguardou que entrasse no átrio do prédio e a mola fechasse a porta automaticamente atrás dele. Em seguida, pôs o carro em movimento. O académico vivia no sexto andar do bloco de oito. Os dois elevadores situávam-se nas traseiras do edifício, ladeados pela escada, com uma saída de incêndio em cada piso. Ele entrou numa das cabinas, que abandonou no sexto. Acto contínuo, a luz do corredor acendeu-se, também automaticamente. Fazendo tilintar as chaves entre os dedos, um pouco curvado ao peso do saco e com o pão debaixo do outro braço, voltou à esquerda e depois novamente à esquerda, ao longo da alcatifa castanho-avermelhada, até que tentou introduzir a chave na fechadura da porta do seu apartamento. O assassino estivera à espera do outro lado do poço do elevador, fora do campo visual do recén chegado. Naquele momento, emergiu do esconderijo empunhando a Beretta de 7,65 mm automática munida de silenciador, envolta num saco de plástico para evitar que as cápsulas ejectadas se espalhassem pelo chão. Cinco tiros, disparados de menos de um metro de distância, todos dirigidos à nuca e costas, foram mais do que suficientes. O homem alto e possante tombou para a frente contra a porta e deslizou para a alcatifa. O pistoleiro não perdeu tempo a verificar -não havia necessidade. Efectuara aquele tipo de trabalho no passado, a exercitar-se com prisioneiros, pelo que sabia que a missão fora cumprida. Desceu rapidamente os seis 14 níveis de degraus, transpôs a porta das traseiras, cruzou o jardim sulcado de árvores e saiu para o carro que o aguardava. Uma hora mais tarde, encontrava-se na embaixada do seu país e, vinte e quatro horas depois, abandonava a Bélgica. Helene chegou cinco minutos mais tarde. A princípio, supôs que o amante sofrera um colapso cardíaco. Dominada pelo pânico, entrou no apartamento e chamou os paramédicos. Soube posteriormente que o médico-assistente dele morava no mesmo bloco e telefonou-lhe igualmente. Os paramédicos foram os primeiros a chegar. Um deles tentou levantar o pesado corpo, ainda de bruços. Retirou a mão coberta de sangue. Minutos mais tarde, ele e o médico pronunciaram a vítima irremediavelmente morta. A outra única ocupante dos quatro apartamentos daquele andar assomou à porta do seu -uma mulher de meia-idade que estava a ouvir um concerto clássico e não se dava conta de coisa alguma que se desenrolasse do outro lado da sua porta de madeira maciça. Na verdade, Cheridrea era uma área muito discreta. O homem que jazia no chão sem vida era o Dr. Gerald Vincent Buli, um génio excêntrico, designer de armas de fogo para o mundo e, mais recentemente, armeiro de Saddam Hussein, do Iraque. Na sequência do assassínio do Dr. Gerry Buli, começaram a acontecer coisas estranhas um pouco por toda a Europa. Em Bruxelas, a contra-espionagem belga admitiu que, durante alguns meses, ele fora seguido quase diariamente por uma série de carros anónimos que continham dois homens de compleição escura do Mediterrâneo Oriental. A 11 de Abril, funcionários alfandegários ingleses apreenderam, nas docas de Middlesborough, oito secções de tubos de aço, admiravelmente forjados e torneados, prontos para receberem fortes parafusos e porcas. Os funcionários anunciaram, triunfantes, que não se destinavam a uma fábrica petroquímica como especificavam os conhecimentos de carga e os certificados de exportação, pois faziam parte de uma potente peça de artilharia concebida por Gerry Buli para o Iraque. Nasceu assim a farsa da Superpeça, que seria representada repetidamente, com a participação de desonestidade, as garras subtis de várias agências de serviços secretos, um volume maciço de inépcia burocrática e alguma chicanice política. Em poucas semanas, fragmentos da Superpeça começaram a aparecer por toda a Europa. A 23 de Abril, a Turquia anunciou que interceptara um camião húngaro que transportava um tubo de aço de dez metros para o Iraque, supostamente pertencente 15 à arma em causa. No mesmo dia, funcionários gregos apreenderam outro camião com peças de aço e detiveram o infortunado condutor inglês durante várias semanas por cumplicidade. Em Maio, os italianos interceptaram 75 toneladas de peças confeccionadas pela Società delia Fucirve e mais 15 na fábrica Fucine, perto de Roma. Estas últimas eram de uma liga de aço e titânio e destinavam-se à culatra da peça, assim como outras encontradas num armazém de Bresoia, no norte do país. Os alemães entraram em cena com descobertas em Frank-furt e Bremerhaven, fabricadas pela Mannesmann AG, também identificadas como componentes da já mundialmente famosa Superpeça. Na verdade, Gerry Buli fizera as encomendas para a sua criação, habilmente e com perfeição. Os tubos que formavam os canos foram na realidade fabricados em Inglaterra por duas firmas -a Walter Somers, de Birmingham, e a Sheffield For- gemasters. os oito descobertos em Abril de 1990 eram os últimos de cinquenta e duas secções, suficientes para constituir dois canos completos com 156 metros de comprimento e o incrível calibre de um metro, capazes de disparar um projéctil do tamanho de uma cabina telefónica cilíndrica. : Os munhões, ou apoios, provinham da Grécia, os tubos, bombas e válvulas que formavam o mecanismo de recuo da Suíça e Itália, o bloco da culatra da Áustria e Alemanha e o propulsor da Bélgica. Ao todo, havia sete países envolvidos como empreiteiros e nenhum sabia com exactidão o que fabricava. A Imprensa popular dispunha de vasto material para expio-rar, assim como os exultantes funcionários alfandegários e o sistema legal britânico, que começou avidamente a levantar processos contra qualquer entidade inocente envolvida. O que ninguém referia era que a caça grossa se escapara. O material interceptado constituía as Super peças Dois, Três e Quatro. Quanto ao assassínio de Gerry Buli, originou algumas teorias bizarras nos media. Naturalmente, a CIA foi mencionada pela brigada "a CIA é responsável de tudo". O que representava mais uma insensatez. Embora Langley tenha, no passado e em circunstâncias especiais, apoiado a eliminação de determinadas personagens, ocupou-se quase sempre de alvos do mesmo ramo: contratar funcionários indesejáveis, renegados e agentes duplos. A ideia de que o lobby em Langley 1 fica chocado com os cadáveres de antigos agentes abatidos pelos próprios colegas em obediência a ordens de director genocidas é divertida, mas absolutamente natural. De resto, Gerry Buli não pertencia a esse mundo subter-

(1) Sede da CIA, nos Estados Unidos. (N. do T.) ,. 16

râneo. Era um cientista, designer e empreiteiro de artilharia muito conhecido, convencional e assaz despido de convencionalismos, um cidadão americano que trabalhara para os Estados Unidos durante anos e falava copiosamente com os seus amigos do exército americano, sobre o que fazia. Se todos os designers e industriais da fabricação de armamento ao serviço de um país não considerado (de momento) inimigo da América fossem "desperdiçados", cerca de quinhentos cavalheiros da América do Norte e do Sul e da Europa teriam de se candidatar ao lugar. Finalmente, Langley tem visto os movimentos algo restringidos, pelo menos nos últimos dez anos, pela nova burocracia de comandos e comissões de fiscalização. Nenhum membro da agência determina uma "baixa" sem uma ordem escrita e assinada. Para um homem como Gerry Buli, essa assinatura teria de ser do próprio director da Central Intelligence. O DCI na altura era William Webster, antigo magistrado íntegro de Kansas. Seria quase tão fácil obter de William Webster uma ordem de semelhante natureza como escavar um túnel com uma colher de chá, para fugir da Penitenciária Marion. Mas, substancialmente distanciada do topo do pelotão dos corredores do enigma de "quem matou Gerry Bull", figurava naturalmente a Mossad israelita. Toda a Imprensa e a maior parte dos amigos e família da vítima abraçaram a mesma conclusão. Buli trabalhava para o Iraque, que era o inimigo de Israel. Dois e dois são sempre quatro. O pior é que, no mundo de sombras e espelhos deformadores, aquilo que pode ou não parecer dois tem possibilidade de somar quatro, porém as probabilidades indicam que talvez não seja assim. A Mossad é a agência de serviços secretos mais pequena, implacável e eficiente de todas as existentes no mundo. No passado, dedicou-se indubitavelmente a muitos assassínios, recorrendo a uma das três equipas kidon o termo é hebraico e significa baioneta. O kidonim depende da Divisão de Combaten-tes, ou Komemiute, indivíduos anónimos, a brigada dura. Mas até a Mossad possui as suas regras, apesar de auto-impostas. Os extermínios dividem-se em duas categorias. Uma con^ siste na "exigência operacional", emergência imprevista em que uma operação que envolve vidas de amigos se acha em perigo e a pessoa de permeio tem de ser removida do caminho, rápida e permanentemente. Nestes casos, o responsável do caso, ou katsa, tem o direito de "desperdiçar" o oponente que compromete a missão e obtém apoio retroactivo dos chefes situados em Telavive. A outra categoria refere-se àqueles que já figuram na lista de execução, a qual existe em dois lugares: o cofre pessoal do

17 Primeiro-Ministro e o do chefe da Mossad. Todo o novo Primeiro--Ministro tem a obrigação e direito de a ler, podendo conter entre trinta e oitenta nomes. Tem a faculdade de rubricar cada nome e conceder luz verde à Mossad numa base de "se-e--quando" ou insistir em ser consultado antes de cada nova missão. Em qualquer dos casos, deve assinar a ordem de execução. De um modo geral, os que figuram na lista dividem-se em três classes. Há os poucos nazis importantes que restam, embora esta classe quase tenha deixado de existir. No passado, se bem que Israel montasse uma operação de grande envergadura para raptar e julgar Adolfo Eichmann com vista a um exemplo internacional, outros nazis foram simplesmente liquidados em segredo. Na segunda classe figuram quase todos os terroristas contemporâneos, em particular os árabes que já derramaram sangue israelita ou judeu, como Ahmed Jibril, Abu Nidal, ou gostariam de o fazer, com alguns não-árabes à mistura. À terceira, que poderia conter o nome de Gerry Buli, pertencem os que trabalham para os inimigos de Israel e cuja acção, se prosseguir, envolve grande perigo para este e respectivos cidadãos. O denominador comum reside em que os alvos devem ter as mãos ensanguentadas -de facto ou em perspectiva. Se se impõe uma eliminação, o Primeiro-Ministro confia o assunto a um investigador judicial tão secreto, que poucos juristas israelitas e nenhum cidadão chegam a inteirar-se, o qual põe em marcha "um tribunal" com a leitura da culpa, um acusador e um defensor. Se o pedido da Mossad se confirma, o caso regressa ao Primeiro-Ministro, para que aponha a assinatura. A equipa kidon encarrega-se do resto... se puder. O problema da teoria "a-Mossad^matou-Bull" consiste em que apresenta pontos fracos em quase todos os níveis. Com efeito, ele trabalhava para Saddam Hussein, ao conceber nova artilharia convencional (que não poderia alcançar Israel), um programa de mísseis (que talvez pudessem, um dia) e uma peça gigantesca (que não preocupava Israel minimamente). Mas faziam o mesmo centenas de outros. Meia dúzia de firmas alemãs encontrava-se por detrás da indústria de gases venenosos do Iraque, com cujos produtos Saddam já ameaçara Israel. Alemães e brasileiros trabalhavam abertamente para os mísseis S&ad 16. Os franceses foram os primeiros impulsionadores e fornecedores das pesquisas iraquianas para a fabricação de um engenho nuclear. De que Buli, as suas ideias, projectos, actividades e progressos interessavam profundamente a Israel não subsiste a menor dúvida. Na sequência da sua morte, explorou-se o facto 18



de que, nos meses precedentes, ele se preocupara com repetidas intrusões dissimuladas no seu apartamento, quando se achava ausente. Nunca levaram nada, mas ficaram vestígios. Copos mudados de lugar, janelas deixadas abertas, uma video-cassette rebobinada e retirada do respectivo leitor. Estaria a ser advertido e encontrar-se-ia a Mossad por detrás de tudo? A resposta a ambas as dúvidas era afirmativa, mas por uma razão de modo algum óbvia. Após o crime, os desconhecidos de compleição escura e sotaque gutural que o seguiam por toda Bruxelas foram identificados pelos media como assassinos israelitas à espreita do momento oportuno para actuar. Infelizmente para a teoria, os agentes da Mossad não andam por aí com aspecto e modos próprios de Pancho Villa. Estavam na verdade presentes, toda^ via ninguém os viu -Buli, os amigos ou família deste ou a polícia belga. Encontravam-se em Bruxelas com uma equipa que podia passar por europeia -belgas, americanos ou o que lhes apetecesse. Foram eles que revelaram às autoridades locais que Buli era seguido por outra equipa. Além disso, Gerry Buli era um homem de uma indiscrição extraordinária. Não resistia a um desafio. Trabalhara para Israel, gostava do país e dos seus habitantes, tinha muitos amigos no exército israelita e revelava-se incapaz de guardar um segredo. Desafiado com uma frase como "Gerry, aposto que nunca conseguirá que os mísseis Saacf 16 funcionem...", enveredava por um monólogo de três horas para descrever com exactidão o que fazia, até que ponto o projecto avançara, quais os problemas surgidos e como esperava ultrapassá-los -numa palavra, tudo. Para os serviços secretos de qualquer país, constituía um sonho de indiscrição. Ainda na última semana da sua vida, recebera dois generais israelitas no seu gabinete e fornecera-lhes uma exposição minuciosa da situação, registada fielmente pelos gravadores ocultos nas pastas destes últimos. Para quê destruir uma cornucópia de informação valiosa? Finalmente, a Mossad tem outro hábito, quando lida com um cientista ou industrial, mas nunca com um terrorista. Transmite sempre uma última advertência -não um exótico assalto a um domicílio para mudar copos de sítio ou rebobinar vídeo-cassettes, mas de natureza verbal. O processo foi observado até com o Dr. Yahia El Meshad, físico nuclear egípcio que trabalhava no primeiro reactor iraquiano, assassinado no seu quarto do Hotel Meridíen, em Paris, a 13 de Junho de 1980. Um katsa de língua árabe procurou-o nos seus aposentos e explicou abertamente o que lhe sucederia, se não desistisse. O cientista replicou que o deixasse em paz-atitude a todos 19 os títulos imprudente. Responder torto a um membro de uma equipa kidon não constitui uma táctica aprovada pela indústria dos seguros. Duas horas mais tarde, Meshad expirava. Mas fora-lhe concedida uma oportunidade de evitar o passamento prematuro. Um ano mais tarde, todo o complexo nuclear abastecido pelos franceses em Osirak Um e Dois era destruído por uma incursão da aviação israelita. Buli era diferente-cidadão americano nascido no Canadá, jovial, acessível e consumidor de uísque, de talento impressionante. Os israelitas podiam conversar com ele como se fosse um amigo, o que acontecia com frequência. Teria sido a coisa mais fácil do mundo enviar alguém para lhe comunicar que parasse com a actividade a que se dedicava, sob pena de a brigada dura o procurar. "Não veja nada de pessoal nisto, Gerry. Contingências da vida." Buli não se ocupava de nada que justificasse a concessão de uma medalha a título póstumo. De resto, já admitira aos israelitas e ao seu amigo íntimo George Wong que desejava cortar todos os laços com o Iraque. Estava farto. O que na realidade lhe aconteceu foi algo de muito diferente. Gerald Vincent Buli nasceu em 1928, em North Bay, Ontário. Nas aulas, revelava-se inteligente e impelido pelo desejo de triunfar e conquistar a aprovação do mundo. Aos dezasseis anos, poderia obter a formatura, mas, por ser tão jovem, o único estabelecimento capaz de aceitar um aluno daquela idade era a Universidade de Toronto -a Faculdade de Engenharia, mais concretamente-, onde demonstrou que, além de inteligente, merecia o adjectivo de brilhante. Aos vinte e dois anos, tornou-se o PhD (2) mais jovem. A engenharia aeronáutica dominava-lhe a imaginação e, especificamente, a balística-o estudo de corpos, quer projécteis, quer mísseis, em voo. Foi isto que o conduziu ao caminho da artilharia. Depois de Toronto, ingressou no Estabelecimento de Desenvolvimento de Armamento e Pesquisas Canadiano, CARDE f), em Valcartier, então uma pequena e tranquila vila nos subúrbios de Quebeque. Em princípios dos anos cinquenta, o Homem erguia o rosto não só para os céus, mas também para além deles--o Espaço propriamente dito. A palavra de ordem era "foguetes". Foi então que Buli provou que era algo mais do que brilhante tecnicamente. Um ser diversificado-inventivo, despido de convenções e imaginativo. Foi durante os dez anos no CAfiDE (2) Philosophiae Doctor. (N. do T.) (3) Canadian Armament and Research Development Establishment. (N. do T.} 20

que desenvolveu a ideia que se converteria no sonho do resto dos seus dias. À semelhança de todas as ideias novas, a dele parecia extremamente simples. Quando se apercebeu da aparição da gama de foguetes americanos, no final dos anos cinquenta, descobriu que nove décimos dos que então se revelavam impressionantes estavam na fase inicial. No topo, em apenas uma fracção do tamanho total, encontravam-se a segunda e a terceira e, de dimensões ainda mais reduzidas, a carga a transportar. A primeira e gigantesca fase consistia em elevar o foguete nos primeiros cento e cinquenta quilómetros, onde a atmosfera era mais densa e a gravidade maior. Após a marca dos 150 km, necessitava muito menos propulsão para conduzir o satélite ao Espaço e orbitar num ponto entre os 400 e 500 quilómetros da Terra. Cada vez que um foguete se elevava, todo o volumoso e dispendioso conteúdo da primeira fase era destruído-queimado-para mergulhar eternamente nos oceanos. "E se fosse possível disparar a segunda e terceira fases, além da carga de explosivo, nesses primeiros cento e cinquenta quilómetros por meio de uma peça de artilharia gigantesca?", cismava Buli. Assegurou a indivíduos endinheirados que, em teoria, era possível, mais fácil e menos oneroso, e a peça poderia voltar a ser utilizada um largo número de vezes. Foi o seu primeiro contacto com políticos e burocratas, de que saiu derrotado, sobretudo em virtude da sua própria personalidade. Odiava-os e eles pagavam-lhe na mesma moeda. Em 1961, a sorte bateu-lhe à porta. A Universidade McGill entrou em cena por prever alguma publicidade interessante. E o Exército dos Estados Unidos fê-lo por razões especiais: guardião da artilharia americana, entrava na luta pelo poder com a Força Aérea, que se esforçava por obter o controlo de todos os foguetes e projécteis que ultrapassassem altitudes superiores aos 100 quilómetros. Com os seus fundos combinados, Buli pôde montar um pequeno estabelecimento de pesquisas na ilha de Barbados. O Exército concedeu-lhe uma embalagem que continha uma peça fora de uso da Marinha de 16 polegadas (o maior calibre do mundo), um cano sobressalente, uma pequena unidade de rastreio de radar, uma grua e alguns camiões. A McGill procedeu à montagem de uma oficina. A situação podia comparar-se a enveredar pela indústria de corridas do Grand PNx com as disponibilidades de uma garagem de segunda ordem. Não obstante, ele alcançou o seu objectivo. Principiara a sua carreira de invenções surpreendentes, aos trinta e três anos de idade -acanhado, desleixado, inventivo e, todavia, intrépido. 21 Chamou às instalações em Barbados Projecto de Pesquisas de Grande Altitude, ou HARP(4). A velha peça de artilharia da Marinha foi montada e ele começou a trabalhar em projécteis. Deu-lhes o nome de Martinete, em homenagem ao pássaro heráldico que figura na insígnia da Universidade McGill. Pretendia colocar uma carga de instrumentos em órbita terrestre mais barata e rápida do que qualquer outra entidade. Sabia perfeitamente que nenhuma criatura humana poderia suportar as pressões de ser disparada de uma peça, mas admitia acertadamente que, no futuro, 90 por cento das pesquisas científicas e trabalho no Espaço dependeriam de máquinas e não de homens. A América, sob a égide de Kennedy, e estimulada pelo voo do astronauta russo Gagarini, desenvolvia no Cabo Canaveral o mais espectacular, mas, em última análise, o mais inútil exercício de colocar ratos, cães, macacos e, eventualmente, homens em órbita. Entretanto, em Barbados, Buli continuava a trabalhar com a sua única peça de artilharia e os projécteis Martinete. Em 1964, expeliu um a 92 quilómetros de altitude, após o que acrescentou 16 metros ao cano da peça (custou-lhe exactamente 41 mil dólares) e tornou o total de 36 o mais longo do mundo. Graças a isso, atingiu os mágicos 150 quilómetros com uma carga de 180 quilogramas. Ia resolvendo os problemas à medida que surgiam. Um de relevo foi a propulsão. Numa peça pequena, a carga aplica ao projéctil um único impulso ao passar do estado sólido ao gasoso num microssegundo. O gás tenta escapar à compressão e a única saída consiste na extremidade do cano, com o que empurra o obus. Mas no caso de um cano tão longo como o de Buli, havia necessidade de uma carga propulsora especial de acção retardada para não o destruir ou, pelo menos, rachar. Carecia de um pó que enviasse o projéctil ao longo do enorme cano de consumo gradualmente crescente. Por conseguinte, concebeu-o. Também não ignorava que nenhum instrumento resistiria à força de gravidade de 10 000 causada pela explosão de uma carga propulsora, mesmo de consumo lento, pelo que concebeu um sistema absorvente de choques para a reduzir a 200. Um terceiro problema foi o recuo. Não se tratava de uma espingarda de pressão de ar, pelo que o recuo resultaria enorme, à medida que os canos, cargas e instrumentos transportados se avolumassem. Nessa conformidade, concebeu um sistema de molas e válvulas, a fim de o reduzir a proporções aceitáveis. Em 1966, os seus antigos adversários entre os burocratas (4) High Altitude Research Project. (N. do T.) 22

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