Guia para um seqüestro



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GUIA

PARA

UM

SEQÜESTRO


  • Este livro e uma ficcao. Qualquer nome, lugar e eventos sao produtos da minha imaginacao e sao usados ficticiamente. Qualquer semelhanca com eventos do passado, locais, pessoas mortas ou vivas e uma mera coincidencia.

Fernandes de Oliveira Sousa (Fernandez) – 2016


www.arttops.com
Capa: Adriano Ficarelli

O Estudo

Fernando discou o celular pré pago de Estevão de um telefone público.

Para o primeiro dia de Agosto o tempo contrariava o inverno e prometia ser um dia quente em São Paulo. Assim que Estevão atendeu, Fernando falou seu código de segurança.
Temos um jogo de pôquer hoje. Você quer jogar?
Estevão dirigia seu Jeep com a capota arreada e teve dificuldade em ouvir direito quem lhe falava no celular. Diminuiu a velocidade do carro e estacionou ao lado do acostamento para poder ver com quem falava. Não reconheceu o número registrado no bina do celular. Desligou e ficou aguardando.
Um minuto depois o celular tocou novamente. Era o mesmo número que aparecera no visor antes. Reconheceu uma voz familiar perguntando:
Temos um jogo de poquer hoje. Você quer jogar?
Somente o dono daquela voz tinha o número de um dos celulares de Estevão.
Estevão respondeu:
Hoje estou com o bolso cheio. A que horas e onde é o jogo ?

Às 19 horas no Firenze, respondeu Fernando.

Ok! estarei lá, falou Estevão e desligou o celular.



às 18:15h, Fernando já estava no bar do restaurante escolhendo a mesa onde se sentaria logo mais. O Firenze, no bairro do Itaim, era conhecido como uma das melhores cozinhas italiana da cidade de São Paulo.
Fernando era viciado em chegar antes da hora em seus encontros. Às vezes exagerava. Em um desses encontros, chegou a uma pizzaria que ainda estava fechada. Enquanto a pizzaria não abria resolveu ir fazer umas compras em um shopping center que ficava por perto e mesmo assim quando voltou estava 15 minutos adiantado.
Alto, atlético, cabelos grisalhos, óculos escuros noturnos. Sua presença não passava despercebida até que ele se sentasse, pedisse um vinho e se escondesse atrás de algum livro, ou revista, que sempre carregava em sua elegante pasta de couro. Atrás dos seus óculos escuros tudo e todos eram analisados, fotografados, memorizados, contados.
Uma bengala de mogno com cabo de prata era, também, um dos itens inseparáveis nas suas saídas por São Paulo, principalmente à noite. A bengala, de fato, era uma arma disfarçada, calibre 12, que comprara na Hungria em uma de suas viagens. Só a tinha usado uma vez quando um moto-boy lhe roubara, por um instante, sua pasta. Fernando reagira instintivamente ao assalto, e o moto-boy teve suas pernas quase que decepadas pela eficácia da aparentemente inofensiva bengala. Fernando recuperara a pasta e se afastara do local antes que chegassem os curiosos e a polícia.
Estevão chegou no Firenze na hora marcada. Assim que viu onde estava a mesa de Fernando, dirigiu-se a ela e sentou-se. Cumprimentou Fernando, sem lhe dar a mão ou abraçá-lo. Este comportamento, atípico para brasileiros, foi uma das primeiras lições, entre muitas outras, que Fernando ensinou a Estevão quando se tornaram parceiros.
Quando as pessoas se encontram e se cumprimentam dando as mãos ou se abraçando, chamam muito mais a atenção de terceiros do que aquelas que só se cumprimentam verbalmente.
Apesar de Fernando ser um pouco mais alto, ambos eram muito parecidos. O relacionamento de negócios entre os dois era recente, mas a amizade já durava mais de 20 anos.
Estevão, antes de o garçom vir atendê-lo e enquanto desdobrava o guardanapo de linho branco, perguntou a Fernando se iriam apostar quem pagaria a conta do jantar.
Claro! disse Fernando. Hoje você pergunta.
Ok! confirmou Estevão, perguntando logo a seguir: Quantos garçons homens e mulheres estão trabalhando hoje? e quantos clientes estão na casa?
Hoje está fácil, respondeu Fernando.
Cheguei aqui às 18:15h, logo depois que o Firenze abriu. Alguns dos garçons ainda não tinham chegado. Esta é a minha segunda taça de vinho e, pelos meus cálculos, até agora temos 8 garçons, cinco garçonetes e como ainda é cedo só entraram 21 clientes na casa, sem contar eu e você.
Estevão não se deu o trabalho de conferir. Fernando estava certo, na maioria das vezes. Esse desafio já era um hábito entre eles nos encontros em restaurantes. Fernando testava Estevão e vice-versa. Quem errasse pagava a conta.
Em outras palavras, Fernando sempre comia de graça.
O encontro, dos dois, no Firenze, era muito importante. Fernando iria fornecer a Estevão um dossiê com uma lista de nomes das pessoas que os tornariam milionários. O dinheiro esperado era tanto que valeria a pena correr certos riscos e fazer alguns sacrifícios.

Fernando pediu a Estevão que, daquele momento em diante, quando se referisse às informações contidas no dossiê era para usar o código denominado “Estudo”.
Começou explicando que as informações sobre as pessoas mencionadas no Estudo foram pesquisadas nos últimos três anos e renovadas nos últimos nove meses. Os nomes estavam arquivados na ordem preferencial para uma ação de abordagem e não pela quantia de dinheiro que a pessoa tinha.
Os materiais que foram usados nos levantamentos de informações para compilação do Estudo foram todos destruídos, assim como os arquivos de hard drive, lixeira, CD, negativos de filme e disquetes. Não existia outra cópia do Estudo e as fotos das pessoas e seus ambientes eram recentes, complementou Fernando, colocando a pasta com o Estudo em cima da mesa.
Estevão guardou a pasta entre suas pernas dizendo que o melhor mesmo era memorizar todos os dados e informações contidas no Estudo. Falou que assim que chegasse em casa começaria a estudar separadamente cada nome da lista com todas as informações contidas no Estudo. Continuou dizendo que após cada abordagem executada as informações contidas no Estudo a respeito daquele caso seriam destruidos com o resto de quaisquer outros materiais usados para executar a missão. Até lá o Estudo ficaria em lugar seguro.
Um dos lugares favoritos de Estevão guardar dólares, documentos cartões de créditos e outros materiais sensíveis era um esconderijo secreto e seguro à prova de umidade, construído por ele mesmo dentro do canil de suas cadelas Pit Bull.
Ele tinha quatro delas, mais uma mestiça, resultado de uma experiência que um advogado amigo e vizinho fez. Quando as autoridades paulistas, acuadas pela imprensa sensacionalista, ameaçaram a proibir a criação e reprodução da raça Pit Bull, o advogado, criminalista famoso, Dr. Cassio Pauletti, inventou a cruza do Rottweiler com Pit Bull, sendo a mãe Rottweiler e o pai Pit Bull. Os filhotes saíram lindos. Uma máquina de triturar carne e ossos. Foram apelidados de Rott Bulls. Uma mistura de tubarão (pelos dentes) e urso (pelo tamanho).
Para Estevão, esconderijo é um jogo de esconde-esconde.
Quem esconde bem não perde o jogo para o ladrão.

Primeiro, só ele sabia do esconderijo. Fora ele quem o construíra pessoalmente.


Segundo, quem entraria em uma residência para assaltar e roubar algo de valor, como jóias, dólares ou até documentos e procurar, justamente, dentro de um canil cheio de Pit Bulls? A lógica seria procurar dentro da residência e não fora dela, pensava Estevão que já tivera sua residência assaltada uma vez quando logo que mudou-se para São Paulo. Na época, ainda, não criava cachorros e também não usava nenhum tipo de alarme eletrônico. Usava, como milhares de paulistanos, o famoso guarda de rua de bicicleta e apito. Mesmo assim, os ladrões não acharam seus dólares e jóias escondidos no fundo falso de um freezer cheio de carnes e peixes congelados na dispensa da cozinha. Acabaram levando coisas materiais, sem expressão, tais como TV, estéreo e outros eletrônicos.
Enquanto aguardavam o garçom trazer a conta, Fernando esclareceu a Estevão que no Estudo havia dez nomes de milionários e que se tudo saísse como planejado não seria necessário abordar todos eles.
Pelos meus cálculos e se tudo correr como esperado creio que com os cinco primeiros da lista alcançaremos nosso objetivo financeiro e não será necessário abordar os outros.
Estevão disse que compreendera perfeitamente todo o plano, ao mesmo tempo que sacava a carteira para pagar, em dinheiro, a despesa do Jantar.
Fernando saiu do restaurante antes de Estevão, tomou um taxí e se dirigiu para outro encontro que estava agendado pelas imediações.

Assim que entrou em sua nova residência, na Granja Vianna, Estevão verificou seus monitores de segurança, controlados pela central DVR-Digital Video Register da LG. Religou o alarme do perímetro de fora da residência, acionou a porta eletrônica que abria o canil de três de suas cadelas Pit Bull, travou as portas e portões, se certificou que as câmeras do circuito externo de segurança estavam funcionando e, enquanto tirava a roupa, conectou seu micro à Internet para verificar como estava a segurança na sua empresa de taxi aéreo.


A Transporte Aéreo Mercúrio, também era monitorada por DVRs da LG. O cérebro central controlava 14 câmeras coloridas instaladas em diversos locais do hangar e no escritório. As imagens eram enviadas e arquivadas em seu PC, na sua residência.
Estevão se sentia confortável e seguro com essas ferramentas eletrônicas da tecnologia moderna. Recentemente instalara em sua casa de praia, em Maresias, o mesmo sistema eletrônico DVRs da LG que usava em São Paulo. Com um simples movimento no mouse do computador, a 200 quilômetros de distância, poderia ver sua casa, por dentro e por fora. Com um outro click no computador poderia ver, também, o mar azul ou até o caseiro, nadando em sua piscina, tendo toda a família para um churrasco, em plena segunda feira.
Estevão se deu por satisfeito, colocou seu pijama e se encaminhou para seu escritório residencial onde se acomodou em sua cadeira favorita de leitura, abriu a pasta e retirou o dossiê que fora impresso e encadernado pelo próprio Fernando, contendo mais ou menos umas 90 páginas.
Por trás de uma capa de plástico, transparente, estampada em letras grandes sobreposto sobre uma imagem aérea de um canavial, sobressaía o título do dossiê denominado ESTUDO DA PRODUÇÃO CANAVIEIRA.
Continuou a examinar o Estudo, notando que, nas vinte primeiras páginas e nas últimas dez, realmente, constava algumas informações sobre preparo do solo e irrigação para plantio e corte da cana de açúcar, inclusive com fotos e diagramas.
Nas páginas do meio do Estudo, entretanto, estavam os dados, pessoais, dos dez empresários mais ricos do Brasil. Seus nomes completos, endereços comerciais, residenciais, fotografias recentes deles e das famílias, inclusive alguns telefones que eram usados por eles no momento.
Estevão, pensando no título e conteúdo do Estudo não conteve um longo sorriso ao se certificar que Fernando era mesmo uma pessoa precavida. Para tanto, arrumou um jeito bem enrustido de catalogar as pessoas que os tornariam ricos. Tentou ver algum significado com respeito ao título, mas a única conclusão que chegara é que a vida poderia ser tão doce quanto uma cana de açúcar. Com muito dinheiro, obviamente.
Folheando as páginas do Estudo, apreendeu que havia informações recentes e completas sobre cada um dos empresários detalhando seus costumes comerciais, lazer, relações com familiares, tipo de carros usados, se eram blindados ou não, aviões ou helicópteros próprios ou alugados e, principalmente quantos e quem eram os seguranças e tipo de armas usadas por estes.
Em três desses dossiês, havia informações extras sobre as amantes de alguns deles, inclusive algumas com filhos.

A primeira da lista

Irene Lafayete Fontoura:


Advogada, viúva, acionista majoritária e presidente do grupo VÊNUS, 43 anos de idade. Seu ex-marido, Aurélio Gomes Fontoura, falecera tragicamente em um acidente de helicóptero em 2001, durante o percurso Rio de Janeiro a Teresopolis. Irene herdara suas ações e seu império financeiro.


Antônio Lafayete Fontoura é o único filho de Irene. Solteiro, 25 anos.
Estevão ficou um pouco surpreso quando voltou a ler o Estudo, detalhadamente, e notou que o primeiro empresário da lista não era um homem e, sim, uma mulher. Não ficara surpreso pelo fato de ela ser uma mulher, mas, sim, porque ela encabeçava o primeiro lugar na lista dos sequëstráveis.
Lembrou-se que Fernando tinha dito que os nomes contidos no Estudo estavam em uma ordem na qual os primeiros da lista seriam os mais fáceis para o plano de abordagem.
Ficou pensativo por algum tempo e se perguntou como era possível que uma das pessoas mais ricas do Brasil e uma das mais ricas do mundo fosse o alvo preferencial em um Estudo que apontava pelo menos dez seqüestráveis.
Melhor para nós, sorriu Estevão.

Uma Holding milionária

VÊNUS é uma Holding que congrega várias empresas, incluindo Bancos, seguradoras, financiadoras, corretora de valores, indústrias têxteis, usinas de álcool, fazendas de café, pecuária de corte e reflorestamento.


Seus diretores principais são:
Irene Lafayete Fontoura (presidente), Antônio Lafayete Fontoura (filho de Irene e vice-presidente), Dr. Moisés Rabinovitch (diretor jurídico) e Júlio Rodrigues da Silveira (diretor financeiro).
O Faturamento anual, líquido, do conglomerado VÊNUS, no ano passado fora de 231 milhões de dólares. A maioria dos lucros vieram das operações da área financeira da VÊNUS, principalmente com a desvalorização do Real diante do dólar e da alta dos juros.


Fazenda Limoeiro

Irene nascera na região de Araçatuba, Estado de São Paulo, onde sua família tinha grandes atividades na indústria agropecuária. Mudou-se para a capital para continuar seus estudos onde se formou em Direito, no Mackenzie, onde conhecera Aurélio com quem viera se casar mais tarde. Logo depois de casada, convenceu Aurélio a comprarem a Fazenda Limoeiro, uma das melhores da região. Na época, na Limoeiro, já havia uma pista de grama para o avião do antigo proprietário que após vender a fazenda mudara-se para a Austrália. Com o correr do tempo Irene mandou asfaltar e iluminar a pista, aproveitou e construiu um hangar com espaço para estacionar mais de quatro aviões de porte médio e um helicóptero.


O local mais indicado pelo Estudo para o seqüestro de Irene era sua casa de inverno em Gramado, Rio Grande do Sul. Ali Irene chegava a sair até sem os seguranças. Poucas pessoas a conheciam e o que ela gostava mesmo era de curtir este anonimato. Pena que ia lá só uma vez por ano ou duas no máximo, pensou Estevão.
O Estudo descartou o local, pois não podiam esperar até o próximo inverno para abordá-la, passando, então, para a segunda opção que seria na sede de uma de suas fazendas no interior de São Paulo.
Até hoje, entre várias outras, a Limoeiro é sua fazenda favorita. Na Limoeiro, a Vênus engorda uma média de 10 mil bois de cruzamento industrial por ano, além de criar cavalos Quarto de Milha, sua montaria favorita.

Com certeza, quando está no Brasil, Irene passa dois fins de semana por mês na Limoeiro com a família, amigos e, às vezes, sozinha.


Estevão continuou a ler o Estudo, valorizando as informações que mostravam o que Irene gostava de fazer, ir. ver, ou se envolver quando passava os fins de semana ou feriados na Limoeiro. Na capital, Irene, realmente não tinha muito tempo para esporte ou lazer. Tinha uma personal trainner que ia a sua residência, no Morumbi, todas as terças e quintas e malhavam juntas por um período de duas horas na parte da manhã. Por motivos de segurança sua ida aos teatros, espetáculos ou cinema era limitada, apesar de a Vênus patrocinar alguns eventos culturais. Irene acabava mandando seus diretores representá-la. Em restaurantes ia com a família ou acompanhada de seus diretores.
Desde a morte do marido, no acidente aéreo, Irene e o filho abandonaram os saltos livres de pára-quedas que faziam com o pessoal do aéro-clube local. Na época era seu esporte favorito. Mesmo assim todos os meses manda um cheque para o Aéreo Clube, fundado pelo seu marido. Antônio, seu filho, nem perto do clube passa mais para não contrariar a mãe.
Irene, na fazenda, se sente mais livre e à vontade para praticar algum tipo de esporte. Adora montar seus cavalos Quarto de Milha puro sangue. Galopa e dá longas cavalgadas pelos campos e bosques da fazenda. Em outras atividades joga tennis quando tem companhia e às vezes se molha na piscina semi-olímpica quando o calor passa dos 32º.
Desde a morte do marido Irene decidira, por medo ou superstição, ninguém sabe a razão, a não voar mais de helicópteros apesar de a Vênus ter dois Augusta.
Nas viagens curtas, quando decide ir de avião, prefere o bimotor King Air C90B da Beechcraft e nas mais longas usa seu Citation X.
Após rever três vezes o Estudo sobre Irene, Estevão decidiu que queria examinar melhor, do ar, a pista de pouso da Limoeiro.

No Estudo já tinha a localização da fazenda pelo GPS, havia também uma imagem de satélite tirada há seis meses atrás onde se viam a sede, a pista de pouso e o hangar, as pastagens e o confinamento de gado. Seria o suficiente, pensou. Mas decidiu que para garantir a missão e não ter nenhuma surpresa no dia da ação era melhor dar uma sobrevoada, antes, por cima da sede e pelas vizinhanças da fazenda. Fazendo isso, conferiria os acessos pela estrada, portões, guaritas e rios. Precisava escolher um dia da semana quando Irene não estivesse por lá com seus seguranças ou algum outro curioso.



O Rei do boi

O Estudo não indicava nenhum tipo de relacionamento de Irene com namorado ou amante. Recentemente ela estivera na Costa Del Sol, na Espanha, por dez dias, convidada por uns amigos banqueiros ingleses. Lá foi vista em companhia de outro brasileiro, fazendo compras e em restaurantes. O Don Juan era o Daniel Rabbit, o Danielzinho. Conhecido no Brasil como o Rei do Boi.


Danielzinho é natural de Campo Grande, Mato Grosso do Sul. Com 40 anos de idade, é o maior pecuarista do país. Dono de 8 frigoríficos, um helicóptero esquilo e um Lear Jet 35, entre outras muitas máquinas modernas da sociedade globalizada. Durante parte do inverno no Brasil foge para Malagá, na Espanha, onde tem uma casa na praia.
É considerado um play-boy internacional. Nunca se casou e é um mulherengo irremediável. As revistas de fofocas já publicaram que, quando perguntado se ia se casar ou não, Danielzinho sempre respondia que só se casaria com uma mulher dez vezes mais bonita do que a miss Brasil ou outra dez vezes mais rica do que ele.
Seria Irene a pretendida?, perguntou para si mesmo Estevão.
A pesquisa do Estudo não deu mais informações do relacionamento entre Irene e Danielzinho no Brasil.
Talvez um flerte de verão, pensou Estevão.
Bom! a sorte da Primeira Dama da lista já foi lançada, concluiu.
Estava satisfeito com o belo trabalho de inteligência levantado por Fernando, lembrando que, quando selaram a parceria de risco que iria torná-los milionários, tinham dividido suas tarefas de acordo com a especialidade de cada um. Fernando ficara com a área de inteligência da organização e Estevão com a de ação.
Deu mais uma folheada no Estudo e parou na página sobre a segurança de Irene quando ela pernoitava na Limoeiro.

A Segurança

O Estudo indicava que somente um segurança cuidava da proteção de Irene quando ela pernoitava na Limoeiro. Ele fazia parte de um grupo de oito seguranças que Irene tinha permanentemente em São Paulo. Seu nome é Armando Melo, o Careca. Careca já fazia parte da segurança pessoal do falecido marido e era considerado de extrema confiança. Entre tantos, era o único segurança que ia com Irene para a Limoeiro. Serviu na PM paulista por sete anos e saiu como sargento. Faixa preta de karatê, desde que abandonou a PM, dedicou-se a trabalhar com segurança de empresários. Carregava uma pistola calibre 38. Quando ficava na fazenda, dormia em um apartamento no mesmo complexo de hospedagem dos pilotos, ao lado do hangar.



O estudo informou, também, que havia uma guarita de tijolos à vista na entrada principal da fazenda, a uma distância de mais ou menos 8 km da sede. Um guarda, armado com um revólver calibre 38, controlava a entrada e a saída de pessoas da fazenda e a cada oito horas era substituído por outro. Esses guardas particulares não iam até a sede da fazenda. Ficavam limitados à guarita da entrada e se comunicavam por interfone com a sede, anunciando e identificando qualquer pessoa que quisesse entrar na fazenda.

A casa principal não tem nenhum sistema de alarme eletrônico. O pessoal da cozinha e da manutenção habita em três casas pequenas a uns 50 metros dos fundos da sede. O administrador é o Dr. Marcílio Paes, formado em Veterinária e Administração Rural, casado, com dois filhos. Sua esposa Leila leciona Biologia em Araçatuba. A família do administrador reside em uma casa separada dos demais empregados, a mais ou menos 40 metros da casa de hóspedes. Marcílio presta contas e faz planos dos negócios da fazenda, diretamente com Irene, a cada três meses. Os dois têm um bom relacionamento profissional, e Irene, assim que desce do avião, já quer notícias de seus cavalos e de como vai indo a engorda da boiada. Dá-se muito bem com a esposa e os dois filhos de Marcílio. Os 18 peões que cuidam do gado moram em uma vila de casas, nos fundos da fazenda perto dos confinamentos, mais ou menos a 4 km da sede. Existem mais dois casais que moram por perto da casa da cozinheira, que trabalham no pomar e terreiro.

Estevão achou o Estudo sobre as atividades de Irene, na Limoeiro, muito claro e objetivo. Mas, para finalizar seu plano, Estevão ainda dependia dos resultados da checagem aérea que seria feita por ele mesmo, na Limoeiro. Nos próximos dias executaria essa tarefa. Isso feito ficaria apenas aguardando o serviço de inteligência do Fernando lhe comunicar quando Irene pernoitaria novamente na Limoeiro.

Essa informação viria de uma hora para outra. Teria que agir rápido.


Células
Fernando e Estevão, cada um, tinham duas células de subordinados bem treinados sob seus comandos. Cada célula era composta de 9 a 15 homens e mulheres. Nenhum dos membros da Célula A se conheciam, anteriormente à data de seu recrutamento por Estevão. Esse sistema também era aplicado com as outras três células, G, I e C. Nos treinamentos todos foram disciplinados para obedecerem ordens e não fazerem perguntas, a não ser algumas perguntas técnicas ou alguma dúvida sobre seus comportamentos perante uma missão quando eram notificados desta.

O pessoal da célula A, sob responsabilidade de Estevão, estava treinando em uma fazenda que ainda tinha 80% da mata original intocada. A sede fora abandonada e tinha uma pequena pista de pouso bastante rústica e esburacada, situada em uma região isolada de outras fazendas, também com áreas florestais. Havia muita caça e pesca na região. A fazenda ficava entre os rios Paraguay e Aquidaban e era cortada por outros riachos menores, situada no Município de Concepción, no Paraguai.

Local ideal para os objetivos de Estevão e Fernando. Tinham acesso somente por água e ar.

Célula A era composta por 15 membros, sendo onze homens e quatro mulheres. Estavam na fazenda Santa Guadalupe, em Concepción, há três meses, e foram treinados intensamente para abordagem de pessoas nas mais diferentes formas imagináveis. Seu treinador, Señor Oscar (sem sobrenome), aparentando uns 50 anos de idade, extremamente desconfiado, viera diretamente das FARC recrutado pelo serviço de inteligência de Fernando.

Oscar não falava português e seus comandos eram todos dirigidos em espanhol. Portanto, os membros da Célula A começaram, primeiro, apreendendo espanhol, colombiano, mesclado com um dialeto antiquenho, para depois aprenderem a lidar com armas, técnicas de guerrilha rural e urbana, e seqüestro.

Com respeito ao idioma, Oscar sempre lembrava aos membros da Célula que o importante em uma missão era focalizar a atenção nos seus objetivos e para isso não importava se falavam português, espanhol ou portunhol.



Fazenda Santa Carolina
Estevão chegou tarde da noite na Segunda-feira em Araçatuba vindo de São Paulo de ônibus. Hospedara-se com um de seus vários documentos falsos (Alfredo Rodrigues) no melhor hotel da cidade. Tomou um banho, trocou-se e desceu para dar uma voltinha nas imediações do hotel, só para ter uma idéia geográfica de onde estava. Logo voltou e foi para seu apartamento descansar.

Pela manhã, logo cedo, recebeu no hotel, para o café da manhã um corretor especializado em compra e venda de fazendas na região.

O Rubens Sóriso era um daqueles corretores que sabia quem estava vendendo e quem poderia comprar. Conhecia todos os pecuaristas da região. Sua biografia favorita, repetida inúmeras vezes, era que tinha trabalhado para o legendário Tião Maia, o Rei do boi nos anos 60. Rubens fora indicado pela Imobiliária Rural em São Paulo.

Pelo perfil das informações, o Corretor servia perfeitamente para os propósitos de Estevão.

A reunião fora agendada antecipadamente, pelo telefone, e Estevão tinha em mãos um envelope que a imobiliária lhe tinha passado com as localizações, alqueires, benfeitorias, preço e condições das fazendas à venda na região de Araçatuba.

Rubens se entusiasmou quando Estevão disse que representava um grupo de investidores e que eles estavam interessados em uma das propriedades que lhe fora passada em São Paulo.



Qual delas? perguntou o corretor a Estevão.

Tirando o envelope da pasta, Estevão lhe passou as informações que recebera em São Paulo dizendo que era a fazenda Santa Carolina.



Eu que passei a Santa Carolina para o pessoal de São Paulo, falou Rubens.

A fazenda interessou meus clientes e eu gostaria de dar uma olhada nela agora, se o senhor puder me levar até lá. Eu pago o motorista e gasolina, pois vim sem carro, propôs Estevão.

Que motorista e gasolina, que nada! respondeu o Corretor demonstrando que já estava pronto, ele mesmo, para levar Estevão até a Santa Carolina. São só 58 km daqui do hotel e estou aqui para atender o senhor, complementou.

Estevão concordou rapidamente, e os dois se puseram a caminho na Saveiro de Rubens.

Rubens era uma matraca que não parava de falar nunca e assim foram indo até saírem do asfalto e entrarem na estrada de terra que passava em frente da entrada principal da Limoeiro. Estevão, sem demonstrar sua curiosidade, fotografou mentalmente a guarita de tijolos à vista e o portão de ferro. Na volta, usaria o mesmo procedimento e mentalizaria algum outro detalhe que lhe escapara.

Quando obteve da imobiliária, em São Paulo, as localizações das fazendas à venda, Estevão, pelo mapa da região, notou que, para chegar a uma delas, a Santa Carolina, teria que tomar a mesma estrada que passava diante da entrada da Limoeiro.

14 quilômetros estrada acima saíram à direita e entraram na Fazenda Santa Carolina. Foram recebidos pelo administrador, e esse se mostrara animado com a possibilidade de ter um novo patrão. A propriedade não era muito grande, 1.380 alqueires, e o dono já tinha vendido o gado e outros animais.

O motivo da venda, segundo Rubens, era que o proprietário estava se divorciando e precisava se desfazer da propriedade antes que a esposa lhe tomasse tudo.

O administrador da Santa Carolina ofereceu a Estevão dois cavalos, caso ele estivesse interessado em dar uma olhada nas pastagens e cercas. Estevão agradeceu e disse que gostaria de ir de carro até onde desse, pois mais tarde ou no outro dia bem cedo viria de avião sobrevoar a fazenda. Vê-se melhor lá de cima, explicou Estevão, tirando um aparelho de GPS da pasta e registrando as coordenadas da Santa Carolina.

Após uma hora de conversa que supostamente deveria ser sobre a propriedade, Estevão, que fora treinado nas Forças Especiais da FAB até para agüentar dolorosas torturas, não suportava mais ouvir as histórias de Rubens e o convidou para voltar, pois, ainda, tinha que alugar um avião e voltar para filmar a Santa Carolina do ar.

O corretor animado com a possibilidade de uma nova venda, concordou imediatamente, e ambos se dirigiram para Araçatuba. Rubens dirigia pensando que a venda já estava feita, pois quem aluga um avião é porque tem dinheiro e está interessado na coisa.

No caminho de volta para a cidade Estevão estava atento à estrada, principalmente no local da entrada da Limoeiro que seria visto de outro ângulo. Desligou-se das conversas de Rubens, só respondendo ou comentando suas histórias sobre bois, vacas e fazendeiros após terem passado meio quilômetro do portão da Limoeiro.

Chegando em Araçatuba, Estevão perguntou a Rubens se ele podia deixá-lo no aeroporto.

Ocê que manda chefe, disse Rubens ao mesmo tempo em que perguntava se ele tinha alguma idéia com quem ia alugar o avião.

Estevão lhe respondeu que já tinha uma reserva com a Marialva Taxi Aéreo e que iria, ele mesmo, pilotar um Piper.

Rubens disse: Ocê que sabe, pois eu tenho um amigo que se eu indicar cobra quase nada.

Estevão agradeceu e lhe disse que lhe chamaria depois de sobrevoar a Santa Carolina. Comentando que, se o avião estivesse em ordem, iria hoje mesmo caso contrário amanhã de manhã, por volta das 6 horas.

Rubens deixou Estevão na companhia de taxi aéreo e se despediu comentando que o preço da fazenda era um pouco salgado, mas que o dono estudaria uma oferta um pouco para baixo. Caso ele não vendesse logo a fazenda, a esposa ia tomar a terra dele.

Estevão entrou no hangar da Marialva Taxi Aéreo e procurou por Paulo, o encarregado de sua reserva. Uma mulher o atendeu, muito amigavelmente, dizendo que Paulo ainda não voltara do almoço. Estevão lhe perguntou se podia dar uma olhada no Piper PA 18 que tinha reservado, enquanto Paulo não chegava.



Pois não, disse a mulher que o atendera, encaminhando-o a um hangar ao lado do escritório e mostrou-lhe onde estava o avião, dizendo que Paulo deveria chegar logo e que ficasse à vontade.

Estevão notou que o PA 18 era novo de fábrica e que tinha poucas horas de vôo. Pelo lado externo, fez o walkaround, verificou as asas e o material com que estas foram revestidas, verificou também o nível de combustível e óleo. Entrou no avião e ajustou os cintos, baixou um pouco o banco e pressionou o pedal do breque, checando a pressão dos mesmos. Nesse momento, chegou Paulo e se apresentou pedindo desculpas por não estar presente para recebê-lo.

Estevão respondeu que a culpa era dele de não ter confirmado a hora certa de sua chegada e que gostaria de terminar a inspeção do avião. Voltaria amanhã às 6 horas para voar. Hoje tinha outros compromissos, mas já queria aproveitar e providenciar o preenchimento da papelada necessária. Terminou dizendo que ficaria no máximo 40 minutos no ar, pois a Santa Carolina era logo ali.

Após um rápido lanche lá mesmo no aeroporto, Estevão alugou um Corsa para voltar novamente em direção da Fazenda Santa Carolina. Queria se certificar, sozinho, se havia outras estradas visíveis que levasse à sede da Limoeiro. Voltou tarde da noite para o hotel.

No outro dia às seis horas, verificou que a camada estava baixa e teve que aguardar a abertura do campo até as onze horas. Depois disso, partiu no PA 18 em direção à Santa Carolina. Fez notificação de vôo para vôo local na sala AIS do aeroporto de Araçatuba.

Em seu apartamento, no hotel, tinha feito o planejamento para seu vôo, alinhando as coordenadas da Limoeiro e da Santa Carolina. Para todos efeitos, quando sobrevoasse a Limoeiro na ida e na volta, estaria dentro da rota do planejamento de vôo traçado para ir até a Fazenda Santa Carolina e voltar.

O tempo estava bom, sem neblina, e o sol já estava a pique. Preparou a máquina de filmar Sony Digital e foi apreciando a vista em baixo. Após 20 minutos na rota, seu GPS indicava a chegada na Limoeiro. A atividade na sede era zero, nenhum movimento na pista ou no hangar, sem movimento de pessoas ou carros, não vira ninguém indo ou vindo pela estrada que vinha da guarita. Filmou todo o complexo da sede e saiu um pouco da rota indo em direção dos confinamentos. Havia muito gado espalhado pelos pastos, e, chegando na área dos confinamentos, notou bastante atividade de tratores e peões se movimentando entre os silos e os currais de confinamento. Prosseguiu, conforme planejamento, e retornou na rota da Santa Carolina.

Quando seu GPS indicou que estava no bloqueio da Fazenda Santa Carolina, fez o sobrevôo por cima da sede e na volta notou alguém que parecia o administrador acompanhado de outros dois homens acenando para o PA 18.

Estevão sobrevoou toda a fazenda por dez minutos, fazendo questão de sobrevoar a sede, no mínimo, três vezes. Da última vez, acenou lá de cima e colocou o PA 18 na rota da Limoeiro e depois retorno ao aeroporto de Araçatuba.

Por cima da Limoeiro, a sede continuava sem atividade. Estevão continuou filmando até a divisa do perímetro da propriedade que se via claramente lá de cima. De um lado era a estrada, sem asfalto, do outro um riacho de água avermelhada.

Pousando no aeroporto, de Araçatuba, taxiou até o hangar, dirigiu-se ao escritório da Marialva Taxi Aéreo, pagou a conta em dinheiro e elogiou o avião. Aproveitou entregou o carro alugado e foi tomar um café no bar do aeroporto. Pegou um taxi e voltou ao hotel. Pediu a conta e pagou em dinheiro.

Antes de embarcar, na rodoviária local e de tomar o primeiro ônibus de volta para São Paulo, ligou para o corretor e lhe disse que assim que chegasse em São Paulo iria mostrar o filme da fazenda para seus clientes e lhe daria um retorno quando tivesse uma decisão.

Rubens quis anotar o telefone de Estevão e este respondeu que a imobiliária de São Paulo tinha todas as informações sobre ele. Agradeceu pela carona até a fazenda e desligou o telefone antes que Rubens decidisse contar outra de suas histórias.
O plano para a abordagem
Chegando em casa comparou seu filme com a imagem de satélite arquivada no Estudo e notou algumas mudanças no cenário da sede da Limoeiro e suas redondezas. Reviveu mentalmente o filme de ida e vinda da guarita da entrada da fazenda e o passeio de exploração que dera no Corsa alugado onde percorreu em volta de algumas cercas da Limoeiro no período diurno e noturno. Fez algumas anotações em códigos e resolveu que estava pronto para a ação de abordagem.

No outro dia pela manhã, chamou Fernando de um telefone público.



Fernando atendeu o celular pré-pago e escutou uma voz conhecida lhe falar.
Temos um jogo de pôquer hoje. Você quer jogar?
Fernando respondeu:
Hoje estou com o bolso cheio. A que horas e onde é o jogo?


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