L-0358 - ACAPO
APRENDER A ENSINAR, EN$INAR A APRENDER
TïTULO APRENDER A ENSINAR, ENSINAR A APRENDER
AUTORES MANUElA SANCHES FERREIRA e MILICE RIBEIRO DOS SANTOS
EDIÇæOEDIÇÕES AFRONTAMENTO/RUA COSTA CABRAL, 859/A200 PORTO
COLECÇÃO POLïGONO E/2
CONCÉPÇÃO GRåFICA: DEPARTAM. GRåFICO/EDIÇÕES AFRONTAMENTO
N DE FDIÇÃO: 526
DEPSITO LEGAÉ B04A4/94
ISBN 972 36 0350 0
IMPRESSåO E ACABAN1ENTORAINHO & NEVES, LDA./SANTA MARIA DA FEIRA
MANUELA SANCHES FERREIRAMILICE RIBEIRO DOS SANTOS
EDIÇÕES AFRONTAMENTO
I Tft ODÇO
A escola é uma instituição de reprodução social,
mas também possível espaço social de transformação.
A primeira ideia que gostaríamos de salientar é a de que acreditamos no
professor enquanto pessoa capaz de reflectir nas suas práticas lectivas papéis
e funções sociais e enquanto actor na construção da sua identidade profs
sional Uma formação é significativa quando o professor é capaz de inserìr
no seu pensamento os conteúdos experienciais desse novo conhecimento
e, dessa forma, reelaborar a sua auto imagem A leitura de um livro consti
tui, muitas vezes, um momento privilegiado no processo de autoformação.
Consonante com este princípio, pretendemos neste livro fomecer con
tribuições pragmáticas que possam, pela sua pertinência, ajudar a reflectir
sobre a prática lectiva e a perspectivar a resolução de algumas situações
concretas, sem contudo pretender que seja entendimento do leitor uma
visão acrítica das propostas apresentadas. É, pois, nossa intenção que o
texto contribua com perspectivas de acção a reinventar e a personalizar
pelo professor em cada situação educativa.
A investigação mostra que quando o professor acredita em si, acredita
também nos seus alunos e na capacidade de, todos em conjunto, realiza
rem de forma gratificante e com sucesso as situações de aprendizagem. A
certeza de que todas as crianças podem aprender e de que ensinar crianças
com dificuldades é ensinar mais e nâo menos parece constituir convicçâo
ue atribuem a si a responsabilidade pelo que na
comum aos docentes q artir de conhecimentos
a
assa. Educar passa então a ser formar P licados social
aula se seres críticos, imaginativos, autónomos e imp
adquiridos
mente.
ue as taxas de insucesso se apresentam e persistem
A q muns e classe p
gravidade com olítica.
professores, alunos, pais, cidadãos co
pôe em causa ç p
De facto, ninguém fica imune às críticas e à atribui ão de res onsabilidades.
Se é verdade não haverá um só culpado, também não é menos verdade
q o <
> todos joga
que enquanto se continuar a jogar a roblema através da mudança
rão à defesa, permanecendo, desta forma, o p
aparente.
a escrever este livro, aceitámos o desaho, conscien
Quando convidadas adoxalmente, a sua difi
tes de que a aparente facilidade da tarefa seria, p
culdade. E assim foi, de facto. Escrever, no momento actual em que vários
em Psicologia da Educação e em que a Reforma do
paradigmas coexistem , é com lexo, p
Sistema Educativo Portu uês está em curso pois assiste se a
gerspectivar o processo de
diferentes tendências, interesses e formas de p
ensino ap g. Foi nossa intenção produzir um páo que, sendo
rendiza em
crítico e reflexivo sobre as
investigações e diferentes icipações, não
deixasse de apresentar para o leitor uma unidade estruturadora do per
curso de ensinar e de aprender.
Apesar de o insucesso escolar ter de ser compreendldo nos níveis ma
cro e micro, as propostas que aqui apresentamos situam se mais na escola,
isto é, no segund0 nível de análise, sem que com isso pretendamos ocultar
ortância de outros focos de intervenção para o sucesso educativo.
a im a opç
P aue estejarr>s seguras dest ão, ela nem sempre foi pacífica,
Aindq
ôr de lado determinados temas, contribuições teóricas e expe
pois exigiu p na matriz com que pensámos
riências que, sendo pertinentes, nâo cabiam
e escrevemos este livro.
No primeiro e segundo capítulos abordamos a forma como a articu
lação entre o desenvolvimento da criança e as expectativas sobre/e da es
cola podem tomar difícil ou fácil aprender.
No terceiro capítulo analisamos as relações interpessoais na sala de
aula como constitutivas do pano de fundo onde a comunicação e a apren
dizagem acontecem.
No quarto capítulo referimos a organização e os métodos de ensino
como dois níveis da mesma realidade, com implicações para a facilidade ou
dificuldade com que o processo de ensino aprendizagem é vivido pelos
alunos e pela professora.
No quinto e sexto capítulos faz se referência à importância da avaliação
para as tomadas de decisão educacionais e como algumas intervenções faci
litam a tarefa de aprender, que para muitas crianças era difícil.
No capítulo sétimo salientamos a presença dos contextos fam0ia e escola
em todo o percurso de vida do aluno.
Por último, a conclusão e a bibliografia situam o livro e indicam leituras
que permitem aprofundar a complexidade do aprender a ensinar e do en
sinar a aprender.
Não podemos terminar esta introdução sem referir o testemunho do
que representou este trabalho elaborado por duas amigas que, partilhando
dos princípios essenciais e da filosofia subjacente ao processo de ensino
aprendizagem, contrapuseram divergências, ultrapassadas não a partir de
cedências mas de um amadurecimento teórico que dilatou espaços de inter
secção de dois saberes.
CHPïTlILO 1
CIÇ E DESEVOLVIETO
Nas páginas seguintes apresentaremos alguns conceitos caracteriza
dores dos processos de desenvolvimento da criança em idade pré escolar
e escolar. A forma de leitura aconselhada não será a de classificar as crian
ças em função de determinados atrasos, mas antes a compreensão do pro
cesso de crescimento como um contínuo onde a norma tem sentido se
nela inscrevemos a normalidade dos avanços e recuos, dos ritmos diferen
ciados, das crises e dos processos específicos de maturidade. Assim, ao
aconselhar esta leitura, pretendemos referenciar o aluno a um sujeito epis
témico
Antes de apresentarmos a Psicologia do Desenvolvimento mais direc
tamente relacionada com a criança da escolaridade do I o e 2o ciclos de en
sino (6 I 2 anos), vamos relembrar algumas características do desenvolvi
mento desde o nascimento até à idade da entrada na escola.
A história do nosso desenvolvimento começa antes de termos ssim, a criança vai
explorar o mundo com um pensar que Ihe irá permitir ultrapassar o pre
domínio da actividade física, aprendendo a suportar melhor as regras e as
imposições dos adultos, as frustações e, também, a adquirir um maior
auto controlo.
A nível cognitivo, assiste se ao aparecimento da função simbólica,
tendo por base a imagem mental que Ihe vai permitir evocar de forma inte
riorizada pessoas e situações e diferenciar o significante do significado, ace
dendo, então, à linguagem.
Se o estádio sensório motor é, segundo Piaget, o da conquista do uni
verso físico, o pré operatório (2 7 anos) é o da conquista do universo social
e da representação.
O primeiro sub estádio do pré operatório, que vai dos dois aos quatro
anos e meio, é marcado por mudanças significativas ao nível cognitivo, sócio
afctivo e psicomotor. Esta fase é, então, marcada por uma grande emo
tividade, onde coabitam sentimentos contraditórios: o medo, a alegria, o
ciúme, a rivalidade, a culpabilidade .. Existe uma maior interacção com adul
tos próximos, interesse por outras crianças e curiosidade pelo mundo que
a rodeia. A criança brinca todo o tempo, sendo o jogo uma actividade que
envolve e integra muitos aspectos do desenvolvimento.
Brincando ao <> ela faz de mãe e de pai, aprende sobre os
papéis e funções sociais, sobre o relacionamento amoroso entre o marido
e a mulher ou sobre a diferença entre os sexos. Conversando, berrando e
batendo às bonecas, vivencia do outro lado as ordens e explosões
dos adultos e compreende melhor o que Ihe vai acontecendo no dia a dia.
O jogo simbólico, para além de uma função catártica e de compensação, é
uma manifestação do pensamento egocêntrico cujo objectivo é transformar
a realidade em função dos desejos e da satisfação do eu.
O egocentrismo lógico, social e linguístico é defnido por Piaget pelas
características de confusão e dificuldade de separação entre o eu e o não
eu, entre o sujeito e o objecto e, ainda, por uma diferenciação do ponto
de vista próprio e dos pareceres e opiniões dos outros.
Assim, nesta fase pré conceptual, todas as manifestações são pautadas
por um egocentrismo intelectual, social e ontológico que se expressa
na linguagem (fala para si própria mesmo quando se dirige aos outros
monólogo colectivo), na análise do bem e do mal (um acto é julgado em
função dos prejuízos causados e não da intenção subjacente realismo
i
moral , na explicação do mundo (os fenómenos naturais são explicados
) animismo e expressão
magicamente, atribuindo se Ihes vida própria
humana antropomorfisação). Os raciocínios são transdutivos, isto é,
semreocupações de generalização, apenas do particular ao particular.
É desta forma que podemos entender frases como as nuvens são feitas
de açúcar ou as nuvens andam porque alguém Ihes soprou, a noite veio para
o bebé ir para a cama, o sol já foi dormir.; perguntas como: ofde e u de
do sol para ele se esconder quando chove. as árvores não têm rio .
senhos onde se representa o sol e a lua com caras... ou ainda comporta
mentos como bater à cadeira onde se magoou .
Progressivamente, assistimos a um descréscimo do pensamento ego
cêntrico, pois brincando a jogos em pares ou em grupo a criança aprende a
esperar a sua vez, a contar com a jogada do outro, a compreender as regras,
a partilhar e a confrontar se com outras visões sobre a mesma realidade
No período entre os quatro anos e meio e os cinco anos e meio a
criança utiliza uma intuição globalizadora para explicar a actividade do su
eito e a realidade social. A descentração do pensamento dá lugar no final
deste período pré lógico (cinco anos e meio/sete, oito anos) a uma regula
ão das representações mais adaptada ao real e capaz de melhor discernir
çs confusões perceptivas. Embora sujeita a erro, a criança vai agora ser capaz
de reunir e agrupar objectos em classes, segundo as percepções de simili
tude.
A capacidade de variar as classificações e as qualidades das coisas e a
diferenciação progressiva que a criança vai fazendo é motor de acesso ao
ensamento lógico O aluno vai poder ordenar, seriar e classificar não só
por tentativa e erro, mas também de forma racional e lógica. Pode agora
P, por exem lo, a forma
agrupar objectos segundo duas características como P
e a cor ou ainda raciocinar sobre a relação parte todo.
O desenvolvimento intelectual faz se, então, por reconstruções suces
sivas, integrando as aquisições num processo de equilibração progressiva.
Assim, entre os seis anos e meio e os sete anos e meio a criança dá
importantes passos no ultrapassar do egocentrismo cognitivo dife
renciação do ponto de vista próprio do dos outros e acede, segundo
Piaget, ao estádio das operações concretas pela aquisição da capaci
dade de operar mentalmente de forma interiorizada e reversível. A com
preensão das transformações reversíveis está relacionada com a existência
de invariantes mentais, isto é, de esquemas de conservação.
Os raciocínios reversíveis com reflexão, retrospectiva e antecipação
prospectiva implicam uma descentração cognitiva e a organização de um
sistema de conjunto que vão permitir transcender a percepção imediata
dos fenómenos. Ao descentrar se, o pensamento regressa ao ponto de
partida, inserindo as transformações numa estrutura de conjunto É assim
que a criança compreende que a mesma porção de barro pode tomar
formas diferentes e que, apesar das várias configurações perceptivas (bo
neco, bola, cobra. ..), estará sempre em causa a mesma quantidade de
barro invariante. Os raciocínios indutivos a partir de situações concretas
e a compreensão da causalidade vão permitir ao indivíduo ter mais rigor na
observação e reflexão, procurando analisar quais as razões e as conse
quências das problemáticas e dos actos mentais.
A criança vai poder generalizar e transferir dados adquiridos sobre de
terminada realidade para outras situações com características idênticas, de
forma funcional e lógica Estas novas capacidades mentais dão acesso às
aprendizagens escolares tais como: a leitura e a escrita, a adição e a multi
plicação, e a resolução de problemas de aritmética. O aluno pode agora
aceitar que um P e um p sejam considerados a mesma letra e que, embora
uma seja maiúscula e a outra minuscúla, se leiam da mesma maneira; de
igual forma, é capaz de responder a perguntas como: quantos filhos têm os
pais do António se este tem duas irmãs e um irmão?; é ainda a capacidade de
descentração que vai permitir compreender a transitividade lógica se
A>B>C então A>C
As conservações são adquiridas em idades difewentes. Assim, a noção
de substância é dominada cerca dos 7 anos (a de substância líquida é o um
pouco mais tarde), a de peso cerca dos 9, a de volume por volta dos I I
anos e só mais tarde a diferencìação entre peso e volume.
Muitas das dificuldades que as crianças apresentam na escola, nomea
damente em Matemática e no Meio Físico e Social, advêm da necessidade
de experienciarem as situações com materiais, de forma concreta, pois
ainda não dominam a abstracção. Esta capacidade só surgirá na puberdade
com o pensamento formal, tendo então, o jovem a possìbilidade de for
mular hipóteses e deduzir sobre elas abstraamente.
A descentração cognitiva e as experiências vivenciadas vão permitir
a aquisição da noção de tempo. Também a riqueza linguística joga um
importante papel na utilização de formas verbais que exprimam aconte
cimentos noassado, no futuro e no condicional. São disso exemplos o
emprego dedvérbios de tempo como: talvez, provavelmente, se . . então;
e as expressões verbais de sentimentos de dúvida e de especulações filo
sóficas.
A grande dinâmica existente entre a vivência da afectividade, o domí
nio intelectual, a construção de valores e os comportamentos socìais exige
uma compreensão global da criança. Esta dinâmica faz com que as aquisi
ções nuns aspectos vão influenciar o desenvolvimento, noutros, permitindo
nos compreender, por exemplo, como a descentração cognitiva actua nos
comportamentos sociais e morais. De facto, o exercício da solidariedade é
ossível, porque as crianças deixando o egocentrismo podem entender a
Peciprocidade Da mesma forma vão poder justificar afirmações e opções,
assumir responsabilidades e pensar antes de agir
A nível do desenvolvimento moral, assiste se à passagem da moral
heterónoma respeito unilateral e de submissão aos valores dos adul
tos para uma moral de cooperação social autónoma e de res
peito mútuo
A contrução de valores personalizados e a interiorização de novos
sentimentos morais faz se um pouco mais tarde do que as transformações
no plano cognitivo do pensamento lógico. Isto justifica que se encontrem
crianças com oito anos que vivem a mentira como uma coisa feia, porque
os adultos assim Ihe disseram que era, e não como um acto com a inten
ção de enganar, ou que fazem queixinhas dos colegas, porque pensam que
contando ao professor ele resolverá as situações. Como os comportamen
tos sócio morais são muito dependentes dos meios de vida experienciados,
o professor e a turma têm muita importância como experiência social dife
renciada da fam0ia. Na escola, num clima de menos envolvimento afectivo
do que em fam0ia, com a formalização de novas regras e o confronto num
grande grupo, o aluno vai viver conflitos, rivalizar, avaliar situações e tomar
decisões, tendo em conta diferentes pontos de vista.
O respeito interpessoal é fruto de um clima de interajuda e da possibi
lidade mental de entender a reciprocidade dos diferentes pontos de vista.
As regras de um jogo deixam de ser imutavéis e de cunho sagrado, para se
poderem mudar se o grupo assim decidir e se todos estiverem de acordo
O processo de socialização vem desde os 6 anos, envolvendo a criança
em interacções de amizades cada vez mais complexas; finalmente, aos 9/ I 0
anos passa para os grandes grupos de amigos.
A nível físico e psicológico, a partir dos 6 anos existem mudanças que
tornam estas crianças crescidas, cheias de energia e em plena expansão
psicomotora.
A maturação do esquema corporal e a aquisição da lateralização estão
relacionadas com a aprendizagem da escrita e da leitura copiar um texto
faz se de cima para baixo, da esquerda para a direita
Paralelamente assiste se a uma diminuição da actividade pulsional da
li'bido a fase de latência descrita por Freud e o seu controlo é feito
através dos mecanismos de defesa do Ego. Este facto vai permitir o inte
resse pelas realizações cognitivas e pelas produções sociais.
Rphcpoc p
No entanto, quando a experiência escolar e social da criança não Ihe
permite a afirmação, esta refugia se num sentimento de inferioridade,
como afirma Erikson, sendo frequentes as regressões a fases anteriores do
desenvolvimento afectivo. Estas crianças precisam de ser apoiadas na sua
afirmação pessoal.
A puberdade e a adolescência vão trazer novas transformações em
todos os aspectos do desenvolvimento novas emoções, energias, capa
cidades cognitivas e transformações corporais. A crise da adolescência vai
ser o cenário da construção da identidade pessoal, psicossocial e sexual.
As figuras de identificação da infância são os pais, idealizados e existindo
interiorizados na própria criança. O crescimento exige que ao deixar de
ser criança o adolescente se autonomize, procurando modelos jovens de
identificação As novas capacidades intelectuais do pensamento abstracto
serão a base de um interesse filosófico, de uma reflexão sobre o mundo
envolvente e de uma construção de valores.
CHïTlILO Z
0 pEIlD 5 55 DIfICIILDDES
Aprender é uma actividade natural e espontânea em qualquer ser hu
mano. Desde que nascemos que exercemos essa função. Com efeito, o
bebé aprende rapidamente a interagir com o meio, discriminando e rea
gindo a estímulos, exprimindo necessidades e acumulando um conjunto de
informações que se irão progressivamente organizar em esquemas cada
vez mais complexos que, por sua vez, estão na base de aprendizagens
também mais elaboradas. Este processo, antes da entrada para a escola, é,
basicamente, movido por necessidades individuais há quase sempre
uma sintonia entre o desejo de saber da criança e a sua exploração sub
sequente do meio , passando, com o início da escolaridade, a ser movido
por necessidades externas à criança De facto, esta, ao passar ao papel de
aluno, é confrontada com um currículo formal com objectivos de apren
dizagem prévios, independentes do seu desejo de descoberta ou curiosi
dade de saber ou da sua história de vida Desta forma, a relação de apren
dizagem deixa de ter um cariz afectivo e familiar para se tomar numa re
lação mais racional, mais distanciada e, obviamente, menos individuali
zada.
Poder se à, então, conceptualizar a entrada na escola como um mo
mento de ruptura onde, pela primeira vez, a criança tem que se confrontar
com as exigências de um sistema de ensino, abandonando pois o contexto
natural/familiar de aprendizagem.
Dpp, ED D E h N
Sem pretender, com esta reflexão, patologizar a entrada para a escola,
uma vez que a criança tem neste momento recursos de desenvolvimento
capazes de, na maior parte das vezes, responder eficazmente a esta situa
ção, queremos, no entanto, chamar a atenção de que para muitas delas
o futuro escolar é hipotecado neste primeiro encontro, sendo as razões
várias e muitas delas exteriores à própria criança.
Como é que a criança constrói as suas representações da escola?
A escola anunciada
Não é raro ouvirmos os pais dizerem aos filhos agora é que tu vais ver
o que é bom, a professora vai te bater, ali vais andar na linha, vais ter orelhos
de burro...
A escola vivlda através dos outros
O conhecimento que a criança já teve através da experiência dos ami
gos ou familiares próximos, que reprovam ou passam, que gostam ou de
testam a escola, contribui para desenvolver a ideia de que a escola pode
ser um jogolsorteio onde o fim é imprevisível
A escola do outro lado
Um dos primeiros indicadores de avaliação de que a escola se serve
é a origem familiar da criança, o meio social e geográfico, a etnia/raça,
o aspecto físico, o ter tido ou não pré escolaridade; isto faz com que, para
muitas crianças, tais indicadores se transformem em dificuldades, pois terão
rapidamente de obter bons desempenhos para provarem que são capazes
e, desta forma, desmentirem as expectativas da escola
A escola real
Além destas razões pré existentes que vão criar o pano de fundo do
reencontro na turma, existem razões mais formais (diferenças no código
linguístico, modalidades de comunicação, condutas sociais e de aprendi
zagem) que contribuem para o quadro de leitura dos comportamentos,
atitudes e dificuldades na aprendizagem.
Fruto desta dinâmica de representações sociais, toda a criança tem uma
imagem mais ou menos clara e mais ou menos verdadeira do que é a escola.
Tal como acontece com qualquer um de nós a pré imagem construída de
uma situação ou acontecimento vai condicionar as nossas fantasias e com
portamentos face à situação real Sem dúvida que os nossos pré conceitos
constituem a matriz de leitura dos acontecimentos quando vividos.
Um professor entrevistado por Gibson (citado por Delamont, I 987,
p. I I 3) afirma: <
nos está a sopesar e temos a impressão de que nos tomam o peso mais
depressa que nós a eles. É difícil, porque a turma consegue conhecer o
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