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Concluindo a Unidade 4
Leia o texto, reflita e depois responda às questões propostas.
Migração climática também afeta os países ricos
O grupo de especialistas do clima (IPCC, na sigla em inglês) publica um novo relatório sobre as consequências das mudanças climáticas. Ele contém um aspecto muito importante: o impacto sobre os fluxos migratórios é um fenômeno que não se limita às regiões mais pobres, adverte o especialista em migrações Etienne Piguet, na entrevista a seguir.
Milhares de americanos fogem do gelo procurando refúgio no México. Pura fantasia? Certamente. A cena está num filme hollywoodiano de alguns anos atrás e ilustra, todavia, um fenômeno real: a migração climática. Em 2100, centenas de milhões de pessoas abandonarão a zona costeira devido à alta do nível dos mares, reitera o Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre Mudanças Climáticas (IPCC) no relatório que publica amanhã, 31 de março [de 2014].
O impacto do clima sobre o comportamento da população é bem conhecido, explica Etienne Piguet, professor na Universidade de Neuchâtel (oeste da Suíça). Todavia, em sua última pesquisa sobre migração climática no mundo emergem aspectos surpreendentes e mesmo paradoxais.
[...]
1. É verdade que a migração climática é um fenômeno recente?
Etienne Piguet: Desde 2007, ano da publicação do quarto relatório de avaliação do IPCC, de fato assistimos a uma espécie de volta da noção de migração climática. Na realidade, trata-se de uma ideia muito antiga. Me vem em mente o chamado "dust bowl" nos anos 1930: a tempestade de areia e a forte erosão eólica do solo forçaram muitos cidadãos das Grandes Planícies nos Estados Unidos a migrarem para a Califórnia.
Muito mais tempo atrás temos a carestia da batata na Irlanda, que favoreceu a migração para os Estados Unidos. Certo, a causa foi a doença que reduziu a colheita, mas ela foi provocada pelo clima particularmente muito chuvoso e úmido que ocorreu durante várias estações.
2. Então o clima é um motor da imigração?
Etienne Piguet: Sim e não. Contrariamente ao passado, hoje se considera que o clima é um dos múltiplos fatores que provocam a migração. O "dust bowl" ocorreu depois da crise de 1929, que havia fragilizado a situação dos cidadãos. Sem contar que, na Irlanda, foi a política da Grã-Bretanha que favoreceu a migração. Além do clima, há outros aspectos políticos, sociais e econômicos.
Os estudos mostram um forte impacto da temperatura e dos períodos de seca sobre a produtividade agrícola. Por duas razões: algumas plantas são menos produtivas e a uma certa temperatura o trabalho físico do homem torna-se difícil. As pessoas ficam muito vulneráveis, mas migram realmente? Difícil dizer. Por vezes são ajudadas por seus governos a mudar de atividade econômica e acabam ficando onde estão. Pensemos por exemplo na Holanda e a alta do nível do mar. Se o governo não tivesse construído os diques, as pessoas teriam sido obrigadas a partir.
3. Quando se fala de migração climática dos países pobres está correto?
Etienne Piguet: Os países pobres são os que têm mais dificuldade, por questões técnicas e políticas, de enfrentar o desafio colocado pela mudança climática. Porém, de nosso estudo emergiu, com um pouco de surpresa, que a migração afeta também os países ricos.
Em termos de população, esses países estão em primeira linha. Basta pensar na China e nos milhões de pessoas que vivem ao longo da costa. Qualquer catástrofe brutal ou progressiva, forçando a transformação espacial da atividade econômica, pode provocar importantes transformações na Europa e na América do Norte, como se viu com o furacão Katrina em 2005.
JORIO, Luigi. Migração climática também afeta os países ricos. Disponível em: www.swissinfo.ch/por/-migra%C3%A7%C3%A3o-clim%C3%A1ticatamb%C3%A9m-afeta-os-pa%C3%ADses-ricos-/38262180. Acesso em: 30 out. 2015.
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