Fenômenos naturais e novos padrões climáticos
Desde a formação da Terra, a atmosfera do planeta tem sofrido mudanças. Menos radicais do que em tempos remotos, temos hoje alguns fenômenos que são responsáveis por alterações no comportamento das chuvas, dos ventos e da temperatura do ar em várias regiões.
Há alguns anos, certos lugares sofrem enchentes devastadoras, enquanto outros enfrentam fortes estiagens, ondas de calor abrasador fazem contraste com temperaturas muito baixas e tempestades de neve violentas. Todos esses eventos naturais causam prejuízos à população das áreas atingidas, arrasando plantações, danificando construções e estradas, matando animais e, muitas vezes, pessoas.
Entre as causas dessas mudanças climáticas, destacam-se dois fenômenos: El Niño e La Niña, que têm em comum o fato de se originarem no oceano Pacífico e trazerem consequências para o clima de todo o mundo, embora de formas diferentes.
El Niño
Percebido pela primeira vez na época do Natal, o El Niño recebeu esse nome em homenagem ao Menino Jesus. Caracteriza-se pelo aquecimento anormal das águas do oceano Pacífico, no litoral do Peru. Para entender a ação do El Niño, precisamos relembrar como funciona o sistema de circulação geral da atmosfera, visto no Capítulo 10, quando falamos dos ventos alísios de nordeste e de sudeste, que sopram dos trópicos para o equador (veja o mapa "Ventos principais", na página 132).
Em situação normal, os alísios sopram sobre o Pacífico ocidental, empurrando as águas mais quentes da superfície em direção à Austrália. Desse modo, na costa do Peru as águas frias da corrente de Humboldt vêm à superfície (fenômeno conhecido como ressurgência), tornando a região uma das mais ricas áreas de pesca do mundo, pois as baixas temperaturas permitem o desenvolvimento de algas, que servem de alimento para várias espécies de peixes. Há períodos em que a velocidade dos ventos alísios sobre o Pacífico ocidental diminui.
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Sem os ventos fortes, todo o oceano Pacífico equatorial começa a aquecer. Com a evaporação, formam-se nuvens que dão origem a intensas chuvas no Pacífico equatorial ocidental. Essa mudança no local de formação das nuvens acarreta modificações no padrão de circulação do ar e da umidade na atmosfera, alterando o clima no mundo. O fenômeno dura, em média, de 12 a 18 meses. Em ocorrência do fenômeno El Niño, a temperatura da superfície do mar chega a ficar até 4,5 °C acima da média.
O El Niño ocorre com uma frequência de 2 a 7 anos e é difícil prever suas consequências. Suas maiores ocorrências foram em 1982-1983 e em 1997-1998.
Durante sua ocorrência, o fenômeno El Niño provoca alterações e mudam radicalmente o comportamento esperado das chuvas e das temperaturas em todo o mundo.
Por que isso acontece?
O aumento da temperatura das águas oceânicas faz aumentar a evaporação, ocasionando a formação de nuvens e alterando o sistema global de circulação de ar. Desse modo, chove mais que o esperado para o período em alguns lugares e há secas prolongadas em outros. Por exemplo, uma massa de ar quente causada pelo El Niño, na altura do Sudeste do Brasil, vai impedir a passagem de uma frente fria que se concentra no Sul do país antes de desviar-se para o mar. Com isso, ocorrem fortes chuvas causadoras de enchentes no Sul e seca prolongada no Nordeste, pois as chuvas que deveriam cair na costa leste do Brasil ficam restritas à região Sul.
As regiões Norte, Centro-Oeste e Sudeste do país sentem menos os efeitos do El Niño, pois ele interfere pouco na circulação atmosférica dessas regiões. Em São Paulo, por causa dessa barreira, as frentes frias deixam de atuar, causando o aumento da temperatura. Por isso, faz muito calor no verão com o El Niño.
A influência do El Niño não se restringe ao Brasil. Peru, Chile, Estados Unidos, Austrália, Sul e Sudeste da Ásia (Índia, Filipinas, Tailândia e Indonésia) também são atingidos por esse fenômeno, sofrendo excesso de chuvas ou secas rigorosas.
LEGENDA: Circulação dos ventos observada no oceano Pacífico ocidental em situação normal, sem a presença do El Niño: as setas vermelhas representam os ventos alísios, que sopram próximo à superfície, de leste para oeste, ou seja, da América para a Oceania; as cores avermelhadas representam as águas mais quentes, e as azuladas, as águas mais frias.
Glossário:
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