O fenômeno urbano
As grandes cidades existem desde a Antiguidade. Elas tinham, então, função comercial, militar, política e religiosa, como Roma e Constantinopla.
Na Antiguidade oriental (cerca de 4000 a.C.-330 d.C.), foram importantes no continente asiático as cidades de Ashur, Nínive, Babilônia, na Mesopotâmia; Biblos, Sídon e Tiro, na Fenícia; Pasárgada e Persépolis, na Pérsia; no continente africano, as cidades de Tebas e Mênfis, no Egito.
Durante o feudalismo (do século V ao século XV), as cidades tinham importância secundária, pois a exploração da propriedade rural determinava seu caráter essencialmente agrário. No século XIV (Baixa Idade Média), a atividade comercial incentivou o ressurgimento da vida urbana, embora as cidades estivessem situadas em áreas pertencentes aos senhores feudais. Aos poucos, foram emancipadas, pacificamente ou por meio de lutas, e puderam, assim, administrar seu destino (milícia, impostos, organização política). No continente europeu, as cidades mais importantes eram: Florença, Gênova, Veneza, Bruges, entre outras. Enquanto isso, na América, erguiam-se imponentes cidades nos impérios Inca, Maia e Asteca. Na África, em reinos como os de Mali e Gana, as cidades de Tombuctu e Zanzibar eram igualmente importantes.
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LEGENDA: Pessoas andam pelas ruas de Zanzibar, na Tanzânia. Foto de 2015.
FONTE: LMspencer/Shutterstock
Cidades: conceito, função e sítio urbano
A ONU considera cidade todo aglomerado com mais de 20 mil habitantes. Porém, esse critério pode variar de um país para outro. Na Noruega, por exemplo, todo núcleo de população superior a 200 habitantes é classificado como cidade, enquanto no Japão é preciso ter 30 mil habitantes. Na Itália, o critério é econômico. Para ser considerado cidade, mais de 50% dos habitantes de um aglomerado devem trabalhar em atividades urbanas. No Brasil, não existe um critério numérico. Todo aglomerado que seja sede de um município é considerado cidade. O município é formado, de modo geral, por uma área rural e outra urbana.
Se o aglomerado urbano surgir naturalmente de pequenos núcleos de povoamento, dará origem a uma cidade espontânea. É o caso da grande maioria das cidades do Brasil e do mundo, como São Paulo, Rio de Janeiro, Nova York, Paris. Algumas vezes, porém, as cidades são planejadas, isto é, são construídas seguindo projetos previamente concebidos. No Brasil, o exemplo mais conhecido é Brasília, embora Belo Horizonte, Goiânia, Teresina, Palmas e Aracaju também sejam cidades planejadas. No exterior, podemos citar Camberra, capital da Austrália, Washington, capital dos Estados Unidos, e Rawabi, que deverá ser a primeira cidade da Palestina.
A China pretende construir, nos próximos anos, cidades com planejamento urbano sustentável ou "cidades verdes". Esses agrupamentos urbanos devem contar com ciclovias, muitas áreas verdes, além de sistemas de reciclagem de lixo e construções ambientalmente corretas, com reaproveitamento de água e economia de energia.
O local onde uma cidade foi construída é chamado sítio urbano, e pode ser uma planície, um planalto, um vale, uma área litorânea, entre outros.
Hoje, as cidades costumam desenvolver várias atividades (comércio, bancos, escolas, mercado financeiro, etc.), mas algumas são conhecidas pela sua função urbana, isto é, sua característica principal.
LEGENDA: A Sino-Singapore Tianjin é um dos projetos de "Cidade Verde", ou Eco-Cidade, na China. Esse é um dos projetos apresentados no Fórum Econômico Mundial, realizado em setembro de 2012, na China.
FONTE: Nelson Ching/Bloomberg/Getty Images
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Existem cidades religiosas (Aparecida, em São Paulo; Lourdes, na França; Fátima, em Portugal); industriais (Camaçari, na Bahia; São Bernardo do Campo, em São Paulo; Detroit, nos Estados Unidos; Milão, na Itália); administrativas (Washington, nos Estados Unidos; Tshwane, antiga Pretória, na África do Sul); militares (Resende, no Rio de Janeiro; West Point, nos Estados Unidos); turísticas (Porto Seguro, na Bahia; Veneza, na Itália; Dubai, nos Emirados Árabes).
Alguns países são formados por uma única cidade e possuem 100% de população urbana, como Vaticano, Cingapura e Mônaco.
Hierarquia urbana e rede urbana
As cidades são classificadas pelo número de habitantes, pela variedade de serviços que oferecem e pelo papel que desempenham como centros polarizados e/ou polarizadores, seja no próprio país, seja em escala global.
Em escala local ou regional, a área polarizada por uma cidade é sua área de influência, que pode ser maior ou menor, conforme seu poder de atração. De modo geral, uma cidade exerce influência sobre outras menores e suas áreas rurais. No Brasil, as cidades são classificadas conforme o alcance de sua área de influência. Os centros locais estão na base da hierarquia urbana, seguidos dos centros de zona, dos centros sub-regionais, das capitais regionais e das metrópoles, embora, hoje, com o avanço da economia global, coexistam também pequenos núcleos que se relacionam e se conectam diretamente com a metrópole (e não apenas com a capital regional), e mesmo com núcleos e redes em escala planetária.
A rede urbana de uma região envolve as relações entre o campo e a cidade e as relações entre os diferentes tipos de cidade. A existência de uma rede de transportes e de comunicação é fundamental para que uma rede urbana seja integrada.
Urbanização e crescimento urbano
Quando a população das cidades cresce mais que a das zonas rurais configura-se o fenômeno da urbanização. Um país é urbanizado quando a população urbana ultrapassa a população rural.
Mesmo nos lugares onde a população rural ultrapassa a população urbana, as cidades crescem naturalmente (crescimento vegetativo) ou por receber imigrantes. Esse aumento natural da população urbana é chamado crescimento urbano.
O crescimento urbano gera a expansão das áreas edificadas e urbanizadas e dá origem a aglomerações urbanas. Algumas cidades crescem tanto que acabam por se unir a cidades vizinhas, sendo impossível perceber onde começa uma e termina a outra. A esse processo de fusão entre duas ou mais cidades vizinhas chamamos conurbação.
FONTE: Adaptado de: ONU. Divisão de População. World Urbanization Prospect - The 2014 Revision. Disponível em: http://esa.un.org/unpd/wup/ Maps/CityDistribution/CityPopulation/CityPop.aspx. Acesso em: 15 nov. 2015. CRÉDITOS: Banco de imagens/Arquivo da editora
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Urbanização e crescimento urbano estão relacionados e têm como consequência o surgimento de áreas urbanizadas, como metrópoles, regiões metropolitanas, megalópoles e megacidades.
Metrópole e megalópole
Em uma conurbação destaca-se a metrópole, cidade que exerce influência sobre as outras. O conjunto formado pela metrópole e pelas cidades vizinhas é a região metropolitana. As metrópoles exercem grande influência nas áreas onde se localizam, e polarizam espaços mais amplos, até mesmo em escala planetária.
Regiões metropolitanas conurbadas formam extensas regiões urbanizadas, nas quais as áreas rurais são quase ou totalmente ausentes. O conjunto dessas regiões, chamado megalópole, conta com intenso fluxo de pessoas e de mercadorias e é bem servido de meios de transportes e de comunicação.
A primeira área a receber a denominação de megalópole foi o nordeste dos Estados Unidos, onde se localiza a Bos-Wash, que abriga as metrópoles de Boston, Nova York, Filadélfia, Baltimore e Washington, DC. Ainda nesse país, há também a ChiPits, localizada na região dos Grandes Lagos, que reúne as metrópoles de Chicago, Pittsburgh, Cleveland e Detroit.
Outros exemplos de megalópole são Tokkaido, no sudeste do Japão, abrangendo as metrópoles de Tóquio, Kawasaki e Yokohama; na Europa, temos a megalópole Renana, com as cidades de Düsseldorf, Colônia, Bonn e Stuttgart.
FONTE: Adaptado de: ATLANTE geografico metodico De Agostini. Novara: Istituto Geografico De Agostini, 2015. p. 185. CRÉDITOS: Allmaps/Arquivo da editora
Cidades globais e megacidades
A urbanização do fim do século XX foi marcada pela existência de duas novas categorias na hierarquia urbana: as cidades globais e as megacidades.
A noção de cidade global não envolve número de habitantes, mas leva em conta a economia, os serviços, a rede financeira, as telecomunicações, as empresas e os conhecimentos que, além de ligar essas cidades à economia mundial, tornam-se dependentes dessa economia.
O número de cidades globais varia de 31 a 55. Todas as listas mencionam Tóquio, Londres e Nova York; em algumas aparecem São Paulo, Cingapura e Cidade do México.
Já o conceito de megacidade não envolve necessariamente poder político ou econômico, mas o número de habitantes (acima de 10 milhões). Como a população dos países não desenvolvidos cresce em escala mais rápida do que a dos países desenvolvidos, as maiores cidades do mundo nos próximos anos não serão cidades globais. É o caso de Lagos (Nigéria), Dacca (Bangladesh) e Karachi (Paquistão). Com mais de 10 milhões de habitantes, elas são consideradas pela ONU megacidades, mas não têm a mesma importância nem o poder das cidades globais.
São Paulo, Tóquio e Nova York são ao mesmo tempo cidades globais e megacidades. Com menos de 1 milhão de habitantes, Zurique, na Suíça, é uma cidade global, mas está longe de ser uma megacidade.
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O aumento das desigualdades entre cidades de países ricos e de países pobres se reflete no aumento da exclusão social da maior parte da população nas cidades dos países não desenvolvidos. É forçoso lembrar, porém, que, mesmo nas cidades de países ricos, a desigualdade existe e está presente, visível no progressivo aumento do desemprego, da pobreza, da segregação.
Boxe complementar:
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