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A partir da década de 1970, após a crise do petróleo, houve nova necessidade de
mudança na organização estatal. O capitalismo enfrentava então vários desafios. As
empresas multinacionais precisavam expandir-se, ao mesmo tempo em que havia um
desemprego crescente nos Estados Unidos e nos países europeus; os movimentos
grevistas se intensificavam em quase toda a Europa e aumentava o endividamento
dos países em desenvolvimento.
Os analistas, tendo como referência os economistas Friedrich Von Hayek (1899-
1992) e Milton Friedman (1912-2006), atribuíam a crise aos gastos dos Estados com
políticas sociais, o que gerava déficits orçamentários, mais impostos e, portanto,
aumento da inflação. Diziam que a política social estava comprometendo a liberdade
do mercado e até mesmo a liberdade individual, valores básicos do capitalismo. Por
causa disso, o bem-estar dos cidadãos deveria ficar por conta deles mesmos, já que
se gastava muito com saúde e educação públicas, com previdência e apoio aos
desempregados idosos. Ou seja, os serviços públicos deveriam ser privatizados e
pagos por quem os utilizasse. Defendia-se assim o Estado mínimo, o que significava
voltar ao que propunha o liberalismo antigo, com o mínimo de intervenção estatal na
vida das pessoas.
Nasceu dessa maneira o que se convencionou chamar de Estado neoliberal. As
expressões mais claras da atuação dessa forma estatal foram os governos de
Margareth Thatcher, na Inglaterra, e de Ronald Reagan, nos Estados Unidos. Mas
mesmo no período desses governos o Estado não deixou de intervir em vários
aspectos, mantendo orçamentos militares altíssimos e muitos gastos para amparar as
grandes empresas e o sistema financeiro. Os setores mais atingidos por essa "nova"
forma de liberalismo foram aqueles que beneficiavam mais diretamente os
trabalhadores e os setores marginalizados da sociedade, como assistência social,
habitação, transportes, saúde pública, previdência e direitos trabalhistas.
Os neoliberais diziam que era necessário ter mais rapidez para tomar decisões no
mundo dos negócios e que o capital privado precisava de mais espaço para crescer.
Reforçavam assim os valores e o modo de vida capitalistas, o individualismo como
elemento fundamental, a livre iniciativa, o livre mercado, a empresa privada e o
poder de consumo como forma de realização pessoal.
Com essas propostas, o que se viu foi a presença cada vez maior das grandes
corporações produtivas e financeiras na definição dos atos do Estado, fazendo com
que as questões políticas passassem a ser dominadas pela economia. Além disso, o
que era público (e, portanto, comum a todos) passou a ser determinado pelos
interesses privados (ou seja, por aquilo que era particular).
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