Capítulos 1 e 2: Sumário Executivo



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Subsistência e Pobreza


Os impactos de mudanças no clima, com reflexos sobre a produção de alimentos e, de forma mais abrangente, sobre as condições de vida, provavelmente, tornarão mais acentuadas as diferenças entre populações detentoras de mais recursos para fazer frente a tais problemas e as populações que não os possuem, resultando em fome, por estarem expostas, diretamente, às adversidades climáticas. A agricultura industrializada, talvez, possa reagir às mudanças do clima, porém, a de subsistência deverá se adaptar, radicalmente, explorando atividades mais apropriadas aos novos tempos.

Números da miséria no Brasil (IBGE, 2010): População: 16,257 milhões (8,5% da população brasileiras); Região com maior predominância: Nordeste – 9,61 milhões sendo a maioria no campo (56,4%); População urbana abaixo da linha da pobreza extrema: 8,67 milhões sendo que 52,6% vivem no Nordeste e 24,7% no Sudeste; População rural abaixo da linha de pobreza extrema: 7,59 milhões com maior concentração nas regiões Norte (35,7%) e Nordeste (35,4%).

O estudo de Queiroz e Barbieri (2009) mostrou que os municípios do Nordeste que sofrerão os maiores impactos das mudanças climáticas também apresentam os piores indicadores sociais da região, medidos pelo baixo nível médio de educação, concentração de famílias abaixo da linha de pobreza, maior dependência em relação às transferências governamentais; e baixo acesso a serviços básicos de infraestrutura (água e esgoto).

Com relação ao tema saúde humana, bem estar e segurança, as comunidades mais pobres podem ser especialmente vulneráveis por se concentrarem em áreas de alto risco, por terem menor capacidade adaptativa e por serem mais dependentes de recursos locais sensíveis ao clima.

As alterações climáticas contribuem em larga escala para as secas e inundações que ocorrem com mais frequência na última década e que afetam muito seriamente a produção alimentar, contribuindo assim para um agravamento do estado nutricional das populações de muitos países e muitas vezes ceifando vidas abruptamente nestas catástrofes.



Impactos Multisetoriais, Riscos, Vulnerabilidade e Oportunidades


A atividade agrícola tende a ser afetada diretamente pelas mudanças climáticas no Brasil; a disponibilidade de recursos hídricos pode alterar as condições de produção de energia, cujos custos transmitidos ao sistema produtivo têm impacto muito disseminado; os efeitos de cenários de variação de temperatura e precipitação afetam de forma negativa a produção de alimentos do Brasil, no entanto, frente ao impacto observado em outras regiões do planeta, tal redução no Brasil mostrar-se-ia menos significativa.

Uma revisão a partir dos trabalhos empíricos realizados para o Brasil mostra que o esforço de quantificar os impactos das mudanças climáticas globais (MCG) ou seus desdobramentos sobre variáveis de relevância econômica é relativamente recente.

O conjunto de atividades econômicas afetadas por MCG tende a ser amplo, uma vez que os impactos desse fenômeno repercutem tanto diretamente nas atividades econômicas como indiretamente. Efeitos econômicos sistêmicos merecem especial atenção na avaliação dos impactos de MCG. Não apenas os setores tendem a ser afetados de forma heterogênea, direta e indiretamente, como também regiões tendem a apresentar impactos diferenciados.

O principal resultado, presente em grande parte dos estudos analisados, revela que os impactos econômicos das MCG tendem a ser mais intensos, em termos relativos, em regiões menos desenvolvidas, considerando-se diversas escalas territoriais.



  • Outros resultados se destacam, com maior probabilidade de ocorrência: Reduções significativas das áreas de florestas e matas nos estabelecimentos agrícolas; Aumento das áreas de pastagens; As regiões Centro-Oeste e Nordeste seriam as mais severamente atingidas; Plantio de cana-de-açúcar pode ser favorecido; Redução do crescimento econômico; Setores e regiões não são impactados de forma homogênea; Agricultura e pecuária são os setores mais sensíveis a MCG, mas outros setores também seriam afetados negativamente; “Pecuarização” das regiões rurais no Nordeste; Aumento das desigualdades regionais; Aumento das forças de expulsão populacional das zonas rurais;

  • Pressão sobre demanda por serviços públicos em grandes aglomerações urbanas; Aumento da pobreza; Aumento na frequência e intensidade de eventos extremos tenderia a gerar impactos adversos sobre a produtividade e produção de culturas agrícolas, com efeitos perversos sobre a segurança alimentar; Chuvas intensas e inundações imporiam custos crescentes às aglomerações urbanas; As condições de saúde humana no Brasil poderiam ser severamente afetadas em razão, sobretudo, do histórico de doenças de veiculação hídrica, das doenças transmitidas por vetores e das doenças respiratórias; MCG poderiam ser vistas como potencializadoras das situações de risco, uma vez que tenderiam intensificar a ocorrência de doenças tropicais, pobreza e desastres.



- Impactos, Vulnerabilidade e Adaptação na Esfera Regional

R

  • Caso a frequência de eventos El Niño aumente as florestas libertarão suas grandes reservas de carbono para a atmosfera. O futuro da acumulação de CO2, e, consequentemente, o momento em que a concentração atinja "perigosos" níveis, depende da contínua absorção de carbono pela biosfera incluindo uma importante contribuição a partir da Floresta Amazônica.

  • De acordo com 23 modelos do IPCC a intensificação da estação seca nas regiões do Sudeste Amazônico tem 80% de probabilidade de ocorrer.

  • Diante de um mercado mundial de alimentos em franco crescimento, associado ao aumento internacional dos preços das commodities, a perspectiva de ampliar as exportações brasileiras de produtos agrícolas vem impulsionando cultivos em direção à floresta.
egião Norte

A região Amazônica contém a maior extensão única e contínua de floresta tropical sendo uma das áreas mais ricas em estoque de biodiversidade do planeta. Atualmente está ameaçada pelo desmatamento, responsável pela erosão genética e emissões de gases de efeito estufa.

A agricultura assume um papel fundamental na compreensão dos impactos do uso da terra na Amazônia. Diante de um mercado mundial de alimentos em franco crescimento, associado ao aumento internacional dos preços das commodities, a perspectiva de ampliar as exportações brasileiras de produtos agrícolas vem impulsionando cultivos em direção à floresta. Diversos estudos apontam a pecuária como o principal vetor do desmatamento na Amazônia, tendo sua expansão fundamentada na viabilidade financeira dos médios e grandes pecuaristas. Outros estudos afirmam que os agentes intermediários, que se antecipam a criação de gado e são diretamente responsáveis pelo desmate, têm seu custo de oportunidade parcialmente compensado pela garantia de venda futura das terras para os pecuaristas. Tendo sido identificados avanços com relação ao monitoramento e controle do desmatamento na Amazônia, com expressiva redução de suas taxas anuais de 2005 a 2012, novos instrumentos de gestão ambiental, como os Pagamentos por Serviços Ambientais (PSA), surgem como um caminho promissor para a promoção da conservação, visando a mitigação e adaptação às mudanças climáticas.

As florestas tropicais são responsáveis pelo equilíbrio climático em escala global, prestando inúmeros serviços ambientais aos ecossistemas. A partir das profundas mudanças de uso da terra observadas na região Norte, principalmente a partir de meados do século XX, sua função reguladora do clima global, regional e local encontra-se ameaçada. Nesse sentido, as florestas tropicais têm sido objeto de inúmeros estudos que contemplam o ciclo do carbono e suas relações com o homem e a biosfera, com destaque para o programa LBA (Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia), coordenado pelo MCT/INPA.

Evidências arqueológicas sugerem que incêndios catastróficos têm ocorrido na Amazônia durante grandes eventos de El Niño quatro vezes ao longo dos últimos 3.500 anos: 1.500, 1.000, 700 e 400 A.C. O aumento do início de focos de incêndio, juntamente com aumento de flamabilidade florestal madeireira durante anos secos resultaram em substanciais incursões de incêndios na floresta em pé, no leste e sul Amazônico. Prognostica-se então que secas conduzirão a um aumento na combustão das clareiras na Amazônia, contribuindo na emissão de fumaça e material particulado, funcionando como fontes de nutrientes de origem eólica para o meio florestal.

Caso a frequência de eventos El Niño aumente como consequência do aquecimento global as florestas libertarão suas grandes reservas de carbono para a atmosfera. O futuro da acumulação de CO2, e, consequentemente, o momento em que a concentração atinja "perigosos" níveis, depende da contínua absorção de carbono pela biosfera incluindo uma importante contribuição a partir da Floresta Amazônica. É importante salientar que cada grau de alteração na temperatura em um ambiente tropical é "percebido" com maior impacto por espécies tropicais, em comparação com espécies de áreas temperadas.

Nas projeções climáticas realizadas por Marengo (2007) para o período 2071-2100, a região Amazônica está compreendida entre as latitudes 4,5° N e 12° S. Os vários modelos globais utilizados no IPCC TAR (3º relatório IPCC, 2001) e AR4 (4º relatório IPCC, 2007) divergem sobre tendências de precipitação na Amazônia. Alguns projetam redução da pluviosidade, outros apontam um aumento, mas a média dos modelos indica maior possibilidade de redução nas precipitações (Figura 5).

Figura 5. Anomalias anuais da precipitação (mm/dia) na Amazônia brasileira considerando os cenários A2 (esquerda) e B2 (direita) do TAR obtido a partir da média dos três modelos regionais do Inpe (Eta/CPTEC/CPTEC, RegCM3 e HadRM3P) para o período de 2071-2100 em relação a média de 1961-1990. Observar a tendência de redução das chuvas no oeste do Pará (inserido dentro do contorno em verde). As projeções representam a media aritmética dos cenários produzidos pelos modelos regionais Eta/CPTEC/CPTEC. RegCM3 e HadRM3P (50 km de resolução). Fonte: Marengo, 2007.

Já, quanto às temperaturas, todos os modelos projetam uma tendência de aquecimento conspícuo para o Brasil (figura 6). Observa-se que as anomalias de temperatura no Pará irão variar entre 4-5°C (2071-2100) em relação às médias de 1961-1990, tendo como parâmetro o cenário A2 do AR4, enquanto nas condições do cenário B2 o aumento foi estimado entre 3-4°C. É certo que existem incertezas quanto à essas tendências de extremos climáticos para a Amazônia, principalmente devido à falta de dados confiáveis de longo prazo e acesso restrito a informações para regiões tão extensas.

Figura 6. Anomalias anuais de temperatura (para América do Sul, período 2071-2100 em relação a 1961-90, para os cenários IPCC A2 (pessimista) e IPCC B2 (Otimista)). As projeções representam a media aritmética dos cenários produzidos pelos modelos regionais Eta/CPTEC/CPTEC. RegCM3 e HadRM3P (50 km de resolução). Fonte: Marengo, 2007.



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