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Concluindo a Unidade 4
Leia o texto, reflita e responda às questões propostas.
O Brasil está se desindustrializando. Isso é ruim?
[...]
Um dos argumentos para essa posição é a questão da renda: de acordo com a Fiesp, a desindustrialização aconteceu nas economias avançadas depois que elas atingiram uma renda per capita na faixa dos US$ 19 mil. No Brasil, o processo começou quando ele estava em US$ 7,5 mil.
Outro argumento de quem defende a indústria é que ela gera encadeamentos positivos para o resto da economia e empregos com melhores condições e remuneração.
Nesse sentido, o problema não é que o Brasil caminhou para o setor de serviços, e sim para quais:
"Os que mais crescem são os atrasados: o financeiro, de vigilância, comunicação, que não geram tanto emprego de qualidade", diz Nelson Marconi, coordenador do Centro de Estudos sobre economia brasileira da escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas.
Para o ex-ministro da Fazenda Maílson da Nobrega, a questão central não é a desindustrialização em si, mas como ela aconteceu:
"O processo de transformação estrutural é inevitável e tende a ser mais rápido nas economias que chegaram mais tarde, mas isso não significa que o que estamos vendo no Brasil de hoje é bom. Nossa desindustrialização acelera por deficiências internas e está associada não ao processo natural, mas a uma perda grave de competitividade da indústria brasileira, que tem origens mais remotas."
Raízes
Algumas destas origens são históricas. A partir de 1985, quando a indústria atingiu seu pico, a economia brasileira passou a ser sacudida pela crise da dívida externa e um cenário internacional adverso.
Em 1994, veio o Plano Real, cuja missão era estabilizar a economia e combater a hiperinflação. Isso exigiu abertura comercial, juros altos e câmbio valorizado - um tripé que tornou a indústria mais vulnerável à competição internacional: "com a abertura dos anos 90, foi impossível se acomodar", diz Nelson Marconi.
Mas com exceção de alguns setores, essa "destruição criativa" foi insuficiente para colocar a indústria brasileira no caminho da produtividade em um momento no qual ela se tornava cada vez mais essencial.
De acordo com um estudo divulgado ontem [10/3/2014] pela McKinsey & Company, o PIB brasileiro poderia ter crescido 45% a mais entre 1990 e 2000 sem o efeito negativo da produtividade.
Obstáculos
E aí entram os inúmeros obstáculos tributários, regulatórios e trabalhistas, além do "Custo Brasil" imposto pela infraestrutura deficiente - citado como principal problema [...]. Isso sem falar no aumento da competição internacional.
Nos últimos anos, o câmbio havia voltado a ser outra pedra na engrenagem: quando a moeda do país está muito valorizada, fica mais barato importar do que produzir internamente.
O aumento da renda brasileira tem "vazado" para fora do país, e o resultado é a piora na balança comercial e o aumento no deficit em conta-corrente.
A desvalorização recente do real pode amenizar estes problemas e até dar um fôlego para a indústria, e os números de janeiro divulgados hoje já podem ser um indício desta reação.
O que é certo é que com desindustrialização ou não, o Brasil não vai se desenvolver olhando para trás. O debate não é sobre qual indústria ou setor merece mais proteção, e sim qual aponta para um futuro mais promissor.
"Em algumas indústrias como a farmacêutica, biomédica, química e de energia, temos um cavalo selvagem sendo segurado pelas rédeas. Mesmo com todo o Custo Brasil do mundo, sempre temos oportunidades.", diz José Augusto Fernandes, diretor de políticas e estratégia da CNI (Confederação Nacional da Indústria).
CALEIRO, J. P. Revista Exame, 11 mar. 2016. Disponível em: http://exame.abril.com.br/economia/noticias/o-brasil-esta-se-desindustrializando-isso-e-problema. Acesso em: 14 mar. 2016.
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