Apostila de Sociologia 3º ano do Ensino Médio


AUTOR  2  –  SERGIO  BUARQUE  DE  HOLANDA  –  LIVRO  RAÍZES  DO



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Apostila Sociologia Básica Geral

AUTOR  2  –  SERGIO  BUARQUE  DE  HOLANDA  –  LIVRO  RAÍZES  DO 

BRASIL 

 

Raízes  do  Brasil  marcou  profundamente  a  historiografia  brasileira,  pela 



ousadia  e  tenacidade  do  autor  em  empregar  conceitos,  à  época,  inovadores  da 

sociologia contemporânea para analizar a formação da Nação. 

Defende  que  a  formação  da  economia  colonial,  caracterizada  pelas  grandes 

fazendas  de  engenho,  criou  traços  de  autossuficiência,  similares  a  organização 

feudal  da  Idade  Média,  quando  cada  feudo  era  autônomo  e  isolado,  sem 

interferência de um governo central, que à época, muitas vezes sequer existia. Isto 




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teria  dificuldader  a  centralização  político-administrativa  do  Brasil,  favorecendo  as 



diferenças regionais e a fragilidade do Governo Central. 

Além  disso,  outra  questão  importante  é  a  criação  do  conceito  do  homem  cordial

que provocou muita polêmica ao defender que o Brasil, pelas características pouco 

―preconceituosas‖  do  português  ―aventureiro‖  (conceito  famoso,  desenvolvido  por 

Holanda),  teria  uma  forma  de  orgaqnização  social  ―aberta‖  a  aceitação  de  idéias  e 

tendências exógenas (externas).  

Além disso, o autor utilza-se pioneiramente de aspestos teórico e modelos da obra de 

Max Weber para analisar o Brasil. 



Trecho de Raízes do Brasil de Sérgio Buarque de Holanda: 

“...somos  ainda  hoje  uns  desterrados  em  nossa  terra....  Toda  hierarquia  funda-se 

necessariamente  em  privilégios.  E  a  verdade  é  que,  bem  antes  de  triunfarem  no 

mundo  as  chamadas  ideias  revolucionárias,  portugueses  e  espanhóis  parecem  ter 

sentido  vivamente  a  irracionalidade  específica,  a  injustiça  social  de  certos 

privilégios, sobretudo dos privilégios hereditários. 

 O prestígio pessoal, independente do nome herdado, manteve-se continuamente nas 

épocas mais gloriosas da história das nações ibéricas. Um dos pesquisadores mais 

notáveis  da  história  antiga  de  Portugal  salientou,  com  apoio  em  ampla 

documentação, que a nobreza, por maior que fosse a sua preponderância em certo 

tempo, jamais  logrou  constituir  ali  uma  aristocracia fechada;  a  generalização  dos 

mesmos nomes a pessoas das mais diversas condições- observa- não é um fato novo 

na  sociedade  portuguesa;  explica-o  assaz  a  troca  constante  de  indivíduos,  de  uns 

que se ilustram de outros que voltam à massa popular donde haviam saído. 

 A  verdadeira,  a  autêntica nobreza já  não  precisa transcender  ao  indivíduo;  há de 

depender das suas forças e capacidades, pois mais vale a eminência própria do que 

a  herdada.  Efetivamente,  as  teorias  negadoras  do  livre  arbítrio  foram  sempre 

encaradas com desconfiança e antipatia pelos espanhóis e portugueses. Nunca eles 

se  sentiram  muito  à  vontade  em  um  mundo  onde  o  mérito  e  a  responsabilidade 

individuais não encontrassem pleno reconhecimento. 

 Nas  nações  ibéricas,  à  falta  dessa  racionalização  da  vida,  que  tão  cedo 

experimentaram  algumas  terras  protestantes,  o  princípio  unificador  foi  sempre 

representado  pelos  governos.  Nelas  predominou,  incessantemente,  o  tipo  de 

organização  política  artificialmente  mantida  por  uma  força  exterior,  que  nos 

tempos  modernos,  encontrou  uma  das  suas  formas  características  nas  ditaduras 

militares. 

 Um fato que não se pode deixar de tomar em consideração no exame da psicologia 

desses povos é a invencível repulsa que sempre lhes inspirou toda moral fundada no 

culto  ao  trabalho.  ...  Uma digna  ociosidade  sempre  pareceu  mais  excelente,  e  até 

mais nobilitante, a um bom português, ou a um espanhol, do que a luta insana pelo 

pão de cada dia. O que ambos admiram como ideal é uma vida de grande senhor, 

exclusiva de qualquer esforço, de qualquer preocupação. E assim, enquanto povos 

protestantes preconizam e exaltam o esforço manual, as nações ibéricas colocam-se 

ainda  largamente  no  ponto  de  vista  da  antiguidade  clássica.  O  que  entre  elas 

predomina é a concepção antiga de que o ócio importa mais que o negócio e de que 

a atividade produtora é, em si, menos valiosa que a contemplação e o amor. 

 Também se compreende que a carência dessa moral do trabalho se ajustasse bem a 

uma reduzida capacidade de organização social. O certo é que, entre espanhóis e 

portugueses,  a  moral  do  trabalho  representou  sempre  fruto  exótico.  Não  admira 

que fossem precárias, nessa gente, as ideias de solidariedade. 

Raízes do Brasil, obra símbolo de uma época, foi publicada em 1936 sob a 

autoria  de  Sérgio  Buarque  de  Holanda.  O  livro,  curto,  claro,  discreto  e  objetivo, 

divide-se em sete capítulos que, juntos, teorizam sobre nossa formação histórica e 




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social. 



 


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