Marian keyes



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CAPÍTULO 32
Depois da conversa com Adam, na terça-feira, esforcei-me para es­quecê-lo. Todas as vezes que pensava nele, afastava a idéia. Ten­tava pensar em coisas agradáveis, como o zunzum de Londres. E o conforto de voltar para meu próprio apartamento. E como seria bom tornar a ver todos os meus amigos. E como seria interessante pensar em voltar para o trabalho. E como seria agradável estar de volta a uma cidade onde uma em cada duas lojas vende sapatos.

E as coisas funcionariam bem com James. Eu deveria estar muito feliz. Eram me concedidas todas as coisas das quais eu simplesmente morria de saudades, mais ou menos no primeiro mês depois que ele me deixara.

Minha vida toda melhoraria. Quanto à pequena escapada de James, jamais de fato acontecera. Tinha a esperança de apagar aque­les mais ou menos três meses e levar as coisas adiante como planeja­ra. Kate teria seu papai. Eu teria meu marido. Poderíamos recomeçar nossa antiga vida. E, se eu tivesse de ser mais tranqüila, menos cheia de caprichos e mais séria e solícita com relação à felicidade e a paz de espírito de James, então seria um preço pequeno a pagar.

Tinha certeza de que, se trabalhasse nisso, não seria tão terrível quanto parecia. Aprenderia a conhecer minha nova personalidade. Seria bom para mim. E o terror que estava sentindo passaria.

E, claro, um pouco da tristeza que eu sentia era pelo brusco afas­tamento da minha família. Por pior que fossem, eu de alguma forma me acostumara a eles durante aquela temporada. A versão anárqui­ca de vida familiar que eles levavam parecia infinitamente mais dese­jável do que a calma e ordenada existência que James colocava dian­te de mim.

Sentiria falta deles. Sentiria falta de mamãe, sentiria falta de papai, sentiria falta de Anna.

Que diabo, podia até sentir falta de Helen.

Mas talvez não.

Ainda achava todas essas coisas difíceis. Ainda tinha terríveis ímpetos de raiva, sentindo-me injustiçada por James. Era duro resis­tir à necessidade de pegar o telefone e dizer-lhe que era um filho-da-puta egoísta. Que não tinha direito nenhum de me fazer sentir como se tudo o que acontecera fosse minha culpa. Que eu não era uma má pessoa. Que não era sequer uma pessoa egoísta. Nem imatura. Mas então eu previa como ele reagiria à minha raiva. Partiria para expli­cações e condenações racionais. E eu me sentiria ainda pior. Mais frustrada. Como se tivesse decepcionado ainda mais a mim mesma.

A única coisa que me tornava capaz de conter toda a minha raiva era perceber que, em alguma parte, de alguma maneira, de uma forma inteiramente inadvertida, eu estava errada. As palavras que ele dissera aquela noite, no restaurante italiano, não paravam de ecoar em minha mente: "Se eu fosse feliz, por que a deixaria?"

Então, eu não tinha escolha. Precisava aceitar que a culpa era minha. Ele não me deixaria, não daria o passo terrível de ter um caso, de pensar que estava apaixonado por outra pessoa, se não fosse por minha culpa.

James não era homem de andar atrás de mulheres. James não era uma pessoa frívola. James ruminava - ruminava horrores, se você quer mesmo saber - a respeito de tudo. Não fazia coisas tolas e capazes de romper o cotidiano simplesmente para se divertir. Devia ter ficado sem escolha. Devia estar no fim de suas forças.

As coisas acabariam bem. No final, tudo voltaria ao normal com James. Só levaria um tempinho.

Eu estava fazendo a coisa certa.

Finalmente, decidi que voltaria para Londres na terça-feira seguinte.

Que isso me daria tempo suficiente para fazer as malas. E o mais importante: para me preparar e deixar de lado meu ressentimento com James, e ser positiva em minha atitude para com ele.

Na sexta-feira à tarde, após dois dias frenéticos de colocar rou­pas numa mala e depois encontrá-las penduradas no fundo do armá­rio de Helen, tirá-las do armário, recolocá-las na mala e depois, algumas horas mais tarde, redescobri-las debaixo da cama de Helen, tornar a colocá-las na mala etc, decidi telefonar para James no tra­balho para lhe dizer a que horas meu vôo chegaria, na terça-feira. Foi muito estranho. Ele me telefonava pelo menos uma vez por dia, desde a terça-feira, fazendo perguntas quanto à data e hora da minha volta. Ele parecia quase... ansioso para me ver. Como se tives­se medo de que eu não voltasse. Claro, a minha parte agressiva e cínica decidiu que ou ele não fazia sexo ou sua roupa não tinha sido lavada desde que saíra do lugar onde estava com Denise, não sendo de admirar que esperasse minha volta com certa ânsia.

Mas, ao mesmo tempo, era incomum sentir-me desejada ou necessária, por parte dele. Isso, depois do desdém e dos ares de supe­rioridade com que me tratara, enquanto estava em Dublin, quando me dera a impressão de que, levando-me de volta, me fazia um favor.

Agora, embora fizesse um bom trabalho para esconder isso, parecia inseguro, sem nenhuma certeza quanto a mim.

Mas não precisava preocupar-se.

Eu voltaria.

Podia não querer. Mas voltaria.

Telefonei para seu escritório. Um homem atendeu e disse:

- Não, lamento, mas no momento o Sr. Webster não está no escritório.

Agora, todos sabemos o que acontece aqui. Esta é a parte do livro em que a voz desencarnada prossegue e diz: "Não, o Sr. Webster foi para a clínica pré natal com sua namorada, Denise". Ou: "Não, o Sr. Webster tirou licença esta tarde para ir para casa e transar loucamen­te com sua namorada, Denise", ou algo parecido. E onde eu sussurro: "Obrigada. Não, não quero deixar recado", e desligo, com as mãos trêmulas, e cancelo as passagens de volta para Londres.

Porém, nada do gênero aconteceu. A voz desencarnada perguntou:

- Quem está falando, por favor?

Tive de pensar nessa pergunta por um minuto. Quem estava telefonando? Então me lembrei.

Hã, é a mulher dele - eu disse.

Claire! - exclamou o homem, mostrando se extremamente jovial, provavelmente para esconder seu constrangimento. - Como vai? Aqui é George. É ótimo falar com você.

George era o sócio de James. E também seu amigo. E, suponho, à sua maneira machista, de garotão bebedor de cerveja, ele era tam­bém meu amigo.

George era um bom homem. Aceitando se como inevitáveis cer­tas características de George, então provavelmente a pessoa se daria muito bem com ele. Por exemplo, eu não difamaria o sujeito dizen­do que ele jogava rúgbi. Mas não havia como ignorar o fato de que ele assistia ao jogo.

Mas ele era gentil. Eu gostava dele, e Aisling, sua mulher, tinha uma risada contagiante. Em muitas ocasiões, bebemos juntos.

- Olá, George - disse eu, sentindo-me um pouco constrangida. Era a primeira vez que eu falava com ele, desde a ruptura, e des­ cobri que não sabia o que dizer. Deveria ou não referir-me ao fato?

Deveria fingir que nada, absolutamente nada acontecera? Que tudo estava ótimo?

Ou talvez devesse encarar logo a situação? Lidar com ela de cara, por assim dizer, tentando transformá-la em algum tipo de piada, com comentários pesarosos e auto depreciativos? Talvez dizer: "Oi, aqui é Claire. Mas você pode chamar-me de Denise, se for mais fácil de lembrar."

Percebi que me encontraria com muita freqüência nesse tipo de situação, nas minhas primeiras semanas de volta a Londres.

Meu Deus, seria humilhante.

Mas George me salvou, entrando direto no assunto.

Então, você vai voltar para ele - riu. - Bem, graças a Deus. Poderemos agora conseguir uma jornada de trabalho decente da parte de James.

Ah, sim - disse eu, educadamente.

Pois é - continuou George, com grande jovialidade e bonomia. O que me fez suspeitar que ele tivera um almoço demorado e líquido. Bem, vamos ser justos. Era sexta-feira, afinal. - Como posso explicar isso, Claire? Vamos apenas dizer que não tem sido fácil. Quero dizer, você sabe como ele é. Tem dificuldade de falar dos seus sentimentos - ora, acontece com todos nós, eu acho -, e tanto orgulho lhe faz mal. Mas até um cego pode ver o quanto ele a ama. E é óbvio, basta olhá-lo para saber, que ficou arrasado sem você. Arrasado! E como! Nem vamos conversar sobre isso! Só posso dizer que graças a Deus você o recebeu de volta. Se não fosse assim, tería­mos de demiti-lo.

Veio de George uma risada alta, quase um urro, risada de quem tomou três canecos grandes na hora do almoço.

Mas que diabo dizia George?

Ele não estava... ele não podia estar... sem dúvida ele não estava rindo de mim, não era?

Lágrimas quentes de zanga e vergonha encheram meus olhos.

Será que eu me tornara uma espécie de bobo da corte?

Estariam todos dando uma boa risada à minha custa?

Sim, sim, O.K. para ser honesta, admito que em circunstâncias diferentes eu seria a primeira a gargalhar de uma esposa abandona­da acolhendo de volta ao aprisco seu marido errante, com uma pres­sa tão agradecida. E eu seria uma tola se não pensasse que as pessoas não ririam à socapa da minha situação patética, recebendo James de volta com tanta felicidade.

Mas eu não conseguia acreditar que George estivesse sendo tão abertamente debochado. Tinha plena consciência de que James não ficara arrasado sem mim. E George sabia que eu sabia. Bem, ele devia saber. Claro, os dois eram homens, mas, sem dúvida, de vez em quando conversavam sobre outras coisas além de futebol e carros.

Mas George era habitualmente tão gentil. Não entendia por que ele brincava com o que acontecera entre James e mim. Por que se mostrava tão cruel?

Senti-me muito magoada. Mas não podia chorar. Tinha de me defender sozinha. Cortar aquilo pela raiz. Porque, se não o fizesse, todos pensariam que tinham o direito de zombar de mim.

- É mesmo? - perguntei a George, com um tom de pesado sar­casmo.

Tentando transmitir, em uma palavra, que o fato de James me tratar com uma total falta de respeito não me transformava numa espécie de alvo público. James podia maltratar-me - bem, ele não podia, mas você sabe o que quero dizer -, mas isso não dava a mais ninguém o direito de debochar de mim.

Que coragem, a de George! E pensar que eu sempre gostara dele.

Mas George não reagiu ao meu "É mesmo?"

Ao menos, ele não pareceu ficar ofendido, de forma alguma.

Porque continuou, com o maior bom humor:

- Não sou um perito em relacionamentos, mas estou tão feliz que vocês dois tenham resolvido toda essa lamentável confusão. Tudo que posso dizer a você é que foi muito boa, perdoando o. Deve ter sido terrível para você. Mas acho que, quando você o viu no esta­do em que estava - parecendo um morto vivo, não foi? -, perce­beu como ele estava arrependido.

Minha cabeça parecia cada vez mais apertada, de tanta confusão.

O que estava acontecendo?

Será que George estava debochando mesmo de mim?

Não tive tanta certeza de que estivesse. Ele parecia sincero.

Mas, se não estava debochando de mim, de que diabo falava ele?

O que queria dizer com "morto vivo"? Estaríamos falando sobre o mesmo James? O mesmo hipócrita e crítico James que viera ver-me em Dublin?

Mas, antes que eu pudesse arrumar meus confusos pensamentos, George recomeçou, mais uma vez. Estava com disposição para falar. O tédio da tarde de sexta-feira e três canecas de cerveja na hora do almoço obviamente haviam afrouxado sua língua.

- Agora, Claire - disse ele, com falsa severidade -, espero que você tenha sido uma moça sensata e que não o tenha perdoado na mesma hora. Espero que tenha brigado por pelo menos algumas belas jóias e umas férias nas Maldivas.

"Está brincando?", pensei, confusa. "Tive sorte de ele me trazer de volta, afinal. Quase tive de prometer a ele as jóias e as férias."

- Hã... - disse eu.

Mas George continuava falando.

Ele a ama muito, e pensou que não tivesse a mínima chance, sabe? Pensou que você não queria mais nada com ele. E, em certo sentido, quem poderia culpá-la por isso?

George! - interpus, energicamente. Tinha de determinar exata­ mente o que estava acontecendo! - Do que é que você está falando?

De James - disse ele, surpreso

Você diz que ele lamentou o fato de termos nos separado? - perguntei.

Ora, "lamentou" é muito pouco - disse George, com uma pequena risada. - Em minha opinião, "ficou aniquilado" corresponderia mais à verdade.

Mas... como é que você sabe disso? - perguntei, com a voz fraca, imaginando onde George obteria suas informações. Porque era óbvio que ele fora gravemente iludido.

James me disse - falou ele. - Conversamos de vez em quando, você sabe. Não são apenas as mulheres que têm conversas francas e abertas!

Sim, mas... Quero dizer, você tem certeza?

Claro que tenho - disse George, cheio de indignação. - Ele estava torturado pela idéia de ficar sem você. Torturado! Não parava de me dizer: "George, eu a amo tanto. Como posso tê-la de vol­ ta?" E eu, simplesmente, dizia-lhe: "James, diga a ela a verdade. Fale para ela como lamenta." Ele me deixava maluco!

É verdade mesmo? - gaguejei.

Foi tudo o que consegui dizer. Minha cabeça girava. Aquilo não se parecia nada com o que realmente acontecera. Então, o que se passava, de fato?

- E, Claire - disse George, num tom solidário -, sei que deve ter sido muito difícil para você. Mas tenho certeza de que foi muito difícil para James também. Admitir que cometeu um erro terrível e depois desculpar-se por ele deve ter sido uma coisa quase impossível para ele, puxa vida. Depois disso, tenho certeza de que, se você ouvir outra vez em sua vida a palavra "desculpe", vai ter vontade de vomitar. Deve estar enjoada de tanto ouvir isso!

Outra gargalhada escandalosa de George.

Àquela altura, eu tinha certeza de que George não estava debo­chando de mim. Não se tratava de algum tipo de brincadeira sofisti­cada e cruel. A voz de George soava muito séria. Mas eu não podia entender por que sua versão dos acontecimentos era tão diferente da que James me apresentara.

Eu não estava enjoada de ouvir a palavra "desculpe". Teria ado­rado ouvir a palavra "desculpe". Mas não reconheceria a palavra "desculpe" - certamente não saindo dos lábios de James - nem que ela desse um pulo e me mordesse.

Mas tinha de prestar atenção, porque George voltava a falar.

Estranho é que James sempre pensou que seria você quem podia ter um caso, e não ele.

Por quê? - perguntei. Embora soubesse mais ou menos o que ele queria dizer. Sempre me consideraram a arruaceira, e James, o careta.

Porque você sempre foi a alma da festa - disse George. - A animada, a carismática. E James jamais achou que era suficiente­mente bom para você - continuou George. - Nunca! Sempre tinha medo de ser sério e tedioso demais para você. Nós, contadores, não temos facilidade com as mulheres, você sabe. Elas acham que não temos graça, sabia?

Nunca soube que James se achava sério e tedioso demais para mim - disse eu, apática.

Ora, vamos - disse George, em tom de descrença. - Você não concordaria que, dos dois, você era a vida e a alma das coisas?

Sim - concordei, em tom de dúvida, desesperada para man­ ter George falando.

E James? - riu George. - Ora, você não poderia encontrar sujeito melhor. Mas, ao mesmo tempo, quando é que ele ficaria cer­cado de pessoas, sendo capaz de manter todo mundo rindo de chorar, como você faz?

Pois é - eu disse. - Mas, se eu me aquietasse um pouco, tal­ vez ele não se sentisse tão chato.

E para que isso serviria? - perguntou George. - Assim, você não seria mais você própria.

"Eu sei", pensei, desesperada. "Mas é o que James quer que eu faça!"

- Ora, talvez James não gostasse de viver com uma pessoa tão barulhenta e animada quanto eu - sugeri a George. - Talvez eu o deixasse nervoso.

O que eu estava fazendo era imperdoável. Agora, obviamente, tentava arrancar tudo que pudesse de George. Encorajava-o a "en­tregar" seu amigo.

Não seja boba - riu George. - Claro que você não o deixa­va nervoso. Ele realmente a achava difícil, algumas vezes. Mas era apenas seu ego e sua insegurança que entravam em jogo. Não pode ser sempre fácil viver com alguém que é muito mais popular do que a própria pessoa.

Ah - disse eu, sem entusiasmo. - Entendo.

E você sabe de uma coisa? Acho que entendia, mesmo. Acho que começava a entender.

Deveria dizer isso a George?

Mas tinha de pensar em tudo aquilo que acabara de ouvir. Não podia ouvir mais, senão minha cabeça explodiria.

Comecei a encerrar minha conversa com George.

Como é que de repente você se tornou um tal perito em rela­cionamentos? - perguntei-lhe em tom brincalhão. - Você falou comigo de uma forma tão sensível e moderna.

É que... - disse ele, com uma voz ao mesmo tempo constrangida e satisfeita - ... Aisling comprou um livro para mim sobre o assunto.

Entendo - dei uma risada, - Bem, obrigada, George, você me ajudou muito.

Ótimo - disse ele. - Estou satisfeito. Tudo vai ficar bem, você verá.

"Ah, não, não verei", pensei.

James sentia-se ameaçado (emprego constrangido do jargão dos relacionamentos, por parte de George) por sua vitalidade. Em vez de perceber que sua animação complementava (mais constrangi­ mento) a calma dele - disse George, que parecia empilhar citações de algum manual de psicologia.

Puxa vida, George - disse eu, desesperada para tirá-lo do telefone. Não sabia quanto tempo ainda agüentaria manter aquela conversa. - Não há dúvida de que você entrou em contato com suas emoções.

Pois é - disse ele, timidamente. - Estou até explorando meu lado feminino.

Eu acharia isso hilariante, se não me sentisse tão confusa e assus­tada.

George - disse eu -, é um prazer conversar com um homem tão sensível. Você entende profundamente a dinâmica do meu relacionamento com James. Nem todo homem seria capaz de demonstrar tal empatia.

Obrigada, Claire - disse ele, orgulhoso. Quase que podia ouvi-lo irradiando satisfação. - Acho que aprendi mesmo muita coisa. E não tenho mais medo de chorar.

- Ótimo, ótimo - disse eu, efusiva, aterrorizada com a possibi­lidade de que ele se oferecesse para me dar uma demonstração ali mesmo, naquele momento.

Como poderia fazer com que ele desligasse o telefone sem pare­cer que não estava interessada em seu crescimento emocional?, pen­sei, desesperada.

Acabei fazendo outra pergunta.

E você cuida da sua criança interior, e a alimenta? - perguntei, com voz gentil.

Como é? - perguntou ele, confuso.

Eu o perdera. Aisling não lhe dera ainda o segundo volume.

Não tenho filhos, Claire. Você sabe disso.

Eu sei - disse eu, em tom compreensivo. Não adiantava empurrá-lo longe demais e desfazer todo o bom trabalho que Aisling fizera.

George - interrompi-o bruscamente, cortando suas descrições líricas de como tudo funcionara bem para James, porque James seguira seus conselhos e como James e eu seríamos felizes agora e...

- George - repeti, um pouco mais alto. Consegui captar sua atenção.

Então, George, vamos ver se entendi bem - disse eu a ele. - James me ama. James sempre me amou. James se sentia inseguro e temia que pudesse ser chato demais para mim. Entendi direito?

Mas você sabe de tudo isso - disse George, parecendo confuso.

estou checando - disse eu, em tom descontraído.

George ainda tagarelava. Talvez eu estivesse imaginando coi­sas, mas será que ele estivera se referindo às chamadas "regras mas­culinas"?

Mas eu mal conseguia prestar-lhe atenção. Tinha coisas muito mais importantes com que me preocupar.

Em primeiro lugar, por que James dissera a George que ele me amava desesperadamente e tinha medo de me perder? E a mim, que era quase impossível viver comigo e que me levaria de volta para Londres quase como um ato de caridade?

Mesmo um cego poderia ver que havia uma leve discrepância entre as duas histórias.

Ou ele mentira para George, ou para mim,

E uma certa comichão do instinto, em algum lugar, disse-me que fora para mim que ele mentira.

Eu precisava falar com ele. Tinha de descobrir.

George - disse eu, interrompendo o de novo -, preciso falar com James. Quer fazer o favor de dizer a ele para me telefonar? É importante.

Claro - concordou ele. - Farei isso. Ele deve voltar dentro de mais ou menos meia hora.

- Obrigada - eu disse. - E agora, tchau. E desliguei.

Fiquei sentada, tentando entender o que George, inadvertida­mente, me dissera. Então, James sempre me amara. E James sentia-se ameaçado pelo fato de eu ser, ora... eu mesma, suponho, por falta de melhor descrição.

Era por isso que ele precisava ter um caso com outra mulher? E por isso tinha de me dizer que era tudo culpa minha? E por que tinha de me dizer que eu precisaria mudar totalmente, para nosso casa­mento ter um futuro?

Eu não tinha muita certeza do que estava acontecendo. Mas de uma coisa eu sabia: algo estava realmente acontecendo.


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