Silvia Maria de Araújo · Maria Aparecida Bridi · Benilde Lenzi Motim


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Comentários sobre as atividades



Pausa para refletir (Mito de Sísifo)

Considerando o conceito de trabalho alienado, podemos relacionar o esforço dos trabalhadores ao mito de Sísifo na medida em que eles não têm domínio e consciência de todo o processo produtivo em que estão inseridos. Os trabalhadores não se reconhecem naquilo que produzem e não compreendem o motivo real para o que fazem repetidamente, dia após dia, em seus postos de trabalho.

Mesmo quando o trabalho não é repetitivo e não criativo, ele exige muito do trabalhador, física, mental e emocionalmente. O trabalhador compromete-se com programas de metas, controle de qualidade, trabalho em equipe, sugestões e solução de problemas, submetendo-se cada vez mais, sem percebê-lo, aos desígnios da empresa.

Encontro com cientistas sociais (Marx)

Segundo Marx, a natureza humana se constitui por meio da ação do trabalho. Pelo trabalho que é, ao mesmo tempo, criação mental e execução com uma finalidade, o ser humano se autorrealiza e transforma o mundo e a si próprio. A comparação entre o trabalho da abelha e o do arquiteto mostra a diferença instaurada pela projeção e criação mental humana, mas outros exemplos podem ser dados quando se considera a atividade laboral como expressão da compreensão do mundo e da capacidade de intervenção sobre ele. Qualquer forma de trabalho em equipe, por exemplo, demonstra o quanto o ser humano não apenas produz (coisas e ideias), mas se produz, se modifica no processo, sendo capaz de alterá-lo. Uma abelha sempre produzirá sua colmeia segundo um mesmo padrão, usando um mesmo material. Já o ser humano é capaz de modificar as formas e testar novos materiais. Essa transformação, Marx afirma, é também um processo de mudança social. Além disso, a espécie humana é capaz de dar diferentes sentidos e de estabelecer modos distintos de produzir de sociedade para sociedade, como mostram os trabalhos de Pierre Clastres, Karl Marx e Max Weber vistos até aqui.



Intelectuais leem o mundo social (Bauman)

Respostas pessoais. De qualquer maneira é interessante que os estudantes percebam as diferenças do trabalho no passado em relação a algumas formas de trabalho hoje existentes, principalmente no que diz respeito ao trabalho formal. Ainda há o fato de os trabalhadores encontrarem mais dificuldades em firmar-se em um único emprego ou carreira e de constituírem identidades profissionais específicas e duradouras. Assim como nas tarefas da profissão, o trabalhador também poderá ter mais dificuldades em construir laços de amizade a partir do trabalho, pois a flexibilidade e a incerteza passaram a ser rotineiras.



Debate (Orwell)

1. O autor depara com a realidade do desemprego estrutural, que atinge parte significativa de trabalhadores de todos os níveis sociais e de muitas ocupações. Orwell observa a culpa que o trabalhador carrega por estar desempregado, além da decadência das suas condições de vida e das de sua família, quando a falta de trabalho remunerado se prolonga.

2. No contexto da Grã-Bretanha pós-Segunda Revolução Industrial, no final da década de 1920, o desempregado era visto como preguiçoso para o trabalho. Porém, tal visão era preconceituosa e até contraditória, na medida em que o desemprego era causado pelas próprias inovações (substituição de mão de obra por máquinas) do sistema capitalista, o qual, ideologicamente, tachava os desempregados de preguiçosos.

3. A resposta é pessoal. Porém, há que se considerar que hoje, com a crise do emprego persistente no mundo desde os anos 1980, a reprovação individualizada mudou e há maior consciência sobre as razões sociais estruturais da falta de trabalho, que atinge amplos segmentos da população.

Pesquisa (OIT)

Oriente os estudantes a pesquisar também os conceitos de trabalho decente, trabalho em condições análogas às da escravidão e trabalho forçado, a fim de que entendam as situações de tráfico de



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pessoas e de fluxos migratórios em busca de emprego. Após a pesquisa, o estudante pode detectar as relações que se estabelecem hoje entre, por um lado, a pobreza, o trabalho forçado e o trabalho infantil e, por outro, a migração irregular e o tráfico de pessoas. Esses fenômenos são estudados pela Sociologia, pela História e pela Geografia. Pode-se ainda sugerir aos estudantes que, além da redação, tragam notícias, fotos ou mapas para exemplificar e localizar esses fluxos migratórios e o respectivo contexto em que ocorrem. Na avaliação da redação, pode-se verificar como o estudante desenvolve a habilidade de síntese e a argumentação.



Encontro com cientistas sociais (Laville)

Verifique se os estudantes cumpriram o que se pede, ou seja, descreveram o tipo de empreendimento de economia solidária, seus objetivos e a perspectiva de que ele mais se aproxima.



Debate (Economia solidária)

A ideia do debate é mostrar aos estudantes como eles podem aplicar o conceito de economia solidária, aprendido no capítulo, para resolver problemas do cotidiano.



Pausa para refletir (Pochmann e IBGE)

Resposta pessoal. A análise do economista Marcio Pochmann, referente ao período de 1992 a 2002, mostra um descompasso na evolução das taxas de desemprego de negros e brancos (com desvantagem para os trabalhadores negros). Essa diferença é atribuída à discriminação, pois no grupo dos trabalhadores qualificados e de média e alta renda a taxa de desemprego cresceu ainda mais entre os trabalhadores negros. Quando se analisa o gráfico relativo ao período de 2004 a 2013, vemos que a informalidade caiu, ou seja, houve um aumento da formalização do trabalho. Ainda que isso seja positivo, principalmente para os trabalhadores negros e uma parcela significativa de mulheres que viviam na informalidade, a distância entre negros e brancos quanto às características de inserção no mercado de trabalho pouco mudou.



Diálogos interdisciplinares

Sugerimos para este capítulo um projeto artístico. O recurso à expressão artística, mais subjetiva, permite aos estudantes se apropriarem de maneira lúdica dos principais conceitos de trabalho em três disciplinas (Filosofia, Sociologia e Física). Considerando que a categoria "trabalho" é utilizada no cotidiano com outros significados, essa atividade vai levar os estudantes a uma reflexão crítica sobre o termo tanto em suas experiências cotidianas concretas como no contexto das ciências e da Filosofia.

As atividades podem ser realizadas em grupo ou individualmente e parte de suas etapas pode ser realizada fora do horário de aula. Ainda assim, é importante acompanhar o processo de elaboração da atividade, corrigindo eventuais percepções equivocadas sobre o conceito de trabalho. Ou seja, é preciso avaliar não apenas a criatividade expressiva, como também a correção conceitual. Os professores de Filosofia e Física podem colaborar, caso necessário.

Revisar e sistematizar

1. O trabalho foi visto e organizado de maneiras diferentes ao longo da História. Em cada período e cultura, foram atribuídos valores distintos ao ato de trabalhar, assim como foram diferentes as maneiras como se organizaram a economia e o mercado (nas sociedades em que este existia). Para ilustrar, podemos observar como se organizava o trabalho e se dividiam seus resultados na sociedade escravocrata, na sociedade medieval, na capitalista moderna e naquelas que Clastres denomina "sociedades contra o Estado".

2. Em sociedades como as da Grécia antiga, a asteca e a romana, o trabalho era considerado indigno, reservado a escravos ou a estratos sociais considerados inferiores. Na maioria das vezes, esse trabalho era braçal, implicava grande esforço físico e causava cansaço extremo. Durante a constituição do sistema capitalista, nos períodos manufatureiro e de desenvolvimento da grande indústria, houve o processo de proletarização. Ou seja, aos poucos o trabalhador se viu destituído dos seus meios de produção, não tendo alternativas para manter-se e à sua família que não a submissão ao trabalho assalariado. Ao mesmo tempo, como mostra Weber, religiões que surgiram a partir do século

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XVI, como o calvinismo, consideravam os frutos do trabalho um sinal de predestinação da alma à salvação. Essa valorização do trabalho servia aos capitalistas para assegurar que a mão de obra necessária para a produção melhor aceitasse as condições de trabalho. Assim, desenvolveu-se cada vez mais a ideologia da dignidade do trabalho, já autonomizada de questões religiosas. A Revolução Industrial inaugurou, portanto, a denominada sociedade do trabalho - uma sociedade salarial, na qual a maioria dos trabalhadores vende sua força de trabalho ao capital. Parafraseando a canção que abre o capítulo, esse trabalhador trabalha para viver e vive para trabalhar; trabalha para produzir, mas nem sempre pode consumir o que produz.



3. A persistência do desemprego é explicada pela introdução de inovações tecnológicas e organizacionais na produção e no ambiente de trabalho de todos os setores econômico-produtivos. Também as crises recorrentes no capitalismo, ou crises de acumulação, fazem crescer o desemprego, aumentam a exigência com relação à formação do trabalhador e levam à redução dos direitos trabalhistas. Nas situações de desemprego estrutural, o número de pessoas sem emprego mantém-se, no longo prazo, muito acima da quantidade de vagas disponíveis, o que tem acontecido também em países desenvolvidos em alguns períodos das últimas décadas.

Comentário: No capítulo seguinte, os estudantes verão que, por trabalharem sob demanda, os sistemas flexíveis de produção que se generalizaram após os anos 1970, diminuem a quantidade de contratados, concentram funções nas mãos de um mesmo trabalhador (multifuncionalidade) e barateiam o custo da força de trabalho.



4. A pobreza e o desemprego tornam os trabalhadores vulneráveis; com isso, encontram muita dificuldade para sustentar-se ou manter seu padrão de vida. Dependendo do nível de pobreza, muitos deles submetem-se ao trabalho forçado e submetem seus filhos ao trabalho infantil, por exemplo. À medida que o tempo passa, aqueles que não conseguem nova colocação no mercado de trabalho se sujeitam a recrutadores de mão de obra, que podem levá-los ao trabalho forçado. Outros decidem migrar em busca de trabalho (muitas vezes como imigrante ilegal) e são enredados pelo tráfico de pessoas. É importante registrar que as diferenças de desenvolvimento econômico entre os países têm aumentado as desigualdades sociais. Além disso, os conflitos étnico-raciais e políticos favoreceram fluxos migratórios de populações inteiras (os refugiados) em busca de trabalho.

5. O mercado de trabalho seleciona com base na escolarização e na qualificação dos trabalhadores, as quais em geral dependem das condições sociais em que eles se encontram. Em uma sociedade altamente desigual como a brasileira, na qual o Estado ainda apresenta diversas deficiências em garantir igualdade de direitos a todos, muitos ficam à margem do acesso à educação e à formação de qualidade. Somam-se a esses fatores as discriminações pela cor da pele e pelo gênero, decorrentes das relações históricas de dominação no país. As desvantagens em razão das relações de gênero e étnico-raciais passam pela seleção no mercado de trabalho, pelas exigências de desempenho do trabalhador, pela desigualdade na remuneração e pelo acesso a cursos e cargos mais elevados na hierarquia profissional.

Teste seu conhecimento e habilidades

1. c;

2. d;

3. b;

4. a.

Atividade complementar

Documentários e animações sobre trabalho

Vídeos de curta duração sobre trabalho, história e problemas relativos ao mundo do trabalho podem ser selecionados e levados para a sala de aula. Ao fazer a seleção, é preciso avaliar a pertinência e a adequação à faixa etária; então, deve-se preparar um roteiro de questões a serem levadas aos estudantes.

Veja a seguir duas sugestões de filmes que podem ser exibidos (Acesso em: 25 abr. 2016.):

· Carne, osso, de Caio Cavechini e Carlos Juliano Barros (Brasil, 2011). Disponível em: https://vimeo.com/117457305.



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· O emprego, de Santiago Bou Grasso (Argentina, 2008). Disponível em: https://vimeo.com/32966847.

Leituras recomendadas

ANTUNES, Ricardo (Org.). Riqueza e miséria do trabalho no Brasil. São Paulo: Boitempo, 2006. Diferentes dimensões do trabalho são apresentadas: o desemprego, a reestruturação produtiva em diversos setores, o sindicalismo, entre outras.

CATTANI, Antonio David; HOLZMANN, Lorena (Org.). Dicionário de trabalho e tecnologia. 2ª ed. Porto Alegre: Zouk, 2011.

Os verbetes contextualizam e situam teoricamente a realidade do trabalho.

GUIMARÃES, Nadya Araújo. Os desafios da equidade: reestruturação e desigualdades de gênero e raça no Brasil. Cadernos Pagu, n. 17-18, Campinas, 2002. Disponível em: www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-83332002000100009&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt. Acesso em: 2 fev. 2016.

Este trabalho recorre a uma ampla base de dados para analisar e comparar a participação de negros e mulheres no mercado de trabalho.

HIRATA, Helena. Globalização e divisão sexual do trabalho. Cadernos Pagu, n. 17-18, Campinas, 2002. Disponível em: www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-83332002000100006&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt. Acesso em: 2 fev. 2016.

O artigo trata especificamente sobre a questão de gênero no mercado de trabalho.

MERCURE, Daniel; SPURK, Jan (Org.). O trabalho na história do pensamento ocidental. Petrópolis: Vozes, 2005.

Uma seleção histórica de textos sobre o trabalho por autores da Filosofia, da Economia Política e da Sociologia.

PINA, Leonardo Docena; MARTINS, André Silva. Implicações da crise capitalista no campo teórico: pós-modernidade e exclusão social das pessoas com deficiência. Trabalho Necessário, n. 10, Rio de Janeiro, 2010. Disponível em: www.uff.br/trabalhonecessario/images/TN10PINAeMARTINS.pdf. Acesso em: 2 fev. 2016.

Os autores fazem uma análise sociológica da ideia de exclusão no trabalho na sociedade capitalista, enfocando a questão das pessoas com deficiência.

ROSA, Maria Inês. Usos de si e testemunhos de trabalhadores. São Paulo: Letras & Letras, 2004.

Estudo sobre trabalhadores que vivenciaram um processo de reestruturação produtiva.

FONTE: Bennet/Acervo do artista

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Capítulo 5

TECNOLOGIA, TRABALHO E MUDANÇAS SOCIAIS

Aqui começam as orientações para o Capítulo 5 (p. 135 a p. 166).

O Capítulo 5 analisa como inovações tecnológicas propiciadas pela microeletrônica, pela robótica e pela informática permitiram às empresas reestruturar sua produção, introduzindo novas formas de gestão da mão de obra. Ele apresenta a flexibilização da produção, do processo de trabalho e da legislação trabalhista trazida pelas políticas neoliberais nas últimas décadas do século XX, bem como suas consequências para a classe trabalhadora. A terceirização e as reconfigurações do trabalho implicam novas exigências quanto ao perfil dos trabalhadores e desafiam as organizações sindicais. O capítulo também apresenta a coexistência, em diversos contextos, de inovações tecnológicas, novas tecnologias da informação e da comunicação e formas antigas de trabalho recriadas. Em geral, essa combinação de fatores significa precarização do trabalho e aumento do desemprego.

Conceitos-chave: tecnologia, fordismo, taylorismo, toyotismo, reestruturação produtiva, relações de trabalho, flexibilização, trabalhador ultraflexível, neoliberalismo, terceirização, acumulação flexível, cadeia produtiva, sindicatos, informalidade, tecnologias informacionais, financeirização, teletrabalho, trabalho em domicílio, precarização do trabalho, trabalho precário, emprego-padrão, trabalho por conta própria, agricultura familiar.

Objetivos do capítulo para o estudante

· Identificar que os sistemas flexíveis de produção tendem a precarizar o trabalho, levando ao aumento do desemprego, à desregulamentação dos contratos de trabalho e ao aumento da pressão pela redução dos custos com mão de obra.

· Conhecer as mudanças recentes no mundo do trabalho e a reorganização das empresas com base nas inovações tecnológicas e organizacionais, bem como o estudo desses processos pela Sociologia.

· Reconhecer que as mudanças no mundo do trabalho, especialmente no contexto da reestruturação produtiva, objetivam a ampliação dos lucros, o enxugamento da mão de obra e a produção flexível.

· Analisar as consequências da exigência, pelas empresas, de um novo perfil dos trabalhadores.

· Identificar novas e antigas formas de segmentação e desigualdade na inserção dos trabalhadores no mercado de trabalho.

· Analisar como o neoliberalismo colaborou para ampliar a flexibilização dos contratos de trabalho.

· Conhecer como se dá o processo de recriação de antigas formas de trabalho e as mudanças pelas quais passa o trabalho agrícola.

Questão motivadora

Este capítulo foca nas relações entre tecnologia, novas e velhas formas de organização do trabalho e suas implicações sociais nos mais diversos contextos. Esse tema deve despertar a curiosidade dos estudantes, que neste momento



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estão conectados a celulares e computadores, se interessam pela robótica e pela informática e, em geral, buscam definir um caminho profissional. Neste capítulo, eles terão a oportunidade de conhecer melhor a dinâmica dos mercados de trabalho, as diversas formas de inserção dos trabalhadores e os conflitos que surgem nesse processo, compreendendo as questões sociais e políticas envolvidas. A questão motivadora pode ser o tópico Pausa para refletir (p. 142), com a leitura do texto de Marx sobre tecnologia e economia e do quadro que o precede, sobre os sistemas taylorista-fordistas e os de produção flexível.



Dica

É possível problematizar a análise da relação homem-máquina relacionando essa primeira discussão com a do texto reproduzido no boxe Encontro com cientistas sociais (p. 157). Este outro trecho de Marx trata da possibilidade ou não de a máquina ser uma forma de emancipação do trabalhador.

Avaliação

Uma das propostas de avaliação para este capítulo leva em conta os conteúdos sobre as mudanças técnicas e organizacionais do trabalho e a construção de um paralelo entre dois momentos distintos: o período taylorista-fordista (que aprimorou a divisão parcelar do trabalho) e o dos sistemas flexíveis de produção, mais atual. Os estudantes podem elaborar esse paralelo na forma de fluxogramas ou desenhos que lhes permitam caracterizar esses diferentes contextos sociais e econômicos com suas respectivas formas de organização da produção e do trabalho.

Esquema de aula: um exemplo no Capítulo 5

Atualmente, há recursos muito mais dinâmicos para preparar esquemas de aula. Eles podem ser elaborados em forma de apresentação de slides ou com uso de outros recursos informacionais, o que permite incluir fotos, trechos de filmes, charges e outros recursos imagéticos intercalados aos esquemas. Este capítulo é propício para essa estratégia, pois apresenta quadros, gráficos, dados estatísticos e comparações entre períodos. Proponha aos estudantes um trabalho com esses recursos, caso a escola os tenha disponíveis; no final da atividade, projete-os para toda a turma. É interessante observar quantas possibilidades distintas surgem para representar um mesmo fenômeno.

Complementos teóricos

1. A socióloga Caroline Knowles nos apresenta uma maneira inusitada de pesquisar e analisar a globalização, a vida e o trabalho envolvidos nesse processo. Ela acompanha a trajetória de produção e uso de um simples chinelo como estratégia de pesquisa. Esse olhar pode despertar nos estudantes a curiosidade científica em desvendar processos sociais.



Discussões acerca da globalização são, geralmente, dominadas por um entendimento amplo da acumulação de capital, priorizando a grande teoria sobre a investigação empírica e sobre "mais utilizáveis" conceitos de médio alcance, os quais podem potencialmente iluminar a globalização enquanto fenômeno. Seguir as trilhas do chinelo, por outro lado, explora as texturas sociais da vida cotidiana que seguem ao longo do caminho do chinelo, fornecendo um contraponto ao domínio da economia e uma perspectiva alternativa sobre a globalização. Nesta perspectiva, a globalização não é tão arraigada e robusta como as análises hegemônicas insistem: ao contrário, ela é frágil, inconstante e contextual, gerando múltiplas formas de incerteza nas vidas e nos cenários que ela, simultaneamente, sustenta e desestabiliza.

A trilha do chinelo é estruturada por um tipo diferente de pensar a globalização. Primeiro, evitando teorias gerais, a construção de teoria de médio alcance, a qual parte do sólido terreno da pesquisa empírica, traça as topografias da trilha. Segundo, ela explora as maneiras pelas quais a trilha, uma alternativa à globalização, existe e é executada através de vidas e vizinhanças, traçando como e onde ela se move, e como e onde as pessoas se movem ao longo dela, pelos negócios da vida cotidiana. [...] Ao contrário da "avaliação" de Castells, o material humano encontra novas rotas, novas estratégias e novos lugares para viver, ao passo que a globalização se transforma e assume novas formas. A trilha do chinelo mostra isso. Em terceiro lugar, evitando os vetores icônicos do "globalismo" presente no cenário da alta finança, nas imagens midiatizadas e nas marcas famosas, a trilha do chinelo nomeia um objeto cotidiano comum: um calçado de plástico barato que (quase) todo mundo tem.

KNOWLES, Caroline. Trajetórias de um chinelo: microcenas da globalização. Contemporânea - Revista de Sociologia da UFSCar. São Carlos, v. 4, n. 2, jul.-dez. 2014, p. 290-292.



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2. Como vimos no Capítulo 4, embora alguns autores questionem a centralidade do trabalho para explicar a vida na atualidade, ele se mantém um componente fundamental da organização social. Com a alteração do paradigma produtivo (da rigidez do fordismo a formas mais flexíveis de produzir e organizar o trabalho), na segunda metade do século XX, novas questões aparecem, como as exigências de qualificação e a dinâmica das empresas transnacionais. Além disso, a Sociologia ampliou seu leque de estudos para compreender novas configurações de antigas questões, como a divisão sexual do trabalho. Acompanhemos uma breve exposição sobre os novos paradigmas produtivos:



A divisão internacional do trabalho é outro flanco por onde se pode caminhar e perceber as limitações de algumas das proposições e projeções para o mundo do trabalho. Se mesmo nos países chamados centrais temos a coabitação de novas formas produtivas com o padrão fordista, isto é ainda mais verdadeiro para os países ditos do "Terceiro Mundo", onde os princípios da produção fordista e de sua correlata organização do trabalho são ainda presentes e dominantes. Tomando o Brasil como exemplo, ainda que se possa constatar a emergência de um novo padrão de organização do trabalho alternativo ao fordismo, não seria correto dizer que já teria ocorrido uma ruptura com os princípios fordistas em termos práticos da empresa.

Assim, conforme já destacado por Helena Hirata, o que temos nos países "periféricos" seria um quadro no qual métodos e práticas tayloristas, utilizados em processos de produção estandardizadas, sem muita preocupação com a qualidade, conviveriam com experiências pontuais de inovação organizacional e tecnológica.

Dessa forma, é preciso perceber que os impactos das inovações não têm as mesmas consequências para os trabalhadores, entendidos aqui em suas diferenças de sexo e nacionalidade.

RAMALHO, José Ricardo; SANTANA, Marco Aurélio. Sociologia do trabalho. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004. p. 29-30.

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