Silvia Maria de Araújo · Maria Aparecida Bridi · Benilde Lenzi Motim


Boxe complementar: Do indigenismo sertanista às políticas dos indígenas



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Boxe complementar:



Do indigenismo sertanista às políticas dos indígenas

Apesar das resistências de grupos políticos e econômicos, nas últimas décadas

desenvolveram-se políticas públicas específicas para os povos indígenas. Em

geral elaboradas ou implementadas pela Funai, elas visam garantir os direitos

materiais e a preservação da cultura imaterial desses povos. Além disso, cada

vez   mais   grupos   e   entidades   indígenas   multiétnicas   se   organizam   para

reivindicar seus direitos e empregar tecnologias em favor de suas causas, seja

de forma autônoma, seja em parceria com antropólogos e organizações não

governamentais.

LEGENDA: Integrantes do Movimento das Mulheres Camponesas participam

de passeata em Brasília (DF) contra a violência sofrida por indígenas Guarani-

Kaiowá no Mato Grosso do Sul e a favor da demarcação das terras desse

povo. Foto de 2013.

FONTE: Beto Barata/Estadão Conteúdo/AE

A relação entre o Estado e os povos indígenas no Brasil teve uma primeira

inflexão com a atuação do marechal Cândido Mariano da Silva Rondon (1865-

1958), entre o final do século XIX e a primeira metade do século XX. Até então,

a  posição   dominante   nas  instituições   públicas   era  a  de  dizimar   populações

consideradas   hostis   ou   resistentes   à   ocupação   econômica   e   demográfica

estimulada pelo governo. Escalado pelo Exército para participar da instalação

de comunicações telegráficas no Mato Grosso e no atual estado de Rondônia

(que,   em   sua   homenagem,   recebeu   este   nome   em   1956),   Rondon   evitou

enfrentamentos violentos com os povos indígenas da região. Com base em

seus   contatos,   fez   registros   sobre   a   vida   de   povos   como   os   Bororo,   os

Nhambikwara   e   os   Makurape.   Rondon   foi   o   primeiro   diretor   do   Serviço   de

Proteção aos Índios (SPI), criado pelo governo na década de 1910. A atuação

do órgão tinha inspiração positivista: orientava-se pela ideia de que o indígena

deveria se integrar à sociedade brasileira trabalhando nos empreendimentos de

ocupação do interior do país e aprendendo valores ocidentais.



A política oficial para os povos indígenas teria uma segunda mudança a partir

das   expedições   dos   irmãos   Orlando   (1914-2002),   Cláudio   (1916-1998)   e

Leonardo Villas-Bôas (1918-1961). Após conviverem por um longo período, nos

anos   1940   e   1950,   com   os   povos   indígenas   da   região   do   rio   Xingu,   eles

promoveram a necessidade de reconhecer e delimitar as terras dos indígenas a

fim de que estes pudessem preservar seu modo de organização social e sua

cultura.   Com   apoio   de   antropólogos   como   Darcy   Ribeiro   (1922-1997)   e   do

próprio   Rondon,   os   irmãos   Villas-Bôas   defenderam   a   criação   do   Parque

Nacional do Xingu, instituído oficialmente em 1961.

Com a criação da Funai, a ideia de autodeterminação dos povos indígenas

passou a orientar as políticas oficiais. A defesa de povos indígenas continua

sendo uma preocupação porque muitos deles se encontram sujeitos à pressão

de atividades econômicas na região amazônica, como a extração da madeira e

minérios, a exploração de petróleo e a expansão do agronegócio. Em regiões

mais densamente habitadas ou de ocupação não indígena antiga, como o Mato

Grosso do Sul e o sul da Bahia, muitos povos enfrentam grandes dificuldades

para conseguir o reconhecimento de suas terras tradicionais (veja mapa na

página seguinte).

LEGENDA: Preparo do polvilho do beiju por meio da lavagem da massa de

mandioca-brava   na   aldeia   Aiha,   do   povo   Kalapalo,   no   Parque   Indígena   do

Xingu   (MT).   Apesar   das   adversidades,   muitos   povos   indígenas   lutam   para

manter vivos sua língua, seus conhecimentos e sua cultura.

FONTE: Fabio Colombini/Acervo do fotógrafo

350

FONTE:


 

INSTITUTO

 

SOCIOAMBIENTAL.



 

Disponível

 

em:


http://pib.socioambiental.org/pt/c/terras-indigenas/demarcacoes/localizacao-e-

extensao-das-tis.   Acesso   em:   28   jan.   2016.   Créditos:   Banco   de

imagens/Arquivo da editora

Fim do complemento.




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